Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética" AQUI
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial" AQUI
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Para saber mais, clicar AQUI
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro" AQUI
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias. Para saber mais clicar, AQUI
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias. Para saber mais clicar, AQUI
6. Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador». Ver AQUI
7. Papa mais, pede aos padres para falarem ao «coração» e não fazerem «homilias demasiado intelectuais». Par saber mais, clicar AQUI.
8. Porquê ir à missa ao domingo? Ler AQUI.
9. O que é que se faz para que a Eucaristia dominical seja algo de vital, de verdadeiramente comunitário, capaz de permitir o reconhecimento recíproco e uma autêntica fraternidade para quantos nela participam? Ler&saber AQUI.
10. Os 8 conselhos dos santos para amar a Eucaristia AQUI.
11. Os 11 conselhos para viver a Missa mais profundamente AQUI.
12. Papa Francisco pede aos padres: façam homilias mais curtas AQUI.
Então:
Tema do 32º Domingo do Tempo Comum - Ano C
A liturgia deste domingo propõe-nos uma reflexão sobre os horizontes últimos do homem e garante-nos a vida que não acaba.
Na primeira leitura, temos o testemunho de sete irmãos que deram a vida pela sua fé, durante a perseguição movida contra os judeus por Antíoco IV Epifanes. Aquilo que motivou os sete irmãos mártires, que lhes deu força para enfrentar a tortura e a morte foi, precisamente, a certeza de que Deus reserva a vida eterna àqueles que, neste mundo, percorrem, com fidelidade, os seus caminhos.
No Evangelho, Jesus garante que a ressurreição é a realidade que nos espera. No entanto, não vale a pena estar a julgar e a imaginar essa realidade à luz das categorias que marcam a nossa existência finita e limitada neste mundo; a nossa existência de ressuscitados será uma existência plena, total, nova. A forma como isso acontecerá é um mistério; mas a ressurreição é uma certeza absoluta no horizonte do crente.
Na segunda leitura temos um convite a manter o diálogo e a comunhão com Deus, enquanto esperamos que chegue a segunda vinda de Cristo e a vida nova que Deus nos reserva. Só com a oração será possível mantermo-nos fiéis ao Evangelho e ter a coragem de anunciar a todos os homens a Boa Nova da salvação.
EVANGELHO – Lc 20,27-38
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
aproximaram-se de Jesus alguns saduceus
– que negam a ressurreição –
e fizeram-Lhe a seguinte pergunta:
«Mestre, Moisés deixou-nos escrito:
‘Se morrer a alguém um irmão,
que deixe mulher, mas sem filhos,
esse homem deve casar com a viúva,
para dar descendência a seu irmão’.
Ora havia sete irmãos.
O primeiro casou-se e morreu sem filhos.
O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva;
e o mesmo sucedeu aos sete,
que morreram e não deixaram filhos.
Por fim, morreu também a mulher.
De qual destes será ela esposa na ressurreição,
uma vez que os sete a tiveram por mulher?»
Disse-lhes Jesus:
«Os filhos deste mundo
casam-se e dão-se em casamento.
Mas aqueles que forem dignos
de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos,
nem se casam nem se dão em casamento.
Na verdade, já nem podem morrer,
pois são como os Anjos,
e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus.
E que os mortos ressuscitam,
até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente,
quando chama ao Senhor
‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’.
Não é um Deus de mortos, mas de vivos,
porque para Ele todos estão vivos».
AMBIENTE
Este texto situa-nos já em Jerusalém, nos últimos dias antes da morte de Jesus. É a altura das grandes controvérsias com os líderes judaicos (essas controvérsias representam, para Lucas, a última oportunidade que Deus dá ao seu Povo, no sentido de acolher a salvação). Discussão após discussão, torna-se claro que os líderes judaicos rejeitam a proposta de Jesus: prepara-se, assim, o quadro da paixão e da morte na cruz.
Os adversários de Jesus são, no contexto em que o Evangelho deste domingo nos coloca, os saduceus. No tempo de Jesus, os saduceus formavam um grupo aristocrático, recrutado sobretudo entre os sacerdotes da classe superior. Exerciam a sua autoridade à volta do Templo e dominavam o Sinédrio (no entanto, a sua autoridade nessa instituição não era absoluta desde que os fariseus aí haviam chegado). A sua importância política era real, ainda que muito limitada pela presença do procurador romano. Politicamente, eram conservadores e entendiam-se bem com o opressor romano… Pretendiam manter a situação, para não ver comprometidos os benefícios políticos, sociais e económicos de que desfrutavam.
Para os saduceus, apenas interessava a Lei escrita – a “Torah”. Negavam que a Lei oral (que era essencial para os fariseus) tivesse qualquer valor. Este apego conservador à Lei escrita explica que negassem algumas crenças e doutrinas admitidas nos ambientes populares frequentados pelos fariseus. Por isso, não aceitavam a ressurreição dos mortos: nenhum versículo da “Torah” apoiava essa crença.
No seu conflito com os fariseus, estava em jogo uma certa visão da sociedade e do poder. Os fariseus não viam com agrado a “democratização” da Lei promovida pelos fariseus e pelos seus escribas. Esta “democratização” apresentava o inconveniente de fazer os sacerdotes perder a sua autoridade como intérpretes da Lei. Diante do povo, os saduceus mostravam-se distantes, severos, intocáveis.
MENSAGEM
A questão central do nosso texto gira à volta da ressurreição, um tema que não significava nada para os saduceus. Percebendo que, quanto a essa questão, a perspectiva de Jesus estava próxima da dos fariseus, os saduceus apresentaram uma hipótese académica, com o objectivo de ridicularizar a crença na ressurreição: uma mulher casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei do levirato (segundo a qual, o irmão de um defunto que morreu sem filhos devia casar com a viúva, a fim de dar descendência ao falecido e impedir que os bens da família fossem parar a mãos estranhas, cf. Dt 25,5-10). Quando ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?
A primeira parte da resposta de Jesus (vers. 27-36) afirma que a ressurreição não é (como pensavam os fariseus do tempo) uma simples continuação da vida que vivemos neste mundo (na linha de uma revivificação – ideia apresentada na primeira leitura), mas uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude que dificilmente podemos entender a partir das nossas realidades quotidianas. A questão do casamento não se porá, então (a expressão “são semelhantes aos anjos” do vers. 30 não é uma expressão de depreciação do matrimónio, mas a afirmação de que, nessa vida nova, a única preocupação será servir e louvar a Deus). O poder de Deus, que chama os homens da morte à vida, transforma e assume a totalidade do ser humano, de forma que nascemos para uma vida totalmente nova e em que as nossas potencialidades serão elevadas à plenitude. A nossa capacidade de compreensão deste mistério é limitada, pois estamos a contemplar as coisas e a classificá-las à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição que nos espera ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena.
A segunda parte da resposta de Jesus (vers. 37-38) é uma afirmação da certeza da ressurreição. Como não podia apoiar-se nos textos recentes da Escritura (como Dn 12,2-3), que sugeriam a fé na ressurreição (pois esses textos não tinham qualquer valor para os saduceus), Jesus cita-lhes a “Torah” (cf. Ex 3,6): no episódio da sarça-ardente, Jahwéh revelou-Se a Moisés como “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”… Ora, se Deus Se apresenta dessa forma – muitos anos depois de Abraão, Isaac e Jacob terem desaparecido deste mundo – isso quer dizer que os patriarcas não estão mortos (um homem “morto” – ou seja, um homem reduzido ao estado de uma sombra inconsciente e privada de vida no “sheol”, segundo a ideia semita corrente – tinha perdido a protecção de Deus, pois já não existia como homem vivo e consciente). Na perspectiva de Jesus, portanto, os patriarcas não estão reduzidos ao estado de sombras na obscuridade absoluta do “sheol”, mas vivem actualmente em Deus. Conclusão: se Abraão, Isaac e Jacob estão vivos, podemos falar em ressurreição.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:
• A questão da ressurreição não é uma questão pacífica e clara para a maioria dos homens do nosso tempo. Há quem veja na esperança da ressurreição apenas um “ópio do povo”, destinado a adormecer a justa vontade de lutar pela construção de um mundo mais justo; há quem veja na ressurreição uma forma de evasão, face aos problemas que a vida apresenta; há quem veja na ressurreição uma ilusão onde o homem projecta os seus desejos insatisfeitos… Convencidos de que a vida se resume aos 70/80 anos que vivemos neste mundo, muitos dos nossos contemporâneos constroem a sua existência tendo apenas em conta os valores deste mundo, sem quaisquer horizontes futuros. Que sentido é que isto faz, na perspectiva da nossa fé?
• A ressurreição é, no entanto, a esperança que dá sentido a toda a caminhada do cristão. A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza absoluta, pois Cristo ressuscitou e quem se identifica com Cristo nascerá com Ele para a vida nova e definitiva. A nossa vida presente deve ser, pois, uma caminhada tranquila, confiante, alegre – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em direcção a essa nova realidade.
• A ressurreição não é a revivificação dos nossos corpos e a continuação da vida que vivemos neste mundo; mas é a passagem para uma vida nova onde, sem deixarmos de ser nós próprios, seremos totalmente outros… É a plenitudização de todas as nossas capacidades, a meta final do nosso crescimento, a realização da utopia da vida plena. Sendo assim, há alguma razão para temermos a morte ou para vermos nela algo que nos priva de alguma coisa importante (nomeadamente a relação com aqueles que amamos)?
• A certeza da ressurreição não deve ser, apenas, uma realidade que esperamos; mas deve ser uma realidade que influencia, desde já, a nossa existência terrena. É o horizonte da ressurreição que deve influenciar as nossas opções, os nossos valores, as nossas atitudes; é a certeza da ressurreição que nos dá a coragem de enfrentar as forças da morte que dominam o mundo, de forma a que o novo céu e a nova terra que nos esperam comecem a desenhar-se desde já.
• Temos de ter muito cuidado com a forma como falamos da ressurreição aos homens do nosso tempo, pois podemos pensá-la, explicá-la e projectá-la à luz da nossa vida actual e corremos sérios riscos de nos tornarmos ridículos. O que podemos fazer é afirmar a nossa certeza na ressurreição; depois, temos de confessar a nossa incapacidade de conceber e de explicar esse mundo novo que nos espera (como a criança no seio da mãe não compreende nem sabe explicar a vida que a espera no mundo exterior).
BILHETE DE EVANGELHO.
Os saduceus, que não acreditam na ressurreição, procuram ridicularizar Jesus, que a defende. A mensagem de Jesus é uma mensagem de esperança. Ele quer ajudar os seus ouvintes a erguer os olhos, isto é, a não ficarem agarrados aos bens materiais e unicamente a esta vida na terra. Ele veio anunciar um Reino no qual a única filiação real e eterna é aquela que nos liga a Deus. Ele apresenta Deus como um ser de relação: relação do Pai com o Filho na comunhão realizada pelo Espírito. Mas relação também de Deus com a humanidade: o nosso Deus é sempre o Deus de alguém, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob. E é numa relação de Aliança que Deus Se situa. A relação com Deus não conhece a morte: se o homem é chamado a ressuscitar, é porque Deus quer selar uma aliança eterna à qual Ele é sempre fiel.
À ESCUTA DA PALAVRA.
Não nos riamos desta história ridícula, inventada pelos saduceus. É verdade que uma prescrição da Lei de Moisés dizia que uma mulher que não tinha tido filhos e que se tornara viúva devia casar com o irmão do defunto para ter um filho que seria considerado como o filho deste defunto. A história dos saduceus é rocambolesca. Mas estes últimos, contrariamente aos fariseus, não acreditavam na ressurreição, com o pretexto de que Jesus não lhes havia dito nada sobre isso. Então, querem apanhar Jesus em falta, Ele que acreditava na ressurreição. Com a sua história, eles ridicularizam Jesus e a crença na ressurreição. Ora, esta ideia da ressurreição não é hoje mais evidente do que há dois mil anos. Os gregos reencontrados por São Paulo não acreditavam nisso. E hoje, os cristãos, mesmo muito “praticantes”, são cada vez mais numerosos a aderir à teoria da reincarnação. É verdade que nunca se viu ninguém voltar do além da morte, enquanto se fornecem quantidades de testemunhos de pessoas que dizem ter recordações de uma vida anterior. No fundo, os saduceus são seriam estranhos entre nós hoje! Reconheçamos que a ressurreição é uma realidade muito misteriosa para nós. Quando Jesus ressuscitado apareceu aos seus discípulos, teve que usar muita pedagogia, persuasão e repreensões para os convencer de que era verdadeiramente Ele. Eles não acreditaram imediatamente! Hoje, o cerne do ensinamento de Jesus é a sua palavra: “E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça-ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos”. Deus, o Criador, está para além do tempo. Se Ele ressuscita cada ser humano, é por um acto infinito e eterno de amor criador. Ele dá um nome único, pessoal a cada homem. Ele nunca poderá retomar nem suprimir este acto. Cada ser humano que vem ao mundo é verdadeiramente um “pedaço de eternidade”. Cada ser humano será para sempre “ele” e não um outro. Cada ser humano viverá para sempre, enraizado no amor eterno de Deus. Pela sua ressurreição, Jesus abriu-nos o caminho da nossa própria vida em plenitude em Deus.
PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “Temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará”…; “Escutai, Senhor, a minha oração, feita com sinceridade”…; “O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança”…; “Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos”… Procurar transformar as palavras de Deus em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…
Feitos para a vida… Anunciar que o nosso Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos (Evangelho) não está reservado para os momentos dos funerais! Esta bela afirmação da nossa fé merece estar mais presente no nosso testemunho… Perguntemo-nos se já tivemos ocasião de o dizer… E se não, porquê?
«Porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus»
No último dia, a morte será vencida. Depois do suplício da cruz, a ressurreição de Cristo contém misteriosamente a ressurreição de todo o corpo de Cristo; e, assim como Ele foi crucificado, depositado no túmulo e depois ressuscitado, assim também todo o corpo dos santos de Cristo foi crucificado com Ele e já não vive em si próprio.
Desse modo, quando sobrevier a ressurreição do verdadeiro corpo de Cristo, do seu corpo total, os membros de Cristo, que agora são ossos ressequidos, reunir-se-ão juntura por juntura (cf Ez 37,1s), encontrando cada um o seu lugar próprio, «até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo» (Ef 4,13). Então, a multidão dos membros constituirá um só corpo, porque todos pertencem ao mesmo corpo (cf Rom 12,4).
Orígenes (c. 185-253), presbítero, teólogo, Comentário à Epístola aos Romanos 4,7; PG 14, 985
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