"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























sábado, 14 de janeiro de 2012

Os maus exemplos vêm "de cima" & Portugal, um milagre "resiliente"

A dr.ª Manuela Ferreira Leite, eivada daquela caridade cristã que define o seu doce coração, disse, na SIC Notícias, num curioso programa dirigido por Ana Lourenço, que os doentes com mais de 70 anos, devem pagar hemodiálise. Infere-se, por oposição, o seguinte: quem não tiver dinheiro, que morra!, sobretudo a partir dos 70. Nessa altura, já cá não fazem falta nenhuma. Um pouco assustado, António Barreto confessou ter aquela idade fatal. E, mesmo sem o dizer, o dr. Balsemão tem mais de 70. Os celtas resolviam a questão com a presteza de quem não tem tempo a perder: atiravam os velhos dos penhascos.
Aqui, corta-se nos vencimentos dos reformados, aumentam-se as taxas moderadoras e até os enterros estão mais caros, devido aos impostos. A dr.ª Manuela tem dito coisas que bradam aos céus. Aquela declaração foi uma delas. Já antes, a fim de se pôr uma certa ordem no caos português sugerira a interrupção, por modestos seis meses, da democracia. A senhora esteve à beira de se tornar presidente do PSD e, por decorrência, acaso as bússolas da fortuna andassem avariadas, primeira-ministra. Que susto!, embora este, em que vivemos, não seja menor.
"Contra-Corrente" é o nome do programa em referência, no qual um luminoso conjunto de sábios discreteia sobre o nosso mundo e os nossos destinos. Devo dizer aos meus pios leitores que aguardei, arfante de curiosidade, a opinião dos preopinantes. Nada que as pessoas não soubessem. Com este tipo de programação, repetitiva e inócua, a Impresa não vai lá. Com excepção de Sobrinho Simões, que foi dizendo coisas válidas por acertadas, os outros debitaram mais do mesmo que todos dizem. Até António Barreto só disse banalidades. Vitorino, coitado!, é uma irrelevância.
O tropo que interessava seria a discussão sobre a promiscuidade entre política, negócios e partidarite. A ida em massa, para a administração da EDP, de militantes destacados do PSD e do CDS mereceu umas desatenções embargadas. Entretanto, soube-se que, para a empresa Águas de Portugal, vão dois militantes do PSD. As coisas são como são, mas não deveriam sê-lo, após as veementes declarações de princípio do dr. Passos Coelho, que se antagonizava com os "jobs" concedidos pelo PS aos seus "boys." Na realidade, estamos fartos desta vilanagem endémica. A política tornou-se a questão central do regime; mas, em vez de se abordar e analisar o problema, as minudências transformam-se em campanha de jornais, como o assunto da Maçonaria.
Pleitear-se a causa de que os detentores de cargos públicos terão de revelar as suas opções filosóficas pode abrir a caixa de Pandora, cujos resultados são imprevisíveis. Só a alusão a esta dissimulada caça à bruxas faz arrepiar. É claro que este fogacho não passa de isso mesmo: um fogacho (como o espaço atribuído a Paco Bandeira, um caso doméstico, com a importância menor que a sua própria natureza merece) para remover das cabeças das pessoas os tormentos que as apoquentam. O jornalismo português entrou numa fase degenerativa perturbadora. A impreparação demonstrada pelos seus empregados é de fugir. Não se trata de jornalistas, embora, certamente, todos agitem como credencial os níveis das graduações. Seria impensável, perante as situações políticas vigentes, as afirmações insanas de altos dirigentes partidários e a pouca-vergonha a que se assiste, no regabofe das nomeações - que uma Imprensa responsável e decente estivesse calada. Mas está.
Pergunto-me e os meus velhos amigos e camaradas perguntam-se: que ensinam, nos cursos de jornalismo, a estes jovens? Tornou-se moda, nas televisões, sem excepção, tratar as pessoas pelo primeiro nome, modo abusivo de se forçar uma intimidade tão absurda, como irrespeitosa, por despropositada. Assim como esta falsa familiaridade está longe de corresponder à teia reticular de afecto, necessária entre receptor e mensageiro, a preguiça no estudo, o desleixo pelo idioma, a ignorância impante fornecem um retrato muito poço lisonjeiro do jornalismo que se pratica.
Os exemplos provindos "de cima" são de molde a fugirmos deles a sete pés. A cultura do facilitismo, do dinheiro e do mais feroz individualismo parece ter adquirido carta de alforria. Quando se fazem exigências atrozes aos sectores mais débeis da sociedade portuguesa, e se tornam públicos os vencimentos faraónicos de alguns sujeitos, procedentes dos partidos "de poder", tudo é permitido. Como se diz nos "Irmãos Karamazov", de Dostoievski. W
in http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=531441

Portugal, um milagre resiliente. (Sir Ken Robinson e a Royal Society of Arts)
Como é que havemos de educar as nossas crianças para a economia do século XXI, quando nem sequer sabemos antecipar o estado da economia no final da próxima semana?" Sir Ken Robinson, autor, conferencista, pedagogo.
Opinião pessoal, mas transmissível: Portugal, como país auto-determinado, é um milagre resiliente. Nenhum país teve de sobreviver tanto à ignorância das suas elites socioeconómicas como Portugal. Equivale isto a dizer que, atendendo ao desvario irresponsável dos líderes públicos, e ao desprezo profundo pelo conhecimento e pelo mérito que o tecido político-económico fomenta com sinistro sucesso provinciano, ter esperança é um risco. Alguém fará, um dia, justiça à dedicação intrínseca da maioria dos nossos cidadãos ao sítio onde vivem (e querem viver), e aí começará o fim do pacto de tolerância à boçalidade cínica do triângulo formado pelos poderes económico, político e mediático.
A "Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce" tem sede em Londres e foi fundada em Covent Garden em 1754. Abreviadamente conhecida como "The RSA - The Royal Society of Arts", dedicou-se ao longo destes 250 anos de História ao fomento do conhecimento e da inovação, da cultura, da cidadania, da arte, da criatividade. O seu arquivo é uma das muitas razões válidas para uma visita atenta, com muito mais para ver e sentir do que poderia caber nesta crónica. Entre muitos conteúdos irrepreensivelmente tratados e colocados à disposição, está o conjunto de animações "RSA Animate". Estes trabalhos de animação a duas dimensões, muitas vezes simples - como um lápis que rabisca o que está a ser narrado, por exemplo - são quase sempre de uma eficácia cénica incrível. Atingindo milhões de visualizações "online" (há, inclusivamente, uma aplicação para "tablet" ou "smartphone" disponível gratuitamente), um dos mais surpreendentes é o "rabisco inspirado" que acompanha a conferência de Sir Ken Robinson, "Changing Education Paradigms" (Mudando os Paradigmas da Educação). Nesta, o pedagogo nascido em Liverpool, defende a mudança que considera essencial fazer na política de educação, para o futuro da Economia. O resultado da animação "a posteriori" do áudio da palestra é extraordinário e incisivo. Entre diversos postulados "animados" neste curto vídeo, está o de que muito do que se conseguiu, em termos de motivação e razão de ser para a obtenção de uma licenciatura, por exemplo, está perdido e deve ser reinventado, pois desapareceram as garantias de segurança dadas aos jovens pela simples frequência de um ciclo de ensino completo. Os nossos jovens perderam o estímulo central para se dedicarem à escola, que era o da emancipação económica; pensar que o problema está "neles" que obedecem, em vez de "nós" que mandamos, é um preconceito que não resolverá nada, apenas criará mais clivagem social e custos acrescidos nas contas públicas do futuro. O vértice empobrecedor deste preconceito está na separação artificial e dogmática entre o que é "intelectual" e o que é "económico", que chegou ao sistema de ensino por mimese dos nossos vícios e fragilidades, e deve ser reequacionado. Impossível de reverter?
Portugal conseguiu, no século XX, baixar a sua percentagem de analfabetismo de 33,6% (1970) para 9% (medidos já em 2001). É urgente assumir no discurso público este nível de exigência histórica e de responsabilização, e é de uma fina ironia - só possível num território ambíguo como a "política" - que não se coloque a importância destes factos históricos na frente de toda a acção cívica, numa altura em que o que está em jogo, precisamente, é se conseguimos (ou não) reeducar uma Economia que, neste momento, já é só Finança e prejuízo; felizmente, a grandiosidade dos feitos, quando comparada à futilidade dos líderes, postula bem de como tudo é possível neste milagre resiliente. Essa é a esperança, esse é o risco.

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