"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























terça-feira, 16 de agosto de 2011

JMJ2011: todos os caminhos vão dar a Madrid

Hoje é o primeiro dia do resto da semana que termina a 21. E porque assim é, não quero deixar passar o momento sem rebuscar e passar alguns, poucos mas significativos textos/citações, assim em jeito de comemoração, comunhão e reflexão:

1. «Quando a juventude arrefece, o resto do mundo bate o dente» (Bernanos, George);
2. « O futuro do mundo está confiado à juventude» (João XXIII)
3. « Em vós (jovens) está a esperança, uma vez que pertenceis ao futuro, como o futuro vos pertence» (João Paulo II).
4. «Os homens mais velhos declaram as guerras, mas são os jovens que têm de lutar e morrer» (Hoover, Herbert). Qual o país que, tendo assumido para o futuro pesadíssimos encargos, se pode associar a esta máxima? - desculpem o desabafo;
5. « A juventude não foi feita para o prazer mas para o heroísmo.» (Claudel, Paul);
6. «Ser jovem é ter uma causa a que consagrar a própria vida» (Câmara, D. Hélder)

7. De Ortega y Gasset, in 'Rebelião das Massas', excertos de "Disponibilidade Vazia":
O cigano foi-se confessar; mas o padre, precavido, começou por interrogá-lo sobre os mandamentos de Deus. Ao que o cigano respondeu: «Olhe, senhor padre, eu ia aprender isso, mas depois ouvi um zum-zum de que tinha perdido o valor». (...) Todo o mundo – nações, indivíduos – está desmoralizado. Durante uma temporada, esta desmoralização diverte e até vagamente ilude. Os inferiores pensam que lhes tiraram um peso de cima. Os decálogos conservam do tempo em que eram inscritos sobre pedra ou bronze o seu carácter de pesadume. A etimologia de mandar significa carregar, pôr em alguém algo nas mãos. Quem manda é, sem remissão, quem tem o encargo. Os inferiores do mundo inteiro já estão fartos de que os encarreguem e sobrecarreguem, e aproveitam com ar festivo este tempo de pesados imperativos. Mas a festa dura pouco. Sem mandamentos que nos obriguem a viver de um certo modo, fica a nossa vida em pura disponibilidade. Esta é a horrível situação íntima em que se encontram já as melhores juventudes do mundo. De puro sentir-se livres, isentas de entraves, sentem-se vazias. Uma vida em disponibilidade é maior negação que a morte. Porque viver é ter que fazer algo determinado – é cumprir um encargo –, e na medida em que iludamos pôr em algo a nossa existência, desocupamos a nossa vida. Dentro em pouco ouvir-se-á um grito formidável em todo o planeta, que subirá, como uivo de cães inumeráveis, até as estrelas, pedindo alguém e algo que mande, que imponha um afazer ou obrigação.


8. De José Tolentino de Mendonça, in D.N. (Madeira) em 14-08-2011, "Precisamos é de bicicletas":
Muitas vezes parecemos estar à espera de um qualquer sinal espetacular para tomar uma decisão de vida sempre adiada. E queixamo-nos de falta de meios para, então sim, levar a cabo aquela transformação necessária ou aquela viragem desejada ou, mais adiante ainda, aquela concretização que indefinidamente protelamos. Contudo, as verdadeiras transformações inventam os meios próprios para se expressarem, e estes, regra geral, começam por ser espantosamente modestos. Fernando Pessoa, com a caricatura dos que “conquistam o mundo sem levantar-se da cama”, refere, no fundo, uma doença interior infelizmente muito comum: idealizamos de tal maneira o que pode ser a vida que ela perde, depois, o jogo por falta de comparência, sequestrada num plano cada vez mais mental e abstrato. Se a vida não decorre como imaginamos, baixamos as persianas e preferimos não vivê-la. Ora, se não estamos dispostos a aprender com a sabedoria dos pequenos passos e com a dinâmica do provisório dificilmente alcançaremos o segredo da alegria.
Penso em dois grandes pulmões espirituais na Europa que nos está mais próxima: Taizé e Bose. Taizé é uma minúscula povoação que fica a 390 Kms a sudeste de Paris. Em 1940, era uma espécie de zona de demarcação entre a França ocupada pelas tropas alemãs e a França livre. Precisamente nesse ano chega a esse lugar um jovem teólogo suíço, Roger Schutz. Ele vinha buscando, dentro de si, qual seria a sua missão. E não tinha encontrado ainda respostas. O que é engraçado é que a primeira vez que ele chegou a Taizé, fê-lo de bicicleta (veio a pedalar desde Genebra). Poderia ser só um passeio ou uma fuga para lugar nenhum. Taizé não tinha nada, mas ele entendeu esse nada como uma oportunidade para “reparar” as feridas da humanidade. Dois anos depois é expulso dali, porque os alemães perceberam que ele auxiliava os judeus perseguidos. Mas em 1944 ele regressa, e traz já consigo um pequenino grupo de jovens da sua idade, movidos pelo ideal de construir e viver uma experiência monástica, na frugalidade, no silêncio, no louvor e no acolhimento. Hoje largos milhares de jovens caminham para Taizé como se buscassem uma fonte refrescante. E o testemunho do Irmão Roger tornou-se uma inspiração de que não precisamos de aviões a jato ou de veículos sofisticados para descobrir o mapa do coração. Basta-nos uma bicicleta, ou menos ainda.
Bose, por sua vez, fica no Norte da Itália, entre Turim e Milão, no território montanhoso de Biella. No ano de 1968, época de tantas mutações e reivindicações, há um jovem estudante de economia que decide começar uma experiência monástica num pequeno monte periférico. Àquela época não tinha eletricidade, nem água canalizada. Por mais de dez anos ele viveu nessa solidão, fiel à oração e ao trabalho manual. Ele conta, por exemplo, que durante o inverno uma das suas tarefas era não deixar apagar a lareira, que lhe servia para tudo: cozinha, iluminação, aquecimento. Hoje, com graça, ele conta que tudo o que sabe sobre Deus e sobre o amor ao mundo, o deve ao fogo (ou melhor, a essa vigilância ativa para não deixar se apagar o fogo). Muitas vezes achamos que precisamos de mais isto e aquilo, quando, no fundo, precisamos é de aprender a tornar fecundo o nosso ponto de partida (seja ele qual for).

Foto
Tudo isto revela preocupações que não são recentes mas de sempre. Imagine-se de quando e com que dimensão. Citando: 
1. «O nosso mundo atingiu um estado crítico; os filhos não escutam os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe» (Sacerdote egípcio, cerca de 2000 anos A.C.);
2. «Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país, se a juventude de hoje toma o poder, porque esta juventude é insuportável, sem moderação; simplesmente terrível» (Hesíodo, poeta grego dos finais do séc. VIII A.C);
3. «Os jovens de hoje gostam do luxo, são mal educados e desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos e passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais. Apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos. Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes. Cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres. (Sócrates, 469-399 A.C.).

É, por estas & por outras, que gosto de ver os jovens nestas andanças, ali p'rás bandas do leste, não p'rás do "... Sudoeste".










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