"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 24 de junho de 2012

PALAVRA de DOMINGO (dia de São João): há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

Leituras & missa

EVANGELHOLc 1,57-66.80
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
chegou a altura de Isabel ser mãe e deu à luz um filho.
Os seus vizinhos e parentes souberam
que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício
e congratularam-se com ela.
Oito dias depois,
vieram circuncidar o menino
e deram-lhe o nome do pai, Zacarias.
Mas a mãe interveio e disse:
«Não, Ele vai chamar-se João».
Disseram-lhe:
«Não há ninguém da tua família que tenha esse nome».
Perguntaram então ao pai, por meio de sinais,
como queria que o menino se chamasse.
O pai pediu uma tábua e escreveu:
«O seu nome é João».
Todos ficaram admirados.
Imediatamente se lhe abriu a boca
e se lhe soltou a língua e começou a falar,
bendizendo a Deus.
Todos os vizinhos se encheram de temor
e por toda a região montanhosa da Judeia
se divulgaram estes factos.
Quantos os ouviam contar
guardavam-nos em seu coração e diziam:
«Quem virá a ser este menino?»
Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.
O menino ia crescendo
e o seu espírito fortalecia-se.
E foi habitar no deserto
até ao dia em que se manifestou a Israel.
AMBIENTE
O “Evangelho da Infância”, na versão de Lucas, põe em paralelo as figuras de João e de Jesus (ao anúncio do nascimento de João – cf. Lc 1,5-25 – corresponde o anúncio do nascimento de Jesus – cf. Lc 1,26-38; à história do nascimento de João – cf. Lc 1,57-80 – corresponde a história do nascimento de Jesus – cf. Lc 2,1-21). Este paralelismo serve para iluminar a relação existente entre os dois – uma relação que a reflexão eclesial foi aprofundando e ampliando desde as tradições mais antigas.
Na época em que Lucas escreve, as comunidades cristãs conhecem os discípulos de João, cuja actividade proselitista chegou à Ásia Menor (cf. Act 18,24-19,7). Provavelmente, havia quem confundia João com o Messias… Neste contexto, a comunidade lucana quis deixar claro o papel relevante de João na economia da salvação mas, ao mesmo tempo, afirmar a subordinação de João a Jesus… A superioridade de Jesus em relação a João está, aliás, bem patente na diferença entre o relato do anúncio do nascimento de João e o relato do anúncio do nascimento de Jesus; está também patente no encontro de Maria com Isabel, em que a própria mãe de João proclama Maria como a mãe do seu Senhor, reconhecendo a inferioridade do seu filho em relação a Jesus (cf. Lc 1,39-45); está, ainda, patente no relevo dado pelo evangelista ao relato do nascimento de Jesus (que é longo, rico de pormenores e está carregado de teologia) em detrimento do relato do nascimento de João (que é contado em poucas linhas, sem grande riqueza de detalhes).
MENSAGEM
O relato começa com a descrição do quadro de alegria que acolheu o nascimento do filho de Zacarias e de Isabel (vers. 57-58). A alegria – um dos elementos característicos da teologia de Lucas – significa que chegaram os tempos novos, os tempos do cumprimento das promessas de Deus, o tempo da misericórdia de Deus.
Por alturas da circuncisão (no oitavo dia depois do nascimento, data legal da circuncisão, segundo Gn 17,12 e Lv 12,3), põe-se a questão do nome que irá ser dado ao menino (no Antigo Testamento, o nome é dado à nascença – cf. Gn 4,1; 21,3; 25,25-26; mas aqui aparece o costume helenista, assumido pelo judaísmo mais recente). Os vizinhos e parentes dão como adquirido que o menino se chamará como o pai. No entanto, Isabel e Zacarias escolhem um outro nome: João (sugerido pelo anjo, aquando do anúncio do nascimento do menino – cf. Lc 1,13). O nome significa literalmente “o Senhor concede graça”: o menino é um “dom de Deus” e o primeiro sinal da graça que Deus vai derramar sobre os homens, através do Messias que está para chegar. Por outro lado, o acordo da mãe e do pai sobre um nome que não era familiar aparece como divinamente inspirado.
Diante do nascimento de João, Lucas nota o espanto e o temor de todos os presentes. O espanto (vers. 63) é a reacção habitual das multidões diante dos milagres (cf. Lc 8,25.56; 9,43; 11,14; Act 3,10) e de outras manifestações divinas (cf. Lc 24,12.41; Act 2,7); o “temor” (vers. 65) define a atitude normal do homem diante do mistério, do transcendente, do divino (Lucas fará referência ao “temor” diante das revelações – cf. Lc 2,9; 9,34 – dos milagres – cf. Lc 5,26; 7,16; 8,25.37; 24,5.37 – e de outras intervenções divinas – cf. Act 5,5.11; 19,17).
O quadro completa-se com a indicação de que, “de facto, a mão do Senhor estava com ele” (vers. 66). A expressão inspira-se no Antigo Testamento, onde serve para exprimir a protecção de Deus sobre os seus fiéis (cf. Sal 80,18; 139,5) e a sua acção sobre os profetas (cf. 1 Re 18,46; 2 Re 3,15; Ez 1,3; 3,14.22; 8,1). Aqui, significa que João tem a protecção de Deus e que Deus age nele. Tudo isto define um quadro de intervenção e de presença de Deus, mostrando que toda a existência de João se compreende à luz da iniciativa divina.
No final da leitura (vers. 80a), apresenta-se uma fórmula usada para resumir a infância de certas figuras que desempenharam papéis de referência na história do Povo de Deus (Sansão – cf. Jz 13,24-25; Samuel – cf. 1 Sm 2,26). Há também uma referência à ida de João para o deserto (vers. 80b); deserto é o lugar onde Israel fez a sua experiência de encontro com o Deus libertador, onde sentiu de forma especial o amor de Deus e onde o Povo assumiu o compromisso da aliança: é essa experiência que João vai fazer, para depois a apresentar ao seu Povo. Além disso, a referência ao deserto prepara a próxima aparição de João no Evangelho, cerca de trinta anos depois (cf. Lc 3,1-3).
No relato transparece, de forma especial, a centralidade de Deus em todo o processo. João é um “dom de Deus”, vem com uma missão de Deus e é um sinal da presença de Deus no meio do seu Povo.
ACTUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar as seguintes linhas:
• A história de João fala-nos, em primeiro lugar, de um Deus que ama os homens e que tem para lhes oferecer um projecto de salvação e de vida plena; é por isso que Ele inventa formas humanas de vir ao encontro dos homens, de lhes fazer chegar a sua Palavra e as suas propostas, de os questionar e interpelar com a Palavra profética… Ao celebrar esta solenidade, estamos a celebrar o Deus/amor, que se revela na figura do profeta João. Eu tenho sido sempre, para os meus irmãos, um “dom de Deus”, um sinal vivo e profético do Deus que os ama e que lhes oferece a salvação? Os “vizinhos e parentes” encontram em mim a manifestação de Deus?
• No relato do nascimento de João, transparece a centralidade de Deus na vida do profeta, desde o seio materno. O profeta é um homem de Deus, cuja vida tem origem em Deus, cuja vocação só faz sentido à luz de Deus, cujo alimento é o próprio Deus, cujas palavras são palavras de Deus. Tenho consciência de que Deus tem de estar no centro da minha vida e que a minha vocação profética só faz sentido se eu aceitar viver numa ligação “umbilical” com Deus?
• Embora os textos de hoje não refiram essa dimensão, convém, nesta solenidade, reflectir acerca da forma como João Baptista viveu a sua missão profética. São particularmente questionantes o seu despojamento, a sua radicalidade, a sua entrega total à missão, a coragem com que ele enfrentou os poderosos, a sua capacidade de dar a vida para defender a verdade. Estas características fazem parte do “caminho profético”.
• No relato de Lucas, fica bem expressa a diferença entre João e Jesus… João não é a salvação; ele veio, apenas, dar testemunho da chegada iminente da salvação. O profeta precisa de ter consciência do seu papel e do seu lugar: ele não é “a luz”; a sua missão não é levar os homens a aderir à sua pessoa, mas à pessoa de Jesus. O profeta deve ter cuidado para não usurpar, nunca, o lugar de Deus.
• Apesar do sofrimento, das perseguições, dos fracassos, a missão do profeta é ser “luz das nações”, para que a salvação de Deus “chegue aos confins da terra”. O meu programa de vida é, verdadeiramente, ser uma luz que ilumina o mundo e que dá esperança aos homens? Os pobres, os marginalizados, os excluídos, os humildes, os explorados, os injustiçados encontram em mim o testemunho da salvação de Deus que os liberta e que os salva?
• Para que a Palavra proclamada seja Palavra de Deus, é necessário que eu viva uma relação de comunhão e de intimidade com Deus: só nesse diálogo serei impregnado da vida de Deus, me aperceberei dos projectos de Deus e poderei anunciá-los aos homens. Vivo nesta relação próxima, dialogante, com Deus? Aquilo que transmito e proclamo são Palavras de Deus, ou são as minhas palavras, os meus esquemas, os meus interesses pessoais?
• O profeta é alguém chamado a testemunhar Deus no meio dos homens, mesmo quando os homens preferem ignorar Deus e edificar a sua vida à margem de Deus. João Baptista, o profeta, assumiu plenamente a missão de testemunhar Deus: convocou os homens para o encontro com o Deus incarnado, convidou os homens a despirem o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, a violência, a ganância, e a preparar o coração para acolher a proposta de salvação que Deus veio fazer, em Jesus. Este programa não perdeu actualidade: o apelo à conversão, à revolução das mentalidades e das atitudes e o convite a acolher a libertação que Deus nos oferece continuam a fazer sentido e a ser o núcleo essencial do anúncio profético. É este o meu programa?
• O profeta é um instrumento simples, limitado e frágil, através de quem Deus age no mundo. Isto revela, por um lado, que Deus se manifesta na simplicidade e na fraqueza e que é aí que devemos procurá-l’O (Ele nunca está no poder, na riqueza, na força, na prepotência, na imposição); isto revela, por outro lado, que o profeta não tem de que se orgulhar ou envaidecer: não são as suas qualidades que são determinantes, mas sim a acção de Deus.
• O “caminho profético” não passa por concentrar em si próprio a atenção das multidões, exibir-se e receber a adoração das pessoas, ser admirado e aclamado, conseguir sucesso e aparecer nas revistas sociais, promover a imagem e tratar por tu os que mandam no mundo, exibir brilhantes qualidades e criar clubes de fãs. O profeta é o “servo” de Deus, que se esconde atrás do cenário enquanto aponta os focos para Deus e cuja função é fazer incidir em Deus os olhos dos homens… Não é o profeta que deve aparecer; mas, nele, é Deus que os homens devem encontrar.


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