"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























sexta-feira, 8 de setembro de 2017

DOCUMENTÁRIO/REPORTAGEM: Os Comandos como nunca os viu: o homem que a dor não educa será sempre uma criança

Aquilo começa e ouve-se o Richard Anthony a cantar “donne moi ma chance, donne moi ma chance encore”, há um rapaz a dormir deitado costas no chão sobre a mochila que tem às costas, e vê-se uma frase afixada como um provérbio nos azulejos azuis das casas de província que diz “os Comandos são duros, flexíveis e amorosos… sobretudo amorosos”.

E o Richard Anthony continua a cantar “ne me dis pas que c’est trop tard” enquanto dois rapazes rastejam na gravilha ou na lama à frente de um homem que lhes berra. Outros põem à vez graxa na cara devidamente rapada, outros, ainda, marcham e correm, apontam, limpam e disparam armas, tomam duches vestidos da cabeça aos pés com água que ferve ou gela o orgulho, o mesmo orgulho ferido pela bursite no joelho teimoso que faz demorar ainda mais as horas - oito horas, precisamente - passadas dentro da camarata enquanto os camaradas estão a cumprir a prova de 42 quilómetros a pé, passo a passo, mais um passo até ajeitar a boina na cabeça.

O que está acima, título incluído, são instantâneos de um trabalho notável do Expresso  escrito, filmado e editado pelo João Santos Duarte. O João chamou-lhe, simplesmente, “Comandos” [veja-o AQUI] e é algo que nunca foi feito por cá. Dentro dele encontram-se as fotografias do Tiago Miranda, também ele um viajante no tempo e no espaço desta reportagem de oito meses que se divide em cinco capítulos (Fim da Inocência, As Duas Mortes, Aprender a Matar, O Meu Filho Está Vivo?, Metamorfose), mais um documentário de 67 minutos.

Os jornalistas do Expresso acompanharam um grupo de rapazes desde que entraram no curso até o acabarem, os que o acabaram, e a história que eles documentam atravessa a ingenuidade e a inocência iniciais, as mortes dos dois jovens que deixou o país em suspenso, e regista, sobretudo, a transcendência do homem que reconhece o limite e está disposto a rasgá-lo, e a rasgar a sua carne, em nome de algo em que acredita, do orgulho, do sentido de honra ou do dever.

Ou apenas porque tem algo a provar.

“Eu já entreguei a minha alma há muito”, dirá, às tantas, um deles.

 

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