"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

NESTE DIA é bom lembrar...





"UM POEMA POR SEMANA" (8/15)

Estreou, no Dia Mundial da Poesia (21 de Março):15 poemas em 75 dias, ditos por 75 pessoas Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Ruy Belo, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Sá de Miranda, António Nobre, Alexandre O'Neill, Luís Vaz de Camões, Jorge de Sena, José Régio, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny.
O que têm em comum estes poetas? Para lá do facto de estarem mortos? Todos marcaram indelevelmente a história da literatura em língua portuguesa.
Mais do que isso: marcaram o nosso imaginário e condicionaram a nossa identidade! Ainda que, muitas vezes, disso não tenhamos consciência...

Os "dizedores":
São homens e mulheres, novos e velhos, falantes de português. Gente que tem em comum gostar MUITO de poesia.
"Um Poema por Semana" é uma ideia de Paula Moura Pinheiro.
Escolha dos poemas: José Carlos de Vasconcelos, jornalista com longa história na ação cultural em Portugal e diretor do clássico "Jornal de Letras";
Direção artística, realização e cenografia: Paulo Braga, um criativo sénior do mundo da Publicidade;
Direção de Casting: João Gesta, o apaixonado inventor de Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre, no Porto; e por Gonçalo Riscado, Sandra Silva e Alexandre Cortez responsáveis pelo Festival Silêncio;

Para que fiquem claros os critérios com que trabalhámos em "Um Poema por Semana": nos poemas de autores que viveram há séculos, como Sá de Miranda ou mesmo Cesário Verde, há, por vezes, discrepâncias entre as diversas fixações dos seus textos. Nesses casos, aceitámos que os "diseurs" usassem a fixação do poema que melhor conhecem. Mas cuidámos que os textos dos poemas que aqui publicamos correspondem às fixações mais reconhecidas pela academia - se é para conhecer melhor o poema, que seja na sua versão mais consensual.

O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL, Cesário Verde, um dos percusores da poesia feita em Portugal no sé. XX.



Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros d'aluguer, ao fundo,
Levando à via férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!



Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.


E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no mar, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!



E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.



Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!


Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.



Vem sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.



Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera focos de infecção!




Cesário Verde
1855-1886

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ces%C3%A1rio_Verde


O Livro de Cesário Verde
posfácio e fixação do texto: António Barahona
Assírio & Alvim

domingo, 29 de janeiro de 2012

PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

EVANGELHO Mc 1,21-28

Jesus chegou a Cafarnaum
e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga
e começou a ensinar,
todos se maravilhavam com a sua doutrina,
porque os ensinava com autoridade
e não como os escribas.
Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro,
que começou a gritar:
«Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno?
Vieste para nos perder?
Sei quem Tu és: o Santo de Deus».
Jesus repreendeu-o, dizendo:
«Cala-te e sai desse homem».
O espírito impuro, agitando-o violentamente,
soltou um forte grito e saiu dele.
Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros:
«Que vem a ser isto?
Uma nova doutrina, com tal autoridade,
que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!»
E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte,
em toda a região da Galileia.
AMBIENTE
A primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30) tem como objectivo fundamental levar à descoberta de Jesus como o Messias que proclama o Reino de Deus. Ao longo de um percurso que é mais catequético do que geográfico, os leitores do Evangelho são convidados a acompanhar a revelação de Jesus, a escutar as suas palavras e o seu anúncio, a fazerem-se discípulos que aderem à sua proposta de salvação/libertação. Este percurso de descoberta do Messias que o catequista Marcos nos propõe termina em Mc 8,29-30, com a confissão messiânica de Pedro, em Cesareia de Filipe (que é, evidentemente, a confissão que se espera de cada crente, depois de ter acompanhado o percurso de Jesus a par e passo): “Tu és o Messias”.
O texto que nos é hoje proposto aparece, exactamente, no princípio desta caminhada de encontro com o Messias e com o seu anúncio de salvação. Rodeado já pelos primeiros discípulos, Jesus começa a revelar-Se como o Messias-libertador, que está no meio dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.
A cena situa-nos em Cafarnaum (em hebraico Kfar Nahum, a “aldeia de Naum”), a cidade situada na costa noroeste do Lago Kineret (o Mar da Galileia). De acordo com os Evangelhos Sinópticos, é aí que Jesus se vai instalar durante o tempo do seu ministério na Galileia. Vários dos discípulos – Simão e seu irmão André, Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João – viviam em Cafarnaum.
MENSAGEM
É um sábado. A comunidade está reunida na sinagoga de Cafarnaum para a liturgia sinagogal. Jesus, recém-chegado à cidade, entra na sinagoga – como qualquer bom judeu – para participar na liturgia sabática. A celebração comunitária começava, normalmente, com a “profissão de fé” (cf. Dt 6,4-9), a que se seguiam orações, cânticos e duas leituras (uma da Torah e outra dos Profetas); depois, vinha o comentário às leituras e as bênçãos. É provável que Jesus tivesse sido convidado, nesse dia, para comentar as leituras feitas. Fê-lo de uma forma original, diferente dos comentários que as pessoas estavam habituadas a ouvir aos “escribas” (os estudiosos das Escrituras). As pessoas ficaram maravilhadas com as palavras de Jesus, “porque ensinava com autoridade e não como os escribas” (vers. 22). A referência à autoridade das palavras de Jesus pretende sugerir que Ele vem de Deus e traz uma proposta que tem a marca de Deus.
A “autoridade” que se revela nas palavras de Jesus manifesta-se, também, em acções concretas (como se a “autoridade” das palavras tivesse de ser caucionada pela própria acção). Na sequência das palavras ditas por Jesus e que transmitem aos ouvintes um sinal inegável da presença de Deus, aparece em cena “um homem com um espírito impuro”. Os judeus estavam convencidos que todas as doenças eram provocadas por “espíritos maus” que se apropriavam dos homens e os tornavam prisioneiros. As pessoas afectadas por esses males deixavam de cumprir a Lei (as normas correctas de convivência social e religiosa) e ficavam numa situação de “impureza” – isto é, afastadas de Deus e da comunidade. Na perspectiva dos contemporâneos de Jesus, esses “espíritos maus” que afastavam os homens da órbita de Deus tinham um poder absoluto, que os homens não podiam, com as suas frágeis forças, ultrapassar. Acreditava-se que só Deus, com o seu poder e autoridade absolutos, era capaz de vencer os “espíritos maus” e devolver aos homens a vida e a liberdade perdidas.
Numa encenação com um singular poder evocador, Marcos põe o “espírito mau” que domina “um homem” presente na sinagoga, a interpelar violentamente Jesus. Sugere-se, dessa forma, que diante da proposta libertadora que Jesus veio apresentar, em nome de Deus, os “espíritos maus” responsáveis pelas cadeias que oprimem os homens ficam inquietos, pois sentem que o seu poder sobre a humanidade chegou ao fim. A acção da cura do homem “com um espírito impuro” constitui “a prova provada” de que Jesus traz uma proposta de libertação que vem de Deus; pela acção de Jesus, Deus vem ao encontro do homem para o salvar de tudo aquilo que o impede de ter vida em plenitude.
Para Marcos, este primeiro episódio é uma espécie de apresentação de um programa de acção: Jesus veio ao encontro dos homens para os libertar de tudo aquilo que os faz prisioneiros e lhes rouba a vida. A libertação que Deus quer oferecer à humanidade está a acontecer. O “Reino de Deus” instalou-se no mundo. Jesus, cumprindo o projecto libertador de Deus, pela sua Palavra e pela sua acção, renova e transforma em homens livres todos aqueles que vivem prisioneiros do egoísmo, do pecado e da morte.
ACTUALIZAÇÃO
- O “homem com um espírito impuro” representa todos os homens e mulheres, de todas as épocas, cujas vidas são controladas por esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de medo, de exploração, de exclusão, de injustiça, de ódio, de violência, de pecado. É essa humanidade prisioneira de uma cultura de morte, que percorre um caminho à margem de Deus e das suas propostas, que aposta em valores efémeros e escravizantes ou que procura a vida em propostas falíveis ou efémeras. O Evangelho de hoje garante-nos, porém, que Deus não desistiu da humanidade, que Ele não Se conforma com o facto de os homens trilharem caminhos de escravidão, e que insiste em oferecer a todos a vida plena.



- Para Marcos, a proposta de Deus torna-se realidade viva e actuante em Jesus. Ele é o Messias libertador que, com a sua vida, com a sua palavra, com os seus gestos, com as suas acções, vem propor aos homens um projecto de liberdade e de vida. Ao egoísmo, Ele contrapõe a doação e a partilha; ao orgulho e à auto-suficiência, Ele contrapõe o serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; à exclusão, Ele propõe a tolerância e a misericórdia; à injustiça, ao ódio, à violência, Ele contrapõe o amor sem limites; ao medo, Ele contrapõe a liberdade; à morte, Ele contrapõe a vida. O projecto de Deus, apresentado e oferecido aos homens nas palavras e acções de Jesus, é verdadeiramente um projecto transformador, capaz de renovar o mundo e de construir, desde já, uma nova terra de felicidade e de paz. É essa a Boa Nova que deve chegar a todos os homens e mulheres da terra.

- Os discípulos de Jesus são as testemunhas da sua proposta libertadora. Eles têm de continuar a missão de Jesus e de assumir a mesma luta de Jesus contra os “demónios” que roubam a vida e a liberdade do homem, que introduzem no mundo dinâmicas criadoras de sofrimento e de morte. Ser discípulo de Jesus é percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu e lutar, se necessário até ao dom total da vida, por um mundo mais humano, mais livre, mais solidário, mais justo, mais fraterno. Os seguidores de Jesus não podem ficar de braços cruzados, a olhar para o céu, enquanto o mundo é construído e dirigido por aqueles que propõem uma lógica de egoísmo e de morte; mas têm a grave responsabilidade de lutar, objectivamente, contra tudo aquilo que rouba a vida e a liberdade ao homem.

- O texto refere o incómodo do “homem com um espírito impuro”, diante da presença libertadora de Jesus. O pormenor faz-nos pensar nas reacções agressivas e intolerantes – por parte daqueles que pretendem perpetuar situações de injustiça e de escravidão – diante do testemunho e do anúncio dos valores do Evangelho. Apesar da incompreensão e da intolerância de que são, por vezes, vítimas, os discípulos de Jesus não devem deixar-se encerrar nas sacristias, mas devem assumir corajosamente e de forma bem visível o seu empenho na transformação das realidades políticas, económicas, sociais, laborais, familiares.

A luta contra os “demónios” que desfeiam o mundo e que escravizam os homens nossos irmãos é sempre um processo doloroso, que gera conflitos, divisões, sofrimento; mas é, também, uma aventura que vale a pena ser vivida e uma luta que vale a pena travar. Embarcar nessa aventura é tornar-se cúmplice de Deus na construção de um mundo de homens livres.

FONTE: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=345

(in)PRENSA: a minha selecção

Os carteiristas premiados da Nação:
...Entretanto, o fundador do "monstro" diz-se falido; o que deixou o país num pântano há muito que emigrou; o que lamentava que a Nação estava de tanga abandonou o barco para liderar uma Europa de momento esfrangalhada; o que se queixou de levar "uns estalos e uns pontapés" dos irmãos mais velhos preside à Santa Casa; o que confessou que as boas práticas governativas "é uma ideia de criança" anda a filosofar por Paris; e o que tem agora o "bebé" nos braços já deu provas do melhor e do pior. Os portugueses, esses, parece que não têm escapatória democrática possível, mantendo uma tendência masoquista de premiar o infractor. Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado?...
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http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=533611&pn=1
Davos e o futuro distópico
...Os donos do mundo estão assustados. Mas nem isso os leva a retirar a conclusão fundamental de que este é o resultado dramático de 30 anos da selvática globalização neoliberal de que eles são os mentores e de que não querem abrir mão...
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http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=533615&pn=1
Vera: uma das tais subsidiodependentes de que falava Marco António Costa
...Serve para o discurso populista deste governo, sempre implacável com os mais fracos e benevolente com os mais fortes. Um governo que trata os erros dos serviços que dirige como responsabilidade dos cidadãos. Um Estado que trata todos os cidadãos como suspeitos, mesmo quando o seu único crime foi não terem conseguido chegar ao fim de um insuportável labirinto burocrático...
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http://aeiou.expresso.pt/vera-uma-das-tais-subsidiodependentes-de-que-falava-marco-antonio-costa=f700874

Galinhas felizes  



Cavaco e Sócrates de novo juntos
...Dois eurodeputados espanhóis denunciaram ontem à Comissão Europeia a pisadela do futebolista Pepe a Lionel Messi, no Real Madrid-Barcelona da semana passada...Nos tempos mornos que correm, talvez não haja mesmo mais assunto para polemizar e refletir. Além da frase de Cavaco e dos pastéis do Álvaro, esta semana aconteceu outro debate intenso nas redes sociais..."Quem paga as suas despesas na excessivamente cara cidade de Paris?" Ora aqui está uma dúvida politicamente justificável. Não se pergunta como paga Sócrates a vida que tem em Paris, muito menos se investiga, já que se acha a situação dúbia...
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http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2264403&seccao=Andr%E9%20Macedo
Espero que Passos Coelho seja mentiroso
...Na Grécia este filme já vai mais avançado. O que é uma vantagem para nós. Foram "resgatados" e só agora, com a economia definitivamente em ruínas, estão a renegociar a dívida. Tarde demais, para dizer a verdade. Já de pouco serve. Só mesmo porque já não há onde ir sacar mais é que fizeram o que há muito deveriam ter feito. Agora é provável que já só lhes reste preparar a saída do euro...
Ler mais
http://aeiou.expresso.pt/espero-que-passos-coelho-seja-mentiroso=f701268
e será mesmo?
http://aeiou.expresso.pt/risco-de-bancarrota-acima-dos-70=f701627
http://aeiou.expresso.pt/novo-maximo-juros-da-divida-a-10-anos-fecham-acima-de-15=f701754

Entretanto, uma luz ao fundo do túnel?
http://aeiou.expresso.pt/expedicao-na-costa-portuguesa-podera-ter-descoberto-depositos-de-petroleo=f701653

sábado, 28 de janeiro de 2012

A espada de Dâmocles

por ANSELMO BORGES

1. Esta - a da espada de Dâmocles - é uma estória sábia. Cícero também se lhe referiu nas Tusculanae Disputationes.
Conta-se que Dionísio, tirano de Siracusa, que vivia num luxuoso palácio, com o poder todo e servos às ordens para tudo, tinha um amigo invejoso e bajulador. Que sorte a tua!, repetia-lhe.
O rei, cansado de o ouvir, propôs-lhe que o substituísse por um dia. E Dâmocles viu-se com uma coroa de ouro na cabeça e, cercado de honras, de luxo e de prazeres, julgou-se o homem mais feliz do mundo. Sentado à mesa, onde se servia um banquete lauto, com vinhos raros, perfumes e música, inebriado, levantou os olhos. E o que viu? Uma enorme espada flamejante, afiada e pontiaguda, presa ao tecto apenas por um fio, que pendia sobre a sua cabeça. Aterrado, todo o entusiasmo se esvaiu e o rosto empalideceu. Era essa espada pendente que Dionísio via todos os dias, na ameaça constante de algo ou alguém cortar o fio.
Não é sob a espada de Dâmocles que nos encontramos todos? Nós, os portugueses; nós, os europeus; nós, os habitantes do planeta - sete mil milhões?
2. Estamos num cotovelo da História: até aqui chegámos, e, agora, o que se segue? Pela primeira vez, vivemos verdadeiramente num mundo globalizado, cujo centro se desloca para o Oriente. E quem manda? Quem vai deter o poder?
De qualquer modo, é como se a Humanidade tivesse perdido o controle. "De facto", escreve Frédéric Lenoir, da École des Hautes Études en Sciences Sociales, "já nenhuma instituição, nenhum Estado parece à altura de pôr freio à corrida no sentido do desconhecido - e talvez do abismo - para a qual nos precipitam a ideologia consumista e a mundialização sob a égide do capitalismo ultraliberal: acentuação dramática das desigualdades; catástrofes ecológicas que ameaçam o conjunto do planeta; especulação financeira descontrolada que fragiliza a economia mundial tornada global. Depois, há as transformações dos nossos modos de vida que fizeram do homem ocidental um desenraizado amnésico, mas igualmente incapaz de se projectar no futuro. Não há dúvida de que os nossos modos de vida mudaram mais durante o século passado do que durante os três ou quatro milénios anteriores."
Quando se está atento, percebe--se que, para encontrar algo de semelhante à revolução por que passamos, será necessário recuar até ao neolítico (uns 10. 000 anos antes da nossa era), quando se deu a sedentarização e os homens se dedicaram à agricultura e à criação de animais, ou até à primeira revolução industrial. Face aos novos desafios e à crise ampla e profunda, com catástrofes ecológicas, económicas e sociais que se anunciam, precisamos daquele "suplemento de alma" de que falou Bergson e que pode levar à "chance de um sobressalto, de uma renovação humanista e espiritual, mediante um acordar da consciência e um sentido mais agudo da responsabilidade individual e colectiva."
3. Seja como for, a História não está pré-escrita em lado nenhum. Só para dar um exemplo: quando se deu a queda do muro de Berlim, quantos não pensaram que estava iminente a chegada da paz perpétua? No entanto, é num mundo dramaticamente perigoso que nos encontramos. A própria democracia não é uma conquista definitivamente adquirida.
Mesmo entre nós, o recente primeiro grande estudo sobre a percepção da democracia não dá como consolidado o sistema democrático: só 56% dos portugueses dizem acreditar que o melhor sistema é a democracia e 15% vão declarando que, nalgumas circunstâncias, um governo autoritário é preferível a um sistema democrático.
E se, após tanta austeridade inevitável e a que ainda vai chegar, o país não arrancar para o crescimento económico e se acabarmos por ter de sair do euro e se se entrar em convulsões sociais e se for preciso um Governo de salvação nacional, a que reserva moral e institucional recorrer?
Aí está mais uma razão para considerar as recentes declarações do Presidente da República, que diz não ganhar para as suas despesas, desgraçadas e injustificáveis.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O nosso herói do Holocausto

Cristiano Ronaldo quem não o conhece?
Aristides Souza Mendes quem o conhece?


Amanhã, 27 de Janeiro, dia de homenagem às vítimas do Holocausto, devíamos recordar o nosso herói do Holocausto: Aristides de Sousa Mendes, um homem que continua a não ter o reconhecimento que merece. Aristides devia ser um dos heróis da nossa mitologia colectiva, mas não é. Experimentem fazer perguntas sobre Aristides aos miúdos do liceu. A maioria não reconhecerá o nome e, estou certo, uma minoria de arruaceiros confundirá Aristides com um jogador do Borussia de Dortmund ou coisa assim. Neste sentido, vale a pena consultar esta hagiografia (não é uma biografia) de Miriam Assor. Com provas irrefutáveis, o livro revela a grandeza de Aristides de Sousa Mendes.
Logo em 1939, Salazar emitiu a Circular 14, o documento que impedia os embaixadores portugueses de dar vistos aos judeus ("quer tenham sido expulsos do seu país de origem quer do país de onde são cidadãos"). Colocando em causa a sua carreira e a sua família, Aristides, o cônsul português em Bordéus, desafiou Salazar e deu vistos diplomáticos a milhares de judeus. Luxemburgueses, dinamarqueses, noruegueses, belgas e holandeses invadiram Bordéus à procura do Santo Aristides. Desta forma, Aristides tirou 30 mil vidas da linha de montagem assassina. Enquanto a maioria se refugiou no cumprimento da lei (Circular 14), Aristides assumiu que a lei pode ser imoral, assumiu que legalidade pode não ter legitimidade. A sua heroicidade vem daqui.
Tendo em conta a estatura homérica destes actos, não se compreende o relativo desprezo da cultura portuguesa por Aristides. Não há uma grande biografia. Não há um romance. Não há uma série de TV. Não há um filme. Temos um Schindler e não lhe damos valor. É como se a expressão "herói português" fosse, em si mesma, uma contradição em termos. É como se a expressão "herói português" fosse um incómodo para a nossa visão cínica de Portugal


Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/o-nosso-heroi-do-holocausto=f701365#ixzz1kgoWpKvE

Escape na SIC Notícias: À descoberta de ...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CANÇÕES COM HISTÓRIA: "The times they are a changin"

Bob Dylan
http://tv1.rtp.pt/play/?radiocanal=2#/?prog%3D3036%26idpod%3D211527%26fbtitle%3DRTP Play - Canções com História%26fbimg%3Dhttp%3A%2F%2Fimg0.rtp.pt%2FEPG%2Fimgth%2FphpThumb.php%3Fsrc%3D%2FEPG%2Fradio%2Fimagens%2F3036_DSC_0049.JPG%26w%3D160%26h%3D120%26fburl%3Dhttp%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2F%3Fprog%3D3036%26idpod%3D211527



Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone.
If your time to you
Is worth savin'
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'.

Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'.
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'.

Come senators, congressmen
Please heed the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside
And it is ragin'.
It'll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'.

Come mothers and fathers
Throughout the land
And don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is
Rapidly agin(g)'.
Please get out of the new one
If you can't lend your hand
For the times they are a-changin'.

The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is
Rapidly fadin'.
And the first one now
Will later be last
Please get out of the new one
If you can't lend your hand
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'.

Venham todos as pessoas ao redor
Aonde quer que vocês vão
E admitam que as águas
Em torno de vocês tão subindo
E aceitem que em breve
Vocês ficarão encharcados até os ossos.
Se seu tempo para você
Vale a pena ser salvo
É melhor começar a nadar
Ou vocês afundarão como uma pedra
Pois os tempos estão mudando

Venham escritores e críticos
Que profetizam com suas canetas
E mantenham seus olhos atentos
A chance não volta de novo
E não falem cedo demais
Pois a roda ainda esta girando
E ninguém esta dizendo quem
Nem dando nomes
Pois o perdedor de agora
Mais tarde será o vencedor
Pois os tempos estão mudando

Venham senadores, congressistas
Por favor, atendam o chamado
Não fiquem no vão da porta
Não bloqueiem o caminho
Pois é se ele se machucar
Será por que estava parado
Há uma batalha la fora
E ela esta estourando.
Isso logo vai sacudir suas janelas
E tremer suas paredes.
Pois os tempos estão mudando.

Venham mães e pais
De todos os lugares
E não critiquem
Aquilo que vocês não conseguem entender
Seus filhos e suas filhas
Estão além do seu comando
Sua velha estrada está
Se deteriorando rapidamente.
Por favor, saiam da nova
Se vocês não forem "dar uma mão"
Pois os tempos estão mudando

A linha está traçada
A maldição está lançada
O lento de agora
Mais tarde será rápido
O presente de agora
Mais tarde será passado
A ordem está
Rapidamente caindo.
E o primeiro de agora
Mas tarde será o ultimo
Por favor, saiam da nova
Se vocês não forem "dar uma mão"
É melhor começar a nadar
Ou vocês afundarão como uma pedra
Pois o perdedor de agora
Mais tarde será o vencedor
Pois os tempos estão mudando

in http://letras.terra.com.br/vedder-eddie/1746361/traducao.html

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Uma coisa (d)neste mundo que mais parece do "outro mundo"

"Em Rajasthan, na Índia, uma escola extraordinária ensina mulheres e homens do meio rural - muitos deles analfabetos - a tornarem-se engenheiros solares, artesãos, dentistas e médicos nas suas próprias aldeias. Chama-se Universidade dos Pés-Descalços, e o seu fundador, Bunker Roy, explica como funciona."



Não há regra sem excepção. Infelizmente isto é uma excepção.
Se é verdade? Ver para crer, aqui, em:
http://www.ted.com/talks/lang/pt/bunker_roy.html#.Tty9NE-cDhE.facebook

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fábrica da Volks-Alem​anha x Fábricas de Velas de Ignição-China

Assim, com a cumplicidade dos grandes conglomerados & empresas ocidentais e com a passividade da OMC- Organização Mundial do Comércio, torna-se clarinho, como água, porque razão...
No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada 
A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas
São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Zeca Afonso

Eles compram tudo
Eles compram tudo
Eles compram tudo
E não deixam nada





























    Fabrica volkswagen


    Fábrica de velas de ignição na China ISO 9000

    Assim também eu - acolitado e sem o mínimo de escrúpulos e de ética.

    segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

    "UM POEMA POR SEMANA" (7/15)

    Estreou, no Dia Mundial da Poesia (21 de Março):15 poemas em 75 dias, ditos por 75 pessoas Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Ruy Belo, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Sá de Miranda, António Nobre, Alexandre O'Neill, Luís Vaz de Camões, Jorge de Sena, José Régio, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny.
    O que têm em comum estes poetas? Para lá do facto de estarem mortos? Todos marcaram indelevelmente a história da literatura em língua portuguesa.
    Mais do que isso: marcaram o nosso imaginário e condicionaram a nossa identidade! Ainda que, muitas vezes, disso não tenhamos consciência...

    Os "dizedores":
    São homens e mulheres, novos e velhos, falantes de português. Gente que tem em comum gostar MUITO de poesia.

    "Um Poema por Semana" é uma ideia de Paula Moura Pinheiro.

    Escolha dos poemas: José Carlos de Vasconcelos, jornalista com longa história na ação cultural em Portugal e diretor do clássico "Jornal de Letras";
    Direção artística, realização e cenografia: Paulo Braga, um criativo sénior do mundo da Publicidade;
    Direção de Casting: João Gesta, o apaixonado inventor de Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre, no Porto; e por Gonçalo Riscado, Sandra Silva e Alexandre Cortez responsáveis pelo Festival Silêncio;

    Para que fiquem claros os critérios com que trabalhámos em "Um Poema por Semana": nos poemas de autores que viveram há séculos, como Sá de Miranda ou mesmo Cesário Verde, há, por vezes, discrepâncias entre as diversas fixações dos seus textos. Nesses casos, aceitámos que os "diseurs" usassem a fixação do poema que melhor conhecem. Mas cuidámos que os textos dos poemas que aqui publicamos correspondem às fixações mais reconhecidas pela academia - se é para conhecer melhor o poema, que seja na sua versão mais consensual.

    O PORTUGAL FUTURO, Ruy Belo



    O portugal futuro é um país
    aonde o puro pássaro é possível
    e sobre o leito negro do asfalto da estrada
    as profundas crianças desenharão a giz
    esse peixe da infância que vem na enxurrada
    e me parece que se chama sável
    Mas desenhem elas o que desenharem
    é essa a forma do meu país
    e chamem elas o que lhe chamarem
    portugal será e lá serei feliz
    Poderá ser pequeno como este
    ter a oeste o mar e a espanha a leste
    tudo nele será novo desde os ramos à raiz
    À sombra dos plátanos as crianças dançarão
    e na avenida que houver à beira-mar
    pode o tempo mudar será verão
    Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
    mas isso era o passado e podia ser duro
    edificar sobre ele o portugal futuro



    Ruy Belo
    1933-1978

    Todos os Poemas
    Ruy Belo
    Assírio & Alvim

    domingo, 22 de janeiro de 2012

    M. Teresa de Calcutá & José Maria Castilho

    A todos os profetas do empobrecimento do país eis, aqui têm, este pequeno-grande excerto de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias daCaridade
    Carta às suas colaboradoras de 10/04/1974, mas ainda infeliz & lamentavelmente actual:
    «Compadecido deste homem, Jesus estendeu a mão e tocou-o»
    Os pobres têm sede de água, mas também de paz, de verdade e de justiça. Os pobres estão nus e têm necessidade de roupas, mas também de dignidade humana e de compaixão para com os pecadores. Os pobres estão sem abrigo e têm necessidade de um abrigo feito de tijolos, mas também de um coração alegre,compassivo e cheio de amor. Eles estão doentes e têm necessidade de cuidados médicos, mas também de uma mão amiga e de um sorriso acolhedor.
    Os excluídos, os que são rejeitados, os que não são amados, os prisioneiros, os alcoólicos, os moribundos, os que estão sós e abandonados, os marginalizados, os intocáveis e os leprosos [...], os que estão na dúvida e confusos, os que não foram tocados pela luz de Cristo, os que têm fome da palavra e da paz de Deus, as almas tristes e angustiadas [...], os que são um fardo para a sociedade, os que perderam toda a esperança e a fé na vida, os que esqueceram como se sorri e os que já não sabem o que é receber um pouco de calor humano, um gesto de amor e de amizade – todos eles se voltam para nós para serem reconfortados. Se lhes viramos as costas, viramos as costas a Cristo

    Entrevista com o teólogo José Maria Castilho
    É um dos teólogos espanhóis mais críticos, com obra vasta sobre Cristologia, e que, aos 78 anos, abandonou os jesuítas, para não os incomodar com as suas teses polémicas. O professor José Maria Castilho analisa, nesta entrevista, os comportamentos da Igreja Católica espanhola e do Papa Bento XVI. A entrevista é conduzida pelo jornalista Manuel Vilas Boas.
    http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1707406

    PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

    EVANGELHOMc 1,14-20
    Depois de João ter sido preso,
    Jesus partiu para a Galileia
    e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo:
    «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus.
    Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
    Caminhando junto ao mar da Galileia,
    viu Simão e seu irmão André,
    que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
    Disse-lhes Jesus:
    «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens».
    Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O.
    Um pouco mais adiante,
    viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
    que estavam no barco a consertar as redes;
    e chamou-os.
    Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados
    e seguiram Jesus.
    AMBIENTE
    A primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30) tem como objectivo fundamental levar à descoberta de Jesus como o Messias que proclama o Reino de Deus. Ao longo de um percurso que é mais catequético do que geográfico, os leitores do Evangelho são convidados a acompanhar a revelação de Jesus, a escutar as suas palavras e o seu anúncio, a fazerem-se discípulos que aderem à sua proposta de salvação. Este percurso de descoberta do Messias que o catequista Marcos nos propõe termina em Mc 8,29-30, com a confissão messiânica de Pedro, em Cesareia de Filipe (que é, evidentemente, a confissão que se espera de cada crente, depois de ter acompanhado o percurso de Jesus a par e passo): “Tu és o Messias”.
    O texto que nos é hoje proposto aparece, exactamente, no princípio desta caminhada de encontro com o Messias e com o seu anúncio de salvação. Neste texto, Marcos apresenta aos seus leitores os primeiros passos da acção do Messias libertador.
    O lugar geográfico em que o texto nos situa é a Galileia – uma região em permanente contacto com os pagãos e, por isso, considerada pelas autoridades religiosas de Jerusalém uma terra de onde “não podia vir nada de bom”. Terra insignificante e sem especial relevo na história religiosa do Povo de Deus, a “Galileia dos gentios” parecia condenada a continuar uma região esquecida, marginalizada, por onde nunca passariam os caminhos de Deus e a proposta libertadora do Messias.
    MENSAGEM
    O nosso texto divide-se em duas partes. Na primeira, Marcos apresenta uma espécie de resumo da pregação inicial de Jesus (cf. Mc 1,14-15); na segunda, o nosso evangelista apresenta os primeiros passos da comunidade dos discípulos – a comunidade do Reino (cf. Mc 1,16-20).
    No breve resumo da pregação inicial de Jesus, Marcos coloca na boca de Jesus as seguintes palavras: “cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15).
    Na expressão “cumpriu-se o tempo”, a palavra grega utilizada por Marcos e que traduzimos por “tempo” (“kairós”) refere-se a um tempo bem distinto do tempo material (“chronos”), que é o tempo medido pelos relógios. Poderia traduzir-se como “de acordo com o projecto de salvação que Deus tem para o mundo, chegou a altura determinada por Deus para o cumprimento das suas promessas”.
    Que “tempo” é esse que “se aproximou” dos homens e que está para começar? É o “tempo” do “Reino de Deus”. A expressão – tão frequente no Evangelho segundo Marcos – leva-nos a um dos grandes sonhos do Povo de Deus…
    A catequese de Israel (como aliás acontecia com a reflexão teológica de outros povos do Crescente Fértil) referia-se, com frequência, a Jahwéh como a um rei que, sentado no seu trono, governa o seu Povo. Mesmo quando Israel passou a ter reis terrenos, esses eram considerados apenas como homens escolhidos e ungidos por Jahwéh para governar o Povo, em lugar do verdadeiro rei que era Deus. O exemplo mais típico de um rei/servo de Jahwéh, que governa Israel em nome de Jahwéh, submetendo-se em tudo à vontade de Deus, foi David. A saudade deste rei ideal e do tempo ideal de paz e de felicidade em que Jahwéh reinava (através de David) sobre o seu povo, vai marcar toda a história futura de Israel. Nas épocas de crise e de frustração nacional, quando reis medíocres conduziam a nação por caminhos de morte e de desgraça, o Povo sonhava com o regresso aos tempos gloriosos de David. Os profetas, por sua vez, vão alimentar a esperança do Povo anunciando a chegada de um tempo, no futuro, em que Jahwéh vai voltar a reinar sobre Israel e vai restabelecer a situação ideal da época de David. Essa missão, na perspectiva profética, será confiada a um “ungido” que Deus vai enviar ao seu Povo. Esse “ungido” (em hebraico “messias”, em grego “cristo”) estabelecerá, então, um tempo de paz, de justiça, de abundância, de felicidade sem fim – isto é, o tempo do “reinado de Deus”.
    O “Reino de Deus” é, portanto, uma noção que resume a esperança de Israel num mundo novo, de paz e de abundância, preparado por Deus para o seu Povo. Esta esperança está bem viva no coração de Israel na época em que Jesus aparece a dizer: “o tempo completou-se e o Reino de Deus aproximou-se”. Certas afirmações de Jesus, transmitidas pelos Evangelhos sinópticos, mostram que Ele tinha consciência de estar pessoalmente ligado ao Reino e de que a chegada do Reino dependia da sua acção.
    Jesus começa, precisamente, a construção desse “Reino” pedindo aos seus conterrâneos a conversão (“metanoia”) e o acolhimento da Boa Nova (“evangelho”).
    “Converter-se” significa transformar a mentalidade e os comportamentos, assumir uma nova atitude de base, reformular os valores que orientam a própria vida. É reequacionar a vida, de modo a que Deus passe a estar no centro da existência do homem e ocupe sempre o primeiro lugar. Na perspectiva de Jesus, não é possível que esse mundo novo de amor e de paz se torne uma realidade, sem que o homem renuncie ao egoísmo, ao orgulho, à auto-suficiência e passe a escutar de novo Deus e as suas propostas.
    “Acreditar” não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais; mas é, sobretudo, aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração, fazer dela o guia da própria vida. “Acreditar” é escutar essa “Boa Notícia” de salvação e de libertação (“evangelho”) que Jesus propõe e fazer dela o centro à volta do qual se constrói toda a existência.
    “Conversão” e “adesão ao projecto de Jesus” são duas faces de uma mesma moeda: a construção de um homem novo, com uma nova mentalidade, com novos valores, com uma postura vital inteiramente nova. Vai ser isso que Jesus vai propor em cada palavra que pronuncia: que nasça um homem novo, capaz de amar o próximo (Mt 22,39), mesmo aquele que é adversário ou inimigo (Lc 10,29-37); que nasça um homem novo, que não vive para o egoísmo, para a riqueza, para os bens materiais, mas sim para a partilha (Mc 6,32-44); que nasça um homem novo, que não viva para ter poder e dominar, mas sim para o serviço e para a entrega da vida (Mc 9,35). Então, sim, teremos um mundo novo – o “Reino de Deus”.
    Depois de dizer qual a proposta inicial de Jesus, Marcos apresenta-nos os primeiros discípulos. Pedro e André, Tiago e João são – na versão de Marcos – os primeiros a responder positivamente ao desafio do Reino, apresentado por Jesus. Isso significa que eles estão dispostos a “converter-se” (isto é, a mudar os seus esquemas de vida, de forma a que Deus passe a estar sempre em primeiro lugar) e a “acreditar na Boa Nova” (isto é, a aderir a Jesus, a escutar a sua proposta de libertação, a acolhê-la no coração e a transformá-la em vida).
    A apresentação feita por Marcos do chamamento dos primeiros discípulos não parece ser uma descrição fotográfica de acontecimentos concretos, mas antes a definição de um modelo de toda a vocação cristã. Nesta catequese sobre a vocação, Marcos sugere que:
    1º O chamamento a entrar na comunidade do Reino é sempre uma iniciativa de Jesus dirigida a homens concretos, “normais” (com um nome, com uma história de vida, com uma profissão, possivelmente com uma família).
    2º Esse chamamento é sempre categórico, exigente e radical (Jesus não “prepara” previamente esse chamamento, não explica nada, não dá garantias nenhumas e nem sequer se volta para ver se os chamados responderam ou não ao seu desafio).
    3º Esse chamamento não é para frequentar as aulas de um mestre qualquer, a fim de aprender e depois repetir uma doutrina qualquer; mas é um chamamento para aderir à pessoa de Jesus, para fazer com Ele uma experiência de vida, para aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no amor a Deus e aos irmãos.
    4º Esse chamamento exige uma resposta imediata, total e incondicional, que deve levar a subalternizar tudo o resto para seguir Jesus e para integrar a comunidade do Reino (Pedro, André, Tiago e João não exigem garantias, não pedem tempo para pensar, para medir os prós e os contras, para pôr em ordem os negócios, para se despedir do pai ou dos amigos, mas limitam-se a “deixar tudo” e a seguir Jesus).
    O Evangelho deste domingo apresenta, portanto, o convite que Jesus faz a todos os homens no sentido de integrarem a comunidade do Reino; e apresenta também um modelo para a forma como os chamados devem escutar e acolher esse chamamento.
    ACTUALIZAÇÃO
    Quando contemplamos a realidade que nos rodeia, notamos a existência de sombras que desfeiam o mundo e criam, tantas vezes, angústia, desilusão, desespero e sofrimento na vida dos homens. Esse quadro não é, no entanto, uma realidade irremediável a que estamos para sempre condenados. Nos projectos de Deus, está um mundo diferente – um mundo de harmonia, de justiça, de reconciliação, de amor e de paz. A esse mundo novo, Jesus chamava o “Reino de Deus”. É esse projecto que Jesus nos apresenta e ao qual nos convida a aderir. Somos chamados a construir, com Jesus, um mundo onde Deus esteja presente e que se edifique de acordo com os projectos e os critérios de Deus. Estamos disponíveis para entrar nessa aventura?
    • Para que o “Reino de Deus” se torne uma realidade, o que é necessário fazer? Na perspectiva de Jesus, o “Reino de Deus” exige, antes de mais, a “conversão”. Temos de modificar a nossa mentalidade, os nossos valores, as nossas atitudes, a nossa forma de encarar Deus, o mundo e os outros para que se torne possível o nascimento de uma realidade diferente. Temos de alterar as nossas atitudes de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de comodismo e de voltar a escutar Deus e as suas propostas, para que aconteça, na nossa vida e à nossa volta, uma transformação radical – uma transformação no sentido do amor, da justiça e da paz. O que é que temos de “converter” – quer em termos pessoais, quer em termos institucionais – para que se manifeste, realmente, esse Reino de Deus tão esperado?

    • De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o “Reino de Deus” exige também o “acreditar” no Evangelho. “Acreditar” não é, na linguagem neo-testamentária, a aceitação de certas afirmações teóricas ou a concordância com um conjunto de definições a propósito de Deus, de Jesus ou da Igreja; mas é, sobretudo, uma adesão total à pessoa de Jesus e ao seu projecto de vida. Com a sua pessoa, com as suas palavras, com os seus gestos e atitudes, Jesus propôs aos homens – a todos os homens – uma vida de amor total, de doação incondicional, de serviço simples e humilde, de perdão sem limites. O “discípulo” é alguém que está disposto a escutar o chamamento de Jesus, a acolher esse chamamento no coração e a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Estou disposto acolher o chamamento de Jesus e a percorrer o caminho do “discípulo”?

    • O chamamento a integrar a comunidade do “Reino” não é algo reservado a um grupo especial de pessoas, com uma missão especial no mundo e na Igreja; mas é algo que Deus dirige a cada homem e a cada mulher, sem excepção. Todos os baptizados são chamados a ser discípulos de Jesus, a “converter-se”, a “acreditar no Evangelho”, a seguir Jesus nesse caminho de amor e de dom da vida. Esse chamamento é radical e incondicional: exige que o “Reino” se torne o valor fundamental, a prioridade, o principal objectivo do discípulo.

    • O “Reino” é uma realidade que Jesus começou e que já está decisivamente implantada na nossa história. Não tem fronteiras materiais e definidas; mas está a acontecer e a concretizar-se através dos gestos de bondade, de serviço, de doação, de amor gratuito que acontecem à nossa volta (muitas vezes, até fora das fronteiras institucionais da “Igreja”) e que são um sinal visível do amor de Deus nas nossas vidas. Não é uma realidade que construímos de uma vez, mas é uma realidade sempre em construção, sempre a fazer-se, até à sua realização final, no fim dos tempos, quando o egoísmo e o pecado desaparecerem para sempre. Em cada dia que passa, temos de renovar o compromisso com o “Reino” e empenharmo-nos na sua edificação.
    FONTE: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=344

    sábado, 21 de janeiro de 2012

    Sexta-feira 13, um dia aziago

    por MÁRIO SOARES
    1 Os portugueses têm de compreender que a situação difícil que os aflige depende, fundamentalmente, de como a União Europeia vai evoluir. E aí residem as grandes dificuldades. Porque a União está, paulatinamente, a deixar de o ser; a dupla Merkozy está a distanciar-se - as eleições presidenciais francesas estão à porta - e é difícil fazer previsões consistentes quanto a um futuro tão incerto.
    É verdade que tenho vindo sempre a alertar para as debilidades da União, citando autoridades como Helmut Schmidt, Kohl e Delors que, salvo erro, foram quem denunciou primeiro que a União estava à beira do abismo. É exato. Mas nunca acreditei - até hoje e ainda não creio - que os dirigentes europeus sejam tão incapazes que não impeçam que a catástrofe se verifique, com todas as nefastas consequências que daí viriam, como a destruição do euro e a correspondente desintegração da União, pelo menos da Zona Euro.
    Na sexta-feira à tarde, 13 de janeiro, deflagrou uma "bomba" antieuropeia de grandes proporções. Foi a agência de rating, Standard & Poor's, de má memória, que a lançou, com as suas ridículas avaliações, retirando um A aos três que a França tanto se orgulhava de ostentar... Isto a cem dias das próximas eleições presidenciais, que tanto preocupam - e com razão - Nicolas Sarkozy.
    Mas não foi só a França que perdeu prestígio e sofre com as especulações dos mercados e das agências americanas de avaliação. Foi também a Áustria, que parecia tão certinha, que perdeu um A, a Espanha, que tinha dois A e também perdeu um, a Itália, que passou de A a B, e os sete países da Zona Euro que desceram das suas posições. O que obriga a que os Estados, espero, reflitam e reajam quanto ao caminho que a Europa deve seguir.
    No mesmo dia aziago - sexta-feira, 13 - as negociações em curso entre o Governo grego e os bancos foram suspensas, o que criou um problema suplementar e muito sério a todos os Estados da Zona Euro. A Grécia, tenho-o dito e repetido, não é um Estado qualquer. É o berço da nossa civilização. Seria, por isso, um péssimo sinal se a União Europeia, já tão desprestigiada, pelas constantes tergiversações dos seus líderes, viesse a cair, forçando a Grécia a sair da Zona Euro. Uma situação inimaginável para qualquer europeu, com um mínimo de cultura.
    A verdade é que o tempo está a passar e líderes como a chanceler Merkel ou o Presidente Sarkozy parecem continuar cegos para compreender as realidades que cada vez mais os cercam inexoravelmente. Quererão ser os coveiros da Europa? Que tremendo disparate, sobretudo para uma alemã, que devia lembrar-se das responsabilidades do nazismo e também do que fez a União Europeia para a libertar do totalitarismo alemão, da Alemanha de Leste...
    2 Portugal é lixo? Permitam-me que responda aos anónimos da Standard & Poor's: lixo são eles. E do pior! Porque estão ao serviço de sórdidos interesses materiais, até agora irresponsavelmente e com total impunidade. O Estado português reagiu, por intermédio do ministro das Finanças, mas fê-lo um pouco a medo. Deverá talvez ter ficado engasgado com o desplante dos anónimos de empresas de rating, que aliás partilham da mesma ideologia do ministro, visto que também põem os mercados - e o dinheiro - acima das pessoas, dos Estados e dos valores éticos...
    Por mim, se representasse o Estado português, poria uma ação contra a empresa Standard & Poor's, reclamando uma pesada indemnização, a pagar ao Estado português, dados os malefícios que efetivamente lhe causou, com essa simples frase, tão desagradável para Portugal, reproduzida em toda a comunicação social do mundo inteiro.
    Lembro que Portugal, como a Grécia, a Itália ou a Espanha, também não são Estados quaisquer, no quadro da União Europeia. A Itália, pelo seu passado histórico, émulo da Grécia. E Portugal e Espanha porque, citando Camões, "deram novos mundos ao mundo". Isto é: levaram a nossa civilização e religião ao mundo inteiro e deram a conhecer à Europa os quatro continentes que desconheciam.
    Portugal encontra-se hoje numa situação financeira muito difícil, como tantos dos seus parceiros europeus da Zona Euro. Foi importada dos Estados Unidos e comunicou-se à União Europeia, que a tem deixado agravar e não a soube tratar, como poderia - e deveria ter feito - desde o início.
    Obviamente que cada Estado soberano tem as suas próprias responsabilidades, públicas e privadas, um certo despesismo e uma má gestão das suas finanças. Mas, perante isso, as instituições europeias ficaram paralisadas e os Estados mais ricos, como a Alemanha e a França, por egoísmos nacionais e falta de uma visão estratégica de conjunto, foram adiando as soluções possíveis e deixando correr. Hoje, com a Europa à beira do abismo, ou os dirigentes mudam urgentemente os seus comportamentos ou a União entra em irreversível decadência, numa fase do mundo em que todos os continentes deixaram de olhar para a Europa como uma referência e sem o antigo respeito.
    3 As medidas de austeridade. Num tal contexto, é legítimo perguntarmo-nos: para que servem as medidas de austeridade, que estão a estrangular as empresas e os cidadãos, a paralisar o crescimento económico, a fazer crescer o desemprego e as desigualdades sociais. Necessariamente põem em causa a coesão nacional, porventura o nosso bem mais precioso.
    Num momento de aflição, quando estávamos, em Portugal, à beira da bancarrota, fomos obrigados a pedir emprestado à União Europeia dinheiro, a juros altíssimos. Foi quando veio a troika e nos impôs medidas de austeridade verdadeiramente draconianas. Mas então nasceu outro problema maior talvez que o primeiro: a recessão económica, que paralisa o nosso crescimento, sem remédio, e faz aumentar, desmesuradamente, o desemprego. Quer dizer: o ano em curso - 2012 - vai ser pior que o anterior e as dificuldades impostas pela troika agravarão a situação. A verdade é que em vez de melhorarem e resolverem os problemas, vão piorá-los consideravelmente. Isto é: estaremos a caminhar para a destruição do nosso próprio país. Ora, isso não é aceitável. A própria agência Standard & Poor's, curiosamente, escreveu no seu relatório - vide Le Monde de 16 de janeiro - "cremos que um pacote de reformas que repouse apenas sobre o pilar da austeridade monetária corra o risco de se tornar autodestrutivo". Só os mercados especulativos e sem ética é que ganham com este estranho negócio!
    Como sair então deste imbróglio? Note-se que não nos afeta só a nós, mas também a bastantes Estados da Zona Euro - alguns importantes - que estão nas mesmas ou até bem piores circunstâncias. Só há uma resposta: a União Europeia tem de mudar de paradigma, isto é: de política financeira e fiscal, pôr em ordem os mercados especulativos e acabar com as economias virtuais e as negociatas feitas através dos paraísos fiscais.
    Não pense a Alemanha que, por ser um país hoje rico, vai escapar às grandes dificuldades que estão a sofrer os outros seus parceiros europeus. Antes pelo contrário: vão-lhe ser imputadas medidas que agravam muitas das dificuldades que, porventura, não lhe pertencem...
    Não se julgue que os povos da Europa vão aceitar que se lhes retirem, sem grandes protestos e lutas talvez fratricidas, as conquistas sociais - a educação, os serviços de saúde, as pensões de re- forma, para os idosos ou para os doentes, a concertação social e a dignidade do trabalho - que lhes deram seis décadas de paz, de democracia, de bem-estar e de prosperidade. Para quê? Para engordar os especuladores e os ricos e destruir os Estados sociais? No passado foram situações parecidas que criaram as condições para as duas guerras mundiais que sofremos no último século. A Alemanha sabe-o bem.
    Por isso, é preciso que os líderes europeus acordem e tenham consciência do perigo em que estão a incorrer. Enquanto é tempo...
    4 Será que voltámos aos boys? A última semana foi difícil, também pelas questões que se levantaram, denunciadas pela comunicação social, de exclusiva raiz nacional. Houve nomeações de altos postos de gestão, com ordenados milionários, em que estiveram envolvidas personalidades dos partidos do Governo. Venderam-se ou concertaram-se vendas, das chamadas "joias da coroa" - que enfraquecem o património nacional -, sem que os portugueses fossem devidamente informados do que se ganhou e onde vai ser gasto esse dinheiro.
    Fica a impressão de que não há um plano estratégico de conjunto, explicado aos portugueses, para o que se está a passar com as nomeações de novos gestores e as privatizações vendidas ao estrangeiro e como irá ser gasto o dinheiro recolhido? Entretanto, os portugueses, que não têm nada de parvos, para sobreviverem apostam na economia paralela. Grave situação!
    A qualquer observador minimamente atento, o Governo parece não querer explicar, com total transparência, as medidas que estão a ser tomadas e se são verdadeiras reformas ou simples contrarreformas. Há a impressão, que se está a generalizar, da ideia de que o Serviço Nacional de Saúde está a ser paulatinamente destruído, o que é péssimo se assim vier a acontecer. Por outro lado, também se está a formar a convicção de que as medidas de austeridade só se aplicam aos pobres e às classes médias menos abastadas. É que não são feitos esforços, do lado do Governo, para se conseguir chegar a um mínimo de concertação social, como era útil que acontecesse.
    São maus prenúncios que podem vir a ter grandes custos para o Governo. Atenção, pois. Numa situação tão difícil como a que atravessamos, é preciso que, aos olhos dos mais carecidos, o poder político seja visto como estando preocupado com as desigualdades sociais, não permitindo que a ostentação da riqueza o possa envolver.
    FONTE: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2244661&seccao=M%E1rio Soares&tag=Opini%E3o - Em Foco&page=-1
    Assim é que é falar, perdão, escrever, Srº Drº Soares, o homem da descolonização exemplar! Estará a redimir-se? Não será tarde demais?

    quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

    CANÇÕES COM HISTÓRIA: "Barcelona"

    http://tv1.rtp.pt/play/?radiocanal=2#/?prog%3D3036%26idpod%3D210249%26fbtitle%3DRTP Play - Canções com História%26fbimg%3Dhttp%3A%2F%2Fimg0.rtp.pt%2FEPG%2Fimgth%2FphpThumb.php%3Fsrc%3D%2FEPG%2Fradio%2Fimagens%2F3036_DSC_0049.JPG%26w%3D160%26h%3D120%26fburl%3Dhttp%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2F%3Fprog%3D3036%26idpod%3D210249



    http://rr.sapo.pt/bolabranca_detalhe.aspx?fid=43&did=45858

    http://rr.sapo.pt/bolabranca_detalhe.aspx?fid=43&did=46486

    terça-feira, 17 de janeiro de 2012

    Conhecer o PASSADO para entender o PRESENTE e preparar o FUTURO (12/12):

    (continuação)
    A história do Estado Novo (dos anos 30 ao 25 de Abril de 1974) e da sua personagem & ícone à lupa, por quem muito bem a conhece e melhor a conta. Fernando Dacosta, «jornalista, escritor, estudioso, testemunha atenta e especialista reconhecido deste período», falará sobre os momentos mais marcantes dessa época em conversa com Eduardo Oliveira e Silva.
    "NASCIDOS NO ESTADO NOVO/CEM ANOS PORTUGUESES", uma série bem elucidativa desse período marcante da nossa história contemporânea, em 12 programas com cerca de 3/4 de hora que mais parecem de minuto. Os aspectos neles relatados, são tão suficientemente curiosos, pormenorizados e alguns desconhecidos até, que o tempo passa sem darmos por ele.
    « (...) nascidos no Estado Novo, faça connosco um exercício de memória (...) » - assim nos convida o jornalista-anfitrião. Aceite o convite porque vale a pena; senão, oiça-se neste 12º e último programa da série:
    Retratos de pessoas já desaparecidas e marcantes em Portugal, segundo o jornalista e escritor Fernando Dacosta tais como Salazar, Cardeal Cerejeira, Marcelo Caetano, Franco Nogueira, António Lopes Ribeiro, Augusto de Castro, Fernanda de Castro, Amália RodriguesAmélia Rey Colaço, Agostinho da Silva que, conjuntamente com Franco NogueiraMiguel Torga e Natália Correia anteviram o futuro de Portugal agora tornado presente, Jorge de Sena, Irmã Lúcia, Álvaro Cunhal e José Saramago.

    http://tv1.rtp.pt/play/?radiocanal=2#/?prog%3D4674%26idpod%3D204624%26fbtitle%3DRTP Play - 100 Anos Portugueses%26fbimg%3Dhttp%3A%2F%2Fimg0.rtp.pt%2FEPG%2Fimgth%2FphpThumb.php%3Fsrc%3D%2FEPG%2Fradio%2Fimagens%2F4674_pratadacasa.jpg%26w%3D160%26h%3D120%26fburl%3Dhttp%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2F%3Fprog%3D4674%26idpod%3D204624

    Antena 2 mais uma vez, pois claro!!!

    segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

    "UM POEMA POR SEMANA" (6/15)

    Estreou, no Dia Mundial da Poesia (21 de Março):15 poemas em 75 dias, ditos por 75 pessoas Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Ruy Belo, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Sá de Miranda, António Nobre, Alexandre O'Neill, Luís Vaz de Camões, Jorge de Sena, José Régio, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny.
    O que têm em comum estes poetas? Para lá do facto de estarem mortos? Todos marcaram indelevelmente a história da literatura em língua portuguesa.
    Mais do que isso: marcaram o nosso imaginário e condicionaram a nossa identidade! Ainda que, muitas vezes, disso não tenhamos consciência...
    Os "dizedores":
    São homens e mulheres, novos e velhos, falantes de português. Gente que tem em comum gostar MUITO de poesia.
    "Um Poema por Semana" é uma ideia de Paula Moura Pinheiro.
    Escolha dos poemas: José Carlos de Vasconcelos, jornalista com longa história na ação cultural em Portugal e diretor do clássico "Jornal de Letras";
    Direção artística, realização e cenografia: Paulo Braga, um criativo sénior do mundo da Publicidade;
    Direção de Casting: João Gesta, o apaixonado inventor de Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre, no Porto; e por Gonçalo Riscado, Sandra Silva e Alexandre Cortez responsáveis pelo Festival Silêncio;

    Para que fiquem claros os critérios com que trabalhámos em "Um Poema por Semana": nos poemas de autores que viveram há séculos, como Sá de Miranda ou mesmo Cesário Verde, há, por vezes, discrepâncias entre as diversas fixações dos seus textos. Nesses casos, aceitámos que os "diseurs" usassem a fixação do poema que melhor conhecem. Mas cuidámos que os textos dos poemas que aqui publicamos correspondem às fixações mais reconhecidas pela academia - se é para conhecer melhor o poema, que seja na sua versão mais consensual.

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de Luís Vaz de Camões



    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
    Muda-se o ser, muda-se a confiança;
    Todo o mundo é composto de mudança,
    Tomando sempre novas qualidades.
    Continuamente vemos novidades,
    Diferentes em tudo da esperança;
    Do mal ficam as mágoas na lembrança,
    E do bem, se algum houve, as saudades.
    O tempo cobre o chão de verde manto,
    Que já coberto foi de neve fria,
    E, em mim, converte em choro o doce canto.
    E, afora este mudar-se cada dia,
    Outra mudança faz de mor espanto,
    Que não se muda já como soía.


    Luís de Camões
    1524?-1580
    Sonetos de Luís de Camões
    escolhidos por Eugénio de Andrade
    Assírio & Alvim

    sábado, 14 de janeiro de 2012

    PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

    EVANGELHO – Jo 1,35-42
    Naquele tempo,
    estava João Baptista com dois dos seus discípulos
    e, vendo Jesus que passava, disse:
    «Eis o Cordeiro de Deus».
    Os dois discípulos ouviram-no dizer aquelas palavras
    e seguiram Jesus.
    Entretanto, Jesus voltou-Se;
    e, ao ver que O seguiam, disse-lhes:
    «Que procurais?»
    Eles responderam:
    «Rabi – que quer dizer ‘Mestre’ – onde moras?»
    Disse-lhes Jesus: «Vinde ver».
    Eles foram ver onde morava
    e ficaram com Ele nesse dia.
    Era por volta das quatro horas da tarde.
    André, irmão de Simão Pedro,
    foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus.
    Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe:
    «Encontrámos o Messias» - que quer dizer ‘Cristo’ –;
    e levou-o a Jesus.
    Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe:
    «Tu és Simão, filho de João.
    Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’.

    AMBIENTEA perícopa que nos é proposta integra a secção introdutória do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19-3,36). Aí o autor, com consumada mestria, procura responder à questão: “quem é Jesus?”
    João dispõe as peças num enquadramento cénico. As diversas personagens que vão entrando no palco procuram apresentar Jesus. Um a um, os actores chamados ao palco por João vão fazendo afirmações carregadas de significado teológico sobre Jesus. O quadro final que resulta destas diversas intervenções apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, que possui o Espírito e que veio ao encontro dos homens para fazer aparecer o Homem Novo, nascido da água e do Espírito.
    João Baptista, o profeta/precursor do Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu testemunho aparece no início e no fim da secção – cf. Jo 1,19-37; 3,22-36). Ele vai definir aquele que chega e apresentá-lo aos homens.
    O nosso texto apresenta-nos os primeiros três discípulos de Jesus: André, um outro discípulo não identificado e Simão Pedro. Os dois primeiros são apresentados como discípulos de João e é por indicação de João que seguem Jesus. Trata-se de um quadro de vocação que difere substancialmente dos relatos de chamamento dos primeiros discípulos apresentados pelos sinópticos (cf. Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,1-11). Mais do que uma reportagem realista de acontecimentos concretos, o autor do Quarto Evangelho apresenta aqui um modelo de chamamento e de seguimento de Jesus.

    MENSAGEM
    Num primeiro momento, o quadro situa-nos junto do rio Jordão (vers. 35-37). Os três primeiros personagens em cena são João e dois dos seus discípulos – isto é, dois homens que tinham escutado o anúncio de João e recebido o seu baptismo, símbolo da ruptura com a “vida velha” e de adesão ao Messias esperado. Estes dois discípulos de João são, portanto, homens que, devido ao testemunho de João, já aderiram a esse Messias que está para chegar e que esperam ansiosamente a sua entrada em cena.
    Entretanto, apareceu Jesus. João viu Jesus “que passava” e indicou-O aos seus dois discípulos, dizendo: “eis o cordeiro de Deus” (vers. 36). João é uma figura estática, cuja missão é meramente circunstancial e consiste apenas em preparar os homens para acolher o Messias libertador; quando esse Messias “passa”, a missão de João termina e começa uma nova realidade. João está plenamente consciente disso… Não procura prolongar o seu protagonismo ou conservar no seu círculo restrito esses discípulos que durante algum tempo o escutaram e que beberam a sua mensagem. Ele sabe que a sua missão não é congregar à sua volta um grupo de adeptos, mas preparar o coração dos homens para acolher Jesus e a sua proposta libertadora. Por isso, na ocasião certa, indica Jesus aos seus discípulos e convida-os a segui-l’O.
    A expressão “eis o cordeiro de Deus”, usada por João para apresentar Jesus, fará, provavelmente, referência ao “cordeiro pascal”, símbolo da libertação oferecida por Deus ao seu Povo, prisioneiro no Egipto (cf. Ex 12,3-14. 21-28). Esta expressão define Jesus como o enviado de Deus, que vem inaugurar a nova Páscoa e realizar a libertação definitiva dos homens. A missão de Jesus consiste, portanto, em eliminar as cadeias do egoísmo e do pecado que prendem os homens à escravidão e que os impedem de chegar à vida plena.
    Depois da declaração de João, os discípulos reconhecem em Jesus esse Messias com uma proposta de vida verdadeira e seguem-n’O. “Seguir Jesus” é uma expressão técnica que o autor do Quarto Evangelho aplica, com frequência, aos discípulos (cf. Jo 1,43; 8,12; 10,4; 12,26; 13,36; 21,19). Significa caminhar atrás de Jesus, percorrer o mesmo caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, adoptar os mesmos objectivos de Jesus e colaborar com Ele na missão. A reacção dos discípulos é imediata. Não há aqui lugar para dúvidas, para desculpas, para considerações que protelem a decisão, para pedidos de explicação, para procura de garantias… Eles, simplesmente, “seguem” Jesus.
    Num segundo momento, o quadro apresenta-nos um diálogo entre Jesus e os dois discípulos (vers. 38-39). A pergunta inicial de Jesus (“que procurais?”) sugere que é importante, para os discípulos, terem consciência do objectivo que perseguem, do que esperam de Jesus, daquilo que Jesus lhes pode oferecer. O autor do Quarto Evangelho insinua aqui, talvez, que há quem segue Jesus por motivos errados, procurando n’Ele a realização de objectivos pessoais que estão muito longe da oferta que Jesus veio fazer.Os discípulos respondem com uma pergunta (“rabbi, onde moras?”). Nela, está implícita a sua vontade de aderir totalmente a Jesus, de aprender com Ele, de habitar com Ele, de estabelecer comunhão de vida com Ele. Ao chamar-Lhe “rabbi”, indicam que estão dispostos a seguir as suas instruções, a aprender com Ele um modo de vida; a referência à “morada” de Jesus indica que eles estão dispostos a ficar perto de Jesus, a partilhar a sua vida, a viver sob a sua influência. É uma afirmação respeitosa de adesão incondicional a Jesus e ao seu seguimento.
    Jesus convida-os: “vinde ver”. O convite de Jesus significa que Ele aceita a pretensão dos discípulos e os convida a segui-l’O, a aprender com Ele, a partilhar a sua vida. Os discípulos devem “ir” e “ver”, pois a identificação com Jesus não é algo a que se chega por simples informação, mas algo que se alcança apenas por experiência pessoal de comunhão e de encontro com Ele.Os discípulos aceitam o convite e fazem a experiência da partilha da vida com Jesus. Essa experiência directa convence-os a ficar com Jesus (“ficaram com Ele nesse dia”). Nasce, assim, a comunidade do Messias, a comunidade da nova aliança. É a comunidade daqueles que encontram Jesus que passa, procuram n’Ele a verdadeira vida e a verdadeira liberdade, identificam-se com Ele, aceitam segui-l’O no seu caminho de amor e de entrega, estão dispostos a uma vida de total comunhão com Ele.
    Num terceiro momento (vers. 40-41), os discípulos tornam-se testemunhas. É o último passo deste “caminho vocacional”: quem encontra Jesus e experimenta a comunhão com Ele, não pode deixar de se tornar testemunha da sua mensagem e da sua proposta libertadora. Trata-se de uma experiência tão marcante que transborda os limites estreitos do próprio eu e se torna anúncio libertador para os irmãos. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, conduz sempre a uma dinâmica missionária.

    ACTUALIZAÇÃO
    O Evangelho deste domingo diz-nos, antes de mais, o que é ser cristão… A identidade cristã não está na simples pertença jurídica a uma instituição chamada “Igreja”, nem na recepção de determinados sacramentos, nem na militância em certos movimentos eclesiais, nem na observância de certas regras de comportamento dito “cristão”… O cristão é, simplesmente, aquele que acolheu o chamamento de Deus para seguir Jesus Cristo.
    • O que é, em concreto, seguir Jesus? É ver n’Ele o Messias libertador com uma proposta de vida verdadeira e eterna, aceitar tornar-se seu discípulo, segui-l’O no caminho do amor, da entrega, da doação da vida, aceitar o desafio de entrar na sua casa e de viver em comunhão com Ele.
    • O nosso texto sugere também que essa adesão só pode ser radical e absoluta, sem meias tintas nem hesitações. Os dois primeiros discípulos não discutiram o “ordenado” que iam ganhar, se a aventura tinha futuro ou se estava condenada ao fracasso, se o abandono de um mestre para seguir outro representava uma promoção ou uma despromoção, se o que deixavam para trás era importante ou não era importante; simplesmente “seguiram Jesus”, sem garantias, sem condições, sem explicações supérfluas, sem “seguros de vida”, sem se preocuparem em salvaguardar o futuro se a aventura não desse certo. A aventura da vocação é sempre um salto, decidido e sereno, para os braços de Deus.
    • A história da vocação de André e do outro discípulo (despertos por João Baptista para a presença do Messias) mostra, ainda, a importância do papel dos irmãos da nossa comunidade na nossa própria descoberta de Jesus. A comunidade ajuda-nos a tomar consciência desse Jesus que passa e aponta-nos o caminho do seguimento. Os desafios de Deus ecoam, tantas vezes, na nossa vida através dos irmãos que nos rodeiam, das suas indicações, da partilha que eles fazem connosco e que dispõe o nosso coração para reconhecer Jesus e para O seguir. É na escuta dos nossos irmãos que encontramos, tantas vezes, as propostas que o próprio Deus nos apresenta.
    • O encontro com Jesus nunca é um caminho fechado, pessoal e sem consequências comunitárias… Mas é um caminho que tem de me levar ao encontro dos irmãos e que deve tornar-se, em qualquer tempo e em qualquer circunstância, anúncio e testemunho. Quem experimenta a vida e a liberdade que Cristo oferece, não pode calar essa descoberta; mas deve sentir a necessidade de a partilhar com os outros, a fim de que também eles possam encontrar o verdadeiro sentido para a sua existência. “Encontrámos o Messias” deve ser o anúncio jubiloso de quem fez uma verdadeira experiência de vida nova e verdadeira e anseia por levar os irmãos a uma descoberta semelhante.
    • João Baptista nunca procurou apontar os holofotes para a sua própria pessoa e criar um grupo de adeptos ou seguidores que satisfizessem a sua vaidade ou a sua ânsia de protagonismo… A sua preocupação foi apenas preparar o coração dos seus concidadãos para acolher Jesus. Depois, retirou-se discretamente para a sombra, deixando que os projectos de Deus seguissem o seu curso. Ele ensina-nos a nunca nos tornarmos protagonistas ou a atrair sobre nós as atenções; ele ensina-nos a sermos testemunhas de Jesus, não de nós próprios
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