"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























sábado, 31 de março de 2012

Os SIXTIES "made in PORTUGAL"





Pergunta intempestiva: quando vivemos?

ANSELMO BORGES

por ANSELMO BORGES 20Agosto 2011




Como chegámos até aqui? As razões são incontáveis. Mas não me canso de repetir que a multiplicação acéfala de instituições de ensino superior foi fatal. O dinheiro corria a rodos e as pessoas interiorizaram que a fonte não secava, e instalou-se um consumismo pateta, estimulado por cartões de crédito, que os bancos davam a engolir. E voava-se a crédito para férias em Cancún. E multiplicaram-se auto-estradas, talvez porque aí era mais fácil corromper e ser corrompido. E não se investiu suficientemente no capital que não se corrompe e que ninguém rouba: o saber, a cultura, o chamado capital humano. As pessoas foram-se encostando ao Estado, pai providente e aparentemente rico. Com políticos menores, as dívidas foram crescendo, crescendo, até os credores começarem a gritar que exigiam que fossem pagas.
Agora, é a esfola. Impostos, mais impostos, novos impostos. E o desemprego a aumentar. E a pobreza e também a fome.
E a maioria da gente a pensar que mais algum tempo de sacrifícios e voltaremos ao sabor da abundância. Quem disse? Afinal, quem manda e decide? Como é possível que o mundo entre em terramoto por causa de uma nota de uma agência de rating? Mas, sobretudo, ainda se não viu que o "trabalho" é um bem escasso, que será necessário, de um modo ou outro, distribuir? Acima de tudo: como é que ainda se não percebeu que, num mundo limitado, não é possível um progresso ilimitado? E toda a gente a correr e a desfazer-se em stress e angústia para trabalhar aqui e ali e não soçobrar na avaliação. Porque, agora, a avaliação é palavra de ordem, como a concorrência. É preciso concorrer, competir. E ninguém pergunta: produzir o quê e para quê e para quem? Precisaremos de tanta quinquilharia produzida?
Mas agora é a ambição - foi sempre, mas não como agora. Ora, lá está a Escritura, na Primeira Carta a Timóteo: "Nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele. A raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se enredaram em muitas aflições."
Não precisaremos de viver mais moderadamente e, para lá do ter, buscar o ser e ser? Já há muito, o matemático e filósofo, Prémio Nobel da Literatura, B. Russell escreveu que bastaria trabalhar quatro horas por dia, e o físico H.-P. Dürr, Prémio Nobel alternativo, disse que precisaríamos apenas de um terço do nosso tempo de trabalho para produzirmos o que é realmente importante. O outro tempo seria para a cultura...
Agora, é Edgar Morin, o pensador da complexidade, que, do alto da sabedoria dos seus 90 anos, publica La Voie, e, a propósito, numa entrevista à Sciences Humaines, vem dizer verdades imensas.
"O planeta Terra está metido num processo infernal que leva a Humanidade a uma catástrofe previsível. Só uma metamorfose histórica poderá permitir resolver as crises - maiores e múltiplas - ecológicas, económicas, societais, políticas, que ameaçam a própria existência das nossas civilizações em vias de unificação."
As reformas exigidas implicam uma "reforma de vida". De facto, o desenvolvimento é "uma máquina infernal de produção/consumo/destruição". Há um paralelo deste processo no plano individual: trata-se de um desenvolvimento encarado essencialmente como "quantitativo e material", que leva a uma corrida infernal para o "sempre mais" e a um mal-estar no próprio seio do bem-estar. A modernidade ocidental produziu a barbárie do cálculo, da técnica, e não inibiu suficientemente a "barbárie interior", feita de incompreensão do outro, de indiferença.
"As sociedades contemporâneas realizaram em muito o que era um sonho para os nossos antepassados: bem-estar material, conforto. Ao mesmo tempo, descobriu-se que o bem-estar material não traz a felicidade. O preço a pagar pela abundância material revela-se de um custo humano exorbitante: stress, corrida à velocidade, adicção, sentimento de vazio interior."
E volto à pergunta do título: afinal, quando vivemos? Sim, porque, como isto está, não vivemos, somos vividos.

FONTE: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1956736&seccao=Anselmo Borges&tag=Opini%E3o - Em Foco&page=-1

sexta-feira, 30 de março de 2012

CRISE de VALORES: a mais preocupante

Este país atravessa uma grave crise, é certo, mas não é a económica que mais me preocupa. A crise de valores que atravessamos é bem mais corrosiva e decadente do que qualquer outra.
Ontem passava no telejornal uma reportagem cuja personagem principal era uma mulher, licenciada e com um rendimento de ?1750/mês, que tinha contraído uma dívida total de cerca de 60 mil euros em créditos ao consumo. À pergunta "porquê?" respondeu "porque todos o fazem, não é?". Não, não é, minha amiga. Do sítio de onde eu venho não se pedem créditos para ir 15 dias para o Algarve, para comprar malas ou um LED para a sala. Do sítio de onde eu venho o lema principal é básico "quem não tem dinheiro não tem vícios".

Esta necessidade de mostrar, de ostentar, de ter porque os outros têm é coisa para me magoar a alma.
Quando, ainda criança, chegava aos meus pais e lhes pedia qualquer coisa e eles negavam, eu argumentava "mas a Y ou o X têm", a resposta era sempre a mesma "tu não és a Y/X e aqui em casa não se vive segundo as regras dos vizinhos". E, meus amigos, aquilo funcionou tão bem no objectivo essencial de me tornar um adulto com reais percepções sobre o que é a realidade que me rodeia.

Se eu gostava muito de correr mundo, de poder comprar mais, de ir a mais lugares? Claro que sim. Mas não posso e por isso não faço depender a minha felicidade dessas mesmas coisas.
No fundo, o que me custa perceber é que este mundo está cada vez mais pejado de pobres de espírito, influenciados por mexericos de redes sociais e anúncios de tv, cujo principal objectivo é ter e parecer, sem opinião própria, cujos gostos são estereotipados por uma qualquer revista ou blogger famosa ou tão somente pela vizinha da frente. E que isto começa cada vez mais cedo sem que os responsáveis educativos mexam uma palha para contrariar esta tendência.

E, sem nos darmos conta, estamos a criar pequenos seres autoritários, dependentes de futilidades, presos a títulos e com uma total ausência de valores fundamentais.

Quando estava na faculdade contava todos os patacos para não sobrecarregar os meus pais, tinha 3/4 pares de sapatos e duas malas. Às vezes chegava a sentir-me culpada quando comprava algo que não fosse essencial (e que normalmente era resultado de uma poupança ou um dinheirinho extra que alguém me dava). Hoje vejo míudas que nunca fizeram nada na vida além de passearem os livros a comprar cremes e maquilhagem topo de gama, a exigirem a roupa das marcas mais fashion, os míudos com notebooks topo de gama a gastarem o equivalente à minha mesada naquela idade numa noite de copos, isto tudo enquanto os pais pagam o crédito da casa, do carro, do frigorífico, das últimas férias às Maldivas e sem que ninguem veja nada de errado nestes comportamentos.

E, Senhores, é desta crise que eu tenho realmente medo.

quarta-feira, 28 de março de 2012

A uma boa pergunta, a melhor resposta

Quantas vezes perante uma situação de sofrimento, de catástrofe, de maldade & suas afinidades, não ouvimos e lemos já esta pergunta “Porquê???”. Então nos tempos de hoje...«são mais as vozes que a nozes».
Pois eis, quanto a mim, uma boa resposta, não a possível, mas a única com lógica & sentido!!! 
Há, no entanto & entretanto, que saber prescrutar bem nas linhas e vasculhar melhor nas entrelinhas do texto que se segue para que tudo se esclareça e se torne clarinho. Só então...


Quando gritamos “Porquê???” diante do Mal, não estamos a clamar por uma Explicação, mas por um Sentido… Os autores bíblicos nunca caem na tentação de “explicar” o Mal, mas de muitas maneiras apontam para a possibilidade de encontrar um Sentido, como um rasgão luminoso de Esperança.
Jesus também não nos deu/dá nenhuma explicação do mistério do Mal nem fez nenhum discurso filosófico sobre o “tema”… Então?!
A Fé bíblica aponta-nos, uma Grande Esperança na Bondade da Criação cheia de Futuro
indica-nos caminhos para vencermos o Mal histórico que enfrentamos
critérios para discenirmos diante da insinuação do Mal
que interiormente também encontra em nós recantos de sedução
e dá-nos a garantia que o Mal já foi vencido no Acontecimento Jesus;
agora a História da Criação está em processo de Cristificação,
isto é, até que Deus, que já é tudo em Jesus, seja tudo em todos;
ou, por outras palavras:
até que o Acontecimento Jesus seja um Aconteciemento Universalmente experimentado, até que a história do Cristo seja a história de todos!


Mas o combate já está decidido e ganho! Só ainda não totalmente terminado… O “bom combate da Fé” de que fala o Apóstolo Paulo é a vida herdada de Jesus, é esta tensão história da Fé na Esperança; uma Fé que é apostar a Vida na Vitória de Cristo e uma Esperança que é receber dela a força e os critérios para lutar contra o Mal.


Discípulos de Jesus,
Crentes na Ressurreição que é a Vitória da Vida sobre o Mal,
Querentes do Reino de Deus,
estamos Convocados para a Esperança
que é uma Liberdade diante do desespero público
e uma Lucidez diante da ilusão de sabedoria que é o pessimismo histórico.


É por isso que um instrumento fundamental na luta contra o Mal é a Oração ao jeito de Jesus,
Oração Filial que nos modele na obediência à Sua Palavra
e Oração Pascal que rasgue em nós nesgas de Esperança
e adestre as nossas vidas para a Tarefa Solidária da Justiça.
Ou haverá ainda quem duvide que a luta contra o Mal coincide com a construção da Irmandade?
Não sei se a Irmandade nos livra do Mal, mas tenho, no mínimo, a certeza experimentada de que nos cura dos seus efeitos...

Tudo isto e muito "mais&melhor" aqui, em:

domingo, 25 de março de 2012

LEITURAS para este TEMPO

http://www.snpcultura.org/da_quaresma_a_pascoa.html#domingo_5

PORTUGAL: auto-estradas 2012

Sendo Portugal o país com mais Km de auto-estradas por habitante e área/densidade geográfica, dados do Eurostat, http://www.portais.ws/?page=art_det&ida=3578 , a confusão está instalada - é normal, natural e compreensível. Vai daí, uma alma nossa gentil encarregou-se de nos elaborar esta utilidade, que não é pequena, bem pelo contrário - isto sou eu a pensar e a pensar...!








PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

EVANGELHOJo 12,20-33

Naquele tempo,
alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém
para adorar nos dias da festa,
foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia,
e fizeram-lhe este pedido:
«Senhor, nós queríamos ver Jesus».
Filipe foi dizê-lo a André;
e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus.
Jesus respondeu-lhes:
«Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado.
Em verdade, em verdade vos digo:
Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;
mas se morrer, dará muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á,
e quem despreza a sua vida neste mundo
conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém Me quiser servir, que Me siga,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.
E se alguém Me servir, meu Pai o honrará.
Agora a minha alma está perturbada.
E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora?
Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.
Pai, glorifica o teu nome».

AMBIENTE
O Evangelho que a liturgia do 5º Domingo da Quaresma nos propõe situa-nos em Jerusalém, aparentemente no próprio dia da entrada solene de Jesus na cidade santa (cf. Jo 12,12-19). As multidões “que tinham chegado para a Festa” haviam aclamado Jesus como o rei/messias, encenando um rito de entronização e aclamando Jesus como “o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel” (Jo 12,12-13). De acordo com João, as pessoas colheram ramos de palma e saíram ao encontro de Jesus um gesto que está ligado, no folclore religioso judaico, à Festa das Cabanas, a festa que celebrava o tempo em que os israelitas viveram em tendas, ao longo da caminhada pelo deserto, após a libertação do Egipto. O autor do Quarto Evangelho sugere, assim, que está a chegar ao fim o processo de libertação definitiva do Povo de Deus. Apresenta-se, assim, uma chave de leitura para entender a morte próxima de Jesus.
No quadro entram “alguns gregos” que “tinham subido a Jerusalém para adorar” e que queriam ver Jesus. Aqui, “grego” significa, provavelmente, “não judeu”. Podem ser prosélitos (estrangeiros convertidos ao judaísmo) ou simples simpatizantes do judaísmo.
Os “gregos” dirigem-se a Filipe, natural de Betsaida, uma cidade situada na tetrarquia de Herodes Filipe, já fora do território judeu propriamente dito. Curiosamente, “Betsaida” significa “lugar de pesca” (o que pode aludir à missão dos discípulos – ser “pescadores de homens” – Mc 1,17). Filipe vai falar com André a propósito do pedido e os dois apresentam o caso a Jesus.
A história dos “gregos” que querem “ver Jesus” vai servir de pretexto a João para uma belíssima catequese sobre o que significa “ver Jesus”.

MENSAGEM
Os “gregos” vieram a Jerusalém “adorar” a Deus no Templo; mas quiseram encontrar-se com Jesus, conhecer Jesus e o seu projecto, tomar contacto com a salvação que Ele veio oferecer (queriam “ver Jesus” – vers. 21). Com isto, o autor do Quarto Evangelho sugere que o Templo e o culto antigo já não são mais os lugares onde o homem encontra Deus e a salvação; agora, quem estiver interessado em encontrar a verdadeira libertação deve dirigir-se ao próprio Jesus. Por outro lado, a salvação/libertação que Jesus veio trazer tem um alcance universal e destina-se a todos os homens – mesmo àqueles que vivem fora das fronteiras físicas de Israel (“gregos”).
Estes “gregos” não se dirigem directamente a Jesus, mas aos discípulos. Haverá aqui, talvez, um aceno à responsabilidade missionária da comunidade de Jesus, encarregada da missão de levar Jesus a todos os povos da terra. O facto de Filipe falar primeiro com André e só depois os dois irem contar o que se passa a Jesus reflecte a dificuldade com que as primeiras comunidades cristãs deram o passo para a evangelização dos pagãos. João quer, provavelmente, sugerir que a decisão de integrar os pagãos na comunidade de Jesus não é uma decisão individual, mas uma decisão que a comunidade tomou depois de haver consultado o Senhor.
Quem vai ao encontro de Jesus, o que é que vai encontrar? Um messias aclamado pelas multidões, preocupado em gerir a carreira e em manter a todo o custo o seu clube de fãs, que faz prodígios de equilíbrio para não desagradar às autoridades constituídas e não arruinar as suas hipóteses de êxito? No horizonte próximo de Jesus, está apenas a cruz (a “hora”). Ele está consciente de que vai sofrer uma morte violenta e maldita, e que todos o vão abandonar como um fracassado. Paradoxalmente, Ele está consciente, também, que nessa cruz se manifestará a “glória” do Filho do Homem.
A morte de Jesus não é um momento isolado, mas o culminar de um processo de doação total de Si mesmo, que se iniciou quando “o Verbo Se fez carne e montou a sua tenda no meio dos homens” (Jo 1,14); é o último acto de uma vida de entrega total aos projectos de Deus, feita amor até ao extremo. Durante toda a sua existência terrena, Jesus procurou, em cada palavra e em cada gesto, tornar o homem livre de todas as opressões, dotá-lo de dignidade, dar-lhe vida em plenitude. Dessa forma, despoletou o ódio do sistema opressor, interessado em manter o homem escravo. Sem se assustar com a perspectiva da morte, cumprindo até ao fim o projecto libertador de Deus em favor do homem, Jesus levou avante a sua luta pela libertação da humanidade. A sua morte é a consequência do seu confronto com as forças da morte que dominavam o mundo.
Por outro lado, ao dar a vida por amor, Jesus deixa aos seus discípulos a última e a suprema lição, a lição final que eles devem aprender. Com a morte de Jesus na cruz, os discípulos aprendem o amor até ao extremo, o dom total da vida, a entrega radical aos projectos de Deus e à libertação dos irmãos.
O que é que nasce deste “dom” de Jesus? Nasce uma nova humanidade. É uma humanidade que Jesus libertou da opressão, da injustiça, dos mecanismos que geram sofrimento e medo… E é uma humanidade que venceu o egoísmo e que aprendeu que a vida é para ser dada, sem limites, por amor. Não há dúvida que o dom da vida dá abundantes frutos de vida. Na cruz de Jesus manifesta-se, portanto, o projecto libertador de Deus para os homens.
Quem quiser “conhecer” Jesus deve olhar para esse Homem que põe totalmente a sua vida ao serviço dos projectos de Deus e que morre na cruz para ensinar aos homens o amor sem limites. Deve aprender essa verdade que, para Jesus, é evidente: não se pode gerar vida (para si próprio e para os outros), sem entregar a própria vida. A vida nasce do amor, do amor total, do amor que se dá até às últimas consequências. Só o amor como dom total é fecundo e gerador de vida (“em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo caído na terra não morrer, permanece só; se morrer, produz muito fruto” – vers. 24). Quem se ama a si mesmo e se fecha num egoísmo estéril, quem se preocupa apenas com defender os seus interesses e perspectivas, perde a oportunidade de chegar à vida verdadeira, à salvação. O apego egoísta à própria vida levará ao medo de agir, à dificuldade em comprometer-se, ao silêncio perante a injustiça – em suma, a uma vida de medo e de opressão, que é infecunda e não vale a pena ser vivida. Ao contrário, quem é totalmente livre do medo, quem se esquece dos seus próprios interesses e seguranças e se compromete com a luta pela justiça, pelos direitos, pela dignidade e liberdade do homem, quem ama tanto os outros que entrega a sua vida por eles, esse dará frutos de vida e viverá uma vida plena, que nem a morte calará. É esta vida que tem sentido e que leva o homem à realização plena. Jesus viveu esta dinâmica da vida dada por amor, sem medo de enfrentar o “mundo” – isto é, sem medo de enfrentar esse sistema de opressão e de injustiça que pensava poder manter os homens escravos através do medo da morte. Jesus está livre desse medo e, portanto, está livre para amar totalmente. Àqueles que querem “ver Jesus” e conhecer o seu projecto, Ele propõe o mesmo caminho – o caminho do amor e da entrega total. Ser discípulo é colaborar com Jesus na libertação dos homens que ainda são escravos, mesmo que isso signifique enfrentar as forças de opressão do “mundo” e enfrentar a própria morte (“se alguém Me quer servir, siga-Me” – vers. 26a).
Quem aceitar esta proposta permanece unido a Jesus, entra na comunidade de Deus (vers. 26b). Poderá ser desprezado pelo “mundo”; mas será honrado por Deus e acolhido como seu filho (vers. 26c).
O nosso texto termina com a “voz do céu” que glorifica Jesus (vers. 28-32). É uma forma de mostrar que o caminho de Jesus tem o selo de garantia de Deus. A “voz do céu” assegura que a forma de viver proposta por Jesus é verdadeira e que Deus garante a sua autenticidade. Confirma-se, desta forma, aos discípulos que oferecer a vida por amor não é um caminho de fracasso e de morte, mas um caminho de glorificação e de vida.

ACTUALIZAÇÃO
• A primeira leitura mostrava-nos a preocupação de Deus no sentido de propor aos homens uma nova Aliança, capaz de gerar um Homem Novo. Como é que chegamos a essa realidade do Homem Novo, de coração transformado (isto é, com um coração que pensa, que decide e que age segundo os esquemas e a lógica de Deus)? O Evangelho responde: é olhando para Jesus, aprendendo com Ele, seguindo-O no caminho do amor, acolhendo essa vida que Ele nos propõe. Jesus tem de ser o modelo, a referência, o exemplo de quem quer aceitar o desafio de Deus e viver na comunidade da nova Aliança. Na verdade, o que é que Jesus representa, para nós? Uma pequena nota no rodapé da história humana? Um idealista com boas intenções que fracassou no seu sonho de um mundo melhor? Um pensador original, mas cujas ideias e perspectivas parecem desfasadas face às novas realidades do mundo? Ou é o Deus que veio ao encontro dos homens com um projecto de vida nova, capaz de dar um novo sentido à nossa vida e de nos encaminhar para a vida plena, para a felicidade sem fim? • O caminho que Jesus aponta aos homens é o caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. Este caminho pode parecer, por vezes, um caminho de fracasso, de cruz; pode ser um caminho que nos coloca à margem desses valores que o mundo admira e consagra; pode parecer um caminho de perdedores e de fracos, reservado a quem não tem a coragem de se impor, de vencer a todo o custo, de conquistar o mundo… No entanto, Jesus garante-nos: a vida plena e definitiva nasce do dom de si mesmo, do serviço simples e humilde prestado aos irmãos (sobretudo aos pequenos e aos pobres), da disponibilidade para nos esquecermos de nós próprios e para irmos ao encontro das necessidades dos outros, da capacidade para nos solidarizarmos com os irmãos que sofrem, da coragem com que enfrentamos tudo aquilo que gera sofrimento e morte. Estamos dispostos a seguir a proposta de Jesus?
• Jesus rejeita absolutamente o caminho da auto-suficiência, do fechamento em si próprio, do egoísmo estéril, dos valores efémeros. Na lógica de Deus, trata-se de um caminho de perdedores, que produz vidas vazias e sem sentido, sofrimento e frustração, medo e desilusão. Quem vive exclusivamente para si próprio, quem se preocupa apenas em defender os seus interesses e perspectivas, quem se apega excessivamente a uma realização pessoal cumprida em circuitos fechados, “compra” uma existência infecunda e que não vale a pena ser vivida. Perde a oportunidade de chegar ao Homem Novo, à realização plena, à vida verdadeira, à salvação. Talvez nesta Quaresma Jesus nos peça que dispamos o nosso egoísmo e que nos convertamos ao amor…
• É através da comunidade dos discípulos que os homens “vêem Jesus”, descobrem o seu projecto, encontram esse caminho de amor e de doação que conduz à vida nova do Homem Novo, à salvação. Isto recorda-nos a nossa responsabilidade de testemunhas de Jesus e da sua salvação no meio dos homens do nosso tempo… Aqueles irmãos que se cruzam connosco nos caminhos da vida descobrem no nosso testemunho o rosto de Jesus? Todos aqueles que vêm ao encontro de Jesus à procura da vida plena encontram na forma como nos doamos, como servimos e como amamos a proposta libertadora que, através de nós, Jesus quer passar a todos os homens?
Fazer parte da comunidade da nova Aliança não tem a ver com o cumprimento de ritos ou de obrigações externas; mas tem a ver com a adesão incondicional do coração às propostas de Deus. O que nos faz membros efectivos da comunidade da nova Aliança não é o ter o nome inscrito no livro de registos de baptismos da nossa paróquia, ou o ter celebrado o casamento na igreja, ou o ir à missa ao domingo… Mas é o estar atento aos projectos de Deus, interiorizar as propostas de Deus, conduzir a vida de acordo com os valores de Deus, testemunhar a vida de Deus nos gestos simples do dia a dia, viver em comunhão com Deus.
• O projecto de uma nova Aliança entre Deus e o seu Povo concretiza-se em Jesus: Ele veio ao mundo para renovar os corações dos homens, oferecendo-lhes a vida de Deus.
As outras duas leituras que nos são propostas neste 5º Domingo da Quaresma vão dizer-nos como é que Jesus concretizou este projecto.
FONTE: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=353

sábado, 24 de março de 2012

Ser forte com os fortes

Com os fortes? - pergunta o "Línguas de Perguntador".
Qual quê?! - duvida o "Fulano".
Isso é que era bom! - exclama o "Beltrano".
Dei-xa-me rir... - ri-se o "Cicrano".
 Ora como «quem ri por último ri melhor»...

- Qual deles terá razão?


  

quinta-feira, 22 de março de 2012

«Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova»: Santo Agostinho em Lisboa para crentes e não crentes

O Patriarcado de Lisboa realiza este sábado, 24 de março, uma leitura de textos da obra “Confissões”, de Santo Agostinho, dirigida especialmente a quem não crê em Deus ou se interrogam sobre a sua existência.
A iniciativa que decorre às 16h00 na igreja do Sagrado Coração de Jesus vai ser protagonizada por atores e dois músicos, entre os quais Rão Kyao, revelou ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura o responsável pelo espetáculo, Júlio Martin.
«A leitura de Santo Agostinho tem-me permitido entrar na viagem belíssima de vida que as “Confissões” oferecem», afirmou.
O espetáculo de uma hora, que conta com a presença do cardeal-patriarca, D. José Policarpo, compreende 40 minutos de leitura «a várias vozes» por parte de atores do Teatro do Ourives, de que Júlio Martin é encenador.
Cada um dos quatro momentos de leitura vai ter cerca de 10 minutos, o que exige «uma seleção muito difícil de fazer, dada a riqueza da obra», salientou o responsável, embora a escolha não se faça a partir da totalidade do livro mas de uma triagem prévia.
«Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!», o fragmento que mais cativou Júlio Martin, fará parte dos excertos a serem lidos por se tratar de um texto «muito belo a nível vivencial, poético e teatral».

Imagem
Sandro Botticelli

Depois de acentuar que «a experiência de Santo Agostinho é a de alguém que parte da descrença para um processo de conversão, até incarnar na plenitude a mensagem cristã», o encenador sublinhou que o espetáculo dirige-se sobretudo «para as pessoas que não creem ou estão em fase de conversão».
«Estamos a optar por textos que colocam dúvidas e inquietações, fazendo o percurso interior até à conversão», explicou Júlio Martin, salvaguardando que a iniciativa também pretende cativar os católicos que desconheçam a obra, como era o caso do encenador.
Os textos do Doutor da Igreja de origem africana que viveu entre os séculos III e IV vão ser acompanhados por projeções de pinturas e fotografias nas amplas paredes da igreja.

Imagem
Santo Agostinho ensinando em Roma (Benozzo Gozzoli)

A encenação «muito simples» também pretende salientar «como a inteligência também é tocada» no itinerário de Santo Agostinho até à adesão ao cristianismo.
«A vivência cristã vai para além do aspeto sentimental, é algo que é pensado e interrogado», frisou Júlio Martin, que considera que as “Confissões” são também um estímulo à ação: «É muito importante a transformação da realidade a partir do que acreditamos».
A leitura integra-se no programa da “Missão Metrópoles”, iniciativa promovida pelo Conselho Pontifício para a Nova Evangelização que decorre em 12 cidades europeias.

Imagem
Santo Agostinho e Santo Ambrósio (Fra Filippo Lippi)

A terminar, o excerto que mais tocou Júlio Martin e que constitui o núcleo da obra:
«Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formusuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco!
Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Porém chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez! Brilhastes, cintilastes, e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da Vossa paz.»

terça-feira, 20 de março de 2012

As guerras também se inventam?

Leia-se, leia-se e leia-se...
É tão pouco (para ler) e é tudo (para perceber "as malhas que o império continua a tecer")!!!
Depois claro, as consequências estão aí, combustíveis upa upa, guerra civil... enfim optimos pretextos para...

segunda-feira, 19 de março de 2012

UM POEMA POR SEMANA (15/15)

Estreou, no Dia Mundial da Poesia (21 de Março):15 poemas em 75 dias, ditos por 75 pessoas Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Ruy Belo, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Sá de Miranda, António Nobre, Alexandre O'Neill, Luís Vaz de Camões, Jorge de Sena, José Régio, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny. O que têm em comum estes poetas? Para lá do facto de estarem mortos? Todos marcaram indelevelmente a história da literatura em língua portuguesa. Mais do que isso: marcaram o nosso imaginário e condicionaram a nossa identidade! Ainda que, muitas vezes, disso não tenhamos consciência...

Os "dizedores":
São homens e mulheres, novos e velhos, falantes de português. Gente que tem em comum gostar MUITO de poesia.
"Um Poema por Semana" é uma ideia de Paula Moura Pinheiro.
Escolha dos poemas: José Carlos de Vasconcelos, jornalista com longa história na ação cultural em Portugal e diretor do clássico "Jornal de Letras";
Direção artística, realização e cenografia: Paulo Braga, um criativo sénior do mundo da Publicidade;
Direção de Casting: João Gesta, o apaixonado inventor de Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre, no Porto; e por Gonçalo Riscado, Sandra Silva e Alexandre Cortez responsáveis pelo Festival Silêncio;

Para que fiquem claros os critérios com que trabalhámos em "Um Poema por Semana": nos poemas de autores que viveram há séculos, como Sá de Miranda ou mesmo Cesário Verde, há, por vezes, discrepâncias entre as diversas fixações dos seus textos. Nesses casos, aceitámos que os "diseurs" usassem a fixação do poema que melhor conhecem. Mas cuidámos que os textos dos poemas que aqui publicamos correspondem às fixações mais reconhecidas pela academia - se é para conhecer melhor o poema, que seja na sua versão mais consensual. 

MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL



Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva,
nem teu andar como onda fugitiva
se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
do teu ser. Em breve a podridão
beberá os teus olhos e os teus ossos
tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
sempre,
porque eu amei como se fossem eternos
a glória, a luz e o brilho do teu ser,
amei-te em verdade e transparência
e nem sequer me resta a tua ausência,
és um rosto de nojo e negação
e eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

domingo, 18 de março de 2012

PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

EVANGELHO: Jo 3,14-21
Naquele tempo,
disse Jesus a Nicodemos:
«Assim como Moisés elevou a serpente no deserto,
também o Filho do homem será elevado,
para que todo aquele que acredita n’Ele
não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus não enviou o Filho ao mundo
para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por Ele.
Quem acredita n’Ele não é condenado,
mas quem não acredita já está condenado,
porque não acreditou em nome do Filho Unigénito de Deus.
E a causa da condenação é esta:
a luz veio ao mundo
e os homens amaram mais as trevas do que a luz,
porque eram más as suas obras.
Todo aquele que pratica más acções
odeia a luz e não se aproxima dela,
para que as suas obras não sejam denunciadas.
Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz,
para que as suas obras sejam manifestas,
pois são feitas em Deus.

AMBIENTE
O nosso texto pertence à secção introdutória do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19-3,36). Nessa secção, o autor apresenta Jesus e procura – através dos contributos dos diversos personagens que vão sucessivamente ocupando o centro do palco e declamando o seu texto – dizer quem é Jesus.
Mais concretamente, o trecho que nos é proposto faz parte da conversa entre Jesus e um “chefe dos judeus” chamado Nicodemos (cf. Jo 3,1). Nicodemos foi visitar Jesus “de noite” (cf. Jo 3,2), o que parece indicar que não se queria comprometer e arriscar a posição destacada de que gozava na estrutura religiosa judaica. Membro do Sinédrio, Nicodemos aparecerá, mais tarde, a defender Jesus, perante os chefes dos fariseus (cf. Jo 7,48-52). Também estará presente na altura em que Jesus foi descido da cruz e colocado no túmulo (cf. Jo 19,39).
A conversa entre Jesus e Nicodemos apresenta três etapas ou fases. Na primeira (cf. Jo 3,1-3), Nicodemos reconhece a autoridade de Jesus, graças às suas obras; mas Jesus acrescenta que isso não é suficiente: o essencial é reconhecer Jesus como o enviado do Pai. Na segunda (cf. Jo 3,4-8), Jesus anuncia a Nicodemos que, para entender a sua proposta, é preciso “nascer de Deus” e explica-lhe que esse novo nascimento é o nascimento “da água e do Espírito”. Na terceira (cf. Jo 3,9-21), Jesus descreve a Nicodemos o projecto de salvação de Deus: é uma iniciativa do Pai, tornada presente no mundo e na vida dos homens através do Filho e que se concretizará pela cruz/exaltação de Jesus. O nosso texto pertence a esta terceira parte.

MENSAGEM
No texto que nos é proposto, Jesus começa por explicar a Nicodemos que o Messias tem de “ser levantado ao alto”, como “Moisés levantou a serpente” no deserto (a referência evoca o episódio da caminhada pelo deserto quando os hebreus, mordidos pelas serpentes, olhavam uma serpente de bronze levantada num estandarte por Moisés e se curavam – cf. Nm 21,8-9). A imagem do “levantamento” de Jesus refere-se, naturalmente, à cruz – passo necessário para chegar à exaltação, à vida definitiva. É aí que Jesus manifesta o seu amor e que indica aos homens o caminho que eles devem percorrer para alcançar a salvação, a vida plena (vers. 14).
Aos homens é sugerido que acreditem no “Filho do Homem” levantado na cruz, para que não pereçam mas tenham a vida eterna. “Acreditar” no “Filho do Homem” significa aderir a Ele e à sua proposta de vida; significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus, dom total da própria vida a Deus e aos irmãos (vers. 15). É dessa forma que se chega à “vida eterna”.
Depois destas afirmações gerais, o autor do Quarto Evangelho vai entrar em afirmações mais detalhadas. O que é que significa, exactamente, a cruz de Jesus? Como é que a cruz gera vida definitiva para o homem? Jesus, o “Filho único” enviado pelo Pai ao encontro dos homens para lhes trazer a vida definitiva, é o grande dom do amor de Deus à humanidade. A expressão “Filho único” evoca, provavelmente, o “sacrifício de Isaac” (cf. Gn 22,16): Deus comporta-se como Abraão, que foi capaz de desprender-se do próprio filho por amor (no caso de Abraão, amor a Deus; no caso de Deus, amor aos homens)… Jesus, o “Filho único” de Deus, veio ao mundo para cumprir os planos do Pai em favor dos homens. Para isso, incarnou na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida gasta a lutar contra as forças das trevas e da morte que escravizam os homens, foi preso, torturado e morto numa cruz. A cruz é o último acto de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega. A cruz é, portanto, a expressão suprema do amor de Deus pelos homens. Ela dá-nos a dimensão do incomensurável amor de Deus por essa humanidade a quem Ele quer oferecer a salvação (vers. 16).
Qual é o objectivo de Deus ao enviar o seu Filho único ao encontro dos homens? É libertá-los do egoísmo, da escravidão, da alienação, da morte, e dar-lhes a vida eterna. Com Jesus – o “Filho único” que morreu na cruz – os homens aprendem que a vida definitiva está na obediência aos planos do Pai e no dom da vida aos irmãos, por amor.
Ao enviar ao mundo o seu “Filho único”, Deus não tinha uma intenção negativa, mas uma intenção positiva. O Messias não veio com uma missão judicial, nem veio excluir ninguém da salvação. Pelo contrário, Ele veio oferecer aos homens – a todos os homens – a vida definitiva, ensinando-os a amar sem medida e dando-lhes o Espírito que os transforma em Homens Novos (vers. 17).
homens egoístas, orgulhosos, auto-suficientes e os inseriu numa dinâmica de vida nova e plenaReparemos neste facto notável: Deus não enviou o seu Filho único ao encontro de homens perfeitos e santos; mas enviou o seu Filho único ao encontro de homens pecadores, egoístas, auto-suficientes, a fim de lhes apresentar uma nova proposta de vida… E foi o amor de Jesus – bem como o Espírito que Jesus deixou – que transformou esses homens egoístas, orgulhosos, auto-suficientes e os inseriu numa dinâmica de vida nova e plena..
Diante da oferta de salvação que Deus faz, o homem tem de fazer a sua escolha. Quando o homem aceita a proposta de Jesus e adere a Ele, escolhe a vida definitiva; mas quando o homem prefere continuar escravo de esquemas de egoísmo e de auto-suficiência, rejeita a proposta de Deus e auto-exclui-se da salvação. A salvação ou a condenação não são, nesta perspectiva, um prémio ou um castigo que Deus dá ao homem pelo seu bom ou mau comportamento; mas são o resultado da escolha livre do homem, face à oferta incondicional de salvação que Deus lhe faz. A responsabilidade pela vida definitiva ou pela morte eterna não recai, assim, sobre Deus, mas sobre o homem (vers. 18).
De acordo com a perspectiva de João, também não existe um julgamento futuro, no final dos tempos, no qual Deus pesa na sua balança os pecados dos homens, para ver se os há-de salvar ou condenar: o juízo realiza-se aqui e agora e depende da atitude que o homem assume diante da proposta de Jesus. Na parte final do nosso texto (vers. 19-21), João repete o tema da opção pela vida (Jesus) ou pela morte. Ele constata que, por vezes, os homens rejeitam a proposta de Deus e preferem a escravidão e as trevas (o egoísmo, a injustiça, o orgulho, a auto-suficiência, tudo o que torna o homem infeliz e lhe impede o acesso à vida definitiva). Ao contrário, quem pratica as obras do amor (as obras de Jesus), escolhe a luz, identifica-se com Deus e dá testemunho de Deus no meio do mundo.
Em resumo: porque amava a humanidade, Deus enviou o seu Filho único ao mundo com uma proposta de salvação. Essa oferta nunca foi retirada; continua aberta e à espera de resposta. Diante da oferta de Deus, o homem pode escolher a vida eterna, ou pode excluir-se da salvação.

ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes pontos:
• João é o evangelista abismado na contemplação do amor de um Deus que não hesitou em enviar ao mundo o seu Filho, o seu único Filho, para apresentar aos homens uma proposta de felicidade plena, de vida definitiva; e Jesus, o Filho, cumprindo o mandato do Pai, fez da sua vida um dom, até à morte na cruz, para mostrar aos homens o “caminho” da vida eterna… O Evangelho deste domingo convida-nos a contemplar, com João, esta incrível história de amor e a espantar-nos com o peso que nós – seres limitados e finitos, pequenos grãos de pó na imensidão das galáxias – adquirimos nos esquemas, nos projectos e no coração de Deus.
• O amor de Deus traduz-se na oferta ao homem de vida plena e definitiva. É uma oferta gratuita, incondicional, absoluta, válida para sempre e que não discrimina ninguém. Aos homens – dotados de liberdade e de capacidade de opção – compete decidir se aceitam ou se rejeitam o dom de Deus. Às vezes, os homens acusam Deus pelas guerras, pelas injustiças, pelas arbitrariedades que trazem sofrimento e morte que pintam as paredes do mundo com a cor do desespero… O nosso texto, contudo, é claro: Deus ama o homem e oferece-lhe a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus, mas são o resultado das escolhas erradas feitas pelo homem que se obstina na auto-suficiência e que prescinde dos dons de Deus.

Neste texto, João define claramente o caminho que todo o homem deve seguir para chegar à vida eterna: trata-se de “acreditar” em Jesus. “Acreditar” em Jesus não é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé; mas é escutar Jesus, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-l’O nesse caminho do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos. Passa pelo ser capaz de ultrapassar a indiferença, o comodismo, os projectos pessoais e pelo empenho em concretizar, no dia a dia da vida, os apelos e os desafios de Deus; passa por despir o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, os preconceitos, para realizar gestos concretos de dom, de entrega, de serviço que tragam alegria, vida e esperança aos irmãos que caminham lado a lado connosco. Neste tempo de caminhada para a Páscoa, somos convidados a converter-nos a Jesus e a percorrer o mesmo caminho de amor total que Ele percorreu.
• Alguns cristãos vivem obcecados e assustados com esse momento final em que Deus vai julgar o homem, depois de pesar na balança as suas acções boas e as suas acções más… João garante-nos que Deus não é um contabilista, a somar os débitos e os créditos do homem para lhes pagar em conformidade… O cristão não vive no medo, pois ele sabe que Deus é esse Pai cheio de amor que oferece a todos os seus filhos a vida eterna. Não é Deus que nos condena; somos nós que escolhemos entre a vida eterna que Deus nos oferece ou a eterna infelicidade.

quinta-feira, 15 de março de 2012

CLASSE MÉDIA na berlinda...

A opinião de 2 insuspeitos:
Não, a classe média não vai querer pagar a crise
08 Março 2012 | 23:30




Como Passos Coelho está a alienar a classe média
Camilo Lourenço - camilolourenco@gmail.com

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ela canta, afaga e cuida de nós...

De um amigo do Porto este texto que ajuda a pensar...nesta e na outra Vida.
No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebés. O primeiro pergunta ao outro:
Tu acreditas na vida após o nascimento?
Certamente que sim. Algo tem de haver depois de nascermos! Talvez estejamos aqui, principalmente,  porque precisamos de nos preparar para o que seremos mais tarde.   
Tolice, não há vida após o nascimento. E se houvesse como seria ela? ...
Eu cá não sei, mas certamente haverá mais luz lá do que aqui... Talvez caminhemos com os nossos próprios pés e comamos com a boca.
Isso é absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca é totalmente ridículo! O cordão umbilical alimenta-nos. Estou convencido de que a vida após o nascimento não existe, pois o cordão umbilical é muito curto!
Olha, eu penso de outro modo. Penso que há algo depois do nascimento, talvez um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui...
Mas nunca ninguém voltou de lá, para nos falar sobre isso!? O parto é o fim da vida. E a vida, afinal,   nada mais é do que a angústia prolongada na escuridão.
Bem, eu não sei exactamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamã e ela cuidará de nós.
Mamã? Tu acreditas na mamã? E onde está ela?
Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela é que nós vivemos. Sem ela nada disto existiria!
Eu não acredito. Nunca vi nenhuma mamã, pelo que não existe mamã nenhuma!
Eu acredito. E sabes porquê? Porque às vezes, quando estamos em silêncio, ouço-a cantar e sinto como ela afaga o nosso mundo. E também penso que a nossa vida só será "real"depois de termos nascido. Nesse momento tomará nova dimensão. Aqui, onde estamos agora, apenas estamos a        preparar-nos para essa outra vida...
«Para bom entendedor meia palvra basta»

terça-feira, 13 de março de 2012

Será desta?

Mesmo com o fado reconhecido como Património Imaterial da Humanidade? Oxalá!
A música "Vida Minha" venceu sábado o Festival da Canção 2012, transmitido na RTP.
Com música de Andrej Babic e letra de Carlos Coelho , o tema "Vida Minha" é interpretado por Filipa Sousa, que ficou conhecida com a participação no programa televisivo "Operação Triunfo" de 2007.
A música tem apontamentos de fado, que foi o tema do festival, no ano em que o fado foi reconhecido como Património Imaterial da Humanidade.
A canção vai competir numa das duas semi-finais do Festival Eurovisão da Canção 2012, a 24 de maio em Baku, no Azerbaijão.
Filipa Sousa, de 27 anos, tornou-se conhecida com a participação no programa "Operação Triunfo", em 2007. No entanto, já canta desde os 12 anos, tendo passado pelo fado.
Antes do programa da RTP, a jovem algarvia participou no "Festival da Canção do Sul", "Festival da Canção de Lagoa", "Nasci pra música", Concurso de Karaoke "Music Halls", Concurso de Karaoke "Rádio Cidade - Academia de Estrelas".
A final do Festival da Eurovisão decorrerá a 26 de maio em Baku.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/filipa-sousa-vence-festival-da-cancao-2012=f710860#ixzz1ov4VLxRC

segunda-feira, 12 de março de 2012

UM POEMA POR SEMANA (14/15)

Estreou, no Dia Mundial da Poesia (21 de Março):15 poemas em 75 dias, ditos por 75 pessoas Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Ruy Belo, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Sá de Miranda, António Nobre, Alexandre O'Neill, Luís Vaz de Camões, Jorge de Sena, José Régio, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny. O que têm em comum estes poetas? Para lá do facto de estarem mortos? Todos marcaram indelevelmente a história da literatura em língua portuguesa. Mais do que isso: marcaram o nosso imaginário e condicionaram a nossa identidade! Ainda que, muitas vezes, disso não tenhamos consciência...

Os "dizedores":
São homens e mulheres, novos e velhos, falantes de português. Gente que tem em comum gostar MUITO de poesia.
"Um Poema por Semana" é uma ideia de Paula Moura Pinheiro.
Escolha dos poemas: José Carlos de Vasconcelos, jornalista com longa história na ação cultural em Portugal e diretor do clássico "Jornal de Letras";
Direção artística, realização e cenografia: Paulo Braga, um criativo sénior do mundo da Publicidade;
Direção de Casting: João Gesta, o apaixonado inventor de Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre, no Porto; e por Gonçalo Riscado, Sandra Silva e Alexandre Cortez responsáveis pelo Festival Silêncio;

Para que fiquem claros os critérios com que trabalhámos em "Um Poema por Semana": nos poemas de autores que viveram há séculos, como Sá de Miranda ou mesmo Cesário Verde, há, por vezes, discrepâncias entre as diversas fixações dos seus textos. Nesses casos, aceitámos que os "diseurs" usassem a fixação do poema que melhor conhecem. Mas cuidámos que os textos dos poemas que aqui publicamos correspondem às fixações mais reconhecidas pela academia - se é para conhecer melhor o poema, que seja na sua versão mais consensual.


Quando vier a primavera, Alberto Caeiro



Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.


Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.


Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro
1889-1915
Poesia
Alberto Caeiro; edição Fernando Cabral Martins, Richard Zenith
Assírio & Alvim

domingo, 11 de março de 2012

O SILÊNCIO

Os seres humanos têm a necessidade vital do tempo e do silêncio interior, para refletir e examinar a vida e os seus mistérios, e para crescer de modo gradual até atingir um domínio amadurecido de si mesmos e do mundo que os rodeia. A compreensão e a sabedoria são o fruto de uma análise contemplativa do mundo, e não derivam de uma simples acumulação de factos, por mais interessantes que sejam. São o resultado de uma introspeção que penetra o significado mais profundo das coisas, na relação de umas com as outras e com o conjunto da realidade.
João Paulo II, 12.5.2002
 Um aspeto que é preciso cultivar com maior compromisso, no interior das nossas comunidades, é a experiência do silêncio. Temos necessidade dele "para acolher nos nossos corações a plena ressonância da voz do Espírito Santo, e para unir estreitamente a oração pessoal à Palavra de Deus e à voz pública da Igreja". Numa sociedade que vive de maneira cada vez mais frenética, muitas vezes atordoada pelos ruídos e perdida no efémero, é vital redescobrir o valor do silêncio. Não é por acaso que mesmo para além do culto cristão, se difundem práticas de meditação que dão importância ao recolhimento. Por que não começar, com audácia pedagógica, uma educação ao silêncio no contexto de coordenadas próprias da experiência cristã? Que esteja diante dos nossos olhos o exemplo de Jesus, que "tendo saído de casa, se retirou-se num lugar deserto para ali rezar" (Mc 1, 35).
João Paulo II, 4.12.2003
 Na Cruz vemos que o silêncio de Jesus é a sua última palavra ao Pai, mas vemos também como Deus fala através do silêncio. De facto, a dinâmica feita de palavra e silêncio, que caracteriza a oração de Jesus, manifesta-se também na nossa vida de oração em duas direções. Por um lado, ensina-nos que a escuta e o acolhimento da Palavra de Deus exige o silêncio interior e exterior, afastando-nos de uma cultura barulhenta que não favorece o recolhimento. Por outro lado, há também o silêncio de Deus na nossa oração, que muitas vezes gera em nós a sensação de abandono. Mas, olhando para o exemplo de Cristo, sabemos que esse silêncio não é ausência: Deus está sempre presente e nos escuta. E, assim, podemos dizer que Jesus nos ensina a rezar, não só com a oração do Pai nosso, mas também com o exemplo da sua própria oração, indicando-nos que temos necessidade de momentos tranquilos vividos na intimidade com Deus, para escutarmos e chegarmos à «raiz» que sustenta e alimenta a nossa vida.
Bento XVI, 7.3.2012

PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

EVANGELHOJo 2,13-25
Estava próxima a Páscoa dos judeus
e Jesus subiu a Jerusalém.
Encontrou no templo
os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas
e os cambistas sentados às bancas.
Fez então um chicote de cordas
e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois;
deitou por terra o dinheiro dos cambistas
e derrubou-lhes as mesas;
e disse aos que vendiam pombas:
«Tirai tudo isto daqui;
não façais da casa de meu Pai casa de comércio».
Os discípulos recordaram-se do que estava escrito:
«Devora-me o zelo pela tua casa».
Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe:
«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?»
Jesus respondeu-lhes:
«Destruí este templo e em três dias o levantarei».
Disseram os judeus:
«Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo
e Tu vais levantá-lo em três dias?»
Jesus, porém, falava do templo do seu corpo.
Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos,
os discípulos lembraram-se do que tinha dito
e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera.
Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa,
muitos, ao verem os milagres que fazia,
acreditaram no seu nome.
Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos
e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém:
Ele bem sabia o que há no homem.

AMBIENTE
O episódio que hoje nos é proposto aparece na “secção introdutória” do Evangelho de João (cf. Jo 1,19-3,36), onde se diz quem é Jesus e se apresentam as grandes linhas programáticas do seu ministério.
A cena situa-nos no Templo de Jerusalém. Trata-se desse Templo majestoso, construído por Herodes para demonstrar as suas boas disposições para com o culto a Jahwéh e para conseguir a benevolência dos judeus. A construção do Templo iniciou-se em 19 a.C. e ficou essencialmente pronta no ano 9 d.C. (embora os trabalhos só tivessem sido dados por concluídos em 63 d.C.). No ano 27 d.C., efectivamente, o Templo estava a ser construído há 46 anos e ainda não estava terminado, conforme a observação que os dirigentes judeus fizeram a Jesus (cf. Jo 2,20).
João situa o episódio nos dias que antecedem a festa da Páscoa. Era a época em que as grandes multidões se concentravam em Jerusalém para celebrar a festa principal do calendário religioso judaico. Jerusalém, que normalmente teria à volta de 55.000 habitantes, chegava a albergar cerca de 125.000 peregrinos nesta altura. No Templo sacrificavam-se cerca de 18.000 cordeiros, destinados à celebração pascal.
Neste ambiente, o comércio relacionado com o Templo sofria um espantoso incremento. Três semanas antes da Páscoa, começava a emissão de licenças para a instalação dos postos comerciais à volta do Templo. O dinheiro arrecadado com a emissão dessas licenças revertia para o sumo-sacerdote. Havia tendas de venda que pertenciam, directamente, à família do sumo-sacerdote. Vendiam-se os animais para os sacrifícios e vários outros produtos destinados à liturgia do Templo. Havia, também, as tendas dos cambistas que trocavam as moedas romanas correntes por moedas judaicas (os tributos dos fiéis para o Templo eram pagos em moeda judaica, pois não era permitido que moedas com a efígie de imperadores pagãos conspurcassem o tesouro do Templo). Este comércio constituía uma mais valia para a cidade e sustentava a nobreza sacerdotal, o clero e os empregados do Templo.
Vai ser neste contexto que Jesus vai realizar o seu gesto profético.

MENSAGEM
Os profetas de Israel tinham, em diversas situações, criticado o culto sacrificial que Israel oferecia a Deus, considerando-o como um conjunto de ritos estéreis, vazios e sem significado, uma vez que não eram expressão verdadeira de amor a Jahwéh; tinham, inclusive, denunciado a relação do culto com a injustiça e a exploração dos pobres (cf. Am 4,4-5; 5,21-25; Os 5,6-7; 8,13; Is 1,11-17; Jer 7,21-26). As considerações proféticas tinham, de alguma forma, consolidado a ideia de que a chegada dos tempos messiânicos implicaria a purificação e a moralização do culto prestado a Jahwéh no Templo. O profeta Zacarias liga explicitamente o “dia do Senhor” (o dia em que Deus vai intervir na história e construir um mundo novo, através do Messias) com a purificação do culto e a eliminação dos comerciantes que estão “no Templo do Senhor do universo” – Zac 14,21).
O gesto que o Evangelho deste domingo nos relata deve entender-se neste enquadramento. Quando Jesus pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, deita por terra os trocos dos banqueiros e derruba as mesas dos cambistas (vers. 14-16), está a revelar-Se como “o messias” e a anunciar que chegaram os novos tempos, os tempos messiânicos.
No entanto, Jesus vai bem mais longe do que os profetas vétero-testamentários. Ao expulsar do Templo também as ovelhas e os bois que serviam para os ritos sacrificiais que Israel oferecia a Jahwéh (João é o único dos evangelistas a referir este pormenor), Jesus mostra que não propõe apenas uma reforma, mas a abolição do próprio culto. O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém era, antes de mais, algo sem sentido: ao transformar a casa de Deus num mercado, os líderes judaicos tinham suprimido a presença de Deus… Mas, além disso, o culto celebrado no Templo era algo de nefasto: em nome de Deus esse culto criava exploração, miséria, injustiça e, por isso, em lugar de potenciar a relação do homem com Deus, afastava o homem de Deus. Jesus, o Filho, com a autoridade que Lhe vem do Pai, diz um claro “basta” a uma mentira com a qual Deus não pode continuar a pactuar: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio” (vers. 16).
Os líderes judaicos ficam indignados. Quais são as credenciais de Jesus para assumir uma atitude tão radical e grave? Com que legitimidade é que Ele se arroga o direito de abolir o culto oficial prestado a Jahwéh?
A resposta de Jesus é, à primeira vista, estranha: “destruí este Templo e Eu o reconstruirei em três dias” (vers. 19). Recorrendo à figura literária do “mal-entendido” (propõe-se uma afirmação; os interlocutores entendem-na de forma errada; aparece, então, a explicação final, que dá o significado exacto do que se quer afirmar), João deixa claro que Jesus não Se referia ao Templo de pedra onde Israel celebrava os seus ritos litúrgicos (vers. 20), mas a um outro “Templo” que é o próprio Jesus (“Jesus, porém, falava do Templo do seu corpo” – vers. 21). O que é que isto significa? Jesus desafia os líderes que O questionaram a suprimir o Templo que é Ele próprio, mas deixa claro que, três dias depois, esse Templo estará outra vez erigido no meio dos homens. Jesus alude, evidentemente, à sua ressurreição. A prova de que Jesus tem autoridade para “proceder deste modo” é que os líderes não conseguirão suprimi-l’O. A ressurreição garante que Jesus vem de Deus e que a sua actuação tem o selo de garantia de Deus.No entanto, o mais notável, aqui, é que Jesus Se apresenta como o “novo Templo”. O Templo representava, no universo religioso judaico, a residência de Deus, o lugar onde Deus Se revelava e onde Se tornava presente no meio do seu Povo. Jesus é, agora, o lugar onde Deus reside, onde Se encontra com os homens e onde Se manifesta ao mundo. É através de Jesus que o Pai oferece aos homens o seu amor e a sua vida. Aquilo que a antiga Lei já não conseguia fazer – estabelecer relação entre Deus e os homens – é Jesus que, a partir de agora, o faz.

ACTUALIZAÇÃO
• Como é que podemos encontrar Deus e chegar até Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus caminhos? O Evangelho deste domingo responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o seu amor, oferece aos homens a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada dos homens e aponta-lhes caminhos de salvação. Neste tempo de Quaresma – tempo de caminhada para a vida nova do Homem Novo – somos convidados a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.
• Os cristãos são aqueles que aderiram a Cristo, que aceitaram integrar a sua comunidade, que comeram a sua carne e beberam o seu sangue, que se identificaram com Ele. Membros do Corpo de Cristo, os cristãos são pedras vivas desse novo Templo onde Deus Se manifesta ao mundo e vem ao encontro dos homens para lhes oferecer a vida e a salvação. Esta realidade supõe naturalmente, para os crentes, uma grande responsabilidade… Os homens do nosso tempo têm de ver no rosto dos cristãos o rosto bondoso e terno de Deus; têm de experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade, de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova de Deus; têm de encontrar, na preocupação dos cristãos com a justiça e com a paz, o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens. Talvez o facto de Deus parecer tão ausente da vida, das preocupações e dos valores dos homens do nosso tempo tenha a ver com o facto de os discípulos de Jesus se demitirem da sua missão e da sua responsabilidade… O nosso testemunho pessoal é um sinal de Deus para os irmãos que caminham ao nosso lado? A vida das nossas comunidades dá testemunho da vida de Deus? A Igreja é essa “casa de Deus” onde qualquer homem ou qualquer mulher pode encontrar essa proposta de libertação e de salvação que Deus oferece a todos?

Qual é o verdadeiro culto que Deus espera? Evidentemente, não são os ritos solenes e pomposos, mas vazios, estéreis e balofos. O culto que Deus aprecia é uma vida vivida na escuta das suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos. Quando somos capazes de sair do nosso comodismo e da nossa auto-suficiência para ir ao encontro do pobre, do marginalizado, do estrangeiro, do doente, estamos a dar a resposta “litúrgica” adequada ao amor e à generosidade de Deus para connosco.
• Ao gesto profético de Jesus, os líderes judaicos respondem com incompreensão e arrogância. Consideram-se os donos da verdade e os únicos intérpretes autênticos da vontade divina. Instalados nas suas certezas e preconceitos, nem sequer admitem que a denúncia que Jesus faz esteja correcta. A sua auto-suficiência impede-os de ver para além dos seus projectos pessoais e de descobrir os projectos de Deus. Trata-se de uma atitude que, mais uma vez, nos questiona… Quando nos barricamos atrás de certezas absolutas e de atitudes intransigentes, podemos estar a fechar o nosso coração aos desafios e à novidade de Deus.
Os mandamentos que dizem respeito à relação do homem com Deus sublinham a centralidade que Deus deve assumir no coração e na vida do seu Povo. Na vida de todos os dias somos, com frequência, seduzidos por outros “deuses” – o dinheiro, o poder, os afectos humanos, a realização profissional, o reconhecimento social, os interesses egoístas, as ideologias, os valores da moda – que se tornam o objectivo supremo, no valor último que condiciona os nossos comportamentos, as nossas atitudes e as nossas opções. Com frequência, prescindimos de Deus e instalamo-nos num esquema de orgulho e de auto-suficiência que coloca Deus e as suas propostas fora da nossa vida. A Palavra de Deus garante-nos: esse não é um caminho que nos conduza em direcção à vida definitiva e à liberdade plena. Neste tempo de Quaresma, somos convidados a voltarmo-nos para Deus e a redescobrirmos o seu papel fundamental na nossa existência… Quais são os “deuses” que nos seduzem mais e que condicionam a nossa vida, as nossas tomadas de posição, as nossas opções? Que espaço é que reservamos, na nossa vida, para o verdadeiro Deus?
Os mandamentos que dizem respeito à nossa relação com os irmãos convidam-nos a despir esses comportamentos que geram violência, egoísmo, agressividade, cobiça, intolerância, escravidão, indiferença face às necessidades dos outros. Tudo aquilo que atenta contra a vida, a dignidade, os direitos dos nossos irmãos, é algo que gera morte, sofrimento, escravidão, para nós e para todos os que nos rodeiam e é algo que contribui para subverter os projectos de vida e de felicidade que Deus tem para nós e para o mundo. O que é que, nos meus gestos, nas minhas atitudes, nos meus valores, é gerador de injustiça, de sofrimento, de exploração, de escravidão, de morte, para mim e para todos aqueles que me rodeiam?• O que está aqui em jogo não é o respeitar regras “religiosamente correctas”, o evitar que Deus tenha razões de queixa contra nós, ou o fugir aos castigos divinos; mas é, antes de mais, o construir a nossa própria felicidade. É preciso aprendermos a não ver os “mandamentos” de Deus como propostas reaccionárias, descabidas e ultrapassadas, inventados por uma moral obsoleta e antiquada, que apenas servem para limitar a nossa liberdade ou para impedir a nossa autonomia; mas é preciso ver os “mandamentos” como “sinais de trânsito” com os quais Deus, no seu amor e na sua preocupação com a nossa realização plena, nos ajuda a percorrer os caminhos da liberdade e da vida verdadeira.
• O nosso texto convida-nos a descobrir e a interiorizar a lógica de Deus, que é bem diferente da lógica dos homens. Os homens sentem-se mais seguros e confortáveis diante de líderes vencedores, que se impõem pela força e que exibem o seu poder através de gestos espectaculares; e Deus aparece-lhes na figura de um obscuro carpinteiro galileu, condenado pelas autoridades constituídas, abandonado por amigos e discípulos, escarnecido pelas multidões, e morto numa cruz fora dos muros da cidade. Os homens gostam de ser convencidos por projectos intelectualmente brilhantes, que apresentem argumentos fortes e uma lógica inquestionável; e Deus oferece-lhes um projecto de salvação que passa pela morte na cruz, em plena e radical contradição com todos os esquemas mentais e toda a lógica humana. O apóstolo Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de Deus… É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de importância, mas está no amor total, no dom da vida até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.• A força e a “sabedoria de Deus” manifestam-se na fragilidade, na pequenez, na obscuridade, na pobreza, na humildade. Sendo assim, não nos parecem ridículas, descabidas e pretensiosas as nossas poses de importância, de autoridade, de protagonismo, de êxito humano?• “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios”. Aqueles que têm responsabilidade no anúncio do Evangelho devem anunciar a mensagem com verdade e radicalidade, renunciando à tentação de a suavizar, de a tornar mais “politicamente correcta”, de a tornar menos radical e interpelativa. Às vezes, o invólucro “brilhante” com que envolvemos a Palavra torna-a mais atractiva, mas menos questionante e, portanto, menos transformadora.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Nigéria: diálogo pela vida

Tal como Angola, outro país africano independente e rico em petróleo. "Só" o sexto maior vendedor mundial de petróleo e o maior produtor do continente africano. No entanto...veja-se (pel)o vídeo.

Nigéria: três mortos em novo atentado de terroristas islâmicos em igreja

A seita islâmica nigeriana Boko Haram já reivindicou o atentado suicida ocorrido, domingo dia 26 de fevereiro, contra uma igreja na cidade de Jos, no centro do país, e que, no último balanço conhecido, terá causado pelo menos três mortos e dez feridos.
Segundo os primeiros relatos, tratou-se de um ataque suicída em que o bombista se projectou num automóvel para dentro da própria igreja, provocando a explosão quando se encontrava perto do púlpito.
Ao telefone, um porta-voz do Boko Haram, Abul Qaqa, justificou o ataque simplesmente por se tratar de uma igreja, deixando no ar a ameaça de novos actos terroristas. “Nós atacámos porque é uma igreja, e podemos decidir atacar qualquer igreja. Nós apenas começámos”.
O atentado terá provocado represálias por parte de jovens cristãos, o que pode prenunciar uma crescente onda de violência. Recorde-se que, nos últimos dez anos, cerca de 10 mil pessoas perderam a vida na Nigéria por causa dos extremistas muçulmanos. Mais de 300 igrejas foram destruídas e 250 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas.
Entretanto, o general Oluseyi Petinrin, Chefe de Estado Maior da Força Aérea nigeriana, afirmou possuir “provas de elos entre o Boko Haram e a Al Qaeda no Magrebe Islâmico”. Esta afirmação, por um alto responsável militar, vem confirmar a suspeita da ligação estreita entre ambos os grupos terroristas e foi produzida perante os responsáveis pela segurança dos países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.