"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 17 de janeiro de 2016

PALAVRA DE DOMINGO: Contextual​izá-la para bem a entender e melhor vivê-la: LITURGIA & VIDA!

Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética"
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial"
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Ler mais em:
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro", http://www.paulinas.pt/Product_Detail.aspx?code=1977
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias
6. Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador»
Então:
Tema do 2º Domingo do Tempo Comum
A liturgia de hoje apresenta a imagem do casamento como imagem que exprime de forma privilegiada a relação de amor que Deus (o marido) estabeleceu com o seu Povo (a esposa). A questão fundamental é, portanto, a revelação do amor de Deus.
A primeira leitura define o amor de Deus como um amor inquebrável e eterno, que continuamente renova a relação e transforma a esposa, sejam quais forem as suas falhas passadas. Nesse amor nunca desmentido, reside a alegria de Deus.
O Evangelho apresenta, no contexto de um casamento (cenário da “aliança”), um “sinal” que aponta para o essencial do “programa” de Jesus: apresentar aos homens o Pai que os ama, e que com o seu amor os convoca para a alegria e a felicidade plenas.
A segunda leitura fala dos “carismas” – dons, através dos quais continua a manifestar-se o amor de Deus. Como sinais do amor de Deus, eles destinam-se ao bem de todos; não podem servir para uso exclusivo de alguns, mas têm de ser postos ao serviço de todos com simplicidade. É essencial que na comunidade cristã se manifeste, apesar da diversidade de membros e de carismas, o amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
EVANGELHOJo 2,1-11
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
realizou-se um casamento em Caná da Galileia
e estava lá a Mãe de Jesus.
Jesus e os seus discípulos
foram também convidados para o casamento.
A certa altura faltou o vinho.
Então a Mãe de Jesus disse-Lhe:
«Não têm vinho».
Jesus respondeu-Lhe:
«Mulher, que temos nós com isso?
Ainda não chegou a minha hora».
Sua Mãe disse aos serventes:
«Fazei tudo o que Ele vos disser».
Havia ali seis talhas de pedra,
destinadas à purificação dos judeus,
levando cada uma de duas a três medidas.
Disse-lhes Jesus:
«Enchei essas talhas de água».
Eles encheram-nas até acima.
Depois disse-lhes:
«Tirai agora e levai ao chefe de mesa».
E eles levaram.
Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho,
– ele não sabia de onde viera,
pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam –
chamou o noivo e disse-lhe:
«Toda a gente serve primeiro o vinho bom
e, depois de os convidados terem bebido bem,
serve o inferior.
Mas tu guardaste o vinho bom até agora».
Foi assim que, em Caná da Galileia,
Jesus deu início aos seus milagres.
Manifestou a sua glória
e os discípulos acreditaram n’Ele.
AMBIENTE
Este texto pertence à “secção introdutória” do Quarto Evangelho (que vai de 1,19 a 3,36). Nessa secção, o autor apresenta um conjunto de cenas (com contínuas entradas e saídas de personagens, como se estivéssemos no palco de um teatro), destinadas a apresentar Jesus e o seu programa.
O autor declara explicitamente (cf. Jo 2,11) que o episódio pertence à categoria dos “signos” (“semeiôn”): trata-se de acções simbólicas, de sinais indicadores, que nos convidam a procurar, para além do episódio concreto, uma realidade mais profunda para a qual aponta o facto narrado. O importante, aqui, não é que Jesus tenha transformado a água em vinho; mas é apresentar o programa de Jesus: trazer à relação entre Deus e o homem o vinho da alegria, do amor e da festa.
MENSAGEM
O episódio narrado é, pois, uma acção simbólica que aponta para algo mais importante do que o próprio fenómeno concreto descrito. Que realidade é essa?
O cenário de fundo é o de um casamento. Ora, o cenário das bodas ou do noivado é (como vimos na primeira leitura) um quadro onde se reflecte a relação de amor entre Jahwéh e o seu Povo. Dito de outra forma, estamos no contexto da “aliança” entre Israel e o seu Deus.
A essa “aliança” vem, em certa altura, a faltar o vinho. O “vinho”, elemento indispensável na “boda”, é símbolo do amor entre o esposo e a esposa (cf. Cant 1,2;4,10;7,10;8,2. Recordar, a propósito, como Isaías compara a “aliança” com uma vinha plantada pelo Senhor, que não produziu frutos – cf. Is 5,1-7), bem como da alegria e da festa (cf. Sir 40,20; Qoh 10,19). Constata-se, portanto, a realidade da antiga “aliança”: tornou-se uma relação seca, sem alegria, sem amor e sem festa, que já não potencia o encontro amoroso entre Israel e o seu Deus. Esta realidade de uma “aliança” estéril e falida é representada pelas “seis talhas de pedra destinadas à purificação dos judeus”. O número seis evoca a imperfeição, o incompleto; a “pedra” evoca as tábuas de pedra da Lei do Sinai e os corações de pedra de que falava o profeta Ezequiel (cf. Ez 36,26); a referência à “purificação” evoca os ritos e exigências da antiga Lei que revelavam um Deus susceptível, zeloso, impositivo, que guarda distâncias: ora, um Deus assim pode-se temer, mas não amar… As talhas estão “vazias”, porque todo este aparato era inútil e ineficaz: não servia para aproximar o homem de Deus, mas sim para o afastar desse Deus difícil e distante.
Detenhamo-nos, agora, nas personagens apresentadas. Temos, em primeiro lugar, a “mãe”: ela “estava lá”, como se pertencesse à boda; por outro lado, é ela que se apercebe do intolerável da situação (“não têm vinho”): representa o Israel fiel, que já se tinha apercebido da realidade e que esperava que o Messias pusesse cobro à situação.
Temos, depois, o “chefe de mesa”: representa os dirigentes judeus, instalados comodamente, que não se apercebem – ou não estão interessados em entender – que a antiga “aliança” caducou.
Os “serventes” são os que colaboram com o Messias, que estão dispostos a fazer tudo “o que Ele disser” (cf. Ex 19,8) para que a “aliança” seja revitalizada.
Temos, finalmente, Jesus: é a Ele que o Israel fiel (a “mulher”/mãe) se dirige no sentido de dar nova vida a essa “aliança” caduca; mas o Messias anuncia que é preciso deixar cair essa “aliança” onde falta o vinho do amor (“que temos nós com isso?”). A obra de Jesus não será preservar as instituições antigas, mas apresentar uma radical novidade… Isso acontecerá quando chegar a “Hora” (a “Hora” é, em João, o momento da morte na cruz, quando Jesus derramar sobre a humanidade essa lição do amor total de Deus).
O episódio das “bodas de Caná” anuncia, portanto, o programa de : trazer à relação entre Deus e os homens o vinho da alegria, do amor e da festa. Este programa – que Jesus vai cumprir paulatinamente ao longo de toda a sua vida – realizar-se-á em plenitude no momento da “Hora” – da doação total por amor.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão e actualização, considerar as seguintes questões:
• Quando a relação com Deus assenta num jogo intrincado de ritos externos, de regras e de obrigações que é preciso cumprir, a religião torna-se um pesadelo insuportável que tiraniza e oprime. Ora, Jesus veio revelar-nos Deus como um Pai bondoso e terno, que fica feliz quando pode amar os seus filhos. É esse o “vinho” que Jesus veio trazer para alegrar a “aliança”: o “vinho” do amor de Deus, que produz alegria e que nos leva à festa do encontro com o Pai e com os irmãos. A nossa “religião” é isto mesmo – o encontro com o Jesus que nos dá o vinho do amor?
• O que é que os nossos olhos e os nossos lábios revelam aos outros: a alegria que brota de um coração cheio de amor, ou o medo e a tristeza que brotam de uma religião de pesadelo, de leis e de medo?
• Com qual das personagens que participam da “boda” nos identificamos: com o chefe de mesa, comodamente instalado numa religião estéril, vazia e hipócrita, com a “mulher”/mãe que pede a Jesus que resolva a situação, ou com os “serventes” que vão fazer “tudo o que Ele disser” e colaborar com Jesus no estabelecimento da nova realidade?

Sem comentários:

Enviar um comentário