"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























terça-feira, 29 de agosto de 2023

Cinema&Filme: A Viagem do Papa Francisco

Ainda no rescaldo da presença luminosa e iluminadora do papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, no passado mês de Agosto, fui ver o filme A Viagem do Papa Francisco. E recomendo-o vivamente, para não se perder a chama, o entusiasmo, quero dizer. O sonho, diz o Papa.

Já sabemos que não se trata propriamente de um filme – não é ficção – mas de um documentário organizado fundamentalmente a partir de imagens de arquivo das 37 viagens do papa Francisco por 53 países, em nove anos do seu pontificado. Mas é muito mais do que um trabalho jornalístico de recolha de elementos, é como que uma meditação – contemplação – serena sobre as grandes propostas que o Papa Francisco foi deixando em todos esses lugares e situações que visitou. Não como turista, mas como peregrino. E peregrino do Evangelho.

Um documentário de dimensões assumidamente existencialistas que cria e multiplica um valioso diálogo entre as viagens do Papa e o estado do nosso mundo. Gianfranco Rosi traça um curioso paralelismo entre o seu percurso cinematográfico e as viagens de Papa Francisco. Instigado pelo facto de duas das viagens do Papa - a primeira aos refugiados que desembarcam em Lampedusa; a segunda, em 2021, ao Médio Oriente - espelharem de tão perto os itinerários dos seus filmes Fogo no Mar (nomeado ao Óscar da Academia) e Nocturno, o multipremiado Gianfranco Rosi propõe-se a ir no encalço do actual líder mundial da Igreja Católica. Filme estreado no Festival de Veneza

“Qual foi a génese deste documentário? Para saber, clicar AQUI.

domingo, 27 de agosto de 2023

PALAVRA de DOMINGO: Contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la: EUCARISTIA, LITURGIA & VIDA!

Considerando:

1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, proféticaAQUI
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesialAQUI
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Para saber mais, clicar AQUI
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontroAQUI
5Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias. Para saber mais clicar, AQUI
6Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador». Ver AQUI
7Papa mais,  pede aos padres para falarem ao «coração» e não fazerem «homilias demasiado intelectuais». Par saber mais, clicar AQUI.
8Porquê ir à missa ao domingo? Ler AQUI.
9. O que é que se faz para que a Eucaristia dominical seja algo de vital, de verdadeiramente comunitário, capaz de permitir o reconhecimento recíproco e uma autêntica fraternidade para quantos nela participam? Ler&saber AQUI.
10. Os 8 conselhos dos santos para amar a Eucaristia AQUI.  
11.  Os 11 conselhos para viver a Missa mais profundamente AQUI.
12. Papa Francisco pede aos padres: façam homilias mais curtas AQUI.
13A atenção daqueles que estão ao serviço da Palavra que devem, também, preparar-se convenientemente, a fim de que a Palavra se torne atraente e chegue ao coração dos que a escutam. . . É assim que procedem aqueles a quem a Igreja confia o serviço da Palavra? (Dehonianos, 20 Outubro 2019)

Então:
Tema do 21º Domingo do Tempo Comum - Ano A
No centro da reflexão que a liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum nos propõe, estão dois temas à volta dos quais se constrói e se estrutura toda a existência cristã: Cristo e a Igreja.
O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-n'O como "o Messias, Filho de Deus". Dessa adesão, nasce a Igreja - a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves - isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.
A primeira leitura mostra como se deve concretizar o poder "das chaves". Aquele que detém "as chaves" não pode usar a sua autoridade para concretizar interesses pessoais e para impedir aos seus irmãos o acesso aos bens eternos; mas deve exercer o seu serviço como um pai que procura o bem dos seus filhos, com solicitude, com amor e com justiça.
A segunda leitura é um convite a contemplar a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus que, de forma misteriosa e às vezes desconcertante, realiza os seus projectos de salvação do homem. Ao homem resta entregar-se confiadamente nas mãos de Deus e deixar que o seu espanto, reconhecimento e adoração se transformem num hino de amor e de louvor ao Deus salvador e libertador.
Evangelho: Mt 16,13-20
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe
e perguntou aos seus discípulos:
«Quem dizem os homens que é o Filho do homem?»
Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista,
outros que é Elias,
outros que é Jeremias ou algum dos profetas».
Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?»
Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse:
«Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».
Jesus respondeu-lhe:
«Feliz de ti, Simão, filho de Jonas,
porque não foram a carne e o sangue que to revelaram,
mas sim meu Pai que está nos Céus.
Também Eu te digo: Tu és Pedro;
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus:
tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus,
e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
Então, Jesus ordenou aos discípulos
que não dissessem a ninguém
que Ele era o Messias.
AMBIENTE
O Evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe (na zona da actual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.
O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus. Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida, senão por um pequeno grupo - o grupo dos discípulos.
É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre si próprio. Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.
O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos - cf. Mc 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.
MENSAGEM
O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de carácter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de carácter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.
Na primeira parte (vers. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem dele e acerca do que os próprios discípulos pensam.
A opinião dos "homens" vê Jesus em continuidade com o passado ("João Baptista", "Elias", "Jeremias" ou "algum dos profetas"). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão - como os profetas do Antigo Testamento... Mas não vão além disso. Na perspectiva dos "homens", Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d'Ele (vers. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os "homens" não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (vers. 16). Nestes dois títulos resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é "o Cristo" (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é apenas o Messias: é também o "Filho de Deus". No Antigo Testamento, a expressão "Filho de Deus" é aplicada aos anjos (cf. Dt 32,8; Sal 29,1; 89,7; Job 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex 4,22; Os 11,1; Jer 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt 14,1-2; Is 1,2; 30,1.9; Jer 3,14), ao rei (cf. 2 Sm 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o "Filho de Deus" significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projectos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.
Na segunda parte (vers. 17-20), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus ("não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus" - vers. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos "pobres", dos "simples", abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses "pobres" e "simples" estão em contraposição com os líderes - fariseus, doutores da Lei, escribas - instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).
O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é "a rocha" (o nome "Pedro" é a tradução grega do hebraico "Kephâ" - "rocha") sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, a afirmar que a base firme e inamovível sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.
Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe "as chaves do Reino dos céus" e o poder de "ligar e desligar". A entrega das chaves equivale à nomeação do "administrador do palácio" de que falava a primeira leitura: o "administrador do palácio", entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano... Por outro lado, a expressão "atar e desatar" designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Assim, Jesus nomeia Pedro para "administrador" e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).
Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de "ligar e desligar", por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt 18,18). Provavelmente, o mais correcto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne à volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o "Messias" e o "Filho de Deus". É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes dados:
• Quem é Jesus? O que é que "os homens" dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável "mestre" de moral, que tinha uma proposta de vida "interessante", mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o "status quo". Estas visões apresentam Jesus como "um homem" - embora "um homem" excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um "homem" que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
• Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que "um homem". Ele foi e é "o Messias, o Filho de Deus vivo". Defini-l'O dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é apenas uma proposta de "um homem" bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o "homem bom" e o "Messias, Filho de Deus", é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.
• "E vós, quem dizeis que Eu sou?" É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência... Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir... Quem é Cristo para mim?
• É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como "o Messias, o Filho de Deus". Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal...)?
• A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do "Messias, Filho de Deus"; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão "profética" e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contactamos no dia a dia - em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais - recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?
• A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.
PALAVRA PARA O CAMINHO.
«Para vós, quem sou Eu?» Tomemos tempo para colocar esta questão a nós mesmos, no real muito concreto das nossas existências. Quem é Jesus para nós? E que "dizemos" d'Ele - ou não dizemos - quando se apresenta ocasião para testemunhar a nossa fé?


e/ou vídeos AQUI e AQUI.

Fixar a Cristo no coração pela fé
Deus apresenta-Se-nos como objeto de fé, especialmente na pessoa de Jesus Cristo. Ele quer que acreditemos firmemente que o Menino nascido de Maria, o Artesão de Nazaré, o Mestre em luta com os fariseus, o Crucificado do Calvário é verdadeiramente seu Filho, seu igual, e que O adoremos como tal. Estabelecer entre os homens a fé no Verbo encarnado é a grande obra que Deus Se propôs realizar na economia da salvação (cf Jo 6,29). Nada pode substituir esta fé em Jesus Cristo, verdadeiro Deus consubstancial ao Pai e seu Enviado. Ela é a síntese de todas as nossas crenças, porque Cristo é a síntese de toda a revelação. [...]
A vida da Igreja pressupõe, em tudo e sempre, a adoração do seu divino Esposo. Perante um mundo que O nega e não O compreende, ela repete incessantemente, com São Pedro: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Esta visão forte da fé, que trespassa o véu da humanidade de Cristo e mergulha nas profundezas da sua divindade, está ausente de muitos espíritos: veem Jesus, tocam-Lhe, mas, tal como acontecia às multidões da Galileia, o seu olhar é puramente exterior, superficial, não lhes transforma a alma. Para outros, pelo contrário, Jesus transfigura-Se e a graça ilumina a fé que têm na sua divindade. Para eles, Jesus é o sol da justiça; Ele ultrapassa todas as belezas da terra, e a sua visão fascina-os de tal modo que nenhum outro atrativo pode separá-los do seu amor. Podem, pois, dizer com São Paulo: «Estou convencido de que nem a morte, nem a vida [...] nem qualquer outra criatura me poderá separar do amor que Deus nos manifestou em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rom 8,38).
Uma fé deste género fixa verdadeiramente Jesus Cristo no nosso coração. Não é uma simples adesão da mente, mas implica o amor, a esperança e a consagração total a Cristo, para viver a sua vida, participar nos seus mistérios e imitar as suas virtudes.
Beato Columba Marmion (1858-1923), abade, Ex fide vivit

sábado, 26 de agosto de 2023

(in)PRENSA semanal (19 - 08-2023 a 25-08-2023): a minha selecção!

Quem, por qualquer razão, não leu, não deve deixar de ler. Assim, não só fica a saber, mas também pode, com mais&melhor fundamento, opinar e, "a curto, médio ou longo prazo", optar e decidir, não deixando que outros o façam por si - se bem me faço entender eis a razão desta e de outras "(in)PRENSAsemanal: a minha selecção!" que aí virão.



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domingo, 20 de agosto de 2023

PALAVRA de DOMINGO: Contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la: EUCARISTIA, LITURGIA & VIDA!

Considerando:

1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, proféticaAQUI
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesialAQUI
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Para saber mais, clicar AQUI
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontroAQUI
5Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias. Para saber mais clicar, AQUI
6Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador». Ver AQUI
7Papa mais,  pede aos padres para falarem ao «coração» e não fazerem «homilias demasiado intelectuais». Par saber mais, clicar AQUI.
8Porquê ir à missa ao domingo? Ler AQUI.
9. O que é que se faz para que a Eucaristia dominical seja algo de vital, de verdadeiramente comunitário, capaz de permitir o reconhecimento recíproco e uma autêntica fraternidade para quantos nela participam? Ler&saber AQUI.
10. Os 8 conselhos dos santos para amar a Eucaristia AQUI.  
11.  Os 11 conselhos para viver a Missa mais profundamente AQUI.
12. Papa Francisco pede aos padres: façam homilias mais curtas AQUI.
13A atenção daqueles que estão ao serviço da Palavra que devem, também, preparar-se convenientemente, a fim de que a Palavra se torne atraente e chegue ao coração dos que a escutam. . . É assim que procedem aqueles a quem a Igreja confia o serviço da Palavra? (Dehonianos, 20 Outubro 2019)

Então:

Tema do 20º Domingo do Tempo Comum

O Evangelho apresenta a realização da profecia do Trito-Isaías, apresentada na primeira leitura deste domingo. Jesus, depois de constatar como os fariseus e os doutores da Lei recusam a sua proposta do Reino, entra numa região pagã e demonstra como os pagãos são dignos de acolher o dom de Deus. Face à grandeza da fé da mulher cananeia, Jesus oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobre todos os homens e mulheres, sem excepção.
A segunda leitura sugere que a misericórdia de Deus se derrama sobre todos os seus filhos, mesmo sobre aqueles que, como Israel, rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções dos homens; mas não desiste de propor, em todos os momentos e a todos os seus filhos, oportunidades novas de acolher essa salvação que Ele quer oferecer.
A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum reflecte sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e a todos convida para o banquete do Reino.
Na primeira leitura, Jahwéh garante ao seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel: destina-se a todos os homens e mulheres que aceitarem o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus.

FONTEhttps://www.dehonianos.org/portal/liturgia/?mc_id=4196

«Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas».

O evangelho mostra-nos a grande fé, a paciência, a perseverança e a humildade da cananeia. [...] Esta mulher era dotada de uma paciência verdadeiramente fora do comum. Ao seu primeiro pedido, o Senhor não responde uma palavra. Apesar disso, longe de cessar de rezar, ela implora-Lhe com redobrada insistência o socorro da sua bondade. [...] Vendo o ardor da nossa fé e a tenacidade da nossa perseverança na oração, o Senhor acabará por ter piedade de nós e conceder-nos-á o que desejamos.

A filha da cananeia era «atormentada por um demónio». Uma vez expulso o nefasto desassossego dos nossos pensamentos e desfeitos os nós dos nossos pecados, recuperaremos a serenidade de espírito, bem como a possibilidade de agir corretamente. [...] Se, a exemplo da cananeia, perseverarmos na oração com firmeza inabalável, ser-nos-á concedida a graça do nosso Criador; ela corrigirá os nossos erros, santificará o que é impuro, pacificará toda a agitação. Porque o Senhor é fiel e justo, Ele nos perdoará os nossos pecados e nos purificará de toda a mancha se gritarmos por Ele com a voz vigilante do coração.

São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge beneditino, doutor da Igreja, Homilia sobre os Evangelhos, I, 22: CCL 122, 156-160, PL 94, 102-105






sábado, 19 de agosto de 2023

(in)PRENSA semanal (12 - 08-2023 a 18-08-2023): a minha selecção!

 Quem, por qualquer razão, não leu, não deve deixar de ler. Assim, não só fica a saber, mas também pode, com mais&melhor fundamento, opinar e, "a curto, médio ou longo prazo", optar e decidir, não deixando que outros o façam por si - se bem me faço entender eis a razão desta e de outras "(in)PRENSAsemanal: a minha selecção!" que aí virão.


Fraude no Facebook: “O teu amigo acaba de morrer num acidente”
JMJ vs. Euro 2004. E o investimento “mais barato de sempre” em Lisboa
Ironicamente, a Rússia está a ser um dos principais fornecedores de armas da Ucrânia
Estudo descobre ligação entre medicamentos para azia e demência
Rússia: a maldição de Agosto voltou
Reino Unido faz ultimato aos bancos nos juros dos depósitos
Não temos Estadistas nem governantes… e só queríamos melhores condições de vida
A democracia e os seus adversários
Trump. Quarta acusação criminal pode estar iminente
Paulo Fonseca apela a que Benfica e Braga não façam negócios com clubes russos
Fake news. André Ventura partilha (e mantém) no Twitter notícia que nunca foi publicada
Doença X: vacina para a próxima pandemia já está a ser desenvolvida
Oito aviões russos interceptados próximo de espaço aéreo da NATO
Será a bagagem coisa do passado? Viagens “ultraleves” ganham popularidade
A água não resulta: o que são estes incêndios de sexta geração?
Criador da sigla BRICS diz que moeda única daqueles países é uma ideia “ridícula”
“As mulheres não têm direitos, deixaram de ter uma existência no Afeganistão”
A Rússia volta-se para África
Muçulmanos atacam igrejas no Paquistão após acusarem cristãos de profanar Corão
Dezenas de pessoas morrem à fome em piroga resgatada em Cabo Verde
“Putin decidiu destruir a central nuclear de Zaporizhia”
Defesas anti-aéreas russas abatem mais um drone ucraniano em Moscovo
Variante Éris. Portugal não registava tantos casos de Covid-19 desde o Natal
A universalidade dos direitos humanos
Morreu misteriosamente o General que sabia os segredos do palácio de Putin
Corrupção entre OMS e empresa de fachada da Coca-Cola (com aspartame no centro)

domingo, 13 de agosto de 2023

PALAVRA de DOMINGO: Contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la: EUCARISTIA, LITURGIA & VIDA!

Considerando:

1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, proféticaAQUI
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesialAQUI
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Para saber mais, clicar AQUI
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontroAQUI
5Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias. Para saber mais clicar, AQUI
6Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador». Ver AQUI
7Papa mais,  pede aos padres para falarem ao «coração» e não fazerem «homilias demasiado intelectuais». Par saber mais, clicar AQUI.
8Porquê ir à missa ao domingo? Ler AQUI.
9. O que é que se faz para que a Eucaristia dominical seja algo de vital, de verdadeiramente comunitário, capaz de permitir o reconhecimento recíproco e uma autêntica fraternidade para quantos nela participam? Ler&saber AQUI.
10. Os 8 conselhos dos santos para amar a Eucaristia AQUI.  
11.  Os 11 conselhos para viver a Missa mais profundamente AQUI.
12. Papa Francisco pede aos padres: façam homilias mais curtas AQUI.
13A atenção daqueles que estão ao serviço da Palavra que devem, também, preparar-se convenientemente, a fim de que a Palavra se torne atraente e chegue ao coração dos que a escutam. . . É assim que procedem aqueles a quem a Igreja confia o serviço da Palavra? (Dehonianos, 20 Outubro 2019)

Então:
Tema do 19º Domingo do Tempo Comum - Ano A
A liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum tem como tema fundamental a revelação de Deus. Fala-nos de um Deus apostado em percorrer, de braço dado com os homens, os caminhos da história.
A primeira leitura convida os crentes a regressarem às origens da sua fé e do seu compromisso, a fazerem uma peregrinação ao encontro do Deus da comunhão e da Aliança; e garante que o crente não encontra esse Deus nas manifestações espectaculares, mas na humildade, na simplicidade, na interioridade.
O Evangelho apresenta-nos uma reflexão sobre a caminhada histórica dos discípulos, enviados à “outra margem” a propor aos homens o banquete do Reino. Nessa “viagem”, a comunidade do Reino não está sozinha, à mercê das forças da morte: em Jesus, o Deus do amor e da comunhão vem ao encontro dos discípulos, estende-lhes a mão, dá-lhes a força para vencer a adversidade, a desilusão, a hostilidade do mundo. Os discípulos são convidados a reconhecê-l’O, a acolhê-l’O e a aceitá-l’O como “o Senhor”.
A segunda leitura sugere que esse Deus, apostado em vir ao encontro dos homens e em revelar-lhes o seu rosto de amor e de bondade, tem uma proposta de salvação que oferece a todos. Convida-nos a estarmos atentos às manifestações desse Deus e a não perdermos as oportunidades de salvação que Ele nos oferece.
EVANGELHOMt 14,22-33
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Depois de ter saciado a fome à multidão,
Jesus obrigou os discípulos a subir para o barco
e a esperá-l’O na outra margem,
enquanto Ele despedia a multidão.
Logo que a despediu,
subiu a um monte, para orar a sós.
Ao cair da tarde, estava ali sozinho.
O barco ia já no meio do mar,
açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário.
Na quarta vigília da noite,
Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar.
Os discípulos, vendo-O a caminhar sobre o mar,
assustaram-se, pensando que fosse um fantasma.
E gritaram cheios de medo.
Mas logo Jesus lhes dirigiu a palavra, dizendo:
«Tende confiança. Sou Eu. Não temais».
Respondeu-Lhe Pedro: «Se és Tu, Senhor,
manda-me ir ter contigo sobre as águas».
«Vem!» – disse Jesus.
Então, Pedro desceu do barco e caminhou sobre as águas,
para ir ter com Jesus.
Mas, sentindo a violência do vento e começando a afundar-se,
gritou: «Salva-me, Senhor!»
Jesus estendeu-lhe logo a mão e segurou-o.
Depois disse-lhe:
«Homem de pouca fé, porque duvidaste?»
Logo que saíram para o barco, o ventou amainou.
Então, os que estavam no barco prostraram-se diante de Jesus,
e disseram-Lhe:
«Tu és verdadeiramente o Filho de Deus».
AMBIENTE
No passado domingo, Jesus foi-nos apresentado como o novo Moisés, que conduz “ao deserto” um povo de coração escravo. Aí, liberta-o da opressão do egoísmo, ao mostrar-lhe que os bens são um dom de Deus, destinados a ser partilhados com todos os homens. Nasce, assim, a comunidade do Reino – isto é, essa comunidade fraterna de amor e de partilha, que se senta à mesa de Deus e que d’Ele recebe vida em abundância (cf. Mt 14,13-21).
O texto do Evangelho que hoje nos é proposto vem na sequência desse episódio. Mateus começa por observar que, depois desses sucessos, Jesus “obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-l’O na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão” (Mt 14,22). Esta nota pode indicar que Jesus quis arrefecer o entusiasmo excessivo dos discípulos (o autor do quarto Evangelho, a propósito do mesmo episódio, refere que Jesus Se retirou sozinho para o monte, pois sabia que “viriam arrebatá-l’O para O fazerem rei” – Jo 6,15).
O episódio situa-nos na área do lago de Tiberíades ou da Genesaré, esse lago de água doce com 21 quilómetros de comprimento e 12 de largura situado na Galileia e que é o grande reservatório de água doce da Palestina.
Para os judeus, o mar – e o lago de Tiberíades ou de Genesaré é considerado, para todos os efeitos, um “mar” – era o lugar onde habitavam os monstros, os demónios e todas as forças que se opunham à vida e à felicidade do homem. Na perspectiva da teologia judaica, no mar o homem estava à mercê das forças demoníacas; e só o poder de Deus podia salvá-lo…
Recordemos, ainda, que o nosso texto está incluído numa secção (cf. Mt 13,1-17,27) do Evangelho segundo Mateus, a que poderíamos chamar “instrução sobre o Reino”. Aí, Mateus põe Jesus a dirigir-Se sobretudo aos discípulos e a instruí-los sobre os valores e os mistérios do Reino. É neste contexto de catequese sobre o Reino que devemos situar o episódio que hoje nos é proposto.
Lembremos, finalmente, que o Evangelho segundo Mateus – escrito durante a década de 80 – se destina a uma comunidade cristã que já esqueceu o seu entusiasmo inicial por Jesus e pelo seu Evangelho e que vive uma fé cómoda, instalada, pouco exigente. Para os crentes, avizinham-se grandes contrariedades e perseguições… A comunidade só poderá subsistir se confiar em Jesus, na sua presença, na sua protecção.
MENSAGEM
Depois de despedir a multidão e de obrigar os discípulos a embarcar para a outra margem, Jesus “subiu a um monte para orar, a sós”. Mateus só se refere à oração de Jesus por duas vezes: aqui e no episódio do Getsemani (cf. Mt 26,36): em ambos os casos, a oraç
ão precede um momento de prova para os discípulos.
Enquanto Jesus está em diálogo com o Pai, os discípulos estão sozinhos, em viagem pelo lago. Essa viagem, no entanto, não é fácil nem serena… É de noite; o barco é açoitado pelas ondas e navega dificilmente, com vento contrário. Os discípulos estão inquietos e preocupados, pois Jesus não está com eles…
O quadro refere-se, certamente, à situação da comunidade a que Mateus destina o seu Evangelho (e que não será muito diferente da situação de qualquer comunidade cristã, em qualquer tempo e lugar). A “noite” representa as trevas, a escuridão, a confusão, a insegurança em que tantas vezes “navegam” através da história os discípulos de Jesus, sem saberem exactamente que caminhos percorrer nem para onde ir… As “ondas” que açoitam o barco representam a hostilidade do mundo, que bate continuamente contra o barco em que viajam os discípulos… Os “ventos contrários” representam a oposição, a resistência do mundo ao projecto de Jesus – esse projecto que os discípulos testemunham… Quantas vezes, na sua viagem pela história, os discípulos de Jesus se sentem perdidos, sozinhos, abandonados, desanimados, desiludidos, incapazes de enfrentar as tempestades que as forças da morte e da opressão (o “mar”) lançam contra eles…
É aí, precisamente, que Jesus manifesta a sua presença. Ele vai ao encontro dos discípulos “caminhando sobre o mar” (vers. 26). No contexto da catequese judaica, só Deus “caminha sobre o mar” (Job 9,8b; 38,16; Sal 77,20); só Ele faz “tremer as águas e agitarem-se os abismos” (Sal 77,17); só Ele acalma as ondas e as tempestades (cf. Sal 107,25-30). Jesus é, portanto, o Deus que vela pelo seu Povo e que não deixa que as forças da morte (o “mar”) o destruam. A expressão “sou Eu” reproduz a fórmula de identificação com que Deus se apresenta aos homens no Antigo Testamento (cf. Ex 3,14; Is 43,3.10-11); e a exortação “tende confiança, não temais” transmite aos discípulos a certeza de que nada têm a temer porque Jesus, o Deus que vence as forças da morte e da opressão acompanha a par e passo a sua caminhada histórica e dá-lhes a força para vencer a adversidade, a solidão e a hostilidade do mundo.
Depois, Mateus narra uma cena exclusiva, que não é apresentada por nenhum outro evangelista: a do diálogo entre Pedro e Jesus (vers. 28-33). Tudo começa com o pedido de Pedro: “se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas”. Pedro sai do barco e vai, de facto, ao encontro de Jesus; mas, assustando-se com a violência do vento, começa a afundar-se e pede a Jesus que o salve. Assim acontece, embora Jesus censure a sua pouca fé e as suas dúvidas.
Pedro é, aqui, o porta-voz e o representante dessa comunidade dos discípulos que vai no barco (a Igreja). O episódio reflecte a fragilidade da fé dos discípulos, sempre que têm de enfrentar as forças da opressão, do egoísmo, da injustiça. Jesus comunicou aos seus o poder de vencerem todos os poderes deste mundo que se opõem à vida, à libertação, à realização, à felicidade dos homens. No entanto, enquanto enfrentam as ondas do mundo hostil e os ventos soprados pelas forças da morte, os discípulos debatem-se entre a confiança em Jesus e o medo. Mateus refere-se, desta forma, à experiência de muitos discípulos (da sua comunidade e das comunidades cristãs de todos os tempos e lugares) que seguem a Jesus de forma decidida, mas que se deixam abalar quando chegam as perseguições, os sofrimentos, as dificuldades… Então, começam a afundar-se e a ser submergidos pelo “mar” da morte, da frustração, do desânimo, da desilusão… No entanto, Jesus lá está para lhes estender a mão e para os sustentar.
Finalmente, a desconfiança dos discípulos transforma-se em fé firme: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus” (vers. 33). É para aqui que converge todo o relato. Esta confissão reflecte a fé dos verdadeiros discípulos, que vêem em Jesus o Deus que vence o “mar”, o Senhor da vida e da história que acompanha a caminhada dos seus, que lhes dá a força para vencer as forças da opressão e da morte, que lhes estende a mão quando eles estão desanimados e com medo e que não os deixa afundar.
Quando é que os discípulos fizeram a descoberta de que Jesus era o Deus vencedor do pecado e da morte? Naturalmente, após a Páscoa, quando perceberam plenamente o mistério de Jesus (perceberam que Ele não era “um fantasma”), sentiram a sua presença no meio da comunidade reunida, experimentaram a sua ajuda nos momentos difíceis da caminhada, sentiram que Ele lhes transmitia a força de enfrentar as adversidades e a hostilidade do mundo, sentiram que Ele estava lá, estendendo-lhes a mão, nos momentos de fraqueza, de dificuldade, de falta de fé. É esta mesma experiência que Mateus nos convida também a fazer.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode partir dos seguintes elementos:
• O Evangelho deste domingo é, antes de mais, uma catequese sobre a caminhada histórica da comunidade de Jesus, enviada à “outra margem”, a convidar todos os homens para o banquete do Reino e a oferecer-lhes o alimento com que Deus mata a fome de vida e de felicidade dos seus filhos. Estamos dispostos a embarcar na aventura de propor a todos os homens o banquete do Reino? Temos consciência de que nos foi confiada a missão de saciar a fome do mundo? Aqueles que são deixados à margem dessa mesa onde se jogam os interesses e os destinos do mundo, que têm fome e sede de vida, de amor, de esperança, encontram em nós uma proposta credível e coerente que aponta no sentido de uma realidade de plenitude, de realização, de vida plena?
• A caminhada histórica dos discípulos e o seu testemunho do banquete do Reino não é um caminho fácil, feito no meio de aclamações das multidões e dos aplausos unânimes dos homens. A comunidade (o “barco”) dos discípulos tem de abrir caminho através de um mar de dificuldades, continuamente batido pela hostilidade dos adversários do Reino e pela recusa do mundo em acolher os projectos de Jesus. Todos os dias o mundo nos mostra – com um sorriso irónico – que os valores em que acreditamos e que procuramos testemunhar estão ultrapassados. Todos os dias o mundo insiste em provar-nos – às vezes com agressividade, outras vezes com comiseração – que só seremos competitivos e vencedores quando usarmos as armas da arrogância, do poder, do orgulho, da prepotência, da ganância… Como nos colocamos face a isto? É possível desempenharmos o nosso papel no mundo, com rigor e competência, sem perdermos as nossas referências cristãs e sem trairmos o Reino?
• Para que seja possível viver de forma coerente e corajosa na dinâmica do Reino, os discípulos têm de estar conscientes da presença de Jesus, o Senhor da vida e da história, que as forças do mal nunca conseguirão vencer nem domesticar. Ele diz aos discípulos, tantas vezes desanimados e assustados face às dificuldades e às perseguições: “tende confiança. Sou Eu. Não temais”. Os discípulos sabem, assim, que não há qualquer razão para se deixarem afundar no desespero e na desilusão. Mesmo quando a sua fé vacila, eles sabem que a mão de Jesus está lá, estendida, para que eles não sejam submergidos pelas forças do egoísmo, da injustiça, da morte. Nada nem ninguém poderá roubar a vida àqueles que lutam para instaurar o Reino. Jesus, vivo e ressuscitado, não deixa nunca que sejamos vencidos.
• A oração de Jesus (que em Mateus antecede os momentos de prova) convida-nos a manter um diálogo íntimo com o Pai. É nesse diálogo que os discípulos colherão o discernimento para perceberem os caminhos de Deus, a força para seguir Jesus, a coragem para enfrentar a hostilidade do mundo.
PALAVRA PARA O CAMINHO.
Fechar os olhos e escutar… Na invasão sonora que nos envolve – e por vezes nos agride – escutamos a voz do nosso Deus? Porque não? Entretanto, tomemos, de vez em quando, o risco do silêncio e da solidão. “Ao largo… para rezar”. É aí, com Jesus, que poderemos ouvir a voz do nosso Pai.


e/ou nos vídeos AQUI AQUI.

Recorrer a Deus
Como sois bom, meu Deus, que nos repetis tantas vezes: «Recorrei a Mim e Eu irei ao vosso encontro! Chamai-Me e escutar-vos-ei» [...].
Recorramos a Deus nas tentações! Nas tentações e nas dificuldades, não tentemos lutar com as nossas forças, com as forças da natureza. Atualmente, os espíritos das trevas são muito mais fortes do que nós, mais fortes e mais finos; em termos apenas naturais, a nossa concupiscência é muito forte e a nossa alma muito fraca; um dos truques do demónio consiste em nos absorver de tal maneira nos primeiros momentos da tentação que nos esforçamos ao máximo (quando o fazemos) por lhe resistir, mas sem pensar em pedir ajuda ao único que nos pode salvar, Deus, ou o nosso anjo da guarda, ou aos santos. Ele como que nos cobre com um véu para nos impedir de olhar para cima, de erguer os olhos para o Céu, tentando «emudecer-nos» como aos possessos do Evangelho: absorve-nos e tenta impedir-nos de pensar em pedir ajuda. E assim, tendo-nos separado de tudo o que nos torna fortes, vence-nos com facilidade.
Por isso, desde o início da tentação, procuremos não resistir com as nossas próprias forças, mas invocar a Deus; desde o início da tentação, recorramos à oração, comecemos a rezar, e obteremos uma vitória fácil onde de outro modo seríamos derrotados. Portanto, na tentação, rezar, rezar, rezar!
São Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saar, Meditações sobre os salmos, Salmo 55, § 109