"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 20 de março de 2016

PALAVRA DE DOMINGO: Contextual​izá-la para bem a entender e melhor vivê-la: LITURGIA & VIDA!


Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro", http://www.paulinas.pt/Product_Detail.aspx?code=1977
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias
6. Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador»
Então:
Tema do Domingo de Ramos
 A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projectos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz revela-se o amor de Deus, esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
EVANGELHO – Lc 22,14-23,56 (forma longa) ou Lc 23,1-49 (forma breve) 
N        Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 
N        Quando chegou a hora,
          Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos
          e disse-lhes:
J        «Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa,
          antes de padecer;
          pois digo-vos que não tornarei a comê-la,
          até que se realize plenamente no reino de Deus».
N        Então, tomando um cálice, deu graças e disse:
J        «Tomai e reparti entre vós,
          pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira,
          até que venha o reino de Deus».
N        Depois tomou o pão e, dando graças,
          partiu-o e deu-lho, dizendo:
J        «Isto é o meu corpo entregue por vós.
          Fazei isto em memória de Mim».
N        No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo:
J        «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue,
          derramado por vós.
          Entretanto, está comigo à mesa
          a mão daquele que Me vai entregar.
          O Filho do homem vai partir, como está determinado.
          Mas ai daquele por quem Ele vai ser entregue!»
N        Começaram então a perguntar uns aos outros
          qual deles iria fazer semelhante coisa.
          Levantou-se também entre eles uma questão:
          qual deles se devia considerar o maior?
          Disse-lhes Jesus:
J        «Os reis da nações exercem domínio sobre elas
          e os que têm sobre elas autoridade são chamados malfeitores.
          Vós não deveis proceder desse modo.
          O maior entre vós seja como o menor
          e aquele que manda seja como quem serve.
          Pois quem é o maior: o que está à mesa ou o que serve?
          Não é o que está à mesa?
          Ora Eu estou no meio de vós como aquele que serve.
          Vós estivestes sempre comigo nas minhas provações.
          E Eu preparo para vós um reino,
          como meu Pai o preparou para Mim:
          comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino,
          e sentar-vos-eis em tronos,
          a julgar as doze tribos de Israel.
          Simão, Simão, Satanás vos reclamou
          para vos agitar na joeira como trigo.
          Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça.
          E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos».
N        Pedro respondeu-Lhe:
R        «Senhor, eu estou pronto a ir contigo,
          até para a prisão e para a morte».
N        Disse-lhe Jesus:
J        «Eu te digo, Pedro: não cantará hoje o galo,
          sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me».
N        Depois acrescentou:
J        «Quando vos enviei sem bolsa nem alforge nem sandálias,
          faltou-vos alguma coisa?».
N        Eles responderam que não lhes faltara nada.
          Disse-lhes Jesus:
J        «Mas agora, quem tiver uma bolsa pegue nela,
          bem como no alforge;
          e quem não tiver espada venda a capa e compre uma.
          Porque Eu vos digo
          que se deve cumprir em Mim o que está escrito:
          ‘Foi contado entre os malfeitores’.
          Na verdade, o que Me diz respeito está a chegar ao fim».
N        Eles disseram:
R        «Senhor, estão aqui duas espadas».
N        Mas Jesus respondeu:
J        «Basta». 
N        Então saiu
          e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras
          e os discípulos acompanharam-n’O.
          Quando chegou ao local, disse-lhes:
J        «Orai, para não entrardes em tentação».
N        Depois afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra
          e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo:
J        «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice.
          Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua».
N        Então apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, para O confortar.
          Entrando em angústia, orava mais instantemente
          e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue,
          que caíam na terra.
          Depois de ter orado,
          levantou-Se e foi ter com os discípulos,
          que encontrou a dormir, por causa da tristeza.
          Disse-lhes Jesus:
J        «Porque estais a dormir?
          Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação». 
N        Ainda Ele estava a falar,
          quando apareceu uma multidão de gente.
          O chamado Judas, um dos Doze, vinha à sua frente
          e aproximou-se de Jesus, para O beijar.
          Disse-lhe Jesus:
J        «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?»
N        Ao verem o que ia suceder,
          os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe:
R        «Senhor, vamos feri-los à espada?»
N        E um deles feriu o servo do sumo sacerdote,
          cortando-lhe a orelha direita.
          Mas Jesus interveio, dizendo:
J        «Basta! Deixai-os».
N        E, tocando na orelha do homem, curou-o.
          Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro,
          príncipes dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos:
J        «Vós saístes com espadas e varapaus,
          como se viésseis ao encontro dum salteador.
          Eu estava todos os dias convosco no templo
          e não Me deitastes as mãos.
          Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.
N        Apoderaram-se então de Jesus,
          levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote.
          Pedro seguia-os de longe.
          Acenderam uma fogueira no meio do pátio,
          sentaram-se em volta dela
          e Pedro foi sentar-se no meio deles.
          Ao vê-lo sentado ao lume,
          uma criada, fitando os olhos nele, disse:
R        «Este homem também andava com Jesus».
N        Mas Pedro negou:
R        «Não O conheço, mulher».
N        Pouco depois, disse outro, ao vê-lo:
R        «Tu também és um deles».
N        Mas Pedro disse:
R        «Homem, não sou».
N        Passada mais ou menos uma hora,
          afirmava outro com insistência:
R        «Esse homem, com certeza, também andava com Jesus,
          pois até é galileu».
N        Pedro respondeu:
R        «Homem, não sei o que dizes».
N        Nesse instante – ainda ele falava – um galo cantou.
          O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em Pedro.
          Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor,
          quando lhe disse:
          ‘Antes do galo cantar, Me negarás três vezes’.
          E, saindo para fora, chorou amargamente.
          Entretanto, os homens que guardavam Jesus
          troçavam d’Ele e maltratavam-n’O.
          Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe:
R        «Adivinha, profeta: Quem te bateu?»
N        E dirigiam-Lhe muitos outros insultos.
          Ao romper do dia,
          reuniu-se o conselho dos anciãos do povo,
          os príncipes dos sacerdotes e os escribas.
          Levaram-n’O ao seu tribunal e disseram-Lhe:
R        «Diz-nos se Tu és o Messias».
N        Jesus respondeu-lhes:
J        «Se Eu vos disser, não acreditareis
          e, se fizer alguma pergunta, não respondereis.
          Mas o Filho do homem sentar-Se-á doravante
          à direita do poder de Deus».
N        Disseram todos:
R        «Tu és então o Filho de Deus?»
N        Jesus respondeu-lhes:
J        «Vós mesmos dizeis que Eu sou».
N        Então exclamaram:
R        «Que necessidade temos ainda de testemunhas?
          Nós próprios o ouvimos da sua boca».
N        Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos. 
N        Começaram a acusá-l’O, dizendo:
R        «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo,
          a impedir que se pagasse o tributo a César
          e dizendo ser o Messias-Rei».
N        Pilatos perguntou-Lhe:
R        «Tu és o Rei dos judeus?»
N        Jesus respondeu-lhe:
J        «Tu o dizes».
N        Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão:
R        «Não encontro nada de culpável neste homem».
N        Mas eles insistiam:
R        «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia,
          desde a Galileia, onde começou, até aqui». 
N        Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu;
          e, ao saber que era da jurisdição de Herodes,
          enviou-O a Herodes,
          que também estava nesses dias em Jerusalém.
          Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito.
          Havia bastante tempo que O queria ver,
          pelo que ouvia dizer d’Ele,
          e esperava que fizesse algum milagre na sua presença.
          Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu.
          Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam
          acusavam-n’O com insistência.
          Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo
          e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico
          e remeteu-O a Pilatos.
          Herodes e Pilatos, que eram inimigos,
          ficaram amigos nesse dia.
          Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes,
          os chefes e o povo, e disse-lhes:
R        «Trouxestes este homem à minha presença
          como agitador do povo.
          Interroguei-O diante de vós
          e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais.
          Herodes também não, uma vez que no-l’O mandou de novo.
          Como vedes, não praticou nada que mereça a morte.
          Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
N        Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso
          por ocasião da festa.
          E todos se puseram a gritar:
R        «Mata Esse e solta-nos Barrabás».
N        Barrabás tinha sido metido na cadeia
          por causa de uma insurreição desencadeada na cidade
          e por assassínio.
          De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra,
          querendo libertar Jesus.
          Mas eles gritavam:
R        «Crucifica-O! Crucifica-O!»
N        Pilatos falou-lhes pela terceira vez:
R        Mas que mal fez este homem?
          Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte.
          Por isso vou soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
N        Mas eles continuavam a gritar,
          pedindo que fosse crucificado,
          e os seus clamores aumentavam de violência.
          Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam:
          soltou aquele que fora metido na cadeia
          por insurreição e assassínio,
          como eles reclamavam,
          e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. 
N        Quando o conduziam,
          lançaram mão de um certo Simão de Cirene,
          que vinha do campo,
          e puseram-lhe a cruz às costas,
          para a levar atrás de Jesus.
          Seguia-O grande multidão de povo
          e mulheres que batiam no peito
          e se lamentavam, chorando por Ele.
          Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:
J        «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim;
          chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos;
          pois dias virão em que se dirá:
          ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram
          e os peitos que não amamentaram’.
          Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’;
          e às colinas: ‘Cobri-nos’.
          Porque, se tratam assim a madeira verde,
          que acontecerá à seca?». 
N        Levavam ainda dois malfeitores
          para serem executados com Jesus.
          Quando chegaram ao lugar chamado Calvário,
          crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores,
          um à direita e outro à esquerda.
          Jesus dizia:
J        «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
N        Depois deitaram sortes,
          para repartirem entre si as vestes de Jesus.
          O povo permanecia ali a observar.
          Por sua vez, os chefes zombavam e diziam:
R        «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo,
          se é o Messias de Deus, o Eleito».
N        Também os soldados troçavam d’Ele;
          aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
R        «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
N        Por cima d’Ele havia um letreiro:
          «Este é o rei dos judeus».
          Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
          insultava-O, dizendo:
R        «Não és Tu o Messias?
          Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
N        Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
R        «Não temes a Deus,
          tu que sofres o mesmo suplício?
          Quanto a nós, fez-se justiça,
          pois recebemos o castigo das nossas más acções.
          Mas Ele nada praticou de condenável».
N        E acrescentou:
R        «Jesus, lembra-Te de mim,
          quando vieres com a tua realeza».
N        Jesus respondeu-lhe:
J        «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
N        Era já quase meio-dia,
          quando as trevas cobriram toda a terra,
          até às três horas da tarde,
          porque o sol se tinha eclipsado.
          O véu do templo rasgou-se ao meio.
          E Jesus exclamou com voz forte:
J        «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito».
N        Dito isto, expirou. 
N        Vendo o que sucedera,
          o centurião deu glória a Deus, dizendo:
R        «Realmente este homem era justo».
N        E toda a multidão que tinha assistido àquele espectáculo,
          ao ver o que se passava, regressava batendo no peito.
          Todos os conhecidos de Jesus,
          bem como as mulheres que O acompanhavam
          desde a Galileia,
          mantinham-se à distância, observando estas coisas. 
N        Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia,
          que era pessoa recta e justa e esperava o reino de Deus.
          Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado
          com a decisão e o proceder dos outros.
          Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus.
          E depois de o ter descido da cruz,
          envolveu-o num lençol
          e depositou-o num sepulcro escavado na rocha,
          onde ninguém ainda tinha sido sepultado.
          Era o dia da Preparação
          e começavam a aparecer as luzes do sábado.
          Entretanto,
          as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia
          acompanharam José e observaram o sepulcro
          e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus.
          No regresso, prepararam aromas e perfumes.
          E no sábado guardaram o descanso, conforme o preceito. 
AMBIENTE 
Com a chegada de Jesus a Jerusalém e os acontecimentos da semana santa, chegamos ao fim do “caminho” começado na Galileia. Tudo converge, no Evangelho de Lucas, para aqui, para Jerusalém: é aí que deve irromper a salvação de Deus. Em Jerusalém, Jesus vai realizar o último acto do programa enunciado em Nazaré: da sua entrega, do seu amor afirmado até à morte, vai nascer esse Reino de homens novos, livres, onde todos serão irmãos no amor; e, de Jerusalém, partirão as testemunhas de Jesus, a fim de que esse Reino se espalhe por toda a terra e seja acolhido no coração de todos os homens. 
MENSAGEM 
A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Para concretizar este projecto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham o coração mais disponível para acolher o Reino; e avisou os “ricos”, os poderosos, os instalados, de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
O projecto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostos a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O na cruz.
A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam este mundo.
Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Na cruz de Jesus, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado, isto é, contra todas as causas objectivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração, morte. Assim, a cruz contém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do Reino.
 
Para além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são exclusivos da versão lucana da paixão:
·         No relato da instituição da Eucaristia, só Lucas põe Jesus a dizer: “fazei isto em memória de Mim” (cf. Lc 22,19). A expressão não quer só dizer que os discípulos devem celebrar o ritual da última ceia e repetir as palavras de Jesus sobre o pão e sobre o vinho; mas quer, sobretudo, dizer que os discípulos devem repetir a entrega de Jesus, a doação da vida por amor.
·         Só Lucas coloca no contexto da última ceia a discussão acerca de qual dos discípulos seria o “maior” e a resposta de Jesus (cf. Lc 22,24-27). Jesus avisa os seus que “o maior” é “aquele que serve”; e apresenta o seu próprio exemplo de uma vida feita serviço e dom. Estas palavras soam a “testamento” e convocam os discípulos para fazerem da sua vida um serviço aos irmãos, ao jeito de Jesus.
·         No jardim das Oliveiras, só Lucas faz referência ao aparecimento do anjo e ao “suor de sangue” (cf. Lc 22,42-44). Esta cena acentua a fragilidade humana de Jesus que, no entanto, não condiciona a sua submissão total ao projecto do Pai; e sublinha a presença de Deus, que não abandona nos momentos de prova aqueles que acolhem, na obediência, a sua vontade.
·         Também no relato da paixão aparece a ideia fundamental que perpassa pela obra de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao nosso encontro, a fim de manifestar a todos os homens, em gestos concretos, a bondade e a misericórdia de Deus. Essa ideia está presente no gesto de curar o guarda ferido por Pedro no Jardim do Getsemani (cf. Lc 22,51); está também presente nas palavras de Jesus na cruz: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” – Lc 23,34 (é desconcertante o amor de um Filho de Deus que morre na cruz pedindo desculpa ao Pai para os seus assassinos); está, ainda, presente nas palavras que Jesus dirige ao criminoso que morre numa cruz, ao seu lado: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso” – Lc 23,43 (é desconcertante a bondade de um Deus que faz de um assassino o primeiro santo canonizado da sua Igreja).
·         Todos os sinópticos falam da requisição de Simão de Cirene para levar a cruz de Jesus (cf. Mt 27,32; Mc 15,21); no entanto, só Lucas refere que Simão transporta a cruz “atrás de Jesus” (cf. Lc 23,26). Este dado serve a Lucas para apresentar o modelo do discípulo: é aquele que toma a cruz de Jesus e O segue no seu caminho de entrega e de dom da vida (“se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-mM” – Lc 9,23; cf. 14,27). 
ACTUALIZAÇÃO 
Reflectir a partir das seguintes linhas:
- Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir connosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes. 
Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de um dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.


Fonte: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=1

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