"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























segunda-feira, 31 de março de 2014

CINEMA: "O sonho de Wadjda", "O Filho de Deus"

Wadjda, uma menina de dez anos de idade, vive num subúrbio de Riade, capital da Arábia Saudita. Não obstante o conservadorismo da sua família, que preza o recato da mulher desde o nascimento, Wadjda é uma criança extrovertida, afoita e decidida, a quem é difícil impor limites na sua condição feminina e visão infantil. Primeiro filme realizado por uma mulher na história do cinema da Arábia Saudita, “O Sonho de Wadjda” é uma proposta atraente para um Ocidente com vasta criação cinematográfica no feminino. Haifaa Al-Mansour, oitava filha do poeta Abdul Rahman Mansour, cresceu com a sétima arte graças à visão do seu pai e a um circuito maioritariamente clandestino de vídeo, num reino, o segundo maior estado do mundo árabe, onde não existem salas de cinema. Bom mote para o diálogo inter-religioso, “O Sonho de Wadjda” ganha pelo sentido positivo que prevalece no tratamento de uma realidade certamente trágica para as mulheres que ousem desafiar o código moral sob o qual nasceram, pela integridade da protagonista e pela justa combinação de vigor e elegância na construção narrativa.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/o_sonho_de_wadjda.html
O Filho de Deus
Um ano após investir na produção da série televisiva “A Bíblia”, popularizada pela participação do ator português Diogo Morgado, que assume o personagem de Cristo, o produtor Mark Burnett decidiu arriscar a estreia em cinema de parte dessa empreitada, na quota respeitante à vida de Jesus. Na sucessão de cenas é difícil apreender as motivações profundas de “O Filho de Deus”, com um Jesus simpático, amável com as crianças, misericordioso, mas sem que se vislumbre qualquer densidade espiritual. Onde está a construção do personagem? Onde está a sua identidade profunda? Christopher Spencer propõe uma fraca encarnação do Verbo, num Jesus a quem se tenta compensar a falta de carisma pelo estilo à vez declarativo, imperativo ou malandro, numa candura francamente artificial e, por vezes, deslocada do dramatismo que atravessa cada passo da narrativa evangélica.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/o_Filho_de_Deus.html

domingo, 30 de março de 2014

PALAVRA de DOMINGO: contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!

EVANGELHOJo 9,1-41
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença.
Os discípulos perguntaram-Lhe:
«Mestre, quem é que pecou para ele nasceu cego?
Ele ou os seus pais?
Jesus respondeu-lhes:
«Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais;
mas aconteceu assim
para se manifestarem nele as obras de Deus.
É preciso trabalhar, enquanto é dia,
nas obras d’Aquele que Me enviou.
Vai cegar a noite, em que ninguém pode trabalhar.
Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo».
Dito isto, cuspiu em terra,
fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego.
Depois disse-lhe:
«Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé quer dizer «Enviado».
Ele foi, lavou-se e ficou a ver.
Entretanto, perguntavam os vizinhos
e os que antes o viam a mendigar:
«Não é este o que costumava estar sentado a pedir esmola?»
Uns diziam: «É ele».
Outros afirmavam: «Não é. É parecido com ele».
Mas ele próprio dizia: «Sou eu».
Perguntaram-lhe então:
«Como foi que se abriram os teus olhos?»
Ele respondeu:
«Esse homem, que se chama Jesus, fez um pouco de lodo,
ungiu-me os olhos e disse-me:
‘Vai lavar-te à piscina de Siloé’.
Eu fui, lavei-me e comecei a ver».
Perguntaram-lhe ainda: «Onde está Ele?»
O homem respondeu: «Não sei».
Levaram aos fariseus o que tinha sido cego.
Era sábado esse dia em que Jesus fizeram lodo
e lhe tinha aberto os olhos.
Por isso, os fariseus perguntaram ao homem
como tinha recuperado a vista.
Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos;
depois fui lavar-me e agora vejo».
Diziam alguns dos fariseus:
«Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado».
Outros observavam:
«Como pode um pecador fazer tais milagres?»
E havia desacordo entre eles.
Perguntaram então novamente ao cego:
«Tu que dizias d’Aquele que te deu a vista?»
O homem respondeu: «É um profeta».
Os judeus não quiseram acreditar
que ele tinha sido cego e começara a ver.
Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes:
«É este o vosso filho? É verdade que nasceu cego?
Como é que agora vê?»
Os pais responderam:
«Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego;
mas não sabemos como é que ele agora vê,
nem sabemos quem lhe abriu os olhos.
Ele já tem idade para responder: perguntai-lho vós».
Foi por medo que eles deram esta resposta,
porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga
quem reconhecesse que Jesus era o Messias.
Por isso é que disseram:
«Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós».
Os judeus chamaram outra vez o que tinha sido curado
e disseram-lhe: «Dá glória a Deus.
Nós sabemos que esse homem é pecador».
Ele respondeu: «Se é pecador, não sei.
O que sei é que eu era cego e agora vejo».
Perguntaram-lhe então:
«Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?»
O homem replicou:
«Já vos disse e não destes ouvidos.
Porque desejais ouvi-lo novamente?
Também quereis fazer-vos seus discípulos?»
Então insultaram-no e disseram-lhe:
«Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés;
mas este, nem sabemos de onde é».
O homem respondeu-lhes:
«Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é,
mas a verdade é que Ele me deu a vista.
Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores,
mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade.
Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos
a um cego de nascença.
Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer».
Replicaram-lhe então eles:
«Tu nasceste inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?»
E expulsaram-no.
Jesus soube que o tinham expulsado
e, encontrando-o, disse-lhe:
«Tu acreditas no Filho do homem?»
Ele respondeu-Lhe:
«Senhor, quem é Ele, para que eu acredite?»
Disse-lhe Jesus;
«Já O viste: é Quem está a falar contigo».
O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou:
«Eu creio, Senhor».
Então Jesus disse-lhe:
«Eu vim para exercer um juízo:
os que não vêem ficarão a ver;
os que vêem ficarão cegos».
Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto,
perguntaram-Lhe:
«Nós também somos cegos?»
Respondeu-lhes Jesus:
«Se fôsseis cegos, não teríeis pecado.
Mas como agora dizeis: ‘Não vemos’,
o vosso pecado permanece».

AMBIENTE
Já vimos, na semana passada, que o Evangelho segundo João procura apresentar Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. Também vimos que, no chamado “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos “sinais” da água (cf. Jo 4,1-5,47), do pão (cf. Jo 6,1-7,53), da luz (cf. Jo 8,12-9,41), do pastor (cf. Jo 10,1-42) e da vida (cf. Jo 11,1-56) – um conjunto de catequeses sobre a acção criadora do Messias.
O nosso texto é, exactamente, a terceira catequese (a da luz) do “Livro dos Sinais”: através do “sinal” da “luz”, o autor vai descrever a acção criadora e vivificadora de Jesus. A catequese sobre a “luz” é colocada no contexto da “Festa de Sukkot” (a festa das colheitas); um dos ritos mais populares dessa festa era, exactamente, a iluminação dos quatro grandes candelabros do átrio das mulheres, no Templo de Jerusalém.
No centro do quadro aparece-nos (além de Jesus) um cego. Os “cegos” faziam parte do grupo dos excluídos da sociedade palestina de então. As deficiências físicas eram consideradas – pela teologia oficial – como resultado do pecado (os rabbis da época chegavam a discutir de onde vinha o pecado de alguém que nascia com uma deficiência: se o defeito era o resultado de um pecado dos pais, ou se era o resultado de um pecado cometido pela criança no ventre da mãe).
Segundo a concepção da época, Deus castigava de acordo com a gravidade da culpa. A cegueira era considerada o resultado de um pecado especialmente grave: uma doença que impedisse o homem de estudar a Lei era considerada uma maldição de Deus por excelência. Pela sua condição de impureza notória, os cegos eram impedidos de servir de testemunhas no tribunal e de participar nas cerimónias religiosas no Templo.

MENSAGEM
O nosso texto não é uma reportagem jornalística sobre a cura de um cego; mas é uma catequese, na qual se apresenta Jesus como a “luz” que veio iluminar o caminho dos homens. O “cego” da nossa história é um símbolo de todos os homens e mulheres que vivem na escuridão, privados da “luz”, prisioneiros dessas cadeias que os impedem de chegar à plenitude da vida. A reflexão apresenta-se em vários quadros.No primeiro quadro (vers. 2-5), Jesus apresenta-se como “a luz do mundo”. Jesus e os discípulos estão diante de um cego de nascença. De acordo com a teologia da época, o sofrimento era sempre resultado do pecado; por isso, os discípulos estavam preocupados em saber se foi o cego que pecou ou se foram os seus pais. Jesus desmonta esta perspectiva e nega qualquer relação entre pecado e sofrimento. No entanto, a ocasião é propícia para ir mais além; e Jesus aproveita-a para mostrar que a missão que o Pai lhe confiou é ser “a luz do mundo” e encher de “luz” a vida dos que vivem nas trevas.
No segundo quadro (vers. 6-7), Jesus passa das palavras aos actos e prepara-se para dar a “luz” ao cego. Começa por cuspir no chão, fazer lodo com a saliva e ungir com esse lodo os olhos do cego. O gesto de fazer lodo reproduz, evidentemente, o gesto criador de Deus de Gn 2,7 (quando Deus amassou o barro e modelou o homem). A saliva transmitia, pensava-se, a própria força ou energia vital (equivale ao sopro de Deus, que deu vida a Adão – cf. Gn 2,7). Assim, Jesus juntou ao barro a sua própria energia vital, repetindo o gesto criador de Deus. A missão de Jesus é criar um Homem Novo, animado pelo Espírito de Jesus.
No entanto, a cura não é imediata: requer-se a cooperação do enfermo. “Vai lavar-te na piscina de Siloé” – diz-lhe Jesus. A disponibilidade do cego em obedecer à ordem de Jesus é um elemento essencial na cura e sublinha a sua adesão à proposta que Jesus lhe faz. A referência ao banho na piscina do “enviado” (o autor deste texto tem o cuidado de explicar que Siloé significa “enviado”) é, evidentemente, uma alusão à água de Jesus (o enviado do Pai), essa água que torna os homens novos, livres das trevas/escravidão. A comunidade joânica pretenderá, certamente, fazer aqui uma catequese sobre o baptismo: quem quiser sair das trevas para viver na luz, como Homem Novo, tem de aceitar a água do baptismo – isto é, tem de optar por Jesus e acolher a proposta de vida que Ele oferece.
Depois, o autor do texto coloca em cena várias personagens; essas personagens vão assumir representar vários papéis e assumir atitudes diversas diante da cura do cego.
Os primeiros a ocupar a cena são os vizinhos e conhecidos do cego (vers. 8-12). A imagem do cego, dependente e inválido, transformado em homem livre e independente, leva os seus concidadãos a interrogar-se. Percebem que de Jesus vem o dom da vida em plenitude; talvez anseiem pelo encontro com Jesus, mas não se atrevem a dar o passo definitivo (ir ao encontro de Jesus) para ter acesso à “luz”. Representam aqueles que percebem a novidade da proposta que Jesus traz, que sabem que essa proposta é libertadora, mas que vivem na inércia, no comodismo e não estão dispostos a sair do seu “cantinho”, do seu mundo limitado, para ir ao encontro da “luz”.Um outro grupo que aparece em cena é o dos fariseus (vers. 13-17). Eles sabem perfeitamente que Jesus oferece a “luz”; mas recusam-na liminarmente. Para eles, interessa continuar com o esquema das “trevas”. Representam aqueles que têm conhecimento da novidade de Jesus, mas não estão dispostos a acolhê-la. Sentem-se mais confortáveis nos seus esquemas de escravidão e auto-suficiência e não estão dispostos a renunciar às “trevas”. Mais: opõem-se decididamente à “luz” que Jesus oferece e não aceitam que alguém queira sair da escravidão para a liberdade. Quando constatam que o homem curado por Jesus não está disposto a voltar atrás e a regressar aos esquemas de escravidão, expulsam-no da sinagoga: entre as “trevas” (que os dirigentes querem manter) e a “luz” (que Jesus oferece), não pode haver compromisso.
Depois, aparecem em cena os pais do cego (vers. 18-23). Eles limitam-se a constatar o acontecimento (o filho nasceu cego e agora vê), mas evitam comprometer-se. Na sua atitude, transparece o medo de quem é escravo e não tem coragem de passar das “trevas” para a “luz”. O texto explica, inclusive, que eles “tinham medo de ser expulsos da sinagoga”. A “sinagoga” designava o local do encontro da comunidade israelita; mas designava, também, a própria comunidade do Povo de Deus. Ser expulso da “sinagoga” significava a excomunhão, o risco de ser declarado herege e apóstata, de perder os pontos de referência comunitários, o cair na solidão, no ridículo, no descrédito e na marginalidade. Preferem a segurança da ordem estabelecida – embora injusta e opressora – do que os riscos da vida livre. Representam todos aqueles que, por medo, preferem continuar na escravidão, não provocar os dirigentes ou a opinião pública, do que correr o risco de aceitar a proposta transformadora de Jesus.Finalmente, reparemos no “percurso” que o homem curado por Jesus faz. Antes de se encontrar com Jesus, é um homem prisioneiro das “trevas”, dependente e limitado. Depois, encontra-se com Jesus e recebe a “luz” (do encontro com Jesus resulta sempre uma proposta de vida nova para o homem). O relato descreve – com simplicidade, mas também de uma forma muito bela – a progressiva transformação que o homem vai sofrendo. Nos momentos imediatos à cura, ele não tem ainda grandes certezas (quando lhe perguntam por Jesus, responde: “não sei”; e quando lhe perguntam quem é Jesus, ele responde: “é um profeta”); mas a “luz” que agora brilha na sua vida vai-o amadurecendo progressivamente. Confrontado com os dirigentes e intimado a renegar a “luz” e a liberdade recebidas, ele torna-se, em dado momento, o homem das certezas, das convicções; argumenta com agilidade e inteligência, joga com a ironia, recusa-se a regressar à escravidão: mostra o homem adulto, maduro, livre, sem medo… É isso que a “luz” que Jesus oferece produz no homem. Finalmente, o texto descreve o estádio final dessa caminhada progressiva: a adesão plena a Jesus (vers. 35-38). Encontrando o ex-cego, Jesus convida-o a aderir ao “Filho do Homem” (“acreditas no Filho do Homem?” - vers. 35); a resposta do ex-cego é a adesão total: “creio, Senhor” (vers. 38). O título “Senhor” (“kyrios”) era o título com que a comunidade cristã primitiva designava Jesus, o Senhor glorioso. Diz, ainda, o texto, que o ex-cego se prostrou e adorou Jesus: adorar significa reconhecer Jesus como o projecto de Homem Novo que Deus apresenta aos homens, aderir a Ele e segui-l’O.
Neste percurso está simbolicamente representado o “caminho” do catecúmeno. O primeiro passo é o encontro com Jesus; depois, o catecúmeno manifesta a sua adesão à “luz” e vai amadurecendo a sua descoberta… Torna-se, progressivamente, um homem livre, sem medo, confiante; e esse “caminho” desemboca na adesão total a Jesus, no reconhecimento de que Ele é o Senhor que conduz a história e que tem uma proposta de vida para o homem… Depois disto, ao cristão nada mais interessa do que seguir Jesus.
A missão de Jesus é aqui apresentada como criação de um Homem Novo. Deus criou o homem para ser livre e feliz; mas o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, dominaram o coração do homem, prenderam-no num esquema de “cegueira” e frustraram o projecto de Deus. A missão de Jesus consistirá em destruir essa “cegueira”, libertar o homem e fazê-lo viver na “luz”. Trata-se de uma nova criação… Assim, da acção de Jesus irá nascer um Homem Novo, liberto do egoísmo e do pecado, vivendo na liberdade, a caminho da vida em plenitude.

ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, as seguintes propostas:
• Nós, os crentes, não podemos fechar-nos num pessimismo estéril, decidir que o mundo “está perdido” e que à nossa volta só há escuridão… No entanto, também não podemos esconder a cabeça na areia e dizer que tudo está bem. Há, objectivamente, situações, instituições, valores e esquemas que mantêm o homem encerrado no seu egoísmo, fechado a Deus e aos outros, incapaz de se realizar plenamente. O que é que, no nosso mundo, gera escuridão, trevas, alienação, cegueira e morte? O que é que impede o homem de ser livre e de se realizar plenamente, conforme previa o projecto de Deus?• A catequese que João nos propõe hoje garante-nos: a realização plena do homem continua a ser a prioridade de Deus. Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao encontro dos homens e mostrou-lhes a luz libertadora: convidou-os a renunciar ao egoísmo e auto-suficiência que geram “trevas”, sofrimento, escravidão e a fazerem da vida um dom, por amor. Aderir a esta proposta é viver na “luz”. Como é que eu me situo face ao desafio que, em Jesus, Deus me faz?
• O Evangelho deste domingo descreve várias formas de responder negativamente à “luz” libertadora que Jesus oferece. Há aqueles que se opõem decididamente à proposta de Jesus porque estão instalados na mentira e a “luz” de Jesus só os incomoda; há aqueles que têm medo de enfrentar as “bocas”, as críticas, que se deixam manipular pela opinião dominante, e que, por medo, preferem continuar escravos do que arriscar ser livres; há aqueles que, apesar de reconhecerem as vantagens da “luz”, deixam que o comodismo e a inércia os prendam numa vida de escravosEu identifico-me com algum destes grupos?• O cego que escolhe a “luz” e que adere incondicionalmente a Jesus e à sua proposta libertadora é o modelo que nos é proposto. A Palavra de Deus convida-nos, neste tempo de Quaresma, a um processo de renovação que nos leve a deixar tudo o que nos escraviza, nos aliena, nos oprime – no fundo, tudo o que impede que brilhe em nós a “luz” de Deus e que impede a nossa plena realização. Para que a celebração da ressurreição – na manhã de Páscoa – signifique algo, é preciso realizarmos esta caminhada quaresmal e renascermos, feitos Homens Novos, que vivem na “luz” e que dão testemunho da “luz”. O que é que eu posso fazer para que isso aconteça?• Receber a “luz” que Cristo oferece é, também, acender a “luz” da esperança no mundo. O que é que eu faço para eliminar as “trevas” que geram sofrimento, injustiça, mentira e alienação? A “luz” de Cristo que os padrinhos me passaram no dia em que fui baptizado brilha em mim e ilumina o mundo?
• “Luz” e “trevas” são, nesta passagem, duas esferas de poder capazes de tomar conta do homem e de condicionar a sua vida, as suas opções, os seus valores e comportamentos. O cristão, no entanto, é aquele que optou por “viver na luz”. Para mim, o que significa, em concreto, “viver na luz”? O que é que isso, em termos práticos, implica? Quais são os esquemas, comportamentos e valores que devem ser definitivamente saneados da minha vida, a fim de que eu seja um testemunho da “luz”?
• Para Paulo, não chega “viver na luz” e dar testemunho da “luz”. É preciso, também, denunciar – de forma aberta e decidida – as “trevas” que desfeiam o mundo e que mantêm os homens escravos. Na minha perspectiva, quais são os gestos, comportamentos e atitudes que contribuem para apagar a “luz” de Deus e para manter este mundo nas “trevas”? Com que é que eu devo pactuar e o que é que eu devo denunciar?
• A expressão “desperta tu que dormes”, citada por Paulo, convida-nos à vigilância. O cristão não pode ficar de braços cruzados diante da maldade, do egoísmo, da injustiça, da exploração, dos contra-valores que enegrecem a vida dos homens e do mundo. O cristão tem de manter uma atitude de vigilância atenta e de denúncia ousada e corajosa. Diante dos contra-valores, qual a minha atitude: é a atitude comodista de quem deixa correr as coisas porque não está para se chatear, ou é a atitude de quem se sente realmente incomodado com a escuridão do mundo e pretende intervir para que o mundo se construa de uma forma diferente?
Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=400

Chamados à luz da alegria
Uma carícia de luz na escuridão. Jesus toca e ilumina os olhos de um mendigo que nos representa a todos. É uma dura lição: os fariseus mostram que se pode ser crente sem se ser bom; que se podem se pode ser homem de Igreja e não ter piedade; é possível “trabalhar” em nome de Deus e ir contra Deus. Administradores do sagrado e analfabetos do coração. Nas palavras dos fariseus, a palavra que ocorre com mais frequência é «pecado»: «Sabemos que és pecador; nasceste no pecado; se alguém é pecador, não pode fazer estas coisas»; até os discípulos perguntaram: «Quem pecou? Ele ou os seus pais?». O pecado é elevado a teoria que explica o mundo, que interpreta o homem e Deus. A resposta de Jesus é outra: «Nem ele pecou nem os seus pais». Distancia-se de imediato, com a primeira palavra, desta perspetiva, para declarar como ela causa a cegueira sobre Deus e sobre os homens. Falará unicamente do pecado para dizer que está perdoado.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/chamados_luz_alegria.html

sábado, 29 de março de 2014

POLÍTICA: "Ratolândia"

(Um retrato bem actual do nosso país)

A fábula Mouseland (em português: "Ratolândia") foi inicialmente contada por Clarence Gillis e mais tarde popularizada em discurso por Tommy Douglas, político canadiano. A fábula expressava a visão de que o sistema político canadiano estava viciado, pois oferecia aos eleitores um falso dilema: a escolha de dois partidos, dos quais nenhum representava os interesses do povo.
Na fábula, os ratos (o povo canadiano) votavam nos gatos negros (Partido Progressivo Conservador) e depois de algum tempo descobriam o quão difícil suas vidas eram. Depois votavam nos gatos brancos (Partido Liberal) e assim ficavam alternando entre os dois partidos.
Um dos ratos tem então a ideia de que os ratos deveriam formar seu próprio governo...
 

(in)PRENSA semanal: a minha selecção!

Para quem, que por qualquer razão, não leu, não deve deixar de ler. Assim, não só fica a saber, mas também pode, com mais&melhor fundamento, opinar e, "a curto, médio ou longo prazo", optar e decidir, não deixando que outros o façam por si - se bem me faço entender eis a razão desta e de outras "(in)PRENSA semanal: a minha selecção!" que aí virão.
 
BdP soube das "offshores" em 2001 mas só atuou em 2007
A prescrição da democracia
Vítima de abusos entre peritos escolhidos pelo Papa
João Cravinho "Problema da dívida é europeu e não apenas português"
Bloco de Esquerda Vistos gold transformam país num "paraíso para burlões"
Funcionários públicos: o mealheiro de Passos Coelho
Novo corte salarial em estudo
'Fatura da sorte' vai oferecer aos contribuintes Audi A4 e A6
"Estamos entregues a um bando de loucos"
"Temos muito que cortar para chegar aos dois mil milhões"
Vira costas a emprego milionário para ser pai a tempo inteiro
Maioria dos produtos perigosos continua a vir da China
De bolotas em Auschwitz a árvores transmontanas pela tolerância
O ovo da serpente
Socialismo de mão estendida
A "circunstância" de António Barreto
"Somos um país bastante corrupto"
Grupo sob suspeita de corrupção encaixou 20,8 milhões do Estado
Coimbra Cão não arredou 'pé' da Urgência enquanto dono esteve internado
Jovens sem meios para sairem da 'asa' dos pais
O fim da escola?
Nobel defende "reestruturação profunda" da dívida portuguesa
Palavra de honra
Notícia "parecia brincadeira do dia das mentiras"
Promessas cumpridas
Os nazis voltaram?
Pensões mínimas estão todas abaixo da linha de pobreza
Lobo Xavier. “Os dados do relatório [do INE] dão um retrato angustiante e triste do país”
Zona euro: oportunidades na periferia

sexta-feira, 28 de março de 2014

ESPIRITUALIDADE: Começa assim a tua oração

«A importância da oração não está nas palavras que dizes. A importância da oração está no modo de vida que ela cria em ti, na atitude contemplativa e humilde que vai fazendo nascer no teu interior. Não deixes de desejar este modo de vida, não deixes que esta atitude desapareça dos teus dias… E com este desejo, dá início à tua oração.» “Começa assim a tua oração” é o título do livro que reúne os textos de introdução às orações diárias do “Passo-a-rezar”, projeto que oferece na internet uma proposta de oração e meditação diária, com textos bíblicos e música, que pode ser escutada a qualquer momento num computador, tablet, telemóvel ou leitor de áudio portátil. A publicação em formato de bolso, lançada no âmbito da comemoração do quarto aniversário do projeto do Apostolado da Oração, ligado aos Jesuítas, reúne os textos assinados por Elias Couto, membro da coordenação do projeto, com ilustrações de João Sarmento, sj. Apresentamos os primeiros textos do livro, a que acrescentamos a meditação correspondente ao dia 25 de março, solenidade da Anunciação do Senhor.
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quinta-feira, 27 de março de 2014

LEITURA: "Retalhos da vida de um padre"

«Na vida de um padre passam muitas pessoas e muitas histórias. E, nós, padres, também passamos na vida de muitas pessoas. Gosto de lembrar histórias. Muitas ficaram na memória, outras, naturalmente, acabam por se perder e algumas registei, aqui neste livro, fosse para não me esquecer fosse para as partilhar. Este livro é, então, um livro de crónicas e de memórias. As histórias do padre e as histórias dos outros que o padre acompanha. A minha única pretensão com a publicação deste livro é a da partilha. As histórias da minha vida ou a minha vida em histórias. A narração é simples, como simples é a vida – assim a vejo –, por muito complicada que às vezes nos pareça. Algumas vezes o que vivi acabou numa oração, noutras o que vi fez-me entrar na vida das outras pessoas, e outras ainda, o que senti, fez-me levar a histórias que não são minhas mas que fazem parte de mim.» A editora “Verso de Kapa” lança a 28 de março nas livrarias a obra “Retalhos da vida de um padre”, da autoria do religioso dominicano José Filipe Rodrigues (n. 1975), volume prefaciado pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
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http://www.snpcultura.org/retalhos_da_vida_de_um_padre.html

quarta-feira, 26 de março de 2014

REFLEXÃO/MEDITAÇÃO/ATENÇÃO: Educar para a virtude e beleza.

Os nossos jovens querem ver os ideais do Evangelho vividos na nossa vida. Uma das piores consequências do escândalo de pedofilia na Igreja é que, nela, se possa instalar um cinismo em relação ao chamamento à santidade. Corremos o risco de sermos soterrados pelo mau exemplo de padres e bispos, e é preciso que lembremos as pessoas que sempre houve santos e pecadores na Igreja. A missão da Igreja é chamar todos à conversão. Temos os nossos sucessos e os nossos fracassos. Os santos são a história de sucesso que os nossos jovens precisam de conhecer. E como até os santos foram pecadores, a sua história ajuda os jovens a ver que nós, seus mentores, nos debatemos no mesmo caminho de santidade. Queremos partilhar com as gerações futuras aquilo que descobrimos: nomeadamente, que quem é católico tem uma vida boa e vive com a certeza de ter uma vocação pessoal e uma missão comunitária. A nossa tarefa é ajudar as pessoas a entrever a Beleza que salva e ajudar a alimentar esse desejo de Beleza
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terça-feira, 25 de março de 2014

segunda-feira, 24 de março de 2014

CINEMA: "Mel"

O fino limite que separa este dos outros casos que até então não questionava, agora tornado evidente, e a inquietude provocada pela explícita ausência do sentido da vida, também camuflada e latente em si própria, transformam a missão de morte de “Mel” numa missão de vida. Ausente de uma referência explícita a Deus, e independentemente do desfecho do filme, é quase impossível não sentir o sopro que impele uma ex-modelo, atriz, nascida no seio de uma família de pintores e músicos onde se combinam sangue e cultura germânica, grega, italiana, francesa e egípcia, a realizar a sua primeira longa metragem sobre temas tão delicado e atuais. Que antes do suicídio assistido são os da solidão, o da débil implicação humana, uns com e para os outros, a ausência de significado e sentido da vida, e o estado terminal de sofrimento em que muitos são colocados por todas aquelas causas.
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domingo, 23 de março de 2014

PALAVRA de DOMINGO: contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!

EVANGELHOJo 4,5-42
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar,
junto da propriedade que Jacob tinha dado a seu filho José,
onde estava a fonte de Jacob.
Jesus, cansado da caminhada, sentou Se à beira do poço.
Era por volta do meio dia.
Veio uma mulher da Samaria para tirar água.
Disse lhe Jesus: «Dá Me de beber».
Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos.
Respondeu Lhe a samaritana:
«Como é que Tu, sendo judeu,
me pedes de beber, sendo eu samaritana?»
De facto, os judeus não se dão com os samaritanos.
Disse lhe Jesus:
«Se conhecesses o dom de Deus
e quem é Aquele que te diz: ‘Dá Me de beber’,
tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva».
Respondeu Lhe a mulher:
«Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo:
donde Te vem a água viva?
Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob,
que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu,
com os seus filhos a os seus rebanhos?»
Disse Lhe Jesus:
«Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede.
Mas aquele que beber da água que Eu lhe der
nunca mais terá sede:
a água que Eu lhe der tornar se á nele uma nascente
que jorra para a vida eterna».
«Senhor, suplicou a mulher dá me dessa água,
para que eu não sinta mais sede
e não tenha de vir aqui buscá la».
Vejo que és profeta.
Os nossos pais adoraram neste monte
e vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar».
Disse lhe Jesus:
«Mulher, podes acreditar em Mim:
Vai chegar a hora em que nem neste monte
nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não conheceis;
nós adoramos o que conhecemos,
porque a salvação vem dos judeus.
Mas vai chegar a hora – e já chegou –
em que os verdadeiros adoradores
hão de adorar o Pai em espírito a verdade,
pois são esses os adoradores que o Pai deseja.
Deus é espírito
e os seus adoradores devem adorá l’O em espírito e verdade».
Disse Lhe a mulher:
«Eu sei que há de vir o Messias,
isto é, Aquele que chamam Cristo.
Quando vier há de anunciar nos todas as coisas».
Respondeu lhe Jesus:
«Sou Eu, que estou a falar contigo».
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus,
por causa da palavra da mulher.
Quando os samaritanos vieram ao encontro de Jesus,
pediram Lhe que ficasse com eles.
E ficou lá dois dias.
Ao ouvi l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher:
«Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos.
Nós próprios ouvimos
e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».
AMBIENTE
O Evangelho deste domingo situa-nos junto de um poço, na cidade samaritana de Sicar. A Samaria era a região central da Palestina – uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de judeus e pagãos) e de religião sincretista.
Na época do Novo Testamento, existia uma animosidade muito viva entre samaritanos e judeus. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios e foi deportada cerca de 4% da população samaritana. Na Samaria instalaram-se, então, colonos assírios que se misturaram com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se (cf. 2 Re 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos (cf. Esd 4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém (ano 437 a.C.) e denunciaram os casamentos mistos. Tiveram, então, de enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (cf. Ne 3,33-4,17). No ano 333 a.C., novo elemento de separação: os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim; no entanto, esse Templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano. Mais tarde, as picardias continuaram: a mais famosa aconteceu por volta do ano 6 d.C., quando os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém durante a festa da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios.
Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé jahwista; e os samaritanos pagavam aos judeus com um desprezo semelhante.
A cena passa-se à volta do “poço de Jacob”, situado no rico vale entre os montes Ebal e Garizim, não longe da cidade samaritana de Siquém (em aramaico, Sicara – a actual Askar). Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária, e cuja profundidade ultrapassa os 30 metros. Segundo a tradição, teria sido aberto pelo patriarca Jacob… Os dados arqueológicos revelam que o “poço de Jacob” serviu os samaritanos entre o ano 1000 a.C. e o ano 500 d.C. (embora ainda hoje se possa extrair dele água).
O “poço” acaba por transformar-se, na tradição judaica, num elemento mítico. Sintetiza os poços abertos pelos patriarcas e a água que Moisés fez brotar do rochedo no deserto (primeira leitura de hoje); mas, sobretudo, torna-se figura da Lei (do poço da Lei brota a água viva que mata a sede de vida do Povo de Deus), que a tradição judaica considerava observada já pelos patriarcas, antes de ser dada ao Povo por Moisés.
O Evangelho segundo São João apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. No chamado “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos “sinais” da água (cf. Jo 4,1-5,47), do pão (cf. Jo 6,1-7,53), da luz (cf. Jo 8,12-9,41), do pastor (cf. Jo 10,1-42) e da vida (cf. Jo 11,1-56) – um conjunto de catequeses sobre a acção criadora do Messias.
O nosso texto é, exactamente, a primeira catequese do “Livro dos Sinais”: através do “sinal” da água, o autor vai descrever a acção criadora e vivificadora de Jesus.
MENSAGEM
No centro da cena, está o “poço de Jacob”. À volta do “poço” movimentam-se as personagens principais: Jesus e a samaritana.
A mulher (aqui apresentada sem nome próprio) representa a Samaria, que procura desesperadamente a água que é capaz de matar a sua sede de vida plena. Jesus vai ao encontro da “mulher”. Haverá neste episódio uma referência ao Deus/esposo que vai ao encontro do povo/esposa infiel para lhe fazer descobrir o amor verdadeiro? Tudo indica que sim (aliás, o profeta Oseias, o grande inventor desta imagem matrimonial para representar a relação Deus/Povo, pregou aqui, na Samaria).
O “poço” representa a Lei, o sistema religioso à volta do qual se consubstanciava a experiência religiosa dos samaritanos. Era nesse “poço” que os samaritanos procuravam a água da vida plena. No entanto: o “poço” da Lei correspondia à sede de vida daqueles que o procuravam? Não. Os próprios samaritanos tinham reconhecido a insuficiência do “poço” da Lei e haviam buscado a vida plena noutras propostas religiosas (por isso, Jesus faz referência aos “cinco maridos” que a mulher já teve: há aqui, provavelmente, uma alusão aos cinco deuses dos samaritanos de que se fala em 2 Re 17,29-41).
Estamos, pois, diante de um quadro que representa a busca da vida plena. Onde encontrar essa vida? Na Lei? Noutros deuses? A mulher/Samaria dá conta da falência dessas “ofertas” de vida: elas podem “matar a sede” por curtos instantes; mas quem procura a resposta para a sua realização plena nessas propostas voltará a ter sede.
É aqui que entra a novidade de Jesus. Ele senta-se “junto do poço”, como se pretendesse ocupar o seu lugar; e propõe à mulher/Samaria uma “água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida eterna (vers. 10-14). Jesus passa a ser o “novo poço”, onde todos os que têm sede de vida plena encontrarão resposta para a sua sede.
Qual é a água que Jesus tem para oferecer? É a “água do Espírito” que, no Evangelho de João, é o grande dom de Jesus. Na conversa com Nicodemos, Jesus já havia avisado que “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” – Jo 3,5; e quando Jesus se apresenta como a “água viva” que matará a sede do homem, João tem o cuidado de explicar que Ele se referia ao Espírito, que iam receber aqueles que acreditassem n’Ele (cf. Jo 7,37-39). Esse Espírito, uma vez acolhido no coração do homem, transforma-o, renova-o e torna-o capaz de amar Deus e os outros.
Como é que a mulher/Samaria responde ao dom de Jesus? Inicialmente, ela fica confusa. Parece disposta a remediar a situação de falência de felicidade que caracteriza a sua vida, mas ainda não sabe bem como: essa vida plena que Jesus está a propor-lhe significa que a Samaria deve abandonar a sua especificidade religiosa e ceder às pretensões religiosas dos judeus, para quem o verdadeiro encontro com Deus só pode acontecer no Templo de Jerusalém e na instituição religiosa judaica (“nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar”)?
No entanto, Jesus nega que se trate de escolher entre o caminho dos judeus e o caminho dos samaritanos. Não é no Templo de pedra de Jerusalém ou no Templo de pedra do monte Garizim que Deus está… O que se trata é de acolher a novidade do próprio Jesus, aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida (isto é, aceitar o Espírito que Ele quer comunicar a todos os homens).
Dessa forma – e só dessa forma – desaparecerá a barreira de inimizade que separa os povos – judeus e samaritanos. A única coisa que passa a contar é a vida do Espírito que encherá o coração de todos, que a todos ensinará o amor a Deus e aos outros e que fará de todos – sem distinção de raças ou de perspectivas religiosas – uma família de irmãos.
A mulher/Samaria responde à proposta de Jesus abandonando o cântaro (agora inútil), e correndo a anunciar aos habitantes da cidade o desafio que Jesus lhe faz. O texto refere, ainda, a adesão entusiástica de todos os que tomam conhecimento da proposta de Jesus e a “confissão da fé”: Jesus é reconhecido como “o salvador do mundo” – isto é, como Aquele que dá ao homem a vida plena e definitiva (vers. 28-41).
O nosso texto define, portanto, a missão de Jesus: comunicar ao homem o Espírito que dá vida. O Espírito que Jesus tem para oferecer desenvolve e fecunda o coração do homem, dando-lhe a capacidade de amar sem medida. Eleva, assim, esses homens que buscam a vida plena e definitiva à categoria de Homens Novos, filhos de Deus que fazem as obras de Deus. Do dom de Jesus nasce a nova comunidade.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, para a reflexão, os seguintes pontos:

A modernidade criou-nos grandes expectativas. Disse-nos que tinha a resposta para todas as nossas procuras e que podia responder a todas as nossas necessidades. Garantiu-nos que a vida plena estava na liberdade absoluta, numa vida vivida sem dependência de Deus; disse-nos que a vida plena estava nos avanços tecnológicos, que iriam tornar a nossa existência cómoda, eliminar a doença e protelar a morte; afirmou que a vida plena estava na conta bancária, no reconhecimento social, no êxito profissional, nos aplausos das multidões, nos “cinco minutos” de fama que a televisão oferece… No entanto, todas as conquistas do nosso tempo não conseguem calar a nossa sede de eternidade, de plenitude, dessa “mais qualquer coisa” que nos falta para sermos, realmente, felizes. A afirmação essencial que o Evangelho de hoje faz é: só Jesus Cristo oferece a água que mata definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem. Eu já descobri isto, ou a minha procura de realização e de vida plena faz-se noutros caminhos? O que é preciso para conseguirmos que os homens do nosso tempo aprendam a olhar para Jesus e a tomar consciência dessa proposta de vida plena que Ele oferece a todos?
• Essa “água viva” de que Jesus fala faz-nos pensar no baptismo. Para cada um de nós, esse foi o começo de uma caminhada com Jesus… Nessa altura acolhemos em nós o Espírito que transforma, que renova, que faz de nós “filhos de Deus” e que nos leva ao encontro da vida plena e definitiva. A minha vida de cristão tem sido, verdadeiramente, coerente com essa vida nova que então recebi? O compromisso que então assumi é algo esquecido e sem significado, ou é uma realidade que marca a minha vida, os meus gestos, os meus valores e as minhas opções?

Atentemos no pormenor do “cântaro” abandonado pela samaritana, depois de se encontrar com Jesus… O “cântaro” significa e representa tudo aquilo que nos dá acesso a essas propostas limitadas, falíveis, incompletas de felicidade. O abandono do “cântaro” significa o romper com todos os esquemas de procura de felicidade egoísta, para abraçar a verdadeira e única proposta de vida plena. Eu estou disposto a abandonar o caminho da felicidade egoísta, parcial, incompleta, e a abrir o meu coração ao Espírito que Jesus me oferece e que me exige uma vida nova?
• A samaritana, depois de encontrar o “salvador do mundo” que traz a água que mata a sede de felicidade, não se fechou em casa a gozar a sua descoberta; mas partiu para a cidade, a propor aos seus concidadãos a verdade que tinha encontrado. Eu sou, como ela, uma testemunha viva, coerente, entusiasmada dessa vida nova que encontrei em Jesus?
É esta, também, a experiência que fazemos. Muitas vezes somos egoístas, orgulhosos, comodistas, “meninos mimados” que passam a vida a lamentar-se e a acusar Deus e os outros pelos “dói-dóis” que a vida nos faz. No entanto, as dificuldades da caminhada não são um castigo ou uma derrota; são, tantas vezes, parte dessa pedagogia de Deus para nos forçar a ir mais além, para nos renovar, para nos amadurecer, para nos tornar menos orgulhosos e auto-suficientes. Devíamos, talvez, aprender a agradecer a Deus alguns momentos de sofrimento e de fracasso que marcam a nossa vida, pois através deles Deus faz-nos crescer.

sábado, 22 de março de 2014

(in)PRENSA semanal: a minha selecção!

Para quem, que por qualquer razão, não leu, não deve deixar de ler. Assim, não só fica a saber, mas também pode, com mais&melhor fundamento, opinar e, "a curto, médio ou longo prazo", optar e decidir, não deixando que outros o façam por si - se bem me faço entender eis a razão desta e de outras "(in)PRENSA semanal: a minha selecção!" que aí virão
Oito homens que passaram de 'hackers' a multimilionários
"Caso 'Oliveira Costa' é o mais grave e devia meter polícia"
Contratos deixam de poder ser celebrados por telefone
Cinco lições da reestruturação da dívida grega
"Salazar resolvia os problemas todos"
Europa e EUA congelam bens a dezenas de personalidades russas
OCDE acusa Portugal de ser pouco generoso com os mais pobres
"As pessoas têm que se afastar do litoral"
A palavra do Papa
Incrível: Jardim Gonçalves tem razão
Não podiam comprar o Porsche mais tarde?
Reestruturação da dívida: quem foi resgatado?
"Não vale a pena ouvir estes homens a três meses das eleições"
Para que outros vivam
Reforma antes dos 66 para Função Pública com mais anos de serviço
Manifesto dos 70 colhe apoio de outros tantos notáveis estrangeiros
Apoio internacional prova que manifesto "não é disparate"
Reis Novais diz que Cavaco não pediu fiscalização da CES para adiar medida
Revista “Fortune” elege Papa como líder mundial do ano
"Se a austeridade parar, Portugal deixa de encolher. Mas como crescer?"
Os alunos “baldas” e os professores afogados em burocracia
Fraudes na banca, bufos no autocarro
Há uma justiça para os Jardins Gonçalves, e depois há uma justiça para o meu pai
http://expresso.sapo.pt/ha-uma-justica-para-os-jardins-goncalves-e-depois-ha-uma-justica-para-o-meu-pai=f861661#ixzz2wcBq3yj0

quinta-feira, 20 de março de 2014

REFLEXÃO/MEDITAÇÃO/ATENÇÃO: Pobreza espiritual, caminho de vida etc...etc...

Pobreza espiritual, caminho de vida
A pobreza espiritual também se expressa na aceitação de si. Não temos apenas mal-entendidos com os outros. Por vezes, o maior e o mais difícil mal-entendido é connosco próprios. Não nos aceitamos, não nos abraçamos, não nos acolhemos, não nos perdoamos. Aceitar-me no que sou e não sou, no que fui, no que não fui, no que não consegui, no que correu bem e no que correu mal, na fraqueza e na fragilidade. Como é que se torna fecunda a vida pobre? Na aceitação confiante de si. Como diz S. Paulo na segunda carta aos Coríntios (4, 7): «Trazemos em vasos de barro o nosso tesouro». E é sempre assim. Temos de aceitar o tesouro, mas também o barro, o barro que se quebra, o barro que se cola, o barro que não tem remédio, o barro que fica ferido. O poeta brasileiro Manoel de Barros, com quase 90 anos, é uma das grandes figuras espirituais do nosso tempo: «Prefiro as máquinas que servem para não funcionar». Isto exige uma conversão. Porque nós preferimos o que funciona. «Porque cheias de areia, de formigas e de musgo, elas podem um dia milagrar flores». Há um milagre que só nos chega pela pobreza.
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Uma bombarda no coração
Acção de Graças significa dizer «obrigado», agradecer, e ainda, mantendo este modo pleunástico, mostrar gratidão a Deus. «Contigo sou sempre agradecido» canta a banda Xungaria no Céu numa das suas canções e este parece ser o lema justo para tatuar no braço de um cristão: a infinita e misteriosa bondade que Deus tem por nós, nunca nos largando da mão e actuando segundo Sua infinita sabedoria de um modo que não é alheio à claridade dos nossos olhos vesgos, mas refém dela. A maravilhosa acção que gostaria de entregar ao Senhor em gratidão, e aquela que mais gostaria de sublinhar, é o momento fundador que transforma para sempre a vida do homem cuja vida e obra, nos próximos dias, é celebrada de modo especial. Aquilo a que sou grato é nada mais nada menos que estilhaços de pólvora, um grave ferimento de guerra, para ser mais preciso, uma «bombarda».
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quarta-feira, 19 de março de 2014

quem conhece ESSES DESCONHECIDOS (31): Bárbara Maix

...que merecem ser conhecidos - vida&obra - e eu mais em conhecê-las e dar a conhecer:

Bárbara nasceu em Viena, Áustria, filha de José Maix e Rosália Mauritz. Cresceu num lar muito pobre, solidamente edificado na fé cristã. Seu pai era camareiro do Imperador no palácio de Schonbrunn, mas a família vivia na miséria. A desnutrição ocasionou a morte de vários filhos do casal. Seus pais, porém, transmitiram a Bárbara o espírito de luta e coragem.
Aos 15 anos ela ficou órfã de pai e mãe. As 5 irmãs perderam inclusive a casa em que viviam. Enfrentando a vida praticamente sozinha, fez curso de modista, habilitando-se a ensinar corte e costura, bordado e artes femininas. Passava horas inteiras em oração na Igreja de Nossa Senhora da Escada, onde, à luz da pregação dos padres redentoristas, percebeu a necessidade de se empenhar na solução dos graves problemas sociais de Viena. Pensou em fundar a Congregação do Sagrado Coração de Maria, e em 1843 abriu uma pensão destinada a acolher moças desempregadas. Com Bárbara já estavam reunidas 18 congregadas, sob a orientação espiritual e apoio do Pe. João Nepomuceno Pöckl, redentorista.
Em 1848 explodiu a revolução liberal em Viena, perseguindo a Igreja e associações religiosas. Bárbara e suas companheiras foram obrigadas a abandonar a sua residência. Dispôs-se a ir para a América do Norte. Reuniu 21 companheiras. Enquanto aguardavam, no porto de Hamburgo, aportou um barco com destino ao Brasil, e entendeu Bárbara ser esta a vontade de Deus. Decidiu partir, e acompanhou-as o Pe. Pöckl, que também tencionava fundar a Congregação dos Irmãos do Sagrado Coração de Maria, e mais dois jovens da família Hamberger.
Chegaram ao Rio de Janeiro em 9 de novembro, “sem dinheiro, sem conhecimento de ninguém, sem saber a língua, com muita fome, mas cheias de confiança em Deus e em Nossa Senhora”, escreveu Isabel, uma das congregadas. A pedido de Dom Manuel do Monte Rodrigues de Araújo, Bispo do Rio de Janeiro, foram acolhidas pelas Irmãs Concepcionistas por seis meses. Particularmente, preparavam-se para o dia da vestição religiosa, que ficou marcada para o dia 8 de maio de 1849. Emitiram os votos religiosos e ficou ereta, juridicamente, a Congregação do Sagrado Coração de Maria, já com 22 membros. Me. Bárbara recebeu o nome religioso de Me. Maria Bárbara da Santíssima Trindade.
Bárbara sentia-se comprometida com os pobres e necessitados. Acolhiam mulheres que procuravam asilo, dedicavam-se à educação das jovens mais abandonadas e cuidavam dos doentes. As primeiras experiências de trabalho pastoral junto ao povo foram nos colégios, e ocorreram em circunstâncias adversas para a Congregação. Eram pobres, não tinham casa própria, experimentavam muitas privações e insegurança.
A Vontade de Deus norteava a vida de Bárbara, e estava sempre aberta para entender o que Deus lhe pedia. Assim, devido ao problema da orfandade no Brasil, que se ia agravando em conseqüência das epidemias e da Guerra do Paraguai, Madre Bárbara passou a prestar serviço em diversos Asilos do Império: em Niterói (RJ), Pelotas e Porto Alegre (RS). As Irmãs cuidavam também dos empestados e vítimas da guerra.
Foram grandes e incontáveis os sofrimentos da Fundadora. Nos Asilos mantidos por sociedades leigas, pertencentes à maçonaria, Bárbara sofreu toda sorte de hostilidade. Lutas e contradições, dificuldades de toda espécie foram, aos poucos, consolidando e definindo as posições das Irmãs com relação à Fundadora. Um grupo de Irmãs do Asilo de Pelotas, influenciado e apoiado pela Diretoria, separou-se da Congregação.
Em Porto Alegre, algumas Irmãs apresentaram a Dom Sebastião Dias Laranjeira, Bispo do Rio Grande do Sul, acusações contra a Fundadora, ocasionando a visita canônica ao Asilo Providência, onde residia Madre Bárbara. Críticas infundadas e calúnias difamaram a fundadora e as irmãs que lhe eram fiéis. Bárbara sofreu muito. Na sua simplicidade e humildade, aceitou mais essa provação e deixou Porto Alegre. Nas suas cartas ofereceu a todas o seu perdão.
Em 31 de dezembro de 1870, Bárbara partiu para o Rio de Janeiro, onde assumiu a Escola Doméstica, destinada a acolher moças órfãs, e aí permaneceu até um mês antes de sua morte. Faleceu em Catumbi (RJ), onde morava com quatro Irmãs, numa casa emprestada. Era de saúde frágil, sofria da asma e do coração. No dia 17 de março de 1873, sentiu-se mal após a missa, e acompanhada por uma irmã, sentou-se em sua cadeira de braços onde muitas vezes passava as noites nos momentos de crise, e faleceu com um sorriso nos lábios, um sorriso de paz. Tinha 55 anos. Sua fé foi imbatível. Deixou o perdão como herança, e a todos o perfume da sua santidade.
 
 

terça-feira, 18 de março de 2014

LEITURA: "Entre-tanto", "Ao lado dos pobres" & "A noite do confessor"

"Entre-tanto"
«No centro está a fronteira, lugar de passos e de passagens, de perdas e de paixão. Se nos custa reconhecer como a fé se tornou irrelevante para tantos e como, por vezes, faltam às comunidades cristãs a força dos gestos e a unção das palavras que sejam capazes de dar um corpo vivo à graça do Evangelho, poderemos chegar a receber esta experiência de prova como bênção de um tempo favorável. A pobreza do momento instaurará coisas novas. O custo do caminho revelará a surpresa d’O sempre presente. Talvez de outros modos, apontando noutras direções. A fronteira que nos tirou do centro poderá ser o lugar que nos convém como casa, a nós, discípulos de Jesus que não teve lugar onde reclinar a cabeça. E, porém, amou todo o mundo como sua casa e todos os homens como seus irmãos.» A Paulinas Editora lança esta segunda-feira nas livrarias o mais recente livro do padre José Frazão Correia, recentemente eleito superior da Companhia de Jesus em Portugal, intitulado “Entre-tanto – A difícil bênção da vida e da fé”.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/entre_tanto.html

"Ao lado dos pobres"
Em minha opinião, o movimento eclesial e teológico que, depois do Concílio Vaticano II, na América Latina, sob o nome de «Teologia da Libertação», encontrou eco mundial, inclui-se entre as mais significativas correntes da teologia católica no século XX. (…) O teólogo profissional, como perito em religião, não se contrapõe aos fiéis ou aos não especialistas. Ele entende-se, tal como todos os discípulos, como ouvinte e aprendiz diante do único Mestre e Palavra de Deus, isto é, Cristo. Desse modo, ele penetra no contexto da experiência da fé e da religiosidade da vida do povo, ou seja, da comunidade daqueles que professam a fé em Jesus Cristo e ousam percorrer o caminho do seu seguimento na existência – para os outros. Participa dos seus sofrimentos e das suas esperanças. Desse modo, Teologia da Libertação, no melhor sentido da palavra, é teologia contextual, amadurecida a partir da comunidade. Assim também se supera a fissura entre uma teologia universitária erudita e uma reflexão da fé a partir das experiências concretas das comunidades.
Ler mais em:
Desde o início, na Teologia da Libertação, tiveram-se em consideração as diversas dimensões da pobreza. Dizendo-o com outras palavras – como o faz a Bíblia –, prestou-se atenção a não reduzir a pobreza ao seu aspeto económico, certamente fundamental. Isso levou à afirmação de que o pobre é o «insignificante», aquele que é considerado como uma «não pessoa», alguém a quem não se reconhece a plenitude dos seus direitos na condição de ser humano. Pessoas sem peso social ou individual, que contam pouco na sociedade e na Igreja. Assim são vistos, ou mais exatamente não são vistos, porque são bem mais invisíveis na medida em que são excluídos dos nossos dias. As razões disso são diversas: as carências de ordem económica, sem dúvida, mas tam bém a cor da pele, ser mulher, pertencer a uma cultura desprezada (ou considerada interessante somente pelo seu exotismo, o que equivale ao mesmo). A pobreza é, com efeito, um assunto complexo e multifacetado; há decénios, ao falar dos «direitos dos pobres», referíamo-nos a esse conjunto de dimensões da pobreza.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/ao_lado_dos_pobres_gustavo_gutierrez.html

"A noite do confessor"
«Uma fé minúscula não tem de ser necessariamente apenas o fruto da pecaminosa falta de fé. Por vezes, a «pouca fé» pode conter mais vida e confiança do que a «grande fé». Será que não podemos aplicar à fé aquilo que Jesus disse na parábola acerca da semente, que tem de morrer a fim de produzir grandes benefícios, porque desapareceria e não prestaria para nada se permanecesse imutável? Será que a fé não tem de passar também por um tempo de morte e de radical diminuição na vida do homem e ao longo da história? E se nós apreendermos esta situação segundo o espírito da lógica paradoxal do Evangelho, em que o pequeno prevalece sobre o grande, a perda é lucro e a diminuição ou redução significa abertura ao avanço da obra de Deus, não será porventura esta crise o «tempo da visitação», o momento oportuno?» Oferecemos em pré-publicação um excerto de “A noite do confessor”, correspondente ao segundo capítulo, intitulado «Dá-nos um pouco de fé».
Ler mais em:

segunda-feira, 17 de março de 2014

CINEMA: "Her (Uma história de amor)", "Nebraska", "O cardeal judeu"

"Her"
É inevitável a empatia imediata com o mundo solitário de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix). Na volubilidade de um processo de divórcio, ensimesmado, voltado para si e para o seu mundo que rui, Theodore vagueia entre o trabalho como escritor, que providencia aos seus clientes eloquentes cartas que exprimem o amor e o afeto que eles mesmos são incapazes de pôr em palavras, durante o dia, e as noites ocupadas entre jogos de vídeo, redes sociais e as memórias dolorosas da separação. Não é um filme sobre a solidão, mas propõe um mundo onde cada um de nós é desencontro, desconhecimento e reclusão. “Her” não configura, na aparência de uma fotografia de cores quentes e quase tácteis, a distopia de um mundo desumanizado e sob regulação totalitária, mas mergulha-nos num universo onde cada indivíduo é um átomo isolado, à mercê do isolamento emocional, afetivo e humano.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/her_o_estranho_mundo_de_theodore.html

"Nebraska"
“Nebraska” é um olhar perspicaz, terno e bem humorado sobre os encantos e os desencantos do outono da vida, num caminho melancólico feito a dois – um percurso de relação materializada entre pai e filho, onde ambos se redescobrem. Relação feita de consonâncias e dissonâncias, de rudeza e de afetos, a viagem segue sob um argumento original bem gizado, a cargo de Bob Nelson, ilustrado num preto e branco que não apenas expõe contrastes mas se concentra na estrita essência visual, escusando tudo quanto seja acessório ao retrato daquela relação acompanhada com realismo e simpatia. E para o seu bom resultado, contribui a belíssima prestação de Bruce Dern, o protagonista. À nomeação para a Palma de Ouro em Cannes no ano de 2013 e à consagração como melhor ator que aí foi devida a Bruce Dern, somam-se agora a candidatura aos Óscares em seis categorias: melhor filme, realização, argumento original, direção fotográfica, ator principal e atriz secundária – June Squibb, no papel de Kate.
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/nebraska.html

"O cardeal judeu"
O padre José Tolentino Mendonça, biblista e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, e Eliezer di Martino, rabino na sinagoga Shaaré Tikva (Portas da Esperança) de Lisboa vão comentar em conjunto o filme “O cardeal judeu” (“Le métis de Dieu”). Moderado pelo jornalista António Marujo, o encontro agendado para 30 de março marca o encerramento da “Judaica”, 2.ª Mostra de Cinema e Cultura que decorre a partir do dia 27 do mesmo mês no cinema São Jorge, em Lisboa, revela o site da iniciativa. O filme de 90′ realizado em 2012 pelo cineasta francês Ilan Duran Cohen conta «a surpreendente história de Jean-Marie Lustiger, filho de emigrantes judeus polacos em França, que manteve a sua identidade cultural judaica mesmo depois de se converter, ainda jovem, ao catolicismo e de ser ordenado padre».
Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/padre_tolentino_mendonca_e_rabi_eliezer_di_martino_comentam_filme_o_cardeal_judeu.html


 

domingo, 16 de março de 2014

PALAVRA de DOMINGO: contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!

EVANGELHOMt 17,1-9
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão
e levou os, em particular, a um alto monte
e transfigurou Se diante deles:
o seu rosto ficou resplandecente como o sol
e as suas vestes tornaram se brancas como a luz.
E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele.
Pedro disse a Jesus:
«Senhor, como é bom estarmos aqui!
Se quiseres, farei aqui três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés a outra para Elias».
Ainda ele falava,
quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra
e da nuvem uma voz dizia:
«Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus toda a minha complacência. Escutai O».
Ao ouvirem estas palavras,
os discípulos caíram de rosto por terra a assustaram se muito.
Então Jesus aproximou se e, tocando os, disse:
«Levantai vos e não temais».
Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus.
Ao descerem do monte, Jesus deu lhes esta ordem:
«Não conteis a ninguém esta visão,
até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».

AMBIENTE
A secção de Mt 16,21-20,34 é uma catequese sobre o discipulado, como seguimento de Jesus até à cruz. O texto que hoje nos é proposto faz parte dessa catequese.
O relato da transfiguração de Jesus é antecedido do primeiro anúncio da paixão (cf. Mt 16,21-23) e de uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo (convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida – cf. Mt 16,24-28). Depois de terem ouvido falar do “caminho da cruz” e de terem constatado aquilo que Jesus pede aos que o querem seguir, os discípulos estão desanimados e frustrados, pois a aventura em que apostaram parece encaminhar-se para um rotundo fracasso; eles vêem esfumar-se – nessa cruz que irá ser plantada numa colina de Jerusalém – os seus sonhos de glória, de honras, de triunfos e perguntam-se se vale a pena seguir um mestre que nada mais tem para oferecer do que a morte na cruz.
É neste contexto que Mateus coloca o episódio da transfiguração. A cena constitui uma palavra de ânimo para os discípulos (e para os crentes, em geral), pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é – apesar da cruz que se aproxima – o Filho amado de Deus. Os discípulos recebem, assim, a garantia de que o projecto que Jesus apresenta é um projecto que vem de Deus; e, apesar das suas próprias dúvidas, recebem um complemento de esperança que lhes permite “embarcar” e apostar nesse projecto.
Literariamente, a narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. Portanto, o autor do relato vai colocar no quadro que descreve todos os ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus (e que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isto quer dizer o seguinte: não estamos diante de um relato fotográfico de acontecimentos, mas de uma catequese (construída de acordo com o imaginário judaico) destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos homens um projecto que vem de Deus.

MENSAGEM
Esta página de catequese, destinada a ensinar que Jesus é o Filho de Deus e que o projecto que Ele propõe vem de Deus, está construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento. Que elementos são esses?
O monte situa-nos num contexto de revelação: é sempre num monte que Deus Se revela; e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma aliança com o seu Povo.
A mudança do rosto e as vestes de brancura resplandecente recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29), depois de se encontrar com Deus e de ter as tábuas da Lei.
A nuvem, por sua vez, indica a presença de Deus: era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo através do deserto (cf. Ex 40,35; Nm 9,18.22; 10,34).
Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt 18,15-18; Mal 3,22-23).
O temor e a perturbação dos discípulos são a reacção lógica de qualquer homem ou mulher diante da manifestação da grandeza, da omnipotência e da majestade de Deus (cf. Ex 19,16; 20,18-21).
As tendas parecem aludir à “festa das tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.
A mensagem fundamental, amassada com todos estes elementos, pretende dizer quem é Jesus. Recorrendo a simbologias do Antigo Testamento, o autor deixa claro que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é, também, esse Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: ele é um novo Moisés – isto é, aquele através de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a nova lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova aliança.
Da acção libertadora de Jesus, o novo Moisés, irá nascer um novo Povo de Deus. Com esse novo Povo, Deus vai fazer uma nova aliança; e vai percorrer com ele os caminhos da história, conduzindo-o através do “deserto” que leva da escravidão à liberdade.
Esta apresentação tem como destinatários os discípulos de Jesus (esse grupo desanimado e frustrado porque no horizonte próximo do seu líder está a cruz e porque o mestre exige dos discípulos que aceitem percorrer um caminho semelhante). Aponta para a ressurreição, aqui anunciada pela glória de Deus que se manifesta em Jesus, pelas vestes resplandecentes (que lembram as vestes resplandecentes dos anjos que anunciam a ressurreição – cf. Mt 28,3) e pelas palavras finais de Jesus (“não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do Homem ressuscitar dos mortos” – Mt 17,9): diz-lhes que a cruz não será a palavra final, pois no fim do caminho de Jesus (e, consequentemente, dos discípulos que seguirem Jesus) está a ressurreição, a vida plena, a vitória sobre a morte.
Uma palavra final para o desejo – manifestado por Pedro – de construir três tendas no cimo do monte, como se pretendesse “assentar arraiais” naquele quadro. O pormenor pode significar que os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus. Jesus nem responde à proposta: Ele sabe que o projecto de Deus – esse projecto de construir um novo Povo de Deus e levá-lo da escravidão para a liberdade – tem de passar pelo caminho do dom da vida, da entrega total, do amor até às últimas consequências.

ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se partindo das seguintes questões:
A questão fundamental expressa no episódio da transfiguração está na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projecto salvador e libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total de si próprio por amor. Pela transfiguração de Jesus, Deus demonstra aos crentes de todas as épocas e lugares que uma existência feita dom não é fracassada – mesmo se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera, no final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos irmãos.
Na verdade, os homens do nosso tempo têm alguma dificuldade em perceber esta lógica… Para muitos dos nossos irmãos, a vida plena não está no amor levado até às últimas consequências (até ao dom total da vida), mas sim na preocupação egoísta com os seus interesses pessoais, com o seu orgulho, com o seu pequeno mundo privado; não está no serviço simples e humilde em favor dos irmãos (sobretudo dos mais débeis, dos mais marginalizados e dos mais infelizes), mas no assegurar para si próprio uma dose generosa de poder, de influência, de autoridade e de domínio, que dê a sensação de pertencer à categoria dos vencedores; não está numa vida vivida como dom, com humildade e simplicidade, mas numa vida feita um jogo complicado de conquista de honras, de glórias e de êxitos. Na verdade, onde é que está a realização plena do homem? Quem tem razão: Deus, ou os esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos impõem uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
• Por vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a lógica de Deus, seremos sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos a elite dos senhores do mundo e que nunca chegaremos a conquistar o reconhecimento daqueles que caminham ao nosso lado… A transfiguração de Jesus grita-nos, do alto daquele monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
• Os três discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem não ter muita vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, alheados da realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar. No entanto, ser seguidor de Jesus obriga a “regressar ao mundo” para testemunhar aos homens – mesmo contra a corrente – que a realização autêntica está no dom da vida; obriga a atolarmo-nos no mundo, nos seus problemas e dramas, a fim de dar o nosso contributo para o aparecimento de um mundo mais justo e mais feliz. A religião não é um ópio que nos adormece, mas um compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor com o mundo e com os homens.
• A figura de Abraão que nos foi apresentada pelos catequistas de Israel tem sido, ao longo dos tempos, uma figura inspiradora para todos os crentes. Abraão é o homem que encontra Deus, que está atento aos seus sinais e sabe interpretá-los, que responde aos desafios de Deus com uma obediência total e com uma entrega confiada… Esta figura constitui uma interpelação muito forte a esse homem moderno que nunca tem tempo para encontrar Deus nem para perceber os seus sinais, pois está demasiado ocupado a ganhar dinheiro ou a construir a carreira profissional. Eu tenho tempo para me encontrar com Deus, para aprofundar a comunhão com Ele? Preocupo-me em detectar a sua presença, as suas indicações e propostas nos acontecimentos do dia a dia? A minha resposta aos seus desafios é um “sim” incondicional, ou é uma procura de razões para justificar os meus pontos de vista e esquemas pessoais?• A figura de Abraão questiona, também, o homem instalado e comodista, que prefere apostar na segurança do que já tem, em vez de arriscar na novidade de Deus, ou deixar que a Palavra de Deus ponha em causa os seus velhos hábitos, a sua forma de vida e a sua instalação. Estou disposto a mudar, a “pôr-me a caminho” em direcção a essa terra nova da vida plena e autêntica, ou prefiro continuar prisioneiro dos meus esquemas pré-concebidos, dos meus medos, dos meus velhos hábitos, das minhas velhas formas de pensar, de agir e de julgar os outros?