"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Os trabalhadores são os únicos patriotas deste País

Daniel Oliveira in EXPRESSO, segunda-feira, 26 de Dezembro de 2011
O Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa está, como quase todos os centros de investigação, sem dinheiro. Os cortes cegos do ministro Crato, que tanta gente parece elogiar, foi a gota de água num copo cheio de problemas antigos e começa a fazer-se sentir no mais básico dos básicos. Resultado: o sofisticado sistema de refrigeração do edifício do ITQB, fundamental para o funcionamento das máquinas ali utilizadas, não podia ser renovado depois de uma avaria dos chillers. Se nada se fizesse perder-se-iam centenas de milhares de euros em equipamento e o trabalho científico ficaria paralisado.
Para resolver o problema o diretor da instituição fez um apelo pouco usual aos trabalhadores: que os funcionários doassem dinheiro, tendo mesmo sugerido, talvez meio a brincar, que prescindissem da metade que restava seu subsidio de Natal e o entregassem para pagar uma despesa de manutenção que cabe ao Estado. É também para este trabalho, fundamental para o nosso desenvolvimento, e não para o BPN e para cobrir benefícios fiscais à banca, que pagamos impostos. Apesar de não serem obrigados a faze-lo, 342 doadores (na sua maioria trabalhadores, colaboradores e bolseiros) entregaram 69 mil euros ao ITQB. As funcionárias responsáveis pela lavagem de material e equipamento, que não tinham folga para isso, fizeram rifas e conseguiram mil euros.
Sobre este assunto, quero apenas dizer duas coisas.

Não é suportável para quem trabalha continuar, para além de todos os sacrifícios que já lhes são exigidos, a retirar o pouco que lhes sobra para poderem continuar a trabalhar. Não é justo que sejam os investigadores a pagar aquilo de que todos beneficiamos. Não é justo que trabalhar já seja visto como um privilégio pelo qual temos de pagar. Não é saudável que os trabalhadores deem parte do seu salário, mesmo que voluntariamente, até porque nunca saberemos como será a reação do empregador quando disseram que já não podem dar mais. Não é assim que as coisas devem funcionar.
Seja como for, este é mais um exemplo para mostrar quem, neste País, está disposto a tudo para nos tirar da crise. Não é a banca, que não hesita a despachar os seus fundos de pensões para o Estado e, depois disso, a receber em troca créditos fiscais, pagando ainda menos impostos do que paga. Não são as grandes empresas nacionais, como a EDP, que apesar de lucros brutais carrega, ano a após ano, ainda mais a nossa factura energética, obrigando-nos a pagar a eletricidade mais cara da Europa. Ou como a PT, que muda a data de distribuição de dividendos para não pagar impostos. Não é o governo, que no País mais desigual da Europa exige sacrifícios aos que já não têm folga e continua a encher o Estado de boys sem currículo. Os únicos patriotas são os trabalhadores, os desempregados e os reformados. Os únicos com amor suficiente ao que fazem para oferecer o que lhes pertence para tentar salvar o futuro de Portugal.

Num tempo em que os portugueses se dedicam à autoflagelação ou que são diariamente insultados na televisão - como se tivessem tido, nos últimos anos, uma "vida fácil" (quem foi que disse, quem foi? Uma pista: trabalha ali p'rós lados dos pastéis de Belém. E ainda outra: foi eleito por cerca de 25%, um quarto apenas, dos eleitores), vale a pena recordar que não é por causa dos trabalhadores portugueses que temos problemas de produtividade. Que não é por causa do contribuinte que estamos endividados. Que não é por causa de nós que a nossa economia é ineficiente. Que não é por causa dos funcionários públicos que o Estado funciona mal. Que não é por causa dos professores que a Escola Pública está aquém do que podia ser. Que não é por causa dos médicos e enfermeiros que o Serviço Nacional de Saúde tem problemas de gestão financeira. Que não é por causa dos investigadores que não somos competitivos. Os trabalhadores do ITQB mostraram mais uma vez que os trabalhadores que temos não merecem as elites que os comandam.    

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