"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























sábado, 31 de janeiro de 2015

(in)PRENSA semanal: a minha selecção!

Quem, por qualquer razão, não leu, não deve deixar de ler. Assim, não só fica a saber, mas também pode, com mais&melhor fundamento, opinar e, "a curto, médio ou longo prazo", optar e decidir, não deixando que outros o façam por si - se bem me faço entender eis a razão desta e de outras "(in)PRENSA semanal: a minha selecção!" que aí virão.
Rena Dourou: "A sociedade grega não suportará ser enganada de novo"
Reproduzir-se como coelhos?
Plano Draghi não é "milagroso" e pode não ter efeito
'Não há bela sem senão' na queda dos preços do petróleo
Inflação baixa é 'moda' que veio para ficar?
Mulher de deputado 'escapa' a lista de requalificação
Portugal tem "escudo" para saída da Grécia da zona euro
Consequências Sim, o telefone está a prejudicar-lhe a saúde e a felicidade
Teia de Sócrates sob investigação chega ao 'amigo Lula'
«Seja feita a vossa vontade»: «Não é fácil», mas é possível, diz papa Francisco
Mensagem do papa Francisco para a Quaresma apela a reação dos cristãos contra a «globalização da indiferença»
Milhões dados a Salgado não foram prendas mas comissões de clientes
Cavaco "É mentira" que tenha tranquilizado o país sobre o BES
As três prioridades do novo ministro das Finanças, o marxista Yanis Varoufakis
Papa Francisco adverte «elites eclesiais» que se fecham em «grupinhos», «desprezam» os outros e «desertam» do «povo»
Na linha de tiro
Duelo de heróis pela Europa
Torço pelo Syriza
Nobel da Economia diz que é tempo de comprar acções gregas, que podem gerar “investimentos espectaculares”
"Aquilo que José Sócrates conta não é normal"
Impostos Sabe como tirar o máximo partido do seu IRS? Aprenda
Draghi ou Tsipras podem tirar-nos da situação em que estamos?
E se a compra de dívida soberana não funcionar?
A estupidez à solta

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

LEITURA: Irmão Luc – Monge e médico em Tibhirine

Diante de Deus permanecemos na posição de mendigo. Os seus dons são perfeitamente gratuitos. Nenhum esforço e nenhum trabalho exigem uma retribuição da sua parte a título de justiça. Deus não nos deve nada. O mendigo de Deus abandona-se a este arbítrio divino, do qual depende inteiramente.
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

CINEMA: “Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância)”

Iñarritu descobre uma nova maneira de fazer cinema, realiza talvez a sua obra mais livre e sincera e desvincula-se das chantagens emocionais (“Biutiful”), atingindo com “Birdman”, estreado na abertura do 71.º Festival de Cinema de Veneza, o ponto mais alto da sua filmografia. Graças também à prestação do redivivo Michael Keaton e de todos os outros atores, de Edward Norton a Galifianakis, passando por Naomi Watts.
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

REFLEXÃO/ATENÇÃO/MEDITAÇÃO: Ou amor ou violência

Para quem estuda há muito tempo as questões implicadas pela guerra e pela violência, não é o surgimento de um qualquer ato de especialmente próxima ou espetacular violência que surpreende, mas que ainda haja surpresa com o surgir da violência.
A humanidade, criada com uma naturalmente inaudita capacidade de entendimento da realidade na forma de sentido, sentido este universalmente partilhável entre todos os sujeitos humanos, teima, desde que existe, em não usar de tal capacidade como forma de engrandecimento de si própria. Exemplos claros na tradição judaico-cristã são o estulto uso da inteligência prístina pelo mítico casal Adão e Eva, bem como o uso da mesma capacidade, já não prístina, por seu filho Caim, que pensou – mal – engrandecer-se à custa da diminuição do irmão na forma radical da sua aniquilação.
A história da humanidade – mítica ou monumental – está esmagada pelo peso de exemplos com estes analogáveis. Realisticamente, pode dizer-se que a história da humanidade, desde o simbólico Caim, é o relato da perversão bestial da sua capacidade própria de engrandecimento. Não se trata de pessimismo, mas da constatação de uma realidade indesmentível. Pessimista seria a afirmação segundo a qual à humanidade não é possível mais do que comportar-se bestialmente.
Ora, precisamente, o que o mito genesíaco relativo ao início da humanidade manifesta é a criação de um tipo entitativo perfeito como passível de realizar, de literalmente criar o bem, na sequência imediata da própria criação divina inicial. O que constitui a perfeição própria do ser humano não é a "necessidade de fazer o bem", que o reduziria a uma mera sequência mecânica da ação divina, como uma pedra, mas a sua constituição como "ser ético", isto é, como "ser capaz de escolher entre bens possíveis". É função da inteligência apontar para o melhor bem possível. É acto de preferencialidade da mesma inteligência a escolha, ato a que comummente se chama vontade.
Mas a inteligência humana, precisamente porque não é mecânica – ou mecanicamente redutível, como alguns sonham que possa ser –, tem de ser treinada, especialmente treinada. Não basta a simples imitação de manifestações de atividade, como em outras espécies. A capacidade de perspetivar virtualmente infinitas possibilidades de ação implica que se tenha se receber uma formação que não apenas ensine a replicar comportamentos – perigo das tradições, sem crítica –, mas forneça instâncias de "discernimento crítico", que possam permitir operar uma separação entre o que serve o bem da humanidade e o que não serve esse bem.
Quando Deus – numa versão laica radical, pode ser um inteligentíssimo operador lógico universal dotado de palavra – emite o mandamento de não matar, não está a manifestar um capricho divino apenas porque pode ou lhe apetece. Sem tal princípio orientador absoluto, a humanidade não pode subsistir. Kant percebeu o alcance ontológico de tal preceito quando propôs o seu «imperativo categórico». Apenas a interdição universal da aniquilação do semelhante humano, sem condições, pode impedir que, num qualquer momento, a humanidade resolva, matando cada um um outro, em total absurda reciprocidade, aniquilar-se instantaneamente.
Este «não matar» não é, assim, um preceito religioso, embora seja dado num texto e num contexto religioso, mas uma condição lógica fundamental para que possa haver humanidade. Como é evidente, depois da graça que Deus concedeu à humanidade ao criá-la, não surpreende que lhe ordene que não destrua o que acabara de ser construído e de que não há substituto possível.
O mandamento novo de Cristo transforma num preceito absolutamente positivo a interdição de matar, transformando esta na necessidade de amar para que a humanidade possa subsistir. Esta afirmação deve ser lida em todo o rigor da sua abrangência: "não é possível à humanidade sobreviver se não cumprir o mandamento de Cristo". E não é por ser de Cristo, é porque é o "enunciado da condição absoluta de possibilidade da existência da humanidade". Não interessa quem o enunciou. É a bondade do enunciado que é divina e divina a pessoa que o enuncia, porque enuncia o bem. Sem a enunciação e o anúncio do bem, nenhum ator é ou pode ser divino. Deus é Deus porque é bom, absolutamente bom, ou não é Deus.
A mensagem de Cristo é, muitas vezes, reduzida a um discurso delicodoce, mas nada está mais errado: o mandamento do amor, fundamento de toda a mensagem e vida de Cristo, estabelece um regime em que a escolha a fazer é diamantina. Em disjunção exclusiva: ou se ama ou não se ama; ou se promove o bem do outro ou não se promove o bem do outro; ou se trabalha no sentido da vida plena da humanidade – que é o que o amor permite – ou não se trabalha nesse sentido.
Em palavras mais próximas da mística comum: ou nos aproximamos de Deus através do amor aos nossos semelhantes, que é imediatamente amor a Cristo e a Deus como Cristo (definição do Céu), ou nos afastamos de Deus através da ausência do amor aos nossos semelhantes, que é imediatamente falta de amor a Cristo e a Deus como Cristo (definição do inferno).
O que sempre foi evidente, mas raramente encarado como tal – talvez porque sempre me vejo como Caim quando olho para o espelho do mundo –, parece agora realmente evidente, agora que me atinge diretamente ou de perto: o bem que acontece, e que não é raro, cada vez mais me conforta, o mal que acontece, e que também não é raro, cada vez mais me agride. Mas sempre foi assim.
Não percebemos, nós, a razão, real, que leva a que certas pessoas apenas recentemente se incomodem com a evidência do mal. Este mal está em nós, "no bem que não fazemos", no amor que não criamos, sempre esteve. Sempre o conheci em mim, desse que me conheço: brincando com Descartes, poderia dizer que «faço o mal, logo existo».
A razão pela qual estudo a guerra e o mal há tantos anos é a evidência segundo a qual há mal em mim, mal potencialmente terrível. Violência inaudita. Graças a Deus inaudita, que me esforço por que nunca seja manifestada.
A educação serve precisamente para que esta possibilidade de mal que nos habita a todos, como universal contrapartida necessária para que possamos escolher fazer o bem, seja trabalhada por cada um de nós em esforçado labor no sentido do bem, do bem não exclusivamente meu, mas de todos, do bem comum, que é o único realmente possível como realizador da humanidade.
É sobre este bem fundador da possibilidade da humanidade que todos os seres humanos se podem encontrar, sobre ele que podem construir a sua comum habitação, amavelmente inclusiva. Qualquer que seja a religião ou irreligião, é sobre esta condição lógica de possibilidade da humanidade que esta se pode entender universalmente.
Ou morrerá.
E, se não for capaz de amar, terá nesta morte a sua justa recompensa.
Compete a cada ser humano escolher se quer ser um ato de amor e de bem ou uma besta que espalha impiedosamente o seu ódio. Antecipar o céu como ato de amor ou viver já no inferno como ato de ódio.
Se não estamos «sem pecado», como temos o atrevimento de «atirar a primeira pedra»?
Não há distância ontológica entre o bem que se faz e o bem que se é quando tal bem se faz. O mesmo diz-se do mal feito. O absoluto do bem feito é eterno, mas o absoluto do mal feito também. Se o malévolo pode ser redimido, para o absoluto do mal feito não há remissão possível, senão magicamente.
Urge, assim, convidar as pessoas a que ponderem bem no que querem que a sua prática seja: queremos mesmo fazer mal? Queremos mesmo ser maus através do mal que fazemos? Se sim, tenhamos a consciência de que o que fizermos ficará connosco para todo o nosso sempre, religiosa ou laicamente entendido.
Toda a violência é obscena.
in http://www.snpcultura.org/ou_amor_ou_violencia.html
   

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

LEITURA: "O Hipopótamo de Deus"

“L’ippopotamo di Dio – Farsi domande vale piu’ che darsi rapide risposte” é o título da tradução em italiano do livro “O hipopótamo de Deus”, do padre José Tolentino Mendonça, que a Libreria Editrice Vaticana lançou neste mês de dezembro.
Ler mais em:
e

domingo, 25 de janeiro de 2015

PALAVRAdeDOMINGO: contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!

Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro", http://www.paulinas.pt/Product_Detail.aspx?code=1977
Então:
Tema do 3º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 3º Domingo do Tempo Comum propõe-nos a continuação da reflexão iniciada no passado domingo. Recorda, uma vez mais, que Deus ama cada homem e cada mulher e chama-o à vida plena e verdadeira. A resposta do homem ao chamamento de Deus passa por um caminho de conversão pessoal e de identificação com Jesus.
A primeira leitura diz-nos – através da história do envio do profeta Jonas a pregar a conversão aos habitantes de Nínive – que Deus ama todos os homens e a todos chama à salvação. A disponibilidade dos ninivitas em escutar os apelos de Deus e em percorrer um caminho imediato de conversão constitui um modelo de resposta adequada ao chamamento de Deus.
No Evangelho aparece o convite que Jesus faz a todos os homens para se tornarem seus discípulos e para integrarem a sua comunidade. Marcos avisa, contudo, que a entrada para a comunidade do Reino pressupõe um caminho de “conversão” e de adesão a Jesus e ao Evangelho.
A segunda leitura convida o cristão a ter consciência de que “o tempo é breve” – isto é, que as realidades e valores deste mundo são passageiros e não devem ser absolutizados. Deus convida cada cristão, em marcha pela história, a viver de olhos postos no mundo futuro – quer dizer, a dar prioridade aos valores eternos, a converter-se aos valores do “Reino”.
EVANGELHOMc 1,14-20
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Depois de João ter sido preso,
Jesus partiu para a Galileia
e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo:
«Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Caminhando junto ao mar da Galileia,
viu Simão e seu irmão André,
que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
Disse-lhes Jesus:
«Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens».
Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O.
Um pouco mais adiante,
viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
que estavam no barco a consertar as redes;
e chamou-os.
Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados
e seguiram Jesus.

AMBIENTE
A primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30) tem como objectivo fundamental levar à descoberta de Jesus como o Messias que proclama o Reino de Deus. Ao longo de um percurso que é mais catequético do que geográfico, os leitores do Evangelho são convidados a acompanhar a revelação de Jesus, a escutar as suas palavras e o seu anúncio, a fazerem-se discípulos que aderem à sua proposta de salvação. Este percurso de descoberta do Messias que o catequista Marcos nos propõe termina em Mc 8,29-30, com a confissão messiânica de Pedro, em Cesareia de Filipe (que é, evidentemente, a confissão que se espera de cada crente, depois de ter acompanhado o percurso de Jesus a par e passo): “Tu és o Messias”.
O texto que nos é hoje proposto aparece, exactamente, no princípio desta caminhada de encontro com o Messias e com o seu anúncio de salvação. Neste texto, Marcos apresenta aos seus leitores os primeiros passos da acção do Messias libertador.
O lugar geográfico em que o texto nos situa é a Galileia – uma região em permanente contacto com os pagãos e, por isso, considerada pelas autoridades religiosas de Jerusalém uma terra de onde “não podia vir nada de bom”. Terra insignificante e sem especial relevo na história religiosa do Povo de Deus, a “Galileia dos gentios” parecia condenada a continuar uma região esquecida, marginalizada, por onde nunca passariam os caminhos de Deus e a proposta libertadora do Messias.

MENSAGEM
O nosso texto divide-se em duas partes. Na primeira, Marcos apresenta uma espécie de resumo da pregação inicial de Jesus (cf. Mc 1,14-15); na segunda, o nosso evangelista apresenta os primeiros passos da comunidade dos discípulos – a comunidade do Reino (cf. Mc 1,16-20).
No breve resumo da pregação inicial de Jesus, Marcos coloca na boca de Jesus as seguintes palavras: “cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15).
Na expressão “cumpriu-se o tempo”, a palavra grega utilizada por Marcos e que traduzimos por “tempo” (“kairós”) refere-se a um tempo bem distinto do tempo material (“chronos”), que é o tempo medido pelos relógios. Poderia traduzir-se como “de acordo com o projecto de salvação que Deus tem para o mundo, chegou a altura determinada por Deus para o cumprimento das suas promessas”.
Que “tempo” é esse que “se aproximou” dos homens e que está para começar? É o “tempo” do “Reino de Deus”. A expressão – tão frequente no Evangelho segundo Marcos – leva-nos a um dos grandes sonhos do Povo de Deus…
A catequese de Israel (como aliás acontecia com a reflexão teológica de outros povos do Crescente Fértil) referia-se, com frequência, a Jahwéh como a um rei que, sentado no seu trono, governa o seu Povo. Mesmo quando Israel passou a ter reis terrenos, esses eram considerados apenas como homens escolhidos e ungidos por Jahwéh para governar o Povo, em lugar do verdadeiro rei que era Deus. O exemplo mais típico de um rei/servo de Jahwéh, que governa Israel em nome de Jahwéh, submetendo-se em tudo à vontade de Deus, foi David. A saudade deste rei ideal e do tempo ideal de paz e de felicidade em que Jahwéh reinava (através de David) sobre o seu povo, vai marcar toda a história futura de Israel. Nas épocas de crise e de frustração nacional, quando reis medíocres conduziam a nação por caminhos de morte e de desgraça, o Povo sonhava com o regresso aos tempos gloriosos de David. Os profetas, por sua vez, vão alimentar a esperança do Povo anunciando a chegada de um tempo, no futuro, em que Jahwéh vai voltar a reinar sobre Israel e vai restabelecer a situação ideal da época de David. Essa missão, na perspectiva profética, será confiada a um “ungido” que Deus vai enviar ao seu Povo. Esse “ungido” (em hebraico “messias”, em grego “cristo”) estabelecerá, então, um tempo de paz, de justiça, de abundância, de felicidade sem fim – isto é, o tempo do “reinado de Deus”.
O “Reino de Deus” é, portanto, uma noção que resume a esperança de Israel num mundo novo, de paz e de abundância, preparado por Deus para o seu Povo. Esta esperança está bem viva no coração de Israel na época em que Jesus aparece a dizer: “o tempo completou-se e o Reino de Deus aproximou-se”. Certas afirmações de Jesus, transmitidas pelos Evangelhos sinópticos, mostram que Ele tinha consciência de estar pessoalmente ligado ao Reino e de que a chegada do Reino dependia da sua acção.
Jesus começa, precisamente, a construção desse “Reino” pedindo aos seus conterrâneos a conversão (“metanoia”) e o acolhimento da Boa Nova (“evangelho”).
“Converter-se” significa transformar a mentalidade e os comportamentos, assumir uma nova atitude de base, reformular os valores que orientam a própria vida. É reequacionar a vida, de modo a que Deus passe a estar no centro da existência do homem e ocupe sempre o primeiro lugar. Na perspectiva de Jesus, não é possível que esse mundo novo de amor e de paz se torne uma realidade, sem que o homem renuncie ao egoísmo, ao orgulho, à auto-suficiência e passe a escutar de novo Deus e as suas propostas.
“Acreditar” não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais; mas é, sobretudo, aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração, fazer dela o guia da própria vida. “Acreditar” é escutar essa “Boa Notícia” de salvação e de libertação (“evangelho”) que Jesus propõe e fazer dela o centro à volta do qual se constrói toda a existência.
“Conversão” e “adesão ao projecto de Jesus” são duas faces de uma mesma moeda: a construção de um homem novo, com uma nova mentalidade, com novos valores, com uma postura vital inteiramente nova. Vai ser isso que Jesus vai propor em cada palavra que pronuncia: que nasça um homem novo, capaz de amar o próximo (Mt 22,39), mesmo aquele que é adversário ou inimigo (Lc 10,29-37); que nasça um homem novo, que não vive para o egoísmo, para a riqueza, para os bens materiais, mas sim para a partilha (Mc 6,32-44); que nasça um homem novo, que não viva para ter poder e dominar, mas sim para o serviço e para a entrega da vida (Mc 9,35). Então, sim, teremos um mundo novo – o “Reino de Deus”.
Depois de dizer qual a proposta inicial de Jesus, Marcos apresenta-nos os primeiros discípulos. Pedro e André, Tiago e João são – na versão de Marcos – os primeiros a responder positivamente ao desafio do Reino, apresentado por Jesus. Isso significa que eles estão dispostos a “converter-se” (isto é, a mudar os seus esquemas de vida, de forma a que Deus passe a estar sempre em primeiro lugar) e a “acreditar na Boa Nova” (isto é, a aderir a Jesus, a escutar a sua proposta de libertação, a acolhê-la no coração e a transformá-la em vida).
A apresentação feita por Marcos do chamamento dos primeiros discípulos não parece ser uma descrição fotográfica de acontecimentos concretos, mas antes a definição de um modelo de toda a vocação cristã. Nesta catequese sobre a vocação, Marcos sugere que:
O chamamento a entrar na comunidade do Reino é sempre uma iniciativa de Jesus dirigida a homens concretos, “normais” (com um nome, com uma história de vida, com uma profissão, possivelmente com uma família).
Esse chamamento é sempre categórico, exigente e radical (Jesus não “prepara” previamente esse chamamento, não explica nada, não dá garantias nenhumas e nem sequer se volta para ver se os chamados responderam ou não ao seu desafio).
Esse chamamento não é para frequentar as aulas de um mestre qualquer, a fim de aprender e depois repetir uma doutrina qualquer; mas é um chamamento para aderir à pessoa de Jesus, para fazer com Ele uma experiência de vida, para aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no amor a Deus e aos irmãos.
Esse chamamento exige uma resposta imediata, total e incondicional, que deve levar a subalternizar tudo o resto para seguir Jesus e para integrar a comunidade do Reino (Pedro, André, Tiago e João não exigem garantias, não pedem tempo para pensar, para medir os prós e os contras, para pôr em ordem os negócios, para se despedir do pai ou dos amigos, mas limitam-se a “deixar tudo” e a seguir Jesus).
O Evangelho deste domingo apresenta, portanto, o convite que Jesus faz a todos os homens no sentido de integrarem a comunidade do Reino; e apresenta também um modelo para a forma como os chamados devem escutar e acolher esse chamamento.

ACTUALIZAÇÃO
Quando contemplamos a realidade que nos rodeia, notamos a existência de sombras que desfeiam o mundo e criam, tantas vezes, angústia, desilusão, desespero e sofrimento na vida dos homens. Esse quadro não é, no entanto, uma realidade irremediável a que estamos para sempre condenados. Nos projectos de Deus, está um mundo diferente – um mundo de harmonia, de justiça, de reconciliação, de amor e de paz. A esse mundo novo, Jesus chamava o “Reino de Deus”. É esse projecto que Jesus nos apresenta e ao qual nos convida a aderir. Somos chamados a construir, com Jesus, um mundo onde Deus esteja presente e que se edifique de acordo com os projectos e os critérios de Deus. Estamos disponíveis para entrar nessa aventura?
• Para que o “Reino de Deus” se torne uma realidade, o que é necessário fazer? Na perspectiva de Jesus, o “Reino de Deus” exige, antes de mais, a “conversão”. Temos de modificar a nossa mentalidade, os nossos valores, as nossas atitudes, a nossa forma de encarar Deus, o mundo e os outros para que se torne possível o nascimento de uma realidade diferente. Temos de alterar as nossas atitudes de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de comodismo e de voltar a escutar Deus e as suas propostas, para que aconteça, na nossa vida e à nossa volta, uma transformação radical – uma transformação no sentido do amor, da justiça e da paz. O que é que temos de “converter” – quer em termos pessoais, quer em termos institucionais – para que se manifeste, realmente, esse Reino de Deus tão esperado?
• De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o “Reino de Deus” exige também o “acreditar” no Evangelho. “Acreditar” não é, na linguagem neo-testamentária, a aceitação de certas afirmações teóricas ou a concordância com um conjunto de definições a propósito de Deus, de Jesus ou da Igreja; mas é, sobretudo, uma adesão total à pessoa de Jesus e ao seu projecto de vida. Com a sua pessoa, com as suas palavras, com os seus gestos e atitudes, Jesus propôs aos homens – a todos os homens – uma vida de amor total, de doação incondicional, de serviço simples e humilde, de perdão sem limites. O “discípulo” é alguém que está disposto a escutar o chamamento de Jesus, a acolher esse chamamento no coração e a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Estou disposto acolher o chamamento de Jesus e a percorrer o caminho do “discípulo”?
O chamamento a integrar a comunidade do “Reino” não é algo reservado a um grupo especial de pessoas, com uma missão especial no mundo e na Igreja; mas é algo que Deus dirige a cada homem e a cada mulher, sem excepção. Todos os baptizados são chamados a ser discípulos de Jesus, a “converter-se”, a “acreditar no Evangelho”, a seguir Jesus nesse caminho de amor e de dom da vida. Esse chamamento é radical e incondicional: exige que o “Reino” se torne o valor fundamental, a prioridade, o principal objectivo do discípulo.
• O “Reino” é uma realidade que Jesus começou e que já está decisivamente implantada na nossa história. Não tem fronteiras materiais e definidas; mas está a acontecer e a concretizar-se através dos gestos de bondade, de serviço, de doação, de amor gratuito que acontecem à nossa volta (muitas vezes, até fora das fronteiras institucionais da “Igreja”) e que são um sinal visível do amor de Deus nas nossas vidas. Não é uma realidade que construímos de uma vez, mas é uma realidade sempre em construção, sempre a fazer-se, até à sua realização final, no fim dos tempos, quando o egoísmo e o pecado desaparecerem para sempre. Em cada dia que passa, temos de renovar o compromisso com o “Reino” e empenharmo-nos na sua edificação.

Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=344
Nos teus invernos há sementes que germinam, sabias?: Meditação sobre o Evangelho de Domingo
O Mestre olha também para mim; nos meus invernos vê sementes que germinam, generosidade que desconhecia ter, capacidades de que não suspeitava. O olhar de Jesus alarga o coração, torna-o mais amplo. Deus tem para mim a confiança de quem contempla as estrelas ainda antes que se iluminem.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/nos_teus_invernos_ha_sementes_que_germinam.html
O Evangelho da vocação cristã
Estamos talvez a viver o nosso dia a dia dedicados ao nosso trabalho, às nossas ocupações quotidianas, quaisquer que sejam, para ganhar o nosso sustento; ou estamos num momento de pausa; ou estamos a falar com outros… Não há uma hora pré-estabelecida. De repente, no nosso coração, sem que os outros se apercebam, acende-se uma chama.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/o_evangelho_da_vocacao.html

sábado, 24 de janeiro de 2015

(in)PRENSA semanal: a minha selecção!

Quem, por qualquer razão, não leu, não deve deixar de ler. Assim, não só fica a saber, mas também pode, com mais&melhor fundamento, opinar e, "a curto, médio ou longo prazo", optar e decidir, não deixando que outros o façam por si - se bem me faço entender eis a razão desta e de outras "(in)PRENSA semanal: a minha selecção!" que aí virão.
Desde julho que Macedo sabia dos problemas nas urgências
Papa Francisco celebrou missa no epicentro do tufão Yolanda e destacou fé cristã de quem recomeça após perder pessoas e bens
Papa Francisco aos casais: «Nunca deixem de ser namorados»
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Mario Draghi "A alcunha 'senhor outro sítio qualquer' persegue-me há 20 anos"
Ou amor ou violência
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A viagem de Francisco à Ásia. "Sentia que tinha que estar aqui"
O sal e a religião
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PT investiu na ESI e Rioforte de 'olhos vendados'
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A medida de Draghi vai afetar as suas poupanças. Saiba como
A minha obsessão com José Sócrates
“Esta crise é pior que a guerra. A guerra sabíamos que ia acabar”
“BES é muito revelador da forma como se comporta a elite económica portuguesa”
 


domingo, 18 de janeiro de 2015

PALAVRAdeDOMINGO: contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!

Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro", http://www.paulinas.pt/Product_Detail.aspx?code=1977
Então:
Tema do 2º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 2º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre a disponibilidade para acolher os desafios de Deus e para seguir Jesus.
A primeira leitura apresenta-nos a história do chamamento de Samuel. O autor desta reflexão deixa claro que o chamamento é sempre uma iniciativa de Deus, o qual vem ao encontro do homem e chama-o pelo nome. Ao homem é pedido que se coloque numa atitude de total disponibilidade para escutar a voz e os desafios de Deus.
O Evangelho descreve o encontro de Jesus com os seus primeiros discípulos. Quem é “discípulo” de Jesus? Quem pode integrar a comunidade de Jesus? Na perspectiva de João, o discípulo é aquele que é capaz de reconhecer no Cristo que passa o Messias libertador, que está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e da entrega, que aceita o convite de Jesus para entrar na sua casa e para viver em comunhão com Ele, que é capaz de testemunhar Jesus e de anunciá-l’O aos outros irmãos.
Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto a viverem de forma coerente com o chamamento que Deus lhes fez. No crente que vive em comunhão com Cristo deve manifestar-se sempre a vida nova de Deus. Aplicado ao domínio da vivência da sexualidade – um dos campos onde as falhas dos cristãos de Corinto eram mais notórias – isto significa que certas atitudes e hábitos desordenados devem ser totalmente banidos da vida do cristão.
EVANGELHOJo 1,35-42
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
estava João Baptista com dois dos seus discípulos
e, vendo Jesus que passava, disse:
«Eis o Cordeiro de Deus».
Os dois discípulos ouviram-no dizer aquelas palavras
e seguiram Jesus.
Entretanto, Jesus voltou-Se;
e, ao ver que O seguiam, disse-lhes:
«Que procurais?»
Eles responderam:
«Rabi – que quer dizer ‘Mestre’ – onde moras?»
Disse-lhes Jesus: «Vinde ver».
Eles foram ver onde morava
e ficaram com Ele nesse dia.
Era por volta das quatro horas da tarde.
André, irmão de Simão Pedro,
foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus.
Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe:
«Encontrámos o Messias» - que quer dizer ‘Cristo’ –;
e levou-o a Jesus.
Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe:
«Tu és Simão, filho de João.
Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’.

AMBIENTE
A perícopa que nos é proposta integra a secção introdutória do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19-3,36). Aí o autor, com consumada mestria, procura responder à questão: “quem é Jesus?”
João dispõe as peças num enquadramento cénico. As diversas personagens que vão entrando no palco procuram apresentar Jesus. Um a um, os actores chamados ao palco por João vão fazendo afirmações carregadas de significado teológico sobre Jesus. O quadro final que resulta destas diversas intervenções apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, que possui o Espírito e que veio ao encontro dos homens para fazer aparecer o Homem Novo, nascido da água e do Espírito.
João Baptista, o profeta/precursor do Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu testemunho aparece no início e no fim da secção – cf. Jo 1,19-37; 3,22-36). Ele vai definir aquele que chega e apresentá-lo aos homens.
O nosso texto apresenta-nos os primeiros três discípulos de Jesus: André, um outro discípulo não identificado e Simão Pedro. Os dois primeiros são apresentados como discípulos de João e é por indicação de João que seguem Jesus. Trata-se de um quadro de vocação que difere substancialmente dos relatos de chamamento dos primeiros discípulos apresentados pelos sinópticos (cf. Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,1-11). Mais do que uma reportagem realista de acontecimentos concretos, o autor do Quarto Evangelho apresenta aqui um modelo de chamamento e de seguimento de Jesus.

MENSAGEM
Num primeiro momento, o quadro situa-nos junto do rio Jordão (vers. 35-37). Os três primeiros personagens em cena são João e dois dos seus discípulos – isto é, dois homens que tinham escutado o anúncio de João e recebido o seu baptismo, símbolo da ruptura com a “vida velha” e de adesão ao Messias esperado. Estes dois discípulos de João são, portanto, homens que, devido ao testemunho de João, já aderiram a esse Messias que está para chegar e que esperam ansiosamente a sua entrada em cena.
Entretanto, apareceu Jesus. João viu Jesus “que passava” e indicou-O aos seus dois discípulos, dizendo: “eis o cordeiro de Deus” (vers. 36). João é uma figura estática, cuja missão é meramente circunstancial e consiste apenas em preparar os homens para acolher o Messias libertador; quando esse Messias “passa”, a missão de João termina e começa uma nova realidade. João está plenamente consciente disso… Não procura prolongar o seu protagonismo ou conservar no seu círculo restrito esses discípulos que durante algum tempo o escutaram e que beberam a sua mensagem. Ele sabe que a sua missão não é congregar à sua volta um grupo de adeptos, mas preparar o coração dos homens para acolher Jesus e a sua proposta libertadora. Por isso, na ocasião certa, indica Jesus aos seus discípulos e convida-os a segui-l’O.
A expressão “eis o cordeiro de Deus”, usada por João para apresentar Jesus, fará, provavelmente, referência ao “cordeiro pascal”, símbolo da libertação oferecida por Deus ao seu Povo, prisioneiro no Egipto (cf. Ex 12,3-14. 21-28). Esta expressão define Jesus como o enviado de Deus, que vem inaugurar a nova Páscoa e realizar a libertação definitiva dos homens. A missão de Jesus consiste, portanto, em eliminar as cadeias do egoísmo e do pecado que prendem os homens à escravidão e que os impedem de chegar à vida plena.
Depois da declaração de João, os discípulos reconhecem em Jesus esse Messias com uma proposta de vida verdadeira e seguem-n’O. “Seguir Jesus” é uma expressão técnica que o autor do Quarto Evangelho aplica, com frequência, aos discípulos (cf. Jo 1,43; 8,12; 10,4; 12,26; 13,36; 21,19). Significa caminhar atrás de Jesus, percorrer o mesmo caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, adoptar os mesmos objectivos de Jesus e colaborar com Ele na missão. A reacção dos discípulos é imediata. Não há aqui lugar para dúvidas, para desculpas, para considerações que protelem a decisão, para pedidos de explicação, para procura de garantias… Eles, simplesmente, “seguem” Jesus.
Num segundo momento, o quadro apresenta-nos um diálogo entre Jesus e os dois discípulos (vers. 38-39). A pergunta inicial de Jesus (“que procurais?”) sugere que é importante, para os discípulos, terem consciência do objectivo que perseguem, do que esperam de Jesus, daquilo que Jesus lhes pode oferecer. O autor do Quarto Evangelho insinua aqui, talvez, que há quem segue Jesus por motivos errados, procurando n’Ele a realização de objectivos pessoais que estão muito longe da oferta que Jesus veio fazer.
Os discípulos respondem com uma pergunta (“rabbi, onde moras?”). Nela, está implícita a sua vontade de aderir totalmente a Jesus, de aprender com Ele, de habitar com Ele, de estabelecer comunhão de vida com Ele. Ao chamar-Lhe “rabbi”, indicam que estão dispostos a seguir as suas instruções, a aprender com Ele um modo de vida; a referência à “morada” de Jesus indica que eles estão dispostos a ficar perto de Jesus, a partilhar a sua vida, a viver sob a sua influência. É uma afirmação respeitosa de adesão incondicional a Jesus e ao seu seguimento.
Jesus convida-os: “vinde ver”. O convite de Jesus significa que Ele aceita a pretensão dos discípulos e os convida a segui-l’O, a aprender com Ele, a partilhar a sua vida. Os discípulos devem “ir” e “ver”, pois a identificação com Jesus não é algo a que se chega por simples informação, mas algo que se alcança apenas por experiência pessoal de comunhão e de encontro com Ele.
Os discípulos aceitam o convite e fazem a experiência da partilha da vida com Jesus. Essa experiência directa convence-os a ficar com Jesus (“ficaram com Ele nesse dia”). Nasce, assim, a comunidade do Messias, a comunidade da nova aliança. É a comunidade daqueles que encontram Jesus que passa, procuram n’Ele a verdadeira vida e a verdadeira liberdade, identificam-se com Ele, aceitam segui-l’O no seu caminho de amor e de entrega, estão dispostos a uma vida de total comunhão com Ele.
Num terceiro momento (vers. 40-41), os discípulos tornam-se testemunhas. É o último passo deste “caminho vocacional”: quem encontra Jesus e experimenta a comunhão com Ele, não pode deixar de se tornar testemunha da sua mensagem e da sua proposta libertadora. Trata-se de uma experiência tão marcante que transborda os limites estreitos do próprio eu e se torna anúncio libertador para os irmãos. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, conduz sempre a uma dinâmica missionária.

ACTUALIZAÇÃO
• A vocação é sempre uma iniciativa, misteriosa e gratuita, de Deus. Antes de mais, o profeta deve ter plena consciência de que na origem da sua vocação está Deus e que a sua missão só se entende e só se realiza em referência a Deus. Um profeta não se torna profeta para realizar sonhos pessoais, ou porque entende ter as “qualidades profissionais” requeridas para o cargo e faz uma opção profissional pela profecia… O profeta torna-se profeta porque um dia escutou Deus a chamá-lo pelo nome e a confiar-lhe uma missão. Todos nós, chamados por Deus a uma missão no mundo, não podemos esquecer isto: a nossa missão vem de Deus e tem de se desenvolver em referência a Deus; não nos anunciamos a nós próprios, mas anunciamos e testemunhamos Deus e os seus projectos no meio dos nossos irmãos.
• O “quadro” da vocação de Samuel situa-nos num quadro temporal próprio: de noite, quando já terminaram as tarefas do dia e quando o santuário de Silo está envolvido na tranquilidade, na calma e no silêncio… Provavelmente, o catequista autor deste texto não escolheu este enquadramento por acaso. Ele quis sugerir que é mais fácil detectar a presença de Deus e ouvir a sua voz nesse ambiente favorável de silêncio que favorece a escuta. Quando corremos de um lado para o outro, afadigados em mil e uma actividades, preocupados em realizar com eficiência as tarefas que nos foram confiadas, dificilmente temos espaço e disponibilidade para ouvir a voz de Deus e para detectar esses sinais discretos através dos quais Ele nos indica os seus caminhos. O profeta necessita de tempo e de espaço para rezar, para falar com Deus, para interrogar o seu coração sobre o sentido do que está a fazer, para ouvir esse Deus que fala nas “pequenas coisas” a que nem sempre damos importância.
• São muitas as “vozes” que ouvimos todos os dias, vendendo propostas de vida e de felicidade. Muitas vezes, essas “vozes” confundem-nos, alienam-nos e conduzem-nos por caminhos onde a felicidade não está. Como identificar a voz de Deus no meio das vozes que dia a dia escutamos e que nos sugerem uma colorida multiplicidade de caminhos e de propostas? Samuel não identificou a voz de Deus sozinho, mas recorreu à ajuda do sacerdote Heli… Na verdade, aqueles que partilham connosco a mesma fé e que percorrem o mesmo caminho podem ajudar-nos a identificar a voz de Deus. A nossa comunidade cristã, a nossa comunidade religiosa, desafia-nos, interpela-nos, questiona-nos, ajuda-nos a purificar as nossas opções e a perceber os caminhos que Deus nos propõe.
• Depois de identificar essa “voz” misteriosa que se lhe dirigia, Samuel respondeu: “fala, Senhor; o teu servo escuta”. É a expressão de uma total disponibilidade, abertura e entrega face aos desafios e aos apelos de Deus. É evidente que, na figura de Samuel, o catequista bíblico propõe a atitude paradigmática que devem assumir todos aqueles a quem Deus chama. Como é que me situo face aos apelos e aos desafios de Deus? Com uma obstinada recusa, com um “sim” reticente, ou com total disponibilidade e entrega?

O Evangelho deste domingo diz-nos, antes de mais, o que é ser cristão… A identidade cristã não está na simples pertença jurídica a uma instituição chamada “Igreja”, nem na recepção de determinados sacramentos, nem na militância em certos movimentos eclesiais, nem na observância de certas regras de comportamento dito “cristão”… O cristão é, simplesmente, aquele que acolheu o chamamento de Deus para seguir Jesus Cristo.
• O que é, em concreto, seguir Jesus? É ver n’Ele o Messias libertador com uma proposta de vida verdadeira e eterna, aceitar tornar-se seu discípulo, segui-l’O no caminho do amor, da entrega, da doação da vida, aceitar o desafio de entrar na sua casa e de viver em comunhão com Ele.
O nosso texto sugere também que essa adesão só pode ser radical e absoluta, sem meias tintas nem hesitações. Os dois primeiros discípulos não discutiram o “ordenado” que iam ganhar, se a aventura tinha futuro ou se estava condenada ao fracasso, se o abandono de um mestre para seguir outro representava uma promoção ou uma despromoção, se o que deixavam para trás era importante ou não era importante; simplesmente “seguiram Jesus”, sem garantias, sem condições, sem explicações supérfluas, sem “seguros de vida”, sem se preocuparem em salvaguardar o futuro se a aventura não desse certo. A aventura da vocação é sempre um salto, decidido e sereno, para os braços de Deus.
• A história da vocação de André e do outro discípulo (despertos por João Baptista para a presença do Messias) mostra, ainda, a importância do papel dos irmãos da nossa comunidade na nossa própria descoberta de Jesus. A comunidade ajuda-nos a tomar consciência desse Jesus que passa e aponta-nos o caminho do seguimento. Os desafios de Deus ecoam, tantas vezes, na nossa vida através dos irmãos que nos rodeiam, das suas indicações, da partilha que eles fazem connosco e que dispõe o nosso coração para reconhecer Jesus e para O seguir. É na escuta dos nossos irmãos que encontramos, tantas vezes, as propostas que o próprio Deus nos apresenta.
• O encontro com Jesus nunca é um caminho fechado, pessoal e sem consequências comunitárias… Mas é um caminho que tem de me levar ao encontro dos irmãos e que deve tornar-se, em qualquer tempo e em qualquer circunstância, anúncio e testemunho. Quem experimenta a vida e a liberdade que Cristo oferece, não pode calar essa descoberta; mas deve sentir a necessidade de a partilhar com os outros, a fim de que também eles possam encontrar o verdadeiro sentido para a sua existência. “Encontrámos o Messias” deve ser o anúncio jubiloso de quem fez uma verdadeira experiência de vida nova e verdadeira e anseia por levar os irmãos a uma descoberta semelhante.
• João Baptista nunca procurou apontar os holofotes para a sua própria pessoa e criar um grupo de adeptos ou seguidores que satisfizessem a sua vaidade ou a sua ânsia de protagonismo… A sua preocupação foi apenas preparar o coração dos seus concidadãos para acolher Jesus. Depois, retirou-se discretamente para a sombra, deixando que os projectos de Deus seguissem o seu curso. Ele ensina-nos a nunca nos tornarmos protagonistas ou a atrair sobre nós as atenções; ele ensina-nos a sermos testemunhas de Jesus, não de nós próprios.
Que procuras? Vem e vê: Meditação sobre o Evangelho do 2.º Domingo do Tempo Comum
Jesus, mestre do desejo, faz entender que nos falta alguma coisa, uma ausência que queima. O que te falta? Falta saúde, alegria, dinheiro, tempo para viver, amor, sentido da vida? Alguma coisa falta, e é por causa deste vazio por preencher que cada filho pródigo percorre novamente o caminho para casa. A ausência torna-se a nossa energia vital.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/que_procurais.html
Se alguém te perguntasse «onde vives?», «que há de interessante na tua vida?», como responderias?
Vinde e vereis». Fazei vós mesmos a experiência. Não procureis informação de fora. Vinde viver comigo e descobrireis como vivo, de onde oriento a minha vida, a quem me dedico, porque vivo assim. Este é o passo decisivo que precisamos de dar hoje para inaugurar uma fase nova na história do cristianismo. Milhões de pessoas dizem-se cristãs mas não experimentaram um verdadeiro contacto com Jesus. Não sabem como viveu, ignoram o seu projeto. Dele não aprendem nada de especial.
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http://www.snpcultura.org/se_alguem_te_perguntasse_onde_vives_como_responderias.html
Que procuras?
 uma verdade bastante óbvia, mas estou convencido de que não só é importante saber o que estamos à procura, como também ter claro onde o fazer; quando queremos aproximar-nos de Deus temos de clarificar primeiro o que é que procuramos, o que é que queremos dele; por que o invocamos, o que lhe pedimos…
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http://www.snpcultura.org/que_procuras.html

sábado, 17 de janeiro de 2015

(in)PRENSA semanal: a minha selecção!

Quem, por qualquer razão, não leu, não deve deixar de ler. Assim, não só fica a saber, mas também pode, com mais&melhor fundamento, opinar e, "a curto, médio ou longo prazo", optar e decidir, não deixando que outros o façam por si - se bem me faço entender eis a razão desta e de outras "(in)PRENSA semanal: a minha selecção!" que aí virão.
Comida: Mentiras que aceitamos como verdade
Anonymous prometem vingança e declaram guerra à Al-Qaeda e ISIS
«Podes fazer mil cursos de espiritualidade, mil cursos de ioga», mas não é isso que te vai dar «liberdade», diz papa
Só se reconstrói um país quando se reconstrói o ser humano, afirma papa Francisco
Depositaram dinheiro no BES, agora está cativo
Dívida Magalhães vão tirar (mais) 54,5 milhões aos cofres públicos
Da blasfémia ao terrorismo: um caminho sem retorno?
Negociou swaps que depois comprou no Governo
Quais são as 15 frases que podem mudar o seu ano de 2015?http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4336967&page=-1
Salgado e Morais Pires conheciam todas as decisões relevantes
"Queda do Grupo Espírito Santo é mais importante do que reformas da troika"
Amigo de Sócrates tinha cofre com um milhão em dinheiro vivo
Papa telefonou para doente internada em hospital de Leiria
Faz 60 anos que a Alemanha teve perdão de dívida pública de 62%
Cadilhe acusa Governo de ter medo das análises custo/benefício
Porto Português descobre medicamento que protege de infeções
Ex-administrador do BES, António Souto, ficou “aterrorizado” com papel comercial vendido
Arcebispo nigeriano pede mobilização europeia em defesa das vítimas do Boko Haram
http://expresso.sapo.pt/arcebispo-nigeriano-pede-mobilizacao-europeia-em-defesa-das-vitimas-do-boko-haram=f906089#ixzz3OvXivjpH
Je suis Francisco: não podemos insultar a fé dos outros
Corpo dá pistas que ajudam a prever Alzheimer

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

CINEMA: Igreja tem responsabilidade de propor filmes que ajudem a crescer na vida

Assistimos a um paradoxo: no momento em que mais filmes se realizam com sentido espiritual, verifica-se uma clara tendência do consumo para o cinema mais comercial. No entanto, a venda direta do cinema digital permite aceder a muitas películas mais simples e com pressupostos mais modestos, mas que têm grande significado do ponto de vista espiritual. Esta é uma responsabilidade que temos com os espetadores, para que confrontem as suas escolhas com sentido crítico e optem por filmes que os ajudem a crescer na sua forma de ver a vida. A di-versão não é verter-se para fora mas aprofundar para dentro.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/igreja_tem_responsabilidade_propor_filmes_ajudem_crescer.html

A iniciativa nasce com o objetivo de oferecer a possibilidade de «viver uma experiência espiritual e pessoal muito intensa, caracterizada pela linguagem cinematográfica». O cinema «pode revelar-se uma experiência profunda de conhecimento de si, de oração e de meditação», além de melhorar as capacidades pastorais dos agentes ligados ao cinema nas paróquias e movimentos, assinalam os organizadores.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/exercicios_espirituais_com_cinema.html

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

ESPIRITUALIDADE: Uma espiritualidade para os leigos

Pode-se legitimamente falar de uma espiritualidade leiga ou laical? Seria essa uma espiritualidade vivida por leigos ou uma maneira leiga de viver a espiritualidade? Ou, pelo contrário, deve-se simplesmente falar de uma espiritualidade cristã, sem mais distinções, deixando à liberdade do Espírito Santo, que sopra onde quer, o cuidado e a criatividade de ir colocando suas inscrições como melhor lhe pareça nas tábuas de carne que são os corações humanos?
Ler mais em:

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

LEITURA: várias

"Viver, amar, morrer - Contigo até ao fim"
Se é verdade que os últimos dias e até as últimas horas na vida de uma pessoa simbolizam bem o que essa pessoa foi ou quis ser, então devo pensar que Sendino era o que no catolicismo se entende por santo.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/viver_amar_morrer.html

"A hospitalidade na construção da identidade cristã"
«A hospitalidade revela-se um dos caminhos para a construção da identidade cristã, na comunidade crente. Além de testemunho eloquente para os de fora, cria um ambiente caloroso para os de dentro.» É a partir desta convicção que João Alberto Sousa Correia desenvolve um estudo sobre a narrativa bíblica em que Jesus, após a ressurreição, dialoga com dois dos seus discípulos, em viagem para Emaús, que só o reconhecem quando Ele, à mesa, depois de longo caminho a pé, parte o pão.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/a_hospitalidade_na_construcao_da_identidade_crista.html

"100 entradas para um mundo melhor"
Com este volume amplia-se o auditório das reflexões «sobre temas tão variados como os momentos mais significativos do ano litúrgico, a dúvida, a conversão, a comunicação social, as diversas facetas da missão social e apostólica dos cristãos, a unidade da Igreja ou as vocações e os valores cristãos».
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/100_entradas_para_um_mundo_melhor.html

"Um diário de preces"
Meu bom Deus, não quero descobrir que inventei a minha fé para satisfazer a minha fraqueza. Não quero ter criado Deus à minha própria imagem, como tanto se diz por aí. Por favor, concede-me a graça necessária, oh, Senhor, e faz que não seja tão difícil de alcançar como Kafka dá a entender.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/um_diario_de_preces_flannery_o_connor.html

domingo, 11 de janeiro de 2015

PALAVRAdeDOMINGO: contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!

Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
Tema da Festa do Baptismo do Senhor
A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projecto salvador de Deus. No baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Ele fez-se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude.
A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito de Deus, ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.
No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.
EVANGELHOMc 1,7-11
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
João começou a pregar, dizendo:
«Vai chegar depois de mim
quem é mais forte do que eu,
diante do qual eu não sou digno de me inclinar
para desatar as correias das suas sandálias.
Eu baptizo na água,
mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo».
Sucedeu que, naqueles dias,
Jesus veio de Nazaré da Galileia
e foi baptizado por João no rio Jordão.
Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se
e o Espírito, como uma pomba, descer sobre ele.
E dos céus ouviu-se uma voz:
«Tu és o meu Filho muito amado,
em Ti pus toda a minha complacência».

AMBIENTE
O Evangelho deste domingo apresenta o encontro entre Jesus e João Baptista, nas margens do rio Jordão. Na circunstância, Jesus foi baptizado por João.
João Baptista foi o guia carismático de um movimento de cariz popular, que anunciava a proximidade do “juízo de Deus”. A sua mensagem estava centrada na urgência da conversão (pois, na opinião de João, a intervenção definitiva de Deus na história para destruir o mal estava iminente) e incluía um rito de purificação pela água.
O “baptismo” proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água, sempre ligados a contextos de purificação ou de mudança de vida. Era, inclusive, um rito usado na integração dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade do Povo de Deus.
Na perspectiva de João, provavelmente, este “baptismo” é um rito de iniciação à comunidade messiânica: quem aceitava este “baptismo”, renunciava ao pecado, convertia-se a uma vida nova e passava a integrar a comunidade do Messias.
O que é que Jesus tem a ver com isto? Que sentido faz Ele apresentar-Se a João para receber este “baptismo” de purificação, de arrependimento e de perdão dos pecados?
O texto que hoje nos é proposto faz parte de um conjunto de três cenas iniciais (cf. Mc 1,2-8; 1,9-11; 1,12-13) nas quais Marcos apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus. Nesse tríptico, fica desde logo definida a missão específica e a verdadeira identidade de Jesus. Estas indicações iniciais irão depois ser desenvolvidas e completadas ao longo do Evangelho.

MENSAGEM
Quem é, pois, Jesus e qual a sua missão, de acordo com a mensagem do episódio que a liturgia de hoje nos propõe?
Na primeira parte do nosso texto (vers. 7-8), Marcos apresenta o testemunho de João Baptista sobre Jesus. Aí, Jesus é definido por João como “Aquele que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias” e como “Aquele que há-de baptizar-vos no Espírito Santo”. Tanto a fortaleza como o baptismo no Espírito são prerrogativas que caracterizam o Messias que Israel esperava (cf. Is 9,5-6; 11,2). O testemunho de João não oferece dúvidas: Jesus é esse Messias anunciado pelos profetas, que Deus vai enviar para libertar o seu Povo e para lhe dar a vida definitiva.
O testemunho de João irá, logo, ser confirmado pelo testemunho do próprio Deus. Na cena do baptismo, Marcos faz referência a uma voz vinda do céu que apresenta Jesus como “o meu Filho muito amado” (vers. 11). Esse Messias esperado é também o Filho amado de Deus, enviado aos homens para os “baptizar no Espírito” e para os inserir numa dinâmica de vida nova – a vida no Espírito.
O testemunho de Deus é acompanhado por três factos estranhos que, no entanto, devem ser entendidos em referência a factos e símbolos do Antigo Testamento…
Assim, a abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem inspira-se, provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e desça ao encontro do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do Povo interrompeu. Desta forma, Marcos anuncia que a actividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.
O símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que terá lugar a partir da actividade que Jesus vai iniciar.
Temos, finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse cântico do “Servo de Jahwéh” que vimos na primeira leitura de hoje (cf. Is 42,1)… Afirma-se, de forma clara, que Jesus é o Filho de Deus… Mas a referência ao Servo de Jahwéh sugere que a missão de Jesus não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).
Porque é que Jesus quis ser baptizado por João? Jesus necessitava de um baptismo cujo significado primordial estava ligado à penitência, ao perdão dos pecados e à mudança de vida? Ao receber este baptismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado), Jesus solidarizou-Se com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-Se ao lado dos homens para os ajudar a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da libertação, o caminho da vida plena. Esse era o projecto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente.
A cena do baptismo de Jesus revela portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projecto de libertação em favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da actividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.

ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, ter em conta as seguintes questões:
• No episódio do baptismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao encontro dos homens para os libertar e para os inserir numa dinâmica de comunhão e de vida nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus e o imenso amor que Ele nos dedica… É bonita esta história de um Deus que envia o próprio Filho ao mundo, que pede a esse Filho que Se solidarize com as dores e limitações dos homens e que, através da acção do Filho, reconcilia os homens consigo e fá-los chegar à vida em plenitude. Aquilo que nos é pedido é que correspondamos ao amor do Pai, acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo Jesus no amor, na entrega, no dom da vida. Ora, no dia do nosso baptismo, comprometemo-nos com esse projecto… Temos, depois disso, renovado diariamente o nosso compromisso e percorrido, com coerência, esse caminho que Jesus veio propor-nos?
• A celebração do baptismo do Senhor leva-nos até um Jesus que assume plenamente a sua condição de “Filho” e que se faz obediente ao Pai, cumprindo integralmente o projecto do Pai de dar vida ao homem. É esta mesma atitude de obediência radical, de entrega incondicional, de confiança absoluta que eu assumo na minha relação com Deus? O projecto de Deus é, para mim, mais importante de que os meus projectos pessoais ou do que os desafios que o mundo me faz?
• O episódio do baptismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou identificar-Se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. Eu, filho deste Deus, aceito ir ao encontro dos meus irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes a mão? Partilho a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofro na alma as suas dores, aceito identificar-me com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena? Não tenho medo de me sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para os promover e para lhes dar mais dignidade e mais esperança?• No baptismo, Jesus tomou consciência da sua missão (essa missão que o Pai Lhe confiou), recebeu o Espírito e partiu em viagem pelos caminhos poeirentos da Palestina, a testemunhar o projecto libertador do Pai. Eu, que no baptismo aderi a Jesus e recebi o Espírito que me capacitou para a missão, tenho sido uma testemunha séria e comprometida desse programa em que Jesus Se empenhou e pelo qual Ele deu a vida?

Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=342
 
Ser batizado é mergulhar no amor e renascer do céu: Meditação sobre o Evangelho do Domingo do Batismo
Neste momento, em cada um dos nossos momentos, estamos imersos em Deus como dentro do nosso ambiente vital, dentro de uma nascente que continua a jorrar, ventre que alimenta, aquece e protege. E faz nascer. É um Batismo que recebo agora, um Batismo existencial, quotidiano, no qual continuo a nascer, a ser gerado por Deus.
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http://www.snpcultura.org/ser_batizado_e_mergulhar_no_amor_e_renascer_do_ceu.html