"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























quarta-feira, 1 de maio de 2013

COMEMORAÇÃO: 1º de Maio

As parábolas transmitem uma impressão particularmente instrutiva dos múltiplos mundos de trabalho e dos diferentes contextos de vida dos contemporâneos de Jesus. Na sua diversidade situacional, revelam que o trabalho, aos olhos de Jesus, constitui uma evidente missão; no seu mundo de trabalho, o homem é percebido com todos os seus talentos e riqueza de ideias. A Jesus não interessa o estatuto social de alguém ou o valor da sua atividade, por isso ele pode falar muito naturalmente de um servo ou de um senhor, de um proprietário ou de um criado, de um rei ou do seu exército. Jesus vem ele próprio do mundo do trabalho e, durante a sua atividade pública, insere-se conscientemente no mundo do homem trabalhador. Dá assim a entender que confirma o mundo com as suas condições de vida e que vê no trabalho o elemento fundamental para a realização do mundo.
Ler mais em: http://www.snpcultura.org/Jesus_e_o_trabalho.html
                    http://www.snpcultura.org/papa_pede_novo_impulso_politica_emprego.html

E neste Dia do Trabalhador:

José Tolentino Mendonça
In Expresso, 27.4.2013
28.04.13

Hanna Arendt explica bem como este tempo a que nós chamamos, à falta de nome definitivo, era moderna se funda na inversão de posições entre a contemplação e a ação.
Os modos da existência contemplativa foram despojados da sua áurea (e, em grande medida, dos seus direitos de cidadania) e só a vida ativa é considerada legítima. O resultado foi a transformação efetiva de todo o agregado humano numa sociedade de trabalhadores.
O trabalho passou a ser visto como o fator determinante para a humanização, e o valor de cada pessoa vem descrito pelo valor económico que lhe está associado. Mesmo os reis e os presidentes, os médicos e os filósofos (etc, etc) passaram a olhar a sua atividade como um ganha-pão. Deixou de haver lugar para itinerários de natureza espiritual, artística ou política, dos quais pudessem brotar a evidência de dimensões humanas que a atividade laboral não cobre.
Ao perdermos a certeza naquelas realidades que a crença ou as artes iluminam, as nossas sociedades passaram a consolidar-se sempre mais como uma esfera de trabalho, e a satisfação das necessidades vitais impôs-se como o verdadeiro (para não dizer o exclusivo) elemento polarizador da atividade humana.
Mas Arendt pressiona ainda a nossa ferida e escreve: a perda da fé numa vida futura (ou numa vida diferente) não nos fez propriamente ganhar a vida. Longe disso. Tudo ficou, simplesmente, afetado pela instabilidade fundamental que carregamos. O que se desencadeou, no fundo, foi uma corrida cega para a frente, para não pensar muito nisso. Chegámos assim à hiperinflação do mundo do trabalho e à banalização redentora do consumo. Vivemos para trabalhar e para consumir. A vida e os bens que ela produz passaram a valer o mesmo não sei quê, esquivo e imediato, como a chama de um fósforo.
E não é tudo, como agora se vê. O campo do trabalho vive hoje uma convulsão que foge em muito ao nosso controlo e que nos obrigará a curto prazo a uma revisão de paradigma civilizacional. Os irrazoáveis números do desemprego testemunham a extensão da incerteza em que naufragámos.
Mas, mesmo mantendo um trabalho, muitos veem-se obrigados a defendê-lo a todo o custo, com uma sensação repetida de frustração, irracionalidade e solidão. Os problemas dos limites colocam-se cada vez mais. Acentua-se o fosso entre o que é possível e o que é pedido, numa aceleração permanente contra o tempo. A implacabilidade do sistema de trabalho cada vez menos respeita e acolhe a fragilidade da vida. Os trabalhadores têm de ser perfeitos e neutros como as máquinas que os rodeiam.
O psicólogo americano Gregory Bateson descreve as atuais práticas das grandes empresas como aquelas mães que dão com os filhos em esquizofrénicos com a quantidade de "injunções paradoxais" que lhes transmitem, sempre impossíveis de satisfazer, mas cada vez mais imperativas. Aumentam os objetivos a alcançar com meios assumidamente diminuídos. Quer-se maior qualidade e menor investimento. Estimula-se a autonomia e a criatividade individual à medida que se reforça o peso do controlo e a sofisticação extenuante dos processos. A racionalidade opera em banda estreita e veiculada a um uso puramente instrumental.
A crise contemporânea da atividade produtiva coloca-nos perante uma encruzilhada. E volto às palavras proféticas de Hanna Arendt: «O que se nos depara é a perspetiva de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho, isto é, sem a única atividade que lhes resta». Precisamos seriamente de conversar.

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