"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 19 de fevereiro de 2012

PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

EVANGELHOMc 2,1-12

Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaum
e se soube que Ele estava em casa,
juntaram-se tantas pessoas
que já não cabiam sequer em frente da porta;
e Jesus começou a pregar-lhes a palavra.
Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado por quatro homens;
e, como não podiam levá-lo até junto d’Ele, devido à multidão,
descobriram o tecto por cima do lugar onde Ele Se encontrava
e, feita assim uma abertura,
desceram a enxerga em que jazia o paralítico.
Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico:
«Filho, os teus pecados estão perdoados».
Estavam ali sentados alguns escribas,
que assim discorriam em seus corações:
«Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar.
Não é só Deus que pode perdoar os pecados?»
Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes:
«Porque pensais assim nos vossos corações?
Que é mais fácil?
Dizer ao paralítico ‘Os teus pecados estão perdoados’
ou dizer ‘Levanta-te, toma a tua enxerga e anda’?
Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem
tem na terra o poder de perdoar os pecados,
‘Eu to ordeno – disse Ele ao paralítico –
levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa’».
O homem levantou-se,
tomou a enxerga e saiu diante de toda a gente,
de modo que todos ficaram maravilhados
e glorificavam a Deus, dizendo:
«Nunca vimos coisa assim».

AMBIENTE
Voltamos a Cafarnaum, a cidade situada na margem ocidental do Lago de Tiberíades. Jesus continua a propor o “Reino” através das suas palavras e, sobretudo, dos seus gestos. Os “milagres” que Ele faz são sinais da presença compassiva e amorosa de Deus no meio dos homens e anunciam o mundo novo do “Reino”.
Entramos, no entanto, numa secção (cf. Mc 2,1-3,6) onde os gestos de Jesus já não provocam apenas assombro e admiração, mas também repulsa e obstinação. A proposta de Jesus começa a questionar seriamente as pessoas e a provocar reacções desencontradas. De uma forma geral, o Povo acolhe Jesus e vê na sua proposta uma resposta para a sua sede de vida e de liberdade; mas os fariseus e os doutores da Lei (que a partir daqui aparecerão, cada vez mais em cena), instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, recusam Jesus e buscam todos os pretextos para O atacar. Começa a desenhar-se o conflito decisivo que vai levar Jesus à cruz.
A história que o Evangelho deste domingo nos apresenta é uma história estranha e, do ponto de vista lógico, cheia de incongruências. Porque é que os acompanhantes do paralítico tiveram que descobrir o tecto e não puderam esperar que Jesus saísse de casa? As pessoas que estavam na casa ficaram impávidas a ver o tecto ser levantado no meio de uma chuva de terra e ramos secos de árvore e não fizeram nada?
A nossa história não é, naturalmente, uma reportagem jornalística de acontecimentos. Marcos parte, eventualmente, do facto histórico da cura de um paralítico, mas a sua finalidade é, antes de mais, oferecer-nos uma lição de catequese. Os pormenores estranhos não são históricos, mas fazem parte da representação cénica montada por Marcos; são apenas elementos simbólicos que Marcos introduz no relato para tornar mais rica e expressiva a sua lição de catequese sobre Jesus e sobre a missão de Jesus no meio dos homens.

MENSAGEM
Toda a cena se passa numa “casa”. Que casa é essa? É uma casa onde Jesus está a “pregar a Palavra” e é uma casa onde se juntou (Marcos diz “congregou”) um tão grande número de pessoas, “que já não cabiam sequer em frente da porta” (vers. 2). É também uma casa onde estão sentados/instalados alguns especialistas da Lei (escribas – vers. 6). A “casa” onde Jesus prega, onde se congrega a comunidade judaica e onde há escribas instalados, poderia ser uma figura da sinagoga, entendida como assembleia do Povo de Deus. O facto de se referir que a “casa” em questão estava situada na cidade de Cafarnaum (o centro a partir do qual irradia a actividade de Jesus na Galileia) poderia indicar que Marcos está a falar da comunidade judaica da Galileia, em cujas sinagogas Jesus acabou de passar (cf. Mc 1,39), anunciando a Boa Nova do Reino. Em qualquer caso, a “casa” representa essa comunidade judaica a quem Jesus dirige a pregação do “Reino”.
Depois de definido o cenário, entram em palco os actores. À “casa” chega “um paralítico transportado por quatro homens” (vers. 3). Desde que entram em cena, o paralítico e os que o transportam apresentam-se como uma equipa inseparável, como peças de uma única máquina. O paralítico, personagem anónimo e sem voz, é o protótipo da invalidez, do homem que não pode mover-se por si mesmo e que não tem liberdade de acção. Os que transportam o paralítico, também anónimos e sem fala, têm como único traço característico serem “quatro”. Este dado, à primeira vista supérfluo, é importante: o “quatro” é um número carregado de simbolismo, que representa os quatro pontos cardeais e, em consequência, o mundo e a humanidade inteira. Os cinco (os quatro transportadores, por um lado, e o paralítico, por outro) representam duas facetas de uma mesma personagem – a humanidade inteira. É uma humanidade passiva e marcada por um mal que lhe rouba a vida e que lhe impede a liberdade (paralítico); e é uma humanidade activa, que não se conforma com o mal que a impede de ser livre e que busca ansiosamente a salvação (os quatro que transportam o paralítico).
Desde logo fica claro que o episódio pretende apresentar Jesus como “o salvador”; mas a presença do “paralítico” e dos “quatro” homens que o transportam sugere que a salvação que Jesus oferece não se destina apenas à comunidade judaica, mas à humanidade inteira.
Essa humanidade que sofre e que quer libertar-se da escravidão em que vive, procura ir ao encontro de Jesus para receber d’Ele a salvação… Mas “a casa” (isto é, a comunidade judaica) cobre Jesus e oculta-O ao resto da humanidade. Será preciso abrir um buraco no tecto da casa, forçando o obstáculo que o judaísmo representava (vers. 4). Nos esforços quase patéticos dos homens que transportam o paralítico, no sentido de colocá-lo frente a frente com Jesus, Marcos representa a ânsia com que o mundo espera a libertação que Cristo lhe veio oferecer.
A decisão e a tenacidade com que esta humanidade sofredora supera os obstáculos recebem o nome de “fé” (“ao ver a fé daquela gente” – vers. 5). A fé, no Novo Testamento, é aderir a Jesus, segui-l’O, acolher a proposta do Reino. Em todo o processo, essa humanidade ansiosa pela libertação manifesta uma vontade indomável de se aproximar de Jesus, de acolher a salvação que Ele tinha para oferecer, de entrar na dinâmica do “Reino”. Manifesta, portanto, a sua fé.
Essa vontade real de acolher a vida nova de Jesus indica que a humanidade escravizada está disposta a essa mudança de vida que é condição para o reinado de Deus. Jesus está plenamente consciente disso. Por isso diz: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (vers. 5). As palavras de Jesus significam que Deus aceita essa vontade de mudança, que o passado pecador deixa de pesar sobre o homem e que este pode começar uma vida nova. Pela adesão a Jesus, a humanidade “pecadora”, “impura”, fica totalmente purificada e reconciliada com Deus.
Segundo Marcos, os escribas presentes começaram a dizer no seu interior: “porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?” (vers. 6-7). A objecção dos escribas representa a doutrina oficial de Israel. Segundo os dogmas de Israel, somente Deus podia perdoar os pecados. Jesus está a querer ocupar o lugar de Deus? Está a assumir-Se como um rival de Deus?
Para resolver o conflito, Jesus não Se socorre de argumentos teóricos, mas convida os que estão à sua volta a medir o alcance da sua autoridade. Na verdade, o perdão dos pecados é algo que só Deus pode dar… E curar um paralítico? Não será um sinal da presença de Deus em Jesus? Ao dizer ao paralítico “levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa” (vers. 11), Jesus está a fazer algo totalmente novo, que será uma prova decisiva da sua autoridade divina. Demonstra, dessa forma, que Ele tem a autoridade de Deus para dar vida em plenitude ao homem que jaz prisioneiro da morte e da escravidão.
Que acontece a esse homem que recebeu de Jesus vida? O instrumento que representava a sua escravidão (a cama) já não o sujeita mais. Purificado e reconciliado com Deus, é agora um homem novo, livre, que rejeitou a escravidão do egoísmo e do pecado e que aderiu a Jesus e ao Reino. Da acção de Jesus resultou, para o homem, vida verdadeira e definitiva, vida total.
A reacção da multidão é glorificar a Deus. Perceberam finalmente que, através de Jesus, actua o próprio Deus. Jesus não é um rival que está a usurpar o lugar de Deus, mas Aquele que revela aos homens o amor de Deus.
Em conclusão: Deus, pelo seu amor universal, oferece o seu Reino a todos os homens por igual, sem distinção de povo ou raça, por meio de Jesus. Pela adesão a Jesus, fica apagado o passado pecador do homem e este recebe uma nova vida. O relato mostra a resistência e a incredulidade inicial dos ouvintes judeus diante desta mensagem; mas a vida nova que aparece naquele que se supunha indigno e excluído do Reino demonstra que o perdão/salvação que Jesus oferece tem o selo de Deus. Em Jesus, Deus manifestou a sua bondade e o seu amor pelo homem pobre e desvalido e inaugurou já o processo de plena libertação para a humanidade inteira.
O texto reflecte, sem dúvida, a experiência que se tinha na época de Marcos da vitalidade das novas comunidades formadas pelos antes excluídos de Israel (os doentes, os pecadores) e pelos pagãos que deram a sua adesão a Jesus.

ACTUALIZAÇÃO
• O ponto de partida da nossa reflexão é, evidentemente, a constatação de que Deus tem um plano de salvação destinado a toda a humanidade. Essa humanidade que percorre diariamente estradas de sofrimento e de angústia, que penosamente caminha no meio de fracassos e de contradições, que é prisioneira do medo, da violência, da opressão, que vê tantas vezes frustrados os seus direitos a uma vida digna e feliz, que dia a dia experimenta na pele as consequências do egoísmo e do pecado, precisa de conhecer esta Boa Nova: Deus caminha, desde sempre, ao lado dos homens, preocupa-Se em proporcionar a cada pessoa a possibilidade de ser livre e feliz, quer que todos integrem a comunidade dos filhos amados de Deus… Para isso, Ele está sempre disposto, de forma totalmente gratuita e incondicional, a oferecer o perdão que purifica, que liberta e que coloca o homem numa órbita de vida nova.

• O plano de Deus para os homens não é uma declaração de boas intenções, mas uma realidade que assume forma histórica e concreta através de Jesus Cristo… Jesus, o Deus que veio ao nosso encontro, mostrou aos homens oprimidos e sofredores, com palavras e com gestos concretos, o empenho de Deus na salvação/libertação de todos os homens. Jesus fez-Se solidário com os sofredores, os excluídos, os oprimidos, os escravizados, e disse-lhes que Deus não os condenava. Convidou-os a integrar a família do “Reino”, apresentou-lhes um caminho de amor e de liberdade, ofereceu-lhes o acesso à vida verdadeira e definitiva. É este Jesus que, com palavras e com gestos, ama, liberta e salva que nós testemunhamos no meio dos nossos irmãos?

• Qual deve ser a nossa resposta à proposta que Deus nos faz através de Jesus? O Evangelho deste domingo fala, a propósito, da “fé” – isto é, de uma decisão consciente e indomável de adesão a Jesus e à sua proposta do “Reino”. Deus oferece-nos o seu amor – amor que nos integra na família de Deus, que nos liberta do egoísmo e do pecado e que introduz em nós mecanismos de vida eterna; mas nós temos de ultrapassar o imobilismo que tolhe os dinamismos de vida nova, o comodismo que nos impede de acolher os desafios de Deus, a auto-suficiência que não nos deixa estar disponíveis para Deus… Temos de nos colocar numa atitude de sincera abertura ao dom de Deus.

• Através de Jesus, Deus oferece a sua proposta libertadora a todos os homens. Mas, para que esta proposta tenha um impacto verdadeiramente libertador no mundo e na vida dos nossos irmãos, Deus conta com o nosso testemunho. Se muitos dos nossos irmãos continuam afundados no sofrimento e numa dor sem esperança, é porque nós não somos, verdadeiramente, sinais da ternura e da bondade de Deus; se muitos dos nossos irmãos são vítimas de sistemas de exclusão e de marginalização, é porque nós não conseguimos testemunhar os valores do “Reino”… Não teremos, às vezes, encerrado Jesus numa “casa” onde nem todos os homens têm acesso? Não teremos, às vezes, “domesticado” Jesus, impedindo que a sua proposta se torne verdadeiramente questionadora e libertadora? A forma cómoda, instalada, medíocre, como vivemos e testemunhamos a nossa fé não será impeditiva para que a proposta de Jesus transforme o mundo? Não estaremos a contribuir, com os nossos preconceitos, os nossos esquemas legalistas, os nossos juízos apressados, para que muitos dos nossos irmãos possam encontrar Jesus e experimentar a alegria da libertação que Ele veio oferecer?

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