"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

ESPIRITUALIDADE: Aprender a Viver a partir deste Ano da Fé

A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial (1) | VÍDEO | «Hoje sentimos a necessidade de uma fé voltada para a vida. De uma fé que constitua uma arte de viver, e não apenas um conjunto de práticas ou credos que vamos mantendo vivos ao longo da História. Precisamos de mais. Em nós próprios observamos muitas vezes um analfabetismo perante os atos fundamentais da vida. Há momentos que nos deixam sem palavras, sem apoio: uma doença, um incidente, uma crise, uma alegria, um grande encontro, que frequentemente parecem um caminho paralelo, para o qual a fé não tem capacidade de acolhimento.» Primeira parte da conferência “A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial”, proferida pelo padre José Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, no âmbito do ciclo “Viver a Fé aqui e agora”.
A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial (2)| VÍDEO |
Susan Sontag, autora norte-americana já desaparecida, levantava-se contra a interpretação. O mundo, dizia, encheu-se de comentários. Vivemos de coisas em segunda mão e cada vez estamos mais distantes da fonte. Uma fé vivida aqui e agora não se deixa capturar pelo comentário mas antes de tudo ajuda-nos a ser. A fé tem de ser uma escola do olhar, do odor, do sabor, do sentir, da escuta. A espiritualidade não se separa dos sentidos, que são portas interiores para o encontro profundo com Deus. Precisamos de uma mística do quotidiano. Deus não vem ao nosso encontro numa praça que nunca visitámos nem bate a uma porta onde não estamos.
Enquanto Deus olha para cada criatura em si, na sua integridade e beleza, a narrativa da primeira transgressão relatada no Génesis coloca a mulher, induzida pela serpente, a olhar cada coisa a partir da necessidade e do desejo. A bondade já não depende da coisa em si mas das paixões e carências. É então que eu passo a ser o critério da bondade do outro; e em vez de cantar a marca de Absoluto que existe na outro, eu é que digo o que é bom e útil. Quando isto acontece o mundo deixa de se ver. É como se a realidade ficasse escondida. Ao contrário do que diz a serpente, o olhar de Adão e Eva não se abre mas afunila-se ao deixar de ver as coisas no ser, passando a vê-las a partir da perspetiva do ter e da utilidade imediata. Este é também o drama do nosso olhar.
Uma aproximação à espiritualidade do olhar a partir do texto evangélico Marcos 8, 22-26: «Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse. Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: “Vês alguma coisa?” Ele ergueu os olhos e respondeu: “Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.” Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez. Jesus mandou-o para casa, dizendo: “Nem sequer entres na aldeia.” Precisamos criar uma intimidade com Jesus, sentir que ele nos leva pela mão para fora da nossa aldeia e que estamos a sós com ele. Um Padre do Deserto dizia: «se tu não dizes “eu e Deus estamos sós”, nunca terás paz».
A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial (5) | VÍDEO |
«Escuta» é uma das palavras mais repetidas na Bíblia, muitas vezes sob a forma de imperativo. Precisamos de reaprender a escuta e neste Ano da Fé reavaliar o modo como escutamos o tempo, os sinais do Espírito, o modo como Deus passa pela nossa história. Jesus não diz que aqueles que o escutam serão poupados à tempestade, aos abalos de terra, às grandes chuvadas. Aqueles que escutam também passam por crises, noites escuras, devastações, sofrimentos. Mas quem escuta até ao fundo tem a sua casa construída sobre a rocha. A escuta é uma forma de atenção; é oração; é meditação; é o contrário de uma vida de aparências ou superficial. Eu escuto e não sei. Mas confio.
A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial (6) | VÍDEO |
O odor como aproximação a Deus: para os profetas, o perfume que mais agrada a Deus não é o dos animais imolados ou das madeiras queimadas sobre o altar dos sacrifícios, mas o próprio povo. O perfume é também símbolo do supérfluo. Judas indigna-se com o desperdício do perfume derramado sobre Jesus; teria sido mais útil vendê-lo e dar o dinheiro aos pobres. Mas nós precisamos dos símbolos da alegria, do dom, da alegria e do excesso. Precisamos do bem mas também do belo. O cheiro da festa tem de encher a nossa casa neste Ano da Fé.
A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial (7) | VÍDEO |
Sobre o saborear devagar, aos poucos, sem querer desvendar o enigma de uma só vez, sabendo que é preciso regressar sempre: «Uma história dos Padres do Deserto falava de um mestre de noviços que era calígrafo. Veio o noviço e o ancião passou-lhe a página para meditar. O noviço agarrou-a e foi para a sua cela, mas ao chegar ficou horrorizado porque o ancião tinha escrito só as consoantes. Voltou para junto dele e disse-lhe: “Mestre, talvez te tenhas enganado porque me deste um texto só escrito com consoantes”. E o ancião responde-lhe: “Vai para a tua cela, medita nas consoantes, e depois vem para receberes as vogais.» «Nós queremos tudo ao mesmo tempo: as consoantes e as vogais, o passado e o futuro, o ontem e o hoje, o que se vê e o que não se vê, a terra e a lua, porque achamos que só essa totalidade nos dá o sentido profundo das coisas. Mas, e isto é de uma grande sabedoria espiritual, nós temos o que precisamos
A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial (8) | VÍDEO |
«A fé é uma sabedoria que se matura. De que me serve ganhar o mundo se vivo uma vida desencontrada, que não me pertence?» «No conto “O Principezinho”, o protagonista encontra-se com o inventor de pílulas que curavam toda a sede; com elas poupavam-se 12 minutos por dia, o tempo que se leva a beber copos de água.» «Então o Principezinho disse-lhe: se eu tivesse 12 minutos, aquilo que eu fazia era caminhar devagarinho para uma fonte. Seja também isso que fazemos neste Ano da Fé.» Última parte da conferência “A importância do agora: os desafios de um cristianismo sapiencial”, proferida pelo padre José Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

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