"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























segunda-feira, 14 de maio de 2012

A outra "Santíssima Trindade"

ANSELMO BORGES
por ANSELMO BORGES, in Diário de Notícias, 12 de Maio de 2012

Salvo excelentes excepções, como Frei Bento Domingues, os teólogos em Portugal não se pronunciam sobre a crise económico-financeira. Não é o caso dos teólogos em Espanha. Alguns exemplos.
1. J. I. González Faus, da Faculdade de Teologia da Catalunha, faz uma crítica acérrima à presente situação. Voltando ao documentário célebre Inside Job, num artigo ácido que intitula "Agencias de rating o de raping?", denuncia os Bancos de investimento que vendiam activos tóxicos, sabendo-o. Lá estavam os peritos da Moody's e Standard and Poors, dizendo: "são AAA (fiabilidade máxima)." Deste modo, as três agências (Moody's, S & P e Fitch) ganharam milhões. Elas poderiam ter terminado a festa, dizendo: vamos ajustar os critérios. Mas não; pelo contrário, deram triplo A a Madoff, dias antes da sua queda. Meses antes da derrocada de Lehman Bro- thers, o próprio FMI declarou que estava "em boa situação financeira e os riscos parecem baixos".
Por isso, na arbitragem das agências, ao contrário do que deveria suceder, "é preciso partir do pressuposto da sua parcialidade e desonestidade, a não ser que se prove o contrário". O problema é que vivemos num sistema montado sobre a agressão do capital insaciável. "Se o Banco me emprestar dinheiro e eu o não devolver, tem direito a ficar com o que é meu e a continuar a exigir-me mais. Os que colocaram o seu dinheiro numa Caixa ou num Banco, se estes o não devolverem, não têm direito a nada." Cita o Papa João Paulo II: "A Igreja ensina a prioridade do trabalho frente ao capital: o trabalho sempre é uma causa eficiente primária enquanto o capital é só um instrumento." Mas comenta: "Isto só está em vigor a partir de uma ideia de Deus que nem os bispos partilham." E acrescenta: "Visto de Wall Street, o trabalhador é apenas uma ferramenta. E as ferramentas não têm dignidade."
A quem lhe atira que é um ignorante ou analfabeto económico responde: "Tive uma irmã gémea que morreu de cancro por culpa de uma clara falha médica. Quando lhe foi comunicado o diagnóstico fatal, limitou-se a dizer: 'Eu não saberei de medicina, mas quando digo que algo me dói é porque dói; mas ao médico não doía'. Receio que aos nossos médicos económicos lhes não dói."
2. José M. Castillo, da Universidade de Granada, pergunta: "Quem são os mercados?" O que se sabe é que, uma vez que o que interessa é o lucro, as pessoas investem somas fabulosas no capital financeiro e, neste momento, "ninguém sabe até onde chega a montanha imensa de dinheiro que os mercados manejam". O que é facto é que o movimento de capitais financeiros se move pelo mundo sem qualquer controlo, e um indivíduo, a partir de casa, com o seu computador, pode transtornar e afundar a estabilidade económica e as poupanças de milhões de pessoas.
Que fazer? Afinal, "a corrupção maior e mais perigosa não é a desta ou daquela pessoa, deste ou daquele político, desta ou daquela empresa. A corrupção mais grave é a corrupção do sistema económico em que estamos metidos", que enriquece mais os ricos e empobrece mais os pobres. Quem manda no mundo não são os políticos, mas a economia e a finança. "É urgente que nós todos pressionemos, cada um como puder e sempre com a mais transparente honradez, os que gerem o poder económico e político, para que regulem e controlem os mercados, aumente a produtividade e, em todo o caso, que o que se produz não beneficie tanto uns poucos à custa da ruína dos outros."
3. Xabier Pikaza, da Universidade de Salamanca, reflecte sobre a nova Trindade, frente à Trindade cristã. "A Trindade cristã era formada por Deus Pai, o Filho Jesus Cristo (que éramos todos os seres humanos) e o Espírito Santo (que era a comunhão ou amor entre Deus e os seres humanos, entre todos os seres humanos). Mas agora surgiu uma Trindade diferente, formada por Deus-Capital (que não é Pai, mas monstro que tudo devora), pelo Filho-Empresa, que não redime, mas produz bens de consumo ao serviço dos privilegiados do sistema, e pelo Espírito Santo-Mercado, que não é comunhão de amor, mas forma de domínio de uns sobre os outros."

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