"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























segunda-feira, 11 de setembro de 2017

ATENÇÃO/REFLEXÃO/MEDITAÇÃO: 4’ 33’’ ou o silêncio do mundo

Em 1952 o compositor John Cage escreveu uma peça musical em três movimentos, para um ou mais instrumentos, composta apenas por silêncio, intitulada 4’ 33’’. Confrontados com o desconforto de um ou vários músicos com os seus instrumentos silenciosos, os eventuais espetadores escutam apenas os ruídos do ambiente circundante. A peça dura quatro minutos e trinta e três segundos. Não há uma única nota musical, mas há algo de dramático nesta solidão gerada pela aparência da ausência de som. Ao ver nas televisões imagens da calamidade provocada pelo furacão Irma, e por muito a despropósito que isso possa parecer, impôs-se um desafio: imaginarmo-nos numa daquelas ilhas das Caraíbas, apenas durante 4’ e 33’’, a suportar ventos com velocidades por vezes superiores a 300 km por hora e a ver o inverosímil. Carros a voar, casas arrasadas, pesados contentores soprados como plumas, árvores quebradas como se foram palitos. O medo, o horror, o pânico, a sensação de apocalipse, podem conjugar-se num só instante. Num só olhar.

Os últimos números conhecidos apontam já para entre 13 a 15 mortos. Miami está no olho da tempestade e ordenou a maior transferência de população da sua história. São 650 mil pessoas há procura de um lugar mais seguro, mais protegido. Há neste momento seis milhões de homens, mulheres e crianças em perigo. As previsões apontam para que Miami seja o local de maior impacto do furacão Irma, que está há vários dias a desbastar as Caraíbas. A partir de amanhã, sábado, poderá ultrapassar os níveis de impacto e destruição da pior tempestade alguma vez registada pela Florida. O The New York Times apresenta um muito elucidativo e impressionante mapa com o percurso e a evolução do Irma. No Expresso podemos ver uma fotogaleria com imagens impressionantes do desolador rasto deixado pelo mais poderoso furacão que atingiu o Atlântico. No El País podemos seguir ao minuto a evolução do Irma, que há hora a que escrevo, 6h45 da manhã, está já a afetar a ilha La Española e dirige-se para as ilhas Turcas, Cuba e região sul da Florida. As últimas notícias dão conta, também, de um forte tremor de terra no sul do México, com magnitude 8 e epicentro situado ao norte do estado de Chiapas. O centro de Alerta de Tsunamis do Pacífico emitiu um alerta para o México, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Panamá, Honduras e Equador.

A tempestade que deu origem ao Irma começou ao largo de Cabo Verde. Em trinta e seis horas atingiu a Categoria 3 na classificação dos furacões. Rapidamente chegou ao nível máximo, o 5, e os especialistas começaram a dizer que nunca fora registado uma tempestade com tamanha violência.

O problema é que a cada novo furacão começa a haver um novo recorde batido. Se percebermos que a energia lhe é fornecida pelas elevadas temperaturas das águas do mar – andam pelos 30 graus – e que o olho de um furacão, como explica Alan Burdick na New Yorker num trabalho sobre a espetacular evolução dos sistemas de previsão, “atua como uma chaminé, enviando ar quente para a atmosfera”, fica cada vez mais nítida a necessidade de assumir uma discussão séria e consequente sobre os efeitos das alterações climáticas no planeta Terra. Esse será, de resto, o tema do próximo Fórum do Futuro, a organizar no Porto no início de novembro.

O problema é que o futuro é já hoje. Está a acontecer e faz-nos ver como o planeta Terra é, afinal, um ser tão frágil, tão necessitado de ser protegido das ações nefastas dos seus princípios usurários e beneficiários: os humanos.

Quando o mundo parece desabar e no horizonte só se divisa a desgraça, quatro minutos e trinta e três segundos não são quatro minutos e trinta e três segundos. São uma cruel eternidade onde, face à indignação por quanto está a suceder, o silêncio é uma impossibilidade absoluta.

Valdemar Cruz, in Expresso Curto

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