Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago
e subiu ao monte, para orar.
Enquanto orava,
alterou-se o aspecto do seu rosto
e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente.
Dois homens falavam com Ele:
eram Moisés e Elias,
que, tendo aparecido em glória,
falavam da morte de Jesus,
que ia consumar-se em Jerusalém.
Pedro e os companheiros estavam a cair de sono;
mas, despertando, viram a glória de Jesus
e os dois homens que estavam com Ele.
Quando estes se iam afastando,
Pedro disse a Jesus:
«Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias».
Não sabia o que estava a dizer.
Enquanto assim falava,
veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra;
e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem.
Da nuvem saiu uma voz, que dizia:
«Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O».
Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho.
Os discípulos guardaram silêncio
e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.
AMBIENTE
Estamos no final da “etapa da Galileia”; durante essa etapa, Jesus anunciou a salvação aos pobres, proclamou a libertação aos cativos, fez os cegos recobrar a vista, mandou em liberdade os oprimidos, proclamou o tempo da graça do Senhor (cf. Lc 4,16-30). À volta de Jesus já se formou esse grupo dos que acolheram a oferta da salvação (os discípulos). Testemunhas das palavras e dos gestos libertadores de Jesus, eles já descobriram que Jesus é o Messias de Deus (cf. Lc 9,18-20). Também já ouviram dizer que o messianismo de Jesus passa pela cruz (cf. Lc 9,21-22) e que os discípulos de Jesus devem seguir o mesmo caminho de amor e de entrega da vida (cf. Lc 9,23-26); mas, antes de subirem a Jerusalém para testemunhar a erupção total da salvação, recebem a revelação do Pai que, no alto de um monte, atesta que Jesus é o Filho bem amado. Os acontecimentos que se aproximam ganham, assim, novo sentido.
Para o homem bíblico, o “monte” era o lugar sagrado por excelência: a meio caminho entre a terra e o céu, era o lugar ideal para o encontro do homem com o mundo divino. É, portanto, no monte que Deus Se revela ao homem e lhe apresenta os seus projectos.
MENSAGEM
O relato da transfiguração de Jesus, mais do que uma crónica fotográfica de acontecimentos, é uma página de teologia; aí, apresenta-se uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que através da cruz concretiza um projecto de vida.
O episódio está cheio de referências ao Antigo Testamento. O “monte” situa-nos num contexto de revelação (é “no monte” que Deus Se revela e que faz aliança com o seu Povo); a “mudança” do rosto e as vestes de brancura resplandecente recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29); a nuvem indica a presença de Deus conduzindo o seu Povo através do deserto (cf. Ex 40,35; Nm 9,18.22;10,34).
Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt 18,15-18; Mal 3,22-23). Eles falam com Jesus sobre a sua “morte” (“exodon” – “partida”) que ia dar-se em Jerusalém. A palavra usada por Lucas situa-nos no contexto do “êxodo”: a morte próxima de Jesus é, pois, vista por Lucas como uma morte libertadora, que trará o Povo de Deus da terra da escravidão para a terra da liberdade.
A mensagem fundamental é, portanto, esta: Jesus é o Filho amado de Deus, através de quem o Pai oferece aos homens uma proposta de aliança e de libertação. O Antigo Testamento (Lei e Profetas) e as figuras de Moisés e Elias apontam para Jesus e anunciam a salvação definitiva que, n’Ele, irá acontecer. Essa libertação definitiva dar-se-á na cruz, quando Jesus cumprir integralmente o seu destino de entrega, de dom, de amor total. É esse o “novo êxodo”, o dia da libertação definitiva do Povo de Deus.
E o “sono” dos discípulos e as “tendas”? O “sono” é simbólico: os discípulos “dormem” porque não querem entender que a “glória” do Messias tenha de passar pela experiência da cruz e da entrega da vida; a construção das “tendas” (alusão à “festa das tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas, no deserto?) parece significar que os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, de festa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus.
ACTUALIZAÇÃOReflectir a partir das seguintes linhas:
• O facto fundamental deste episódio reside na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o plano salvador e libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total de Si próprio por amor. É dessa forma que se realiza a nossa passagem da escravidão do egoísmo para a liberdade do amor. A “transfiguração” anuncia a vida nova que daí nasce, a ressurreição.
• Os três discípulos que partilham a experiência da transfiguração recusam-se a aceitar que o triunfo do projecto libertador do Pai passe pelo sofrimento e pela cruz. Eles só concebem um Deus que Se manifesta no poder, nas honras, nos triunfos; e não entendem um Deus que Se manifesta no serviço, no amor que se dá. Qual é o caminho da Igreja de Jesus (e de cada um de nós, em particular): um caminho de busca de honras, de busca de influências, de promiscuidade com o poder, ou um caminho de serviço aos mais pobres, de luta pela justiça e pela verdade, de amor que se faz dom? É no amor e no dom da vida que buscamos a vida nova aqui anunciada?
• Os discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem também não ter muita vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, mas alheados da realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar. No entanto, a experiência de Jesus obriga a continuar a obra que Ele começou e a “regressar ao mundo” para fazer da vida um dom e uma entrega aos homens nossos irmãos. A religião não é um “ópio” que nos adormece, mas um compromisso com Deus que Se faz compromisso de amor com o mundo e com os homens.
FONTE: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=450
FONTE: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=450
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