"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























segunda-feira, 21 de setembro de 2015

ESPIRITUALIDADE: Deus, a natureza e nós

O mal é sempre este delírio propositado, aniquilador da consonância entre o bem do criador e o bem da criatura, delírio que nunca é ruína do criador, mas sempre ruína da criatura. Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/Deus_a_natureza_e_nos.html


domingo, 20 de setembro de 2015

PALAVRA de DOMINGO: Contextual​izá-la para bem a entender e melhor vivê-la: LITURGIA & VIDA!

Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro", http://www.paulinas.pt/Product_Detail.aspx?code=1977
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias
6. Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador»
Então:
Tema do 25º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 25º Domingo do Comum convida os crentes a prescindir da “sabedoria do mundo” e a escolher a “sabedoria de Deus”. Só a “sabedoria de Deus” – dizem os textos bíblicos deste domingo – possibilitará ao homem o acesso à vida plena, à felicidade sem fim.
O Evangelho apresenta-nos uma história de confronto entre a “sabedoria de Deus” e a “sabedoria do mundo”. Jesus, imbuído da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projecto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, imbuídos da lógica do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projecto. Jesus avisa-os, contudo, de que só há lugar na comunidade cristã para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço aos irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres.
A segunda leitura exorta os crentes a viverem de acordo com a “sabedoria de Deus”, pois só ela pode conduzir o homem ao encontro da vida plena. Ao contrário, uma vida conduzida segundo os critérios da “sabedoria do mundo” irá gerar violência, divisões, conflitos, infelicidade, morte.
A primeira leitura avisa os crentes de que escolher a “sabedoria de Deus” provocará o ódio do mundo. Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a “sabedoria de Deus”: a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida.

EVANGELHOMc 9,30-37
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia,
mas Ele não queria que ninguém o soubesse;
porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes:
«O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens
e eles vão matá-l’O;
mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará».
Os discípulos não compreendiam aquelas palavras
e tinham medo de O interrogar.
Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa,
Jesus perguntou-lhes:
«Que discutíeis no caminho?»
Eles ficaram calados,
porque tinham discutido uns com os outros
sobre qual deles era o maior.
Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes:
«Quem quiser ser o primeiro será o último de todos
e o servo de todos».
E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles,
abraçou-a e disse-lhes:
«Quem receber uma destas crianças em meu nome
é a Mim que recebe;
e quem Me receber
não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou».
AMBIENTE
Já dissemos no passado domingo que a preocupação essencial de Marcos na segunda parte do seu Evangelho (cf. Mc 8,31-16,8) é apresentar Jesus como “o Filho de Deus”. No entanto, Marcos tem o cuidado de demonstrar que Jesus não veio ao mundo para cumprir um destino de triunfos e de glórias humanas, mas para cumprir a vontade do Pai e oferecer a sua vida em dom de amor aos homens. É neste contexto que devemos situar os três anúncios feitos por Jesus acerca da sua paixão e morte (cf. Mc 8,31-33; 9,30-32; 10,32-34).
O texto que nos é proposto neste domingo é, precisamente, o segundo desses anúncios. O grupo já deixou Cesareia de Filipe (onde Jesus, pela primeira vez, tinha falado da sua paixão e morte, como lemos no Evangelho do passado domingo) e está agora a atravessar a Galileia. Muito provavelmente, a próxima ida para Jerusalém está no horizonte dos discípulos e eles têm consciência de que em Jerusalém se vai jogar a cartada decisiva para esse projecto em que tinham decidido apostar. Nesta fase, todos acreditam ainda que Jesus irá entrar na cidade na pele de um Messias político, poderoso e invencível, capaz de libertar Israel, pela força das armas, do domínio romano.
Ao longo dessa “caminhada para Jerusalém”, Jesus vai catequizando os discípulos, ensinando-lhes os valores do Reino e mostrando-lhes, com gestos concretos, que o projecto do Pai não passa por esquemas de poder e de domínio. O nosso texto faz parte de uma dessas instruções aos discípulos. Será que eles entendem a lógica de Deus e estão dispostos a embarcar, com Jesus, na aventura do Reino?
MENSAGEM
O texto divide-se em duas partes. Na primeira, Jesus anuncia a sua próxima paixão, em Jerusalém; na segunda, Jesus ensina aos discípulos a lógica do Reino: o maior, é aquele que se faz servo de todos.
Na primeira parte (vers. 30-32), Marcos põe na boca de Jesus um segundo anúncio da sua paixão, morte e ressurreição, com palavras ligeiramente diferentes do primeiro anúncio (cf. Mc 8,31-33), mas com o mesmo conteúdo. As palavras de Jesus denotam tranquilidade e uma serena aceitação desses factos que irão concretizar-se num futuro próximo. Jesus recebeu do Pai a missão de propor aos homens um caminho de realização plena, de felicidade sem fim; e Ele vai fazê-lo, mesmo que isso passe pela cruz. A serenidade de Jesus vem-Lhe da total aceitação e da absoluta conformidade com os projectos do Pai.
Os discípulos mantêm-se num estranho silêncio diante deste anúncio. Marcos explica que eles não entendem a linguagem de Jesus e que têm medo de O interrogar (vers. 32). As palavras de Jesus são claras; o que não é claro, para a mentalidade desses discípulos, é que o caminho do Messias tenha de passar pela cruz e pelo dom da vida. A morte, na perspectiva dos discípulos, não pode ser caminho para a vitória. O “não entendimento” é, aqui, o mesmo que discordância: intimamente, eles discordam do caminho que Jesus escolheu seguir, pois acham que o caminho da cruz é um caminho de fracasso. Apesar de discordarem de Jesus eles não se atrevem, contudo, a criticá-l’O. Provavelmente recordam a dura reacção de Jesus quando Pedro, logo a seguir ao primeiro anúncio da paixão, Lhe recomendou que não aceitasse o projecto do Pai (cf. Mc 8,32-33).
A segunda parte (vers. 33-37) situa-nos em Cafarnaum, “em casa” (será a casa de Pedro?). A cena começa com uma pergunta de Jesus: “Que discutíeis pelo caminho?” (vers. 33). O contexto sugere que Jesus sabe claramente qual tinha sido o tema da discussão. Provavelmente, captou qualquer coisa da conversa e ficou à espera da oportunidade certa – na tranquilidade da “casa” – para esclarecer as coisas e para continuar a instrução dos discípulos.
Só neste ponto Marcos informa os seus leitores de que os discípulos tinham discutido, pelo caminho, “sobre qual deles era o maior” (vers. 34). O problema da hierarquização dos postos e das pessoas era um problema sério na sociedade palestina de então. Nas assembleias, na sinagoga, nos banquetes, a “ordem” de apresentação das pessoas estava rigorosamente definida e, com frequência, geravam-se conflitos inultrapassáveis por causa de pretensas infracções ao protocolo hierárquico. Os discípulos estavam profundamente imbuídos desta lógica. Uma vez que se aproximava o triunfo do Messias e iam ser distribuídos os postos-chave na cadeia de poder do reino messiânico, convinha ter o quadro hierárquico claro. Apesar do que Jesus lhes tinha dito pouco antes acerca do seu caminho de cruz, os discípulos recusavam-se a abandonar os seus próprios sonhos materiais e a sua lógica humana.
Jesus ataca o problema de frente e com toda a clareza, pois o que está em jogo afecta a essência da sua proposta. Na comunidade de Jesus não há uma cadeia de grandeza, com uns no cimo e outros na base… Na comunidade de Jesus, só é grande aquele que é capaz de servir e de oferecer a vida aos seus irmãos (vers. 35). Dessa forma, Jesus deita por terra qualquer pretensão de poder, de domínio, de grandeza, na comunidade do Reino. O discípulo que raciocinar em termos de poder e de grandeza (isto é, segundo a lógica do mundo) está a subverter a ordem do Reino.
Jesus completa a instrução aos discípulos com um gesto… Toma uma criança, coloca-a no meio do grupo, abraça-a e convida os discípulos a acolherem as “crianças”, pois quem acolhe uma criança acolhe o próprio Jesus e acolhe o Pai (vers. 36-37). Na sociedade palestina de então, as crianças eram seres sem direitos e que não contavam do ponto de vista legal (pelo menos enquanto não tivessem feito o “bar mitzvah”, a cerimónia que definia a pertença de um rapaz à comunidade do Povo de Deus). Eram, portanto, um símbolo dos débeis, dos pequenos, dos sem direitos, dos pobres, dos indefesos, dos insignificantes, dos marginalizados. São esses, precisamente, que a comunidade de Jesus deve abraçar. No contexto da conversa que Jesus está a ter com os discípulos, o gesto de Jesus significa o seguinte: o discípulo de Jesus é grande, não quando tem poder ou autoridade sobre os outros, mas quando abraça, quando ama, quando serve os pequenos, os pobres, os marginalizados, aqueles que o mundo rejeita e abandona.
No pequeno e no pobre que a comunidade acolhe, é o próprio Jesus (que também foi pobre, débil, indefeso) que Se torna presente.
ACTUALIZAÇÃO
• Os anúncios da paixão testemunham que Jesus, desde cedo, teve consciência de que a missão que o Pai Lhe confiara ia passar pela cruz. Por outro lado, a serenidade e a tranquilidade com que Ele falava do seu destino de cruz mostram uma perfeita conformação com a vontade do Pai e a vontade de cumprir à risca os projectos de Deus. A postura de Jesus é a postura de alguém que vive segundo a “sabedoria de Deus”… Ele nunca conduziu a vida ao sabor dos interesses pessoais, nunca pôs em primeiro lugar esquemas de egoísmo ou de auto-suficiência, nunca Se deixou tentar por sonhos humanos de poder ou de riqueza… Para Ele, o factor decisivo, o valor supremo, sempre foi a vontade do Pai, o projecto de salvação que o Pai tinha para os homens. Nós, cristãos, um dia aderimos a Jesus e aceitamos percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu. Que valor e que significado tem, para nós, essa vontade de Deus que dia a dia descobrimos nos pequenos acidentes da nossa vida? Temos a mesma disponibilidade de Jesus para viver na fidelidade aos projectos do Pai? O que é que dirige e condiciona o nosso percurso: os nossos interesses pessoais, ou os projectos de Deus?
• Neste episódio, os discípulos são o exemplo clássico de quem raciocina segundo a “sabedoria do mundo”. Quando Jesus fala em servir e dar a vida, eles não concordam e fecham-se num silêncio amuado; e logo a seguir, discutem uns com os outros por causa da satisfação dos seus apetites de poder e de domínio. Aquilo que os preocupa não é o cumprimento da vontade de Deus, mas a satisfação dos seus interesses próprios, dos seus sonhos pessoais. A atitude dos discípulos mostra a dificuldade que os homens têm em entender e acolher a lógica de Deus. Contudo, a reacção de Jesus diante de tudo isto é clara: quem quer seguir Jesus tem de mudar a mentalidade, os esquemas de pensamento, os valores egoístas e abrir o coração à vontade de Deus, às propostas de Deus, aos desafios de Deus. Não é possível fazer parte da comunidade de Jesus, se não estivermos dispostos a realizar este processo.
• O Evangelho de hoje convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na sociedade, quer dentro da própria comunidade cristã. A instrução de Jesus aos discípulos que o Evangelho deste domingo nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das tentativas de domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza, das manobras para conquistar honras e privilégios, da busca desenfreada de títulos, da caça às posições de prestígio… Esses comportamentos são ainda mais graves quando acontecem dentro da comunidade cristã: trata-se de comportamentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma alguma, pactuar com a “sabedoria do mundo”; e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.
• Na nossa sociedade, os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se aos valores politicamente correctos… E na comunidade cristã? Quem são os primeiros? As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos. Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
• A atitude de serviço que Jesus pede aos seus discípulos deve manifestar-se, de forma especial, no acolhimento dos pobres, dos débeis, dos humildes, dos marginalizados, dos sem direitos, daqueles que não nos trazem o reconhecimento público, daqueles que não podem retribuir-nos… Seremos capazes de acolher e de amar os que levam uma vida pouco exemplar, os marginalizados, os estrangeiros, os doentes incuráveis, os idosos, os difíceis, os que ninguém quer e ninguém ama?
Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=376
O Evangelho, que nos surpreende com palavras raras, entrega-nos três nomes de Jesus que vão contracorrente – último, servidor, criança -, muito longe da ideia de um Deus omnipotente e omnisciente que herdámos. Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/quando_abracar_uma_crianca_e_abracar_Deus.html

domingo, 13 de setembro de 2015

PALAVRA de DOMINGO: Contextual​izá-la para bem a entender e melhor vivê-la: LITURGIA & VIDA!

Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro", http://www.paulinas.pt/Product_Detail.aspx?code=1977
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias
6. Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador»
Então:
Tema do 24º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum diz-nos que o caminho da realização plena do homem passa pela obediência aos projectos de Deus e pelo dom total da vida aos irmãos. Ao contrário do que o mundo pensa, esse caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à realização plena do homem.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Contudo, o profeta está consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade ao seu projecto, triunfará sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste “servo de Jahwéh” a figura de Jesus.
No Evangelho, Jesus é apresentado como o Messias libertador, enviado ao mundo pelo Pai para oferecer aos homens o caminho da salvação e da vida plena. Cumprindo o plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
A segunda leitura lembra aos crentes que o seguimento de Jesus não se concretiza com belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os irmãos.
EVANGELHOMc 8,27-35
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
Jesus partiu com os seus discípulos
para as povoações de Cesareia de Filipe.
No caminho, fez-lhes esta pergunta:
«Quem dizem os homens que Eu sou?»
Eles responderam:
«Uns dizem João Baptista; outros, Elias;
e outros, um dos profetas».
Jesus então perguntou-lhes:
«E vós, quem dizeis que Eu sou?»
Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias».
Ordenou-lhes então severamente
que não falassem d’Ele a ninguém.
Depois, começou a ensinar-lhes
que o Filho do homem tinha de sofrer muito,
de ser rejeitado pelos anciãos,
pelos sumos sacerdotes e pelos escribas;
de ser morto e ressuscitar três dias depois.
E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas.
Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O.
Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos,
repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás,
porque não compreendes as coisas de Deus,
mas só as dos homens».
E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes:
«Se alguém quiser seguir-Me,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me.
Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á;
mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho,
salvá-la-á».

AMBIENTE
O texto que nos é hoje proposto é um texto central no Evangelho segundo Marcos. Apresenta-nos os últimos versículos da primeira parte (cf. Mc 8,27-30) e os primeiros versículos da segunda parte (cf. Mc 8,31-35) deste Evangelho.
A primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30) tem como objectivo fundamental levar à descoberta de Jesus como o Messias que proclama o Reino de Deus. Ao longo de um percurso que é mais catequético do que geográfico, os leitores do Evangelho são convidados a acompanhar a revelação de Jesus, a escutar as suas palavras e o seu anúncio, a fazerem-se discípulos que aderem à sua proposta de salvação. Este percurso de descoberta do Messias que o catequista Marcos nos propõe termina, em Mc 8,29-30, com a confissão messiânica de Pedro, em Cesareia de Filipe (que é, evidentemente, a confissão que se espera de cada crente, depois de ter acompanhado o percurso de Jesus a par e passo): “Tu és o Messias”.
Depois, vem a segunda parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 8,31-16,8). Nesta segunda parte, o objectivo do catequista Marcos é explicar que Jesus, além de ser o Messias libertador, é também o “Filho de Deus”. No entanto, Jesus não veio ao mundo para cumprir um destino de triunfos e de glórias humanas, mas para oferecer a sua vida em dom de amor aos homens. Ponto alto desta “catequese” é a afirmação do centurião romano junto da cruz (que Marcos convida, implicitamente, os seus cristãos a repetir): “realmente este homem era o Filho de Deus” (Mc 15,39).
Cesareia de Filipe – o quadro geográfico onde o Evangelho de hoje nos coloca – era uma cidade situada no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão (na zona da actual Bânias). Tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.

MENSAGEM
O nosso texto apresenta, portanto, duas partes bem distintas. Na primeira, Pedro dá voz à comunidade dos discípulos e constata que Jesus é o Messias libertador que Israel esperava; na segunda, Jesus explica aos discípulos que a sua missão messiânica deve ser entendida à luz da cruz (isto é, como dom da vida aos homens, por amor).
A primeira parte do nosso texto (vers. 27-30) começa com Jesus a pôr uma dupla questão aos discípulos: o que é que as pessoas dizem d’Ele e o que é que os próprios discípulos pensam d’Ele?
A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Baptista”, “Elias”, ou “algum dos profetas”). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem apenas que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspectiva dos “homens”, Jesus é apenas um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele (vers. 28). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade de Jesus, nem a profundidade do seu mistério.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Messias” (vers. 29). Dizer que Jesus é o “Messias” (o Cristo) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva.
A resposta de Pedro estava correcta. No entanto, podia prestar-se a graves equívocos, numa altura em que o título de Messias estava conotado com esperanças político-nacionalistas. Por isso, os discípulos recebem ordens para não falarem disso a ninguém. Era preciso clarificar, depurar e completar a catequese sobre o Messias e a sua missão, para evitar perigosos equívocos. É isso que Jesus vai fazer, logo de seguida.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 31-35), há duas questões. A primeira (vers. 31-33) é a explicação dada pelo próprio Jesus de que o seu messianismo passa pela cruz; a segunda (vers. 34-35) é uma instrução sobre o significado e as exigências de ser discípulo de Jesus.
Jesus começa, portanto, por anunciar que o seu caminho vai passar pelo sofrimento e pela morte na cruz (vers. 31-33). Não é uma previsão arriscada: depois do confronto de Jesus com os líderes judeus e depois que estes rejeitaram de forma absoluta a proposta do Reino, é evidente que o judaísmo medita a eliminação física de Jesus. Jesus tem consciência disso; no entanto, não se demite do projecto do Reino e anuncia que pretende continuar a apresentar, até ao fim, os planos do Pai.
Pedro não está de acordo com este final e opõe-se, decididamente, a que Jesus caminhe em direcção ao seu destino de cruz. A oposição de Pedro (e dos discípulos, pois Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade) significa que a sua compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Jesus dirige-se a Pedro com alguma dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam a sua perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio; mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas consequências (de que a cruz é a expressão mais radical). Ao pedir a Jesus que não embarque nos projectos do Pai, Pedro está a repetir essas tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério (cf. Mc 1,13); por isso, Jesus responde a Pedro: “Vai-te, Satanás”. As palavras de Pedro pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que O impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projectos de Deus.
Depois de anunciar o seu destino (que será cumprido, em obediência ao plano do Pai, no dom da própria vida em favor dos homens), Jesus convida os seus discípulos a seguir um percurso semelhante… Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no caminho do amor, da entrega e do dom da vida.
O que é que significa, exactamente, renunciar a si mesmo? Significa renunciar ao seu egoísmo e auto-suficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projectos de riqueza, de segurança, de bem estar, de domínio, de êxito, de triunfo… O cristão deve fazer da sua vida um dom generoso a Deus e aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino.
O que é que significa “tomar a cruz” de Jesus e segui-l’O? A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida – de forma total e completa – por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
No final desta instrução, Jesus explica aos discípulos as razões pelas quais eles devem abraçar a “lógica da cruz”. Convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos, não fracassou; mas ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas (vers. 35).

ACTUALIZAÇÃO
• Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “status quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi apenas um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
• “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim? Ele é o Messias libertador, que o Pai enviou ao meu encontro com uma proposta de salvação e de vida plena?
• Frente a frente o Evangelho deste domingo coloca a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa. A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade. Na minha vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de felicidade seguro e duradouro?
• Jesus tornou-se um de nós para concretizar os planos do Pai e propor aos homens – através do amor, do serviço, do dom da vida – o caminho da salvação, da vida verdadeira. Neste texto (como, aliás, em muitos outros), fica claramente expressa a fidelidade radical de Jesus a esse projecto. Por isso, Ele não aceita que nada nem ninguém O afastem do caminho do dom da vida: dar ouvidos à lógica do mundo e esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele rejeita duramente. Que significado e que lugar ocupam na minha vida os projectos de Deus? Esforço-me por descobrir a vontade de Deus a meu respeito e a respeito do mundo? Estou atento a esses “sinais dos tempos” através dos quais Deus me interpela? Sou capaz de acolher e de viver com fidelidade e radicalidade as propostas de Deus, mesmo quando elas são exigentes e vão contra os meus interesses e projectos pessoais?
• Quem são os verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de nós receberam uma catequese que insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o essencial: o seguimento de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser baptizado, ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia, ou dar-se bem com o padre… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus.
• O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.

• O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.
Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=375


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

REFLEXÃO/MEDITAÇÃO/ATENÇÃO: Família e testemunho: Nas cidades há muitos divertimentos, mas falta amor; saiamos das torres e voltemos aos espaços abertos

A sabedoria dos afetos que não se compram e não se vendem é o melhor dote do génio familiar. Precisamente na família aprendemos a crescer naquela atmosfera de sabedoria dos afetos. A sua "gramática" aprende-se aí; de outro modo, é muito difícil aprendê-la. E é precisamente esta a linguagem através da qual Deus se faz compreender por todos. Ler mais em
http://www.snpcultura.org/nas_cidades_falta_amor.html

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

ESPIRITUALIDADE: Deus basta

Seria belo se, pelo menos neste dia festivo, o cristão entrasse na igreja não para pedir alguma coisa, mas apenas para escutar Deus. Ler mais em:
http://www.snpcultura.org/Deus_basta.html

CINEMA: "Estações da Cruz"

Não é sem algum embaraço que assistimos a "Estações da Cruz". O redutor simplismo com que nos vamos colocando as questões da fé e da experiência dessa fé no concreto da vida é fortemente abalado pela, ela sim, simplicidade cortante deste filme. Por apenas 14 planos fixos, um por cada estação da Via Crucis, acompanhamos a trágica jornada espiritual de Maria. Ler mais em

http://www.snpcultura.org/estacoes_da_cruz.html