"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 18 de outubro de 2015

PALAVRA de DOMINGO: Contextual​izá-la para bem a entender e melhor vivê-la: LITURGIA & VIDA!

Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro", http://www.paulinas.pt/Product_Detail.aspx?code=1977
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias
6. Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador»
Então:
Tema do 29º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum lembra-nos, mais uma vez, que a lógica de Deus é diferente da lógica do mundo. Convida-nos a prescindir dos nossos projectos pessoais de poder e de grandeza e a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos. É no amor e na entrega de quem serve humildemente os irmãos que Deus oferece aos homens a vida eterna e verdadeira.
A primeira leitura apresenta-nos a figura de um “Servo de Deus”, insignificante e desprezado pelos homens, mas através do qual se revela a vida e a salvação de Deus. Lembra-nos que uma vida vivida na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada; mas é uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará libertação e esperança ao mundo e aos homens.
No Evangelho, Jesus convida os discípulos a não se deixarem manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a fazerem da sua vida um dom de amor e de serviço. Chamados a seguir o Filho do Homem “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida”, os discípulos devem dar testemunho de uma nova ordem e propor, com o seu exemplo, um mundo livre do poder que escraviza.
Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus fala-nos de um Deus que ama o homem com um amor sem limites e que, por isso, está disposto a assumir a fragilidade dos homens, a descer ao seu nível, a partilhar a sua condição. Ele não Se esconde atrás do seu poder e da sua omnipotência, mas aceita descer ao encontro homens para lhes oferecer o seu amor.
EVANGELHOMc 10,35-45
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
Tiago e João, filhos de Zebedeu,
aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe:
«Mestre, nós queremos que nos faças o que Te vamos pedir».
Jesus respondeu-lhes:
«Que quereis que vos faça?»
Eles responderam:
«Concede-nos que, na tua glória,
nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda».
Disse-lhes Jesus:
«Não sabeis o que pedis.
Podeis beber o cálice que Eu vou beber
e receber o baptismo com que Eu vou ser baptizado?»
Eles responderam-Lhe: «Podemos».
Então Jesus disse-lhes:
«Bebereis o cálice que Eu vou beber
e sereis baptizados com o baptismo
com que Eu vou ser baptizado.
Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda
não Me pertence a Mim concedê-lo;
é para aqueles a quem está reservado».
Os outros dez, ouvindo isto,
começaram a indignar-se contra Tiago e João.
Jesus chamou-os e disse-lhes:
«Sabeis que os que são considerados como chefes das nações
exercem domínio sobre elas
e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder.
Não deve ser assim entre vós:
Quem entre vós quiser tornar-se grande,
será vosso servo,
e quem quiser entre vós ser o primeiro,
será escravo de todos;
porque o Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir
e dar a vida pela redenção de todos».
AMBIENTE
Continuamos a percorrer, com Jesus e com os discípulos, o caminho para Jerusalém. Marcos observa que, nesta fase, Jesus vai à frente e os discípulos seguem-n’O “cheios de temor” (cf. Mc 10,32). Haverá aqui alguma má vontade dos discípulos, por causa das últimas polémicas e das exigências radicais de Jesus? Este “temor” resultará do facto de Jesus se aproximar do seu destino final, em Jerusalém, destino que o grupo não aprova? Seja como for, Jesus continua a sua catequese e, mais uma vez (é a terceira, no curto espaço de poucos dias), lembra aos discípulos que, em Jerusalém, vai ser entregue nas mãos dos líderes judaicos e vai cumprir o seu destino de cruz (cf. Mc 10,33-34). Desta vez, não há qualquer reacção dos discípulos.
Já observámos, no passado domingo, que o caminho percorrido por Jesus e pelos discípulos é, além de um caminho geográfico, também um caminho espiritual. Durante esse caminho, Jesus vai completando a sua catequese aos discípulos sobre as exigências do Reino e as condições para integrar a comunidade messiânica. A resposta dos discípulos às propostas que Jesus lhes vai fazendo nunca é demasiado entusiasta.
O texto que nos é proposto desta vez demonstra que os discípulos continuam sem perceber – ou sem querer perceber – a lógica do Reino. Eles ainda continuam a raciocinar em termos de poder, de autoridade, de grandeza e vêem na proposta do Reino apenas uma oportunidade de realizar os seus sonhos humanos.
MENSAGEM
Na primeira parte do nosso texto (vers. 35-40), apresenta-se a pretensão de Tiago e de João, os filhos de Zebedeu, no sentido de se sentarem, no Reino que vai ser instaurado, “um à direita e outro à esquerda” de Jesus. A questão nem sequer é apresentada como um pedido respeitoso; mas parece mais uma reivindicação de quem se sente com direito inquestionável a um privilégio. Certamente Tiago e João imaginam o Reino que Jesus veio propor de acordo com Dn 7,13-14 e querem assegurar nesse Reino poderoso e glorioso, desde logo, lugares de honra ao lado de Jesus. O facto mostra como Tiago e João, mesmo depois de toda a catequese que receberam durante o caminho para Jerusalém, ainda não entenderam nada da lógica do Reino e ainda continuam a reflectir e a sentir de acordo com a lógica do mundo. Para eles, o que é importante é a realização dos seus sonhos pessoais de autoridade, de poder e de grandeza.
Uma vez mais Jesus vê-se obrigado a esclarecer as coisas. Em primeiro lugar, Jesus avisa os discípulos de que, para se sentarem à mesa do Reino, devem estar dispostos a “beber o cálice” que Ele vai beber e a “receber o baptismo” que Ele vai receber. O “cálice” indica, no contexto bíblico, o destino de uma pessoa; ora, “beber o mesmo cálice” de Jesus significa partilhar esse destino de entrega e de dom da vida que Jesus vai cumprir. O “receber o mesmo baptismo” evoca a participação e imersão na paixão e morte de Jesus (cf. Rom 6,3-4; Col 2,12). Para fazer parte da comunidade do Reino é preciso, portanto, que os discípulos estejam dispostos a percorrer, com Jesus, o caminho do sofrimento, da entrega, do dom da vida até à morte. Apesar de Tiago e João manifestarem, com toda a sinceridade, a sua disponibilidade para percorrer o caminho do dom da vida, Jesus não lhes garante uma resposta positiva à sua pretensão… Jesus evita associar o cumprimento da missão e a recompensa, pois o discípulo não pode seguir determinado caminho ou embarcar em determinado projecto por cálculo ou por interesse; de acordo com a lógica do Reino, o discípulo é chamado a seguir Jesus com total gratuidade, sem esperar nada em troca, acolhendo sempre como graças não merecidas os dons de Deus.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 41-45), temos a reacção dos discípulos à pretensão dos dois irmãos e uma catequese de Jesus sobre o serviço.
A reacção indignada dos outros discípulos ao pedido de Tiago e de João indica que todos eles tinham as mesmas pretensões. O pedido de Tiago e de João a Jesus aparece-lhes, portanto, como uma “jogada de antecipação” que ameaça as secretas ambições que todos eles guardavam no coração.
Jesus aproveita a circunstância para reiterar o seu ensinamento e para reafirmar a lógica do Reino. Começa por recordar-lhes o modelo dos “governantes das nações” e dos grandes do mundo (vers. 42): eles afirmam a sua autoridade absoluta, dominam os povos pela força e submetem-nos, exigem honras, privilégios e títulos, promovem-se à custa da comunidade, exercem o poder de uma forma arbitrária… Ora, este esquema não pode servir de modelo para a comunidade do Reino. A comunidade do Reino assenta sobre a lei do amor e do serviço. Os seus membros devem sentir-se “servos” dos irmãos, apostados em servir com humildade e simplicidade, sem qualquer pretensão de mandar ou de dominar. Mesmo aqueles que são designados para presidir à comunidade devem exercer a sua autoridade num verdadeiro espírito de serviço, sentindo-se servos de todos. Excluindo do seu universo qualquer ambição de poder e de domínio, os membros da comunidade do Reino darão testemunho de um mundo novo, regido por novos valores; e ensinarão os homens que com eles se cruzarem nos caminhos da vida a serem verdadeiramente livres e felizes.
Como modelo desta nova atitude, Jesus propõe-Se a Si próprio: Ele apresenta-Se como “o Filho do Homem que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos” (vers. 45). De facto, toda a vida de Jesus pode ser entendida em chave de amor e serviço. Desde o primeiro instante da incarnação, até ao último momento da sua caminhada nesta terra, Ele pôs-se ao serviço do projecto do Pai e fez da sua vida um dom de amor aos homens. Ele nunca Se deixou seduzir por projectos pessoais de ambição, de poder, de domínio; mas apenas quis entregar toda a sua vida ao serviço dos homens, a fim de que os homens pudessem encontrar a vida plena e verdadeira.
O fruto da entrega de Jesus é o “resgate” (“lytron”) da humanidade. A palavra aqui usada indica o “preço” pago para resgatar um escravo ou um prisioneiro. Atendendo ao contexto, devemos pensar que o resgate diz respeito à situação de escravidão e de opressão a que a humanidade está submetida. Ao dar a sua vida (até à última gota de sangue) para propor um mundo livre da ambição, do egoísmo, do poder que escraviza, Jesus pagou o “preço” da nossa libertação. Com Ele e por Ele nasce, portanto, uma comunidade de “servos”, que são testemunhas no mundo de uma ordem nova – a ordem do Reino.
ACTUALIZAÇÃO
• No centro deste episódio está Jesus e o modelo que Ele propõe, com o exemplo da sua vida. A frase “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos” (Mc 10,45) resume admiravelmente a existência humana de Jesus… Desde o primeiro instante, Ele recusou as tentações da ambição, do poder, da grandeza, dos aplausos das multidões; desde o primeiro instante, Ele fez da sua vida um serviço aos pobres, aos desclassificados, aos pecadores, aos marginalizados, aos últimos. O ponto culminante dessa vida de doação e de serviço foi a morte na cruz – expressão máxima e total do seu amor aos homens. É preciso que tenhamos a consciência de que este valor do serviço não é um elemento acidental ou acessório, mas um elemento essencial na vida e na proposta de Jesus… Ele veio ao mundo para servir e colocou o serviço simples e humilde no centro da sua vida e do seu projecto. Trata-se de algo que não pode ser ignorado e que tem de estar no centro da experiência cristã. Nós, seguidores de Jesus, devemos estar plenamente conscientes desta realidade.
• O episódio que nos é hoje proposto como Evangelho mostra, contudo, a dificuldade que os discípulos têm em entender e acolher a proposta de Jesus. Para Tiago, para João e para os outros discípulos, o que parece contar é a satisfação dos próprios sonhos pessoais de grandeza, de ambição, de poder, de domínio. Não os preocupa fazer da vida um serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; preocupa-os ocupar os primeiros lugares, os lugares de honra… Jesus, de forma simples e directa, avisa-os de que a comunidade do Reino não pode funcionar segundo os modelos do mundo. Aqui não há meio-termo: quem não for capaz de renunciar aos esquemas de egoísmo, de ambição, de domínio, para fazer da própria vida um serviço e um dom de amor, não pode ser discípulo desse Jesus que veio para servir e para dar a vida.
• Ao apresentar as coisas desta forma, o nosso texto convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na família, quer na escola, quer no trabalho, quer na sociedade. A instrução de Jesus aos discípulos que o Evangelho deste domingo nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das tentativas de domínio sobre aqueles que vivem e caminham a nosso lado, dos sonhos de grandeza, das manobras patéticas para conquistar honras e privilégios, da ânsia de protagonismo, da busca desenfreada de títulos, da caça às posições de prestígio… O cristão tem, absolutamente, de dar testemunho de uma ordem nova no seu espaço familiar, colocando-se numa atitude de serviço e não numa atitude de imposição e de exigência; o cristão tem de dar testemunho de uma nova ordem no seu espaço laboral, evitando qualquer atitude de injustiça ou de prepotência sobre aqueles que dirige e coordena; o cristão tem sempre de encarar a autoridade que lhe é confiada como um serviço, cumprido na busca atenta e coerente do bem comum…
• Na comunidade cristã encontramos também, com muita frequência, a tentação de nos organizarmos de acordo com princípios de poder, de autoridade, de predomínio, à boa maneira do mundo. Sabemos, pela história, que sempre que a Igreja tentou esses caminhos, afastou-se da sua missão, deu um testemunho pouco credível e tornou-se escândalo para tantos homens e mulheres bem intencionados… Por outro lado, testemunhamos todos os dias, nas nossas comunidades cristãs, como os comportamentos prepotentes criam divisões, rancores, invejas, afastamentos… Que não restem dúvidas: a autoridade que não é amor e serviço é incompatível com a dinâmica do Reino. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma alguma, pactuar com a lógica do mundo; e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.
Na nossa sociedade, os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se aos valores politicamente correctos… E na comunidade cristã? Quem são os primeiros? As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos. Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
• A atitude de serviço que Jesus pede aos seus discípulos deve manifestar-se, de forma especial, no acolhimento dos pobres, dos débeis, dos humildes, dos marginalizados, dos sem direitos, daqueles que não nos trazem o reconhecimento público, daqueles que não podem retribuir-nos… Seremos capazes de acolher e de amar os que levam uma vida pouco exemplar, os marginalizados, os estrangeiros, os doentes incuráveis, os idosos, os difíceis, os que ninguém quer e ninguém ama?

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