"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 28 de agosto de 2011

Porque hoje é DOMINGO (28-08-2011): Leituras & actualidade

A reflexão/actualização pode fazer-se considerando, para cada uma das três, os seguintes pontos-questões (sublinhados meus):

LEITURA IJer 20,7-9:
• A história de Jeremias é, em termos gerais, a história de todos aqueles que Deus chama a ser profetas. Ser sinal de Deus e dos seus valores significa enfrentar a injustiça, a opressão, o pecado e, portanto, pôr em causa os interesses egoístas e os esquemas sobre os quais, tantas vezes, se constrói a história do mundo; por isso, o “caminho profético” é um caminho onde se lida, permanentemente, com a incompreensão, com a solidão, com o risco. Deus nunca prometeu a nenhum profeta um caminho fácil de glórias e de triunfos humanos. Temos consciência disso e estamos dispostos a seguir esse caminho?
• No baptismo, fomos ungidos como “profetas”, à imagem de Cristo. Estamos conscientes dessa vocação a que Deus, a todos, nos convocou? Temos a noção de que somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus ressoa no mundo e se dirige aos homens?
• Neste texto – e, em geral, em toda a vida de Jeremias – impressiona-nos o espaço fundamental que a Palavra de Deus ocupa na vida do profeta. Ela tomou conta do seu coração e dominou-o totalmente. É uma “paixão” que – apesar de ter trazido ao profeta uma história pessoal de sofrimento e de risco – não pode ser calada e sufocada. Que espaço ocupa a Palavra de Deus ocupa na minha vida? Amo, de forma apaixonada, a Palavra de Deus? Estou disposto a correr todos os riscos para que a Palavra de Deus alcance a vida dos meus irmãos e renove o mundo?
• O lamento de Jeremias não deve escandalizar-nos; mas deve ser entendido no contexto de uma situação trágica de sofrimento intolerável. É o grito de um coração humano dolorido, marcado pela incompreensão dos que o rodeiam, pelo abandono, pela solidão e pelo aparente fracasso da missão a que devotou a sua vida. É o mesmo lamento de tantos homens e mulheres, em tantos momentos dramáticos de solidão, de sofrimento, de incompreensão, de dor. É a expressão da nossa finitude, da nossa fragilidade, das nossas limitações, da nossa humanidade. É precisamente nessas situações que nos dirigimos a Deus (às vezes até com expressões menos próprias) e Lhe dizemos a falta que Ele nos faz e o quanto a nossa vida é vazia e sem sentido se Ele não nos estender a sua mão. Esses momentos não são, propriamente, momentos negativos da nossa caminhada de fé e de relação com Deus; mas são momentos (talvez necessários) de crescimento e de amadurecimento, em que experimentamos a nossa fragilidade e descobrimos que, sem Deus e sem o seu amor, a nossa vida não faz sentido.
LEITURA II Rom 12,1-2:
Como é que o crente deve responder aos dons de Deus? Com actos rituais solenes e formais, com orações ou gestos tradicionais repetidos de forma mecânica, com a oferta de uma “esmola” para os cofres da Igreja, com uma peregrinação a um santuário? Paulo responde: o culto que Deus quer é a nossa vida, vivida no amor, no serviço, na doação, na entrega a Deus e aos irmãos. Respondemos ao amor de Deus entregando-nos nas suas mãos, tentando perceber as suas propostas, vivendo na fidelidade aos seus projectos. Como é o culto que eu procuro prestar a Deus: é um somatório de gestos mecânicos, rituais e externos, ou é uma vida de entrega e de amor a Deus e aos homens meus irmãos?
• “Não vos conformeis com este mundo” – pede Paulo. O cristão é alguém que não pactua com um mundo que se constrói à margem ou contra os valores de Deus. O cristão não pode pactuar com a violência como meio para resolver os problemas, nem com a lógica materialista do sucesso a qualquer custo, nem com as leis do neo-liberalismo que deixam atrás uma multidão de vencidos e de sofredores, nem com as exigências de uma globalização que favorece alguns privilegiados mas aumenta as bolsas de miséria e de exclusão, nem com a forma de organização de uma sociedade que condena à solidão os velhos e os doentesEu sou um comodista, egoisticamente instalado no meu cantinho a devorar a minha pequena fatia de felicidade, ou sou alguém que não se conforma e que luta para que os projectos de Deus se concretizem?
• “Transformai-vos pela renovação espiritual da vossa mente” – diz Paulo. Estou instalado nos meus preconceitos, nas minhas certezas e seguranças, nos meus princípios imutáveis, ou estou sempre numa permanente escuta de Deus, dos seus caminhos, dos seus projectos e propostas?
EVANGELHOMt 16,21-27:
• Frente a frente, o Evangelho deste domingo coloca a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa. A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade. Na minha vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de felicidade seguro e duradouro?
• Jesus tornou-Se um de nós para concretizar os planos do Pai e propor aos homens – através do amor, do serviço, do dom da vida – o caminho da salvação, da vida verdadeira. Neste texto (como, aliás, em muitos outros), fica claramente expressa a fidelidade radical de Jesus a esse projecto. Por isso, Ele não aceita que nada nem ninguém O afaste do caminho do dom da vida: dar ouvidos à lógica do mundo e esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele rejeita duramente. Que significado e que lugar ocupam na minha vida os projectos de Deus? Esforço-me por descobrir a vontade de Deus a meu respeito e a respeito do mundo? Estou atento a esses “sinais dos tempos” através dos quais Deus me interpela? Sou capaz de acolher e de viver com fidelidade e radicalidade as propostas de Deus, mesmo quando elas são exigentes e vão contra os meus interesses e projectos pessoais?
• Quem são os verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de nós receberam uma catequese que insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o essencial: o seguimento de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser baptizado, ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia, ou dar-se bem com o padre… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus.
• O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.
• O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.

Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=425
APOIADO! Não podia estar mais d’acordo. Aliás, não tem dado para entender?








sábado, 27 de agosto de 2011

TESTE DE ORTOGRAFIA...

...antes que chegue a obrigatoriedade da implementação do (N)AO.

Você sabe escrever correctamente português?
Faça este teste...
Se tirar menos de 80%...volte para a escolinha.
http://www.anossaescola.com/tarouca/recursos/Escolhamultipla2.htm


RESILIÊNCIA hoje mais do que nunca PRECISA-SE!!!

Ótimos conselhos para os tempos que já aí estão!


GLOBALIZAÇ​ÃO & MUSICOTERA​PIA(1): uma orquestra mundial só possível ...

... graças à criatividade, solidariedade & tecnologia humanas, em boa hora aproveitada por esta "THE PLAYING FOR CHANGE FOUNDATION" - um nome a fixar. E porque não candidata a Prémio Nobel da Paz já que o da música não existe? Bem haja, por estes, para já, 3 momentos magistrais, belíssimos, imperdíveis & fabulosos. Não estou a exagerar; senão veja-se (de preferência, em "fullscreen" clicando nas setinhas do canto inferior direito do vídeo):








«A música está em tudo. Do mundo sai um hino» (Hugo, Victor) que, neste caso, são três!!!

Telemóveis & Saúde


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Por falar em telemóveis, quem se recorda disto?

ONU: Mundo caminha para "crise social global" devido à recessão de 2008-2009

O mundo enfrenta uma “crise social global” emergente provocada pelo desemprego generalizado, o elevado preço dos alimentos e combustíveis e outros efeitos da recessão económica de 2008-2009, alertou hoje a ONU num relatório divulgado em Genebra.
No documento, a ONU adverte, por outro lado, que as políticas de austeridade adotadas em vários países, designadamente em Espanha e na Grécia, ameaçam o emprego e põem em risco o relançamento das economias, potenciando um agravamento da referida crise social.
O secretário-geral adjunto da ONU para o desenvolvimento económico, o malaio Jomo Kwame Sundaram afirmou hoje que os governos mundiais não estão a conseguir ajudar as 200 milhões de pessoas desempregadas em 2010 e que têm dificuldade em obter alimentos devido ao elevado preço destes.
Segundo Sundaram, a acentuada subida dos preços dos alimentos e dos combustíveis que precedeu a crise financeira mundial fez aumentar o número de pessoas com fome no mundo para mais de mil milhões em 2009, o mais alto de sempre.
E a situação pode ser agravada pelas políticas de austeridade, alerta o relatório 2011 do Conselho Económico e Social da ONU, aconselhando prudência aos governos.
“As medidas de austeridade tomadas por alguns países excessivamente endividados, como a Grécia ou a Espanha, ameaçam o emprego no setor público e a despesa social como tornam a retoma mais incerta e mais frágil”, lê-se no documento. “Os governos devem reagir com prudência às pressões para a consolidação orçamental e para a adoção de políticas de austeridade se não querem correr o risco de interromper a recuperação da sua economia”, acrescenta.
O relatório frisa que este problema não diz apenas respeito às economias mais desenvolvidas, uma vez que “muitos países em desenvolvimento, nomeadamente os que beneficiam de programas do FMI, também sofrem pressões para reduzir a despesa pública e adotar medidas de austeridade”.
Uma das conclusões do relatório é que os governos devem poder aplicar, de maneira sistemática, políticas contra-cíclicas.
Para isso, prossegue, é “indispensável” rever “a natureza e os objetivos de base das condições” impostas pelas organizações internacionais para dar ajuda aos países em dificuldade.
“É essencial que os governos tenham em conta as prováveis consequências sociais das suas políticas económicas” em áreas como a nutrição, a saúde e a educação, para não penalizar o crescimento económico a longo prazo, lê-se ainda no documento.
@Lusa

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

EXIGÊNCIA, PROFISSIONALISMO E ORGULHO DO PROFESSOR

Sou professor numa escola pública do 2º ciclo do Ensino Básico.
Com o novo ano lectivo a começar, convém informar quem não sabe ou julga saber e lembrar quem 1, 2 , n vezes se esquece, o seguinte:
Se um médico, um advogado ou um dentista tivessem, de uma só vez, 30 pessoas no seu gabinete, todas elas com diferentes necessidades e algumas que não querem estar ali, e o médico, o advogado ou o dentista tivessem que tratá-las a todas com elevado profissionalismo durante dez meses, então poderiam fazer uma ideia do que é o trabalho do(a) professor(a) na sala de aula.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma HISTÓRIA & muitas MÚSICAS de encantar os ...

... ouvidos do corpo e da alma:


Sexta-feira, 20h00, tão tarde, jantar por fazer, que maçada, p'rá cozinha já! Rádio ligado, sintonizo a Antena 2.  "JAZZ A 2"? 

 


Huuuum que maravilha! Ora bolas, o que eu tenho perdido! Se soubesse disto há mais tempo ... Ah, não faz mal, já sei, enquanto os nabos & as outras da mesma horta mais o bacalhau cozem em lume brando, vou à net e


Eureka! Aqui estão eles, os programas anteriores que julgava perdidos. É só escolher, por exemplo, o de 05-05-2011, http://www0.rtp.pt/play/index.php?radiocanal=#/?prog%3D4573%26idpod%3D195552%26fbtitle%3DRTP Play - Jazz A2%26fbimg%3Dhttp%3A%2F%2Fimg0.rtp.pt%2FEPG%2Fimgth%2FphpThumb.php%3Fsrc%3D%2FEPG%2Fradio%2Fimagens%2F4573_jjaazz.jpg%26w%3D160%26h%3D120%26fburl%3Dhttp%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2F%3Fprog%3D4573%26idpod%3D195552

Huuuum que maravilha! - afirmo e confirmo. PORREIRO PÁ!!!


"A música de jazz é uma inquietação permanente" (Sagan, Françoise)


Conhecer o PASSADO para entender o PRESENTE e preparar o FUTURO (2/13)

(continuação)
A história do Estado Novo (dos anos 30 ao 25 de Abril de 1974) e da sua personagem & ícone à lupa por quem muito bem a conhece e melhor a conta. Fernando Dacosta, «jornalista, escritor, estudioso, testemunha atenta e especialista reconhecido deste período», falará sobre os momentos mais marcantes dessa época em conversa com Eduardo Oliveira e Silva.
"CEM ANOS PORTUGUESES", uma série bem elucidativa desse período marcante da nossa história contemporânea, em 13 programas com cerca de 3/4 de hora que mais parecem de minuto. Os aspectos neles relatados, são tão suficientemente curiosos, pormenorizados e alguns desconhecidos até, que o tempo passa sem darmos por ele.  
« (...) nascidos no Estado Novo, faça connosco um exercício de memória (...) » - assim nos convida o jornalista-anfitrião. Aceite o convite porque vale a pena; senão, oiça-se o 2º programa da série: Como Salazar chega, emerge e se implanta agora como Presidente do Conselho (Salazar não corrupto, mas corruptor, cliente de cartomantes, a maçonaria, A. Ferro, monárquicos, Cardeal Cerejeira, amante da bisbilhotice, possuidor de várias personalidades “prefiro ser temido do que ser amado". Adorava teatro e cinema...)
Antena 2 mais uma vez, pois claro!!!

http://tv1.rtp.pt/play/?radiocanal=2#/?prog%3D4674%26idpod%3D193757%26fbtitle%3DRTP Play - 100 Anos Portugueses%26fbimg%3Dhttp%3A%2F%2Fimg0.rtp.pt%2FEPG%2Fimgth%2FphpThumb.php%3Fsrc%3D%2FEPG%2Fradio%2Fimagens%2F4674_pratadacasa.jpg%26w%3D160%26h%3D120%26fburl%3Dhttp%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2F%3Fprog%3D4674%26idpod%3D193757
(continua)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Respigos de leitura estival (2ª parte): "O VALOR DE EDUCAR" (Savater, Fernando, Publicações Dom Quixote)

(continuação)
O ensino pressupõe o optimismo
Enquanto educadores, não nos resta, pobre de nós, outro remédio, a não ser o optimismo. Porque o ensino pressupõe o optimismo do mesmo modo que a natação exige um meio líquido para o seu exercício. Quem não queira molhar-se, deve abandonar a prática da natação. Porque educar é crer na perfectibilidade humana, na capacidade inata de aprender e no desejo de saber que a anima, no haver coisas que podem ser sabidos e que merecem sê-lo, na possibilidade de nos podermos – nós, os homens – melhorara una aos outros por intermédio do conhecimento. [p. 25]
Falarei do valor de educar no duplo sentido da palavra «valor»
Quero dizer com isto que a educação é valiosa e válida, mas também que é um acto de coragem, um passo em frente da valentia humana (…) a profissão do professor ou mestre é a tarefa mais exposta a quebras psicológicas, a depressões, a uma fadiga desalentada e acompanhada pela impressão de se sofrer de abandono numa sociedade exigente, mas desorientada. [pp. 25-26]
O homem torna-se homem através da aprendizagem
(…) Se, nos termos de Jean Rostand, a cultura pode definir-se como «aquilo que o homem acrescenta ao homem», a educação é o molde efectivo de ser humano que intervém onde só existe ainda como possibilidade. (…) o homem torna-se homem através da apredizagem. (…) Se o homem fosse apenas animal que aprende, poderia ser para ele suficiente prender com a sua própria experiência e com o seu contacto com as coisas. (…). Mas se não tivéssemos outra forma de aprendizagem, ainda que talvez conseguíssemos sobreviver fisicamente, faltar-nos-ia o que tem de especificamente humanizador o processo educativo. Porque o que é próprio do homem não é tanto o simples aprender como o aprender com outros homens, ser ensinado por eles. [pp. 36-37] (continua)

domingo, 21 de agosto de 2011

JMJ2011: tempo de balanço



Com sublinhados meus:  "(...) O Papa deixou aos jovens de todo o mundo uma mensagem clara, no sentido de ir contra a corrente (...) e estão insatisfeitos com muito daquilo que a sociedade de hoje lhes dá. O Papa surge com esta boa nova trazida a partir do Evangelho e os jovens estão ávidos de receber mensagens diferentes daquelas que a sociedade lhes dá"  (D. Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra ao Página 1 da RR)
"(...) face ao relativismo e mediocridade dos nossos tempos, perante o eclipse total de Deus e uma certa amnésia, num contexto em que a cultura dominante despreza a busca da verdade e rejeita o cristianismo, é preciso propor com coragem e humildade, Cristo como salvador de todos os homens e, por isso, fonte de esperança para a vida. Mensagem exigente, sobretudo, no contexto laico das grandes metrópoles da Europa, a começar pela própria cidade de Madrid. (...) Agora o desafio está do lado dos jovens, chamados - como pediu o Papa - a testemunhá-lo em toda a parte, com alegria." (Aura Miguel com "Até ao Rio de Janeiro!", no Página 1 da RR)
Até lá, Rio de Janeiro 2013, é preci(o)so lembrar a parábola do semeador (Mateus 13, 1-23):
«Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos:
“Saiu o semeador a semear.
Quando semeava,
caíram algumas sementes ao longo do caminho:
vieram as aves e comeram-nas.
Outras caíram em sítios pedregosos,
onde não havia muita terra,
e logo nasceram porque a terra era pouco profunda;
mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram,
por não terem raiz.
Outras caíram entre espinhos
e os espinhos cresceram e afogaram-nas.
Outras caíram em boa terra e deram fruto:
umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um.
Quem tem ouvidos, oiça”.
(...)
Vós, portanto, escutai o que significa a parábola do semeador:
Quando um homem ouve a palavra do reino
e não a compreende,
vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração.
Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho.
Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos
é o que ouve a palavra e a acolhe de momento,
mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante,
e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra,
sucumbe logo.
Aquele que recebeu a semente entre espinhos
é o que ouve a palavra,
mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza
sufocam a palavra, que assim não dá fruto.
E aquele que recebeu a palavra em boa terra
é o que ouve a palavra e a compreende.
Esse dá fruto,
produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um”.

Porque hoje é DOMINGO (21-08-2011): leituras & actualização

A reflexão pode fazer-se, considerando as seguintes questões:

LEITURA I – Is 22,19-23• O texto convida-nos a uma reflexão sobre a lógica e o sentido do poder… Sugere que o poder é um serviço à comunidade. Quem exerce o poder, deverá fazê-lo com a solicitude, o cuidado, a bondade, a compreensão, a tolerância, a misericórdia, e também com a firmeza com que um pai conduz e orienta os seus filhos. Nessa perspectiva, o serviço da autoridade não é uma questão de poder, mas é uma questão de amor. Será impensável considerar que alguém pode desempenhar com êxito cargos de responsabilidade, se não for guiado pelo amor. É esta mesma lógica que os cristãos devem exigir, seja no exercício do poder civil, seja no exercício do poder no âmbito da comunidade cristã.
• O exercício do poder, quer para Shebna, quer para Elyaqîm, aparece associado à corrupção, à venalidade, ao aproveitamento do serviço da autoridade para a concretização de finalidades egoístas, interesseiras, pessoais. A Palavra de Deus que nos é proposta vai em sentido contrário: o exercício do poder só faz sentido enquanto está ao serviço do bem comunitário… O exercício de um cargo público supõe, precisamente, a secundarização dos interesses próprios em benefício do bem comum.

LEITURA II – Rom 11,33-36• Antes de mais, o nosso texto convida-nos a reflectir sobre Deus… Convida-nos a mergulhar no seu mistério, a reconhecer a sua riqueza, sabedoria e ciência; convida-nos a reconhecer a nossa incapacidade de entender cabalmente os seus projectos; convida-nos a perceber que Deus, na sua infinita sabedoria, nos ultrapassa completamente. Por isso, precisamos de ter cuidado com as imagens de Deus que criamos e que apresentamos… O nosso Deus não é um Deus “domesticado” pelo homem, previsível, fantoche, lógico pelos padrões humanos, que se encaixa nas teorias de uma qualquer igreja ou catequese… O verdadeiro crente não é aquele que “sabe” tudo sobre Deus, que tem respostas feitas sobre Ele, que pretende conhecê-l’O perfeitamente e dominá-l’O; mas é aquele que, com honestidade e verdade, mergulha na infinita grandeza de Deus, abisma-se na contemplação do seu mistério, entrega-se confiadamente nas suas mãos… e deixa que o seu espanto e admiração se transformem num cântico de adoração e de louvor.
• Esse Deus omnipotente, que nunca conseguiremos definir, controlar e explicar não é um concorrente ou um adversário do homem, preocupado em afirmar a sua grandeza e omnipotência à custa da humilhação do homem… Mas é um pai, preocupado com a felicidade dos seus filhos e com um projecto de salvação que Ele pretende que os homens acolham. É verdade que muitas vezes não percebemos o alcance desse projecto; mas se virmos em Deus, não um concorrente mas um pai cheio de amor, aprenderemos a não nos fecharmos no orgulho e na auto-suficiência e a acolhermos, com gratidão, os seus dons – como um menino que recebe do pai a vida, o alimento, o afecto, o amor.

EVANGELHO: Mt 16,13-20
• Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “status quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
• Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Defini-l’O dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é apenas uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.
• “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim?
• É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?
• A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contactamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?


Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=424

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Doença do século... Obesidade Mental

É bom saber que não se está só quando se pensa, se diz e se luta contra o que neste texto vem escrito.
É mau saber que o aí narrado é uma realidade & verdade nua e crua eventualmente irremediável.

A Obesidade Mental - Andrew Oitke
Por João César das Neves - 26 de Fev 2010

O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. «Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses
Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.» O problema central está na família e na escola . «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»
Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:
«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular- por isso a considerei e considero o 1º poder a quem todos, salvo honrosas excepções, com sede de protagonismo, qual vaidade das vaidades, bajulam. O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.» Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. «O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras:
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.»

Ora bem!!!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Respigos de leitura estival (1): "O VALOR DE EDUCAR" (Savater, Fernando), Publicações Dom Quixote

Pouco se avançará enquanto o ensino básico não for prioritário
No domínio da educação (...), pouco se avançará enquanto o ensino básico não for prioritário em termos de investimento dos recursos, de atenção institucional e também enquanto centro do interesse público. Temos de evitar o actual círculo vicioso, que vai de pouca valorização da tarefa dos professores primários à sua remuneração ascética, e desta ao seu escasso prestígio social (...). Trata-se de um tema demasiado sério para que nos permitamos abandoná-lo exclusivamente aos políticos, que só se ocuparão dele se o considerarem um tema de interesse urgente, eleitoralmente compensador: também aqui a sociededade civil deverá reclamar a iniciativa e converter a escola em «tema da moda». [pp. 17-18]
A tarefa de educar tem limites óbvios
À semelhança de todo o propósito humano – e a educação é, sem dúvida, o mais humano e humanizador de todos eles -, a tarefa de educar tem limites óbvios e nunca cumpre senão em parte os seus melhores – ou piores! – intentos. (…). É certo que o esforço no sentido de educarmos os nossos filhos melhor do que nós fomos educados encerra um aspecto paradoxal, imã vez que dá por adquirido que nós – que fomos educados com deficiências – seremos capazes de educar bem. [pp. 18-19]
A educação parece ter estado perpetuamente em crise ao longo do nosso século
É verdade, contudo, que a educação parece ter estado perpetuamente em crise ao longo do nosso século, pelo menos a darmos ouvidos às insistentes vozes de alarme que de há muito nos previnem  a esse respeito. (...) Com efeito, o problema educativo já não pode ser reduzido ao simples insucesso de uma mão-cheia de alunos, por mais numerosa que seja essa mão-cheia, mas revela-se de uma natureza preliminar e mais sombria: da incerteza ou da contradição presentes nas exigências correspondentes.
 Deverá a educação preparar competidores capazes em vista do mercado de trabalho ou formar homens completos? Deverá desenvolver a originalidade inovadora ou manter a identidade tradicional do grupo? Atenderá à eficácia prática ou apostará no risco criador? Deverá potenciar a autonomia de cada indivíduo, muitas vezes crítica e dissidente, ou a coesão social? Manterá uma neutralidade escrupulosa perante a pluralidade das opções ideológicas, religiosas, sexuais e as outras diferentes formas de vida(droga, televisão, polimorfismo estético…) ou esforçar-se-á por demonstrar o preferível e por propor modelos de excelência? (...). Poderão visar-se em simultâneo todos estes objectivos ou serão alguns deles incompatíveis entre si? Neste último caso, como e quem deverá decidir das escolhas a fazer? Mas vejamos: porque há-de ser obrigatório educar? [pp. 20-21]  (continua)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

JMJ2011: todos os caminhos vão dar a Madrid

Hoje é o primeiro dia do resto da semana que termina a 21. E porque assim é, não quero deixar passar o momento sem rebuscar e passar alguns, poucos mas significativos textos/citações, assim em jeito de comemoração, comunhão e reflexão:

1. «Quando a juventude arrefece, o resto do mundo bate o dente» (Bernanos, George);
2. « O futuro do mundo está confiado à juventude» (João XXIII)
3. « Em vós (jovens) está a esperança, uma vez que pertenceis ao futuro, como o futuro vos pertence» (João Paulo II).
4. «Os homens mais velhos declaram as guerras, mas são os jovens que têm de lutar e morrer» (Hoover, Herbert). Qual o país que, tendo assumido para o futuro pesadíssimos encargos, se pode associar a esta máxima? - desculpem o desabafo;
5. « A juventude não foi feita para o prazer mas para o heroísmo.» (Claudel, Paul);
6. «Ser jovem é ter uma causa a que consagrar a própria vida» (Câmara, D. Hélder)

7. De Ortega y Gasset, in 'Rebelião das Massas', excertos de "Disponibilidade Vazia":
O cigano foi-se confessar; mas o padre, precavido, começou por interrogá-lo sobre os mandamentos de Deus. Ao que o cigano respondeu: «Olhe, senhor padre, eu ia aprender isso, mas depois ouvi um zum-zum de que tinha perdido o valor». (...) Todo o mundo – nações, indivíduos – está desmoralizado. Durante uma temporada, esta desmoralização diverte e até vagamente ilude. Os inferiores pensam que lhes tiraram um peso de cima. Os decálogos conservam do tempo em que eram inscritos sobre pedra ou bronze o seu carácter de pesadume. A etimologia de mandar significa carregar, pôr em alguém algo nas mãos. Quem manda é, sem remissão, quem tem o encargo. Os inferiores do mundo inteiro já estão fartos de que os encarreguem e sobrecarreguem, e aproveitam com ar festivo este tempo de pesados imperativos. Mas a festa dura pouco. Sem mandamentos que nos obriguem a viver de um certo modo, fica a nossa vida em pura disponibilidade. Esta é a horrível situação íntima em que se encontram já as melhores juventudes do mundo. De puro sentir-se livres, isentas de entraves, sentem-se vazias. Uma vida em disponibilidade é maior negação que a morte. Porque viver é ter que fazer algo determinado – é cumprir um encargo –, e na medida em que iludamos pôr em algo a nossa existência, desocupamos a nossa vida. Dentro em pouco ouvir-se-á um grito formidável em todo o planeta, que subirá, como uivo de cães inumeráveis, até as estrelas, pedindo alguém e algo que mande, que imponha um afazer ou obrigação.


8. De José Tolentino de Mendonça, in D.N. (Madeira) em 14-08-2011, "Precisamos é de bicicletas":
Muitas vezes parecemos estar à espera de um qualquer sinal espetacular para tomar uma decisão de vida sempre adiada. E queixamo-nos de falta de meios para, então sim, levar a cabo aquela transformação necessária ou aquela viragem desejada ou, mais adiante ainda, aquela concretização que indefinidamente protelamos. Contudo, as verdadeiras transformações inventam os meios próprios para se expressarem, e estes, regra geral, começam por ser espantosamente modestos. Fernando Pessoa, com a caricatura dos que “conquistam o mundo sem levantar-se da cama”, refere, no fundo, uma doença interior infelizmente muito comum: idealizamos de tal maneira o que pode ser a vida que ela perde, depois, o jogo por falta de comparência, sequestrada num plano cada vez mais mental e abstrato. Se a vida não decorre como imaginamos, baixamos as persianas e preferimos não vivê-la. Ora, se não estamos dispostos a aprender com a sabedoria dos pequenos passos e com a dinâmica do provisório dificilmente alcançaremos o segredo da alegria.
Penso em dois grandes pulmões espirituais na Europa que nos está mais próxima: Taizé e Bose. Taizé é uma minúscula povoação que fica a 390 Kms a sudeste de Paris. Em 1940, era uma espécie de zona de demarcação entre a França ocupada pelas tropas alemãs e a França livre. Precisamente nesse ano chega a esse lugar um jovem teólogo suíço, Roger Schutz. Ele vinha buscando, dentro de si, qual seria a sua missão. E não tinha encontrado ainda respostas. O que é engraçado é que a primeira vez que ele chegou a Taizé, fê-lo de bicicleta (veio a pedalar desde Genebra). Poderia ser só um passeio ou uma fuga para lugar nenhum. Taizé não tinha nada, mas ele entendeu esse nada como uma oportunidade para “reparar” as feridas da humanidade. Dois anos depois é expulso dali, porque os alemães perceberam que ele auxiliava os judeus perseguidos. Mas em 1944 ele regressa, e traz já consigo um pequenino grupo de jovens da sua idade, movidos pelo ideal de construir e viver uma experiência monástica, na frugalidade, no silêncio, no louvor e no acolhimento. Hoje largos milhares de jovens caminham para Taizé como se buscassem uma fonte refrescante. E o testemunho do Irmão Roger tornou-se uma inspiração de que não precisamos de aviões a jato ou de veículos sofisticados para descobrir o mapa do coração. Basta-nos uma bicicleta, ou menos ainda.
Bose, por sua vez, fica no Norte da Itália, entre Turim e Milão, no território montanhoso de Biella. No ano de 1968, época de tantas mutações e reivindicações, há um jovem estudante de economia que decide começar uma experiência monástica num pequeno monte periférico. Àquela época não tinha eletricidade, nem água canalizada. Por mais de dez anos ele viveu nessa solidão, fiel à oração e ao trabalho manual. Ele conta, por exemplo, que durante o inverno uma das suas tarefas era não deixar apagar a lareira, que lhe servia para tudo: cozinha, iluminação, aquecimento. Hoje, com graça, ele conta que tudo o que sabe sobre Deus e sobre o amor ao mundo, o deve ao fogo (ou melhor, a essa vigilância ativa para não deixar se apagar o fogo). Muitas vezes achamos que precisamos de mais isto e aquilo, quando, no fundo, precisamos é de aprender a tornar fecundo o nosso ponto de partida (seja ele qual for).

Foto
Tudo isto revela preocupações que não são recentes mas de sempre. Imagine-se de quando e com que dimensão. Citando: 
1. «O nosso mundo atingiu um estado crítico; os filhos não escutam os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe» (Sacerdote egípcio, cerca de 2000 anos A.C.);
2. «Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país, se a juventude de hoje toma o poder, porque esta juventude é insuportável, sem moderação; simplesmente terrível» (Hesíodo, poeta grego dos finais do séc. VIII A.C);
3. «Os jovens de hoje gostam do luxo, são mal educados e desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos e passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais. Apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos. Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes. Cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres. (Sócrates, 469-399 A.C.).

É, por estas & por outras, que gosto de ver os jovens nestas andanças, ali p'rás bandas do leste, não p'rás do "... Sudoeste".










segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Conhecer o PASSADO, para entender o PRESENTE e preparar o FUTURO (1/13).

A história do Estado Novo (dos anos 30 ao 25 de Abril de 1974) e da sua personagem & ícone à lupa por quem muito bem a conhece e melhor a conta. Fernando Dacosta, «jornalista, escritor, estudioso, testemunha atenta e especialista reconhecido deste período», falará sobre os momentos mais marcantes dessa época em conversa com Eduardo Oliveira e Silva.

"CEM ANOS PORTUGUESES", uma série bem elucidativa desse período marcante da nossa história contemporânea, em 13 programas com cerca de 3/4 de hora que mais parecem de minuto. Os aspectos neles relatados, são tão suficientemente curiosos, pormenorizados e alguns desconhecidos até, que o tempo passa sem darmos por ele.  
« (...) nascidos no Estado Novo, faça connosco um exercício de memória (...) » - assim nos convida o jornalista-anfitrião. Aceite o convite porque vale a pena; senão, oiça-se o 1º programa da série: Salazar no poder, como e porquê?
Antena 2 mais uma vez, pois claro!!!

http://www0.rtp.pt/play/index.php?radiocanal=#/?prog%3D4674%26idpod%3D193334%26fbtitle%3DRTP Play - 100 Anos Portugueses%26fbimg%3Dhttp%3A%2F%2Fimg0.rtp.pt%2FEPG%2Fimgth%2FphpThumb.php%3Fsrc%3D%2FEPG%2Fradio%2Fimagens%2F4674_pratadacasa.jpg%26w%3D160%26h%3D120%26fburl%3Dhttp%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2F%3Fprog%3D4674%26idpod%3D193334

Que tal?
Já não será necessário renovar o convite, pois desta feita somos nós que nos fazemos convidados, não é verdade?
Então, até ao próximo programa. "Tá" combinado? "Tá"!!!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A outra face da (CRISE) moeda


O dinheiro é, sem contestação, um excelente recurso, mas, como toda a moeda - uma das várias formas que ele assume - tem duas faces. Como face má, consideremos sem "espinhas" mas com "espinhos", a crise, sim, esta de que tanto se fala e por que mais se sofre. Saibamos "dar-lhe a volta" e acharemos esta outra, a face boa. "Do bom uso das crises", título de um livro de Christiane Singerque onde o Pe. José Tolentino Mendonça foi buscar inspiração para escrever mais um magnífico texto publicado pelo "Página 1" em 19.05.11. Ei-lo:
  
Do bom uso das crises
Assim se chama o livro de Christiane Singerque nos desafia a encontrar um ângulo, primeiro cultural e depois civilizacional, para olharmos para as crises que todos atravessamos, quer se conjuguem no plural, quer simplesmente se declinem no singular. A autora propõe essencialmente três coisas.
1. Que num tempo em que escasseiam os mestres, e todos estamos mais ou menos entregues a uma autogestão (para não dizer a um isolamento) devorante da própria vida, as crises «são realmente os grandes mestres que têm alguma coisa a ensinar-nos». Não escutar, a fundo, o que as crises nos dizem é desperdiçar a ocasião para aceder àquela profundidade que pode devolver sentido à vida. Mesmo sabendo que uma crise é sempre um austero mestre para o qual raramente nos consideramos preparados.
2. Numa sociedade que tantas vezes concorre para afastar-nos daquilo que é importante e vital, as crises funcionam quase como um rito secularizado de iniciação à liberdade e à verdade de Ser. Christiane Singer relata o que um seu amigo antropólogo lhe disse ter escutado a um aborígene: «Não senhor, nós não temos crises, nós temos iniciações». As nossas sociedades modernas e democráticas têm um elevado ideário para a realização humana: basta pensar nessa tricolor herança da liberdade, igualdade e fraternidade. O problema, porventura, não é o das metas, mas o dos caminhos. Como é que se faz a aprendizagem dos valores que melhor nos podem expressar a nós próprios, nesta dinâmica construção do que é viver e viver com os outros? Aí é que surgem os hiatos, os bloqueios, as incertezas, as demissões. Só os ritos de passagem, desenvolvam-se eles em que quadro for, é que nos colocam realmente em contacto com a vida e com a morte, isto é, com a inteireza do destino humano.
3. Por fim, talvez precisemos compreender que no curso do nosso caminho, coletivo e pessoal, as crises «nos acontecem para que seja evitado o pior». E o que é o pior? Singer escreve: «O pior é ter tido a infelicidade de atravessar a vida sem naufrágios, é ter ficado apenas à superfície das coisas, ter dançado um baile de sombras, ter ficado a chapinhar no pântano do diz que diz, das aparências» e nunca ter habitado uma vida que lhe pertencesse.

Aproveitemo-la portanto e façamos BOM PROVEITO!!!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

CRISE : A causa da cousa

Para a entender - convém - nada melhor do que começar pelo conhecido (?) e premiado (um Óscar2011 http://www.youtube.com/watch?v=mpz5DVwnbnk&feature=related ) filme

Inside Job / Trabalho Interno (2010) Legendado PT from MDDVTM TV12 on Vimeo.
que a mostra & desmonta - quando, onde, como, quem, porquê .
Ou, de uma forma mais sucinta mas também esclarecedora, por aqui:

A Crise do Crédito - Visualizada (The Crisis of Credit - Visualized - Translated to Portuguese/BR) from Guilherme Peralta on Vimeo.
E na Europa? 

Incrédulo(a)? http://aeiou.expresso.pt/assassino-economico-como-se-destroi-um-pais-video=f659998
É, «por estas & por outras», que sou, cada vez mais, um fervoroso adepto&partidário da tese ou teoria da "conspiração", salvo seja, de que todo o mundo deve votar p'rás presidenciais americanas. Pois se quando os EUA se constipam, apanhamos logo com uma pneumonia em cima, então porque esperamos? Venha daí um abaixo-assinado que assino logo de cruz.

Mais boa, importante & útil informação sobre a crise, pode ser lida no livro editado pela FFMS, "ECONOMIA, MORAL E POLÍTICA", [pp. 89-95], do Drº Vítor Bento.

Referências para "Inside Job":
- «Mas Portugal trata muito mal as suas cabeças pensantes. Do meu ponto de vista, tem a ver com uma falta de investimento em verdadeira instrução e com despesismo idiota. A obscenidade com a qual se compactua, retratada num filme com “Inside Job”, não existe só nos Estados Unidos. Não vejo nenhuma razão para alguns gestores públicos ganharem  o que ganham, a ideia de que eles são “hiper-super-competentes” é, para mim, falsa. Há um regime barroco de ostentação na forma como se gasta o dinheiro. A filosofia que esteve por detrás do Euro 2004 não me convence, (…)» [Sérgio Tréfaut ao JNegócios, 22-07-2011]
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«Há uma profunda crise na UE. A Europa está em crise. (…) A filosofia liberal está no poder e isso não acontece na América do Sul, por exemplo – o desempenho do Lula no Brasil foi extraordinário e não teve nada a ver com o modelo liberal nem com a planificação centralizada. Temos as experiências de sucesso na Ásia, como na China e a Índia. Mas, na Europa, é o paradigma liberal que impera. (…) isso resulta de não haver projecto europeu (…) O conceito de ciência é complexo, mas se a economia é uma ciência não o é no mesmo sentido da física, pois tem um conteúdo marcadamente ideológico, marcado por uma divisão do mundo, por uma visão liberal. Há aquele filme, o “Inside Job”. Aprende-se como os grandes interesses económicos e financeiros predominam no próprio pensamento económico. (…)» [Mário Murteira ao JNegócios em 22-07-2011]