"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 2 de outubro de 2011

Porque hoje é DOMINGO (2 de Outubro de 2011)...

... as leituras convidam-nos, como sempre, a pensar. E não só. Porquê?
«Isaías, filho de Amós, exerceu o seu ministério profético em Jerusalém, no reino de Judá, durante a segunda metade do séc. VIII a.C. (de acordo com os seus oráculos, o profeta foi chamado por Deus ao ministério profético por volta de 740-739 a.C.; e os seus oráculos vão até perto de 700 a.C.). A sua pregação abarca, portanto, um arco de tempo relativamente longo e abrange vários reinados.
Isaías – como os outros profetas – não fala de realidades abstractas e intangíveis. A sua pregação refere-se a acontecimentos concretos e toca a realidade da vida, dos problemas, das inquietações, das esperanças dos homens do seu tempo. Para perceber a sua mensagem temos, portanto, de situá-la na época e na realidade histórica que o profeta conhece e sobre a qual é chamado por Deus a pronunciar-se.A primeira fase do ministério de Isaías desenrola-se durante o reinado de Jotam (740-734 a.C.). É uma época de relativa tranquilidade política, em que Judá se mantém afastado da cena internacional e das jogadas políticas das super-potências. Tudo parece correr bem, num clima de paz generalizada.
No entanto, o olhar crítico do profeta detecta uma realidade distinta. Internamente, a sociedade de Judá está marcada por grandes injustiças e arbitrariedade. Os poderosos exploram os mais débeis, os juízes deixam-se corromper, os latifundiários deixam-se dominar pela cobiça e inventam esquemas legais para se apropriar dos bens dos mais pobres, os governantes oprimem os súbditos, as senhoras finas de Jerusalém vivem no luxo e na futilidade, num desrespeito absoluto pelas necessidades e carências dos mais pobres. Em termos religiosos, o culto floresce numa abundância inaudita de práticas de piedade e de abundantes e solenes manifestações religiosas; no entanto, todo esse fausto cultural é incoerente e mentiroso, pois não resulta de uma verdadeira adesão a Jahwéh, mas de uma tentativa de acalmar as consciências e de “comprar” Deus. Para o profeta, Jerusalém deixou de ser a esposa fiel, para converter-se numa prostituta (cf. Is 1,21-26); ou, dito de outra forma, a “vinha” cuidada por Deus só produz frutos amargos e não os frutos bons (de justiça e de amor) pedidos a quem vive envolvido no ambiente da Aliança.
A mensagem de Isaías neste período encontra-se nos capítulos 1-5 do seu livro. O texto que hoje nos é proposto é um dos textos mais emblemáticos deste período.

Será que isso aconteceu só no passado? - pergunto.

(...) Nos nossos dias, o “sangue derramado” das vítimas da violência, do terrorismo, das guerras religiosas, dos sistemas que geram morte e sofrimento continua a tingir a nossa história; os “gritos de horror” de tantos homens e mulheres privados dos direitos mais elementares, torturados, marginalizados, excluídos, impedidos de ter acesso a uma vida minimamente humana, continuam a escutar-se na Europa, na Ásia, na África, nas Américas… Qual o nosso papel, no meio de tudo isto? Podemos calar-nos, num silêncio cúmplice e alienado, diante do drama de tantos irmãos condenados à morte? O que podemos fazer para que a “vinha” de Deus produza outros frutos?
(...) Paulo convida os crentes a terem em conta, na sua vida, esses valores humanos que todos os homens apreciam e amam: a verdade, a justiça, a honradez, a amabilidade, a tolerância, a integridade… Um cristão tem de ser, antes de mais, uma pessoa íntegra, verdadeira, leal, honesta, responsável, coerente. Ouvimos, algumas vezes, dizer que “os que vão à igreja são piores do que os outros”. Em parte, a expressão serve, sobretudo, a muitos dos chamados “cristãos não praticantes” para justificar o facto de não irem à igreja; mas não traduzirá, algumas vezes, o mau testemunho que alguns cristãos dão quanto à vivência dos valores humanos? Quem contacta as recepções das nossas igrejas, encontra sempre simpatia, compreensão, amabilidade, verdade, coerência? A forma como Paulo propõe aos seus cristãos os mesmos valores que constavam das listas de valores dos moralistas gregos da sua época, deve convidar-nos a reflectir sobre a nossa relação com os valores do mundo que nos rodeia e sobre a forma como os aceitamos e integramos na nossa vida. Não podemos esconder-nos atrás da nossa muralha fortificada e rejeitar, em bloco, tudo aquilo que o mundo de hoje nos proporciona, como se fosse algo de mau e pecaminoso. O mundo em que vivemos tem valores muito bonitos e sugestivos, que nos ajudam a crescer de uma forma sã e equilibrada e a integrar uma realidade rica em desafios e esperanças. O que é necessário é saber discernir, de entre todos os valores que o mundo nos apresenta, aquilo que nos torna mais livres e mais felizes e aquilo que nos torna mais escravos e infelizes, aquilo que não belisca a nossa fé e aquilo que ameaça a essência do Evangelho
... As nossas comunidades cristãs e religiosas são constituídas por homens e mulheres que se comprometeram com o Reino e que trabalham na “vinha” do Senhor. Deviam, portanto, produzir frutos bons e testemunhar diante do mundo, em gestos de amor, de acolhimento, de compreensão, de misericórdia, de partilha, de serviço, a realidade do Reino que Jesus Cristo veio propor. É isso que acontece, ou limitamo-nos a ter muitos grupos paroquiais, a preparar organigramas impressionantes da dinâmica comunitária, a construir espaços físicos amplos e confortáveis, a recitar a liturgia das horas, a produzir liturgias solenes, faustosas, imponentes… e completamente desligadas da vida?»
«A história repete-se», ou melhor, nunca deixou de se repetir, infelizmente. Já lá vão 2751 anos. Chega? 



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