"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 4 de dezembro de 2011

Porque hoje é DOMINGO (4-12-2011): leituras & actualidade

http://www.snpcultura.org/advento.html
EVANGELHO – Mc 1,1-8
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Está escrito no profeta Isaías:
«Vou enviar à tua frente o meu mensageiro,
que preparará o teu caminho.
Uma voz clama no deserto:
‘Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas’».
Apareceu João Baptista no deserto
a proclamar um baptismo de penitência
para remissão dos pecados.
Acorria a ele toda a gente da região da Judeia
e todos os habitantes de Jerusalém
e eram baptizados por ele no rio Jordão,
confessando os seus pecados.
João vestia-se de pêlos de camelo,
com um cinto de cabedal em volta dos rins,
e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
E, na sua pregação, dizia:
«Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu,
diante do qual eu não sou digno de me inclinar
para desatar as correias das suas sandálias.
Eu baptizo-vos na água,
mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo».
AMBIENTE
O Evangelho segundo Marcos parece ter sido o primeiro dos Evangelhos a ser redigido, certamente antes do ano 70. A crítica do texto sugere que se trata de uma obra destinada a uma comunidade maioritariamente composta por cristãos vindos directamente do paganismo, provavelmente a comunidade cristã de Roma.
O final da década de 60 é uma época difícil para os cristãos em geral e para os cristãos da cidade de Roma em particular. Por volta do ano 66, o imperador Nero organizou uma terrível perseguição contra os cristãos da capital do império. Pedro e Paulo foram mortos nesta altura, juntamente com um número considerável de outros cristãos. A fidelidade no seguimento de Jesus comportava o risco contínuo de ver-se desprezado, perseguido e maltratado.
Nesta situação de perseguição e de crise, era necessário afirmar a fé em Jesus Cristo. Como? Marcos percebeu que era preciso entender correctamente a identidade de Jesus. Se a comunidade descobrisse em Jesus o Filho de Deus que veio ao mundo ao encontro dos homens para lhes transmitir a Boa Nova da salvação, era muito mais fácil manter a fidelidade, mesmo num contexto adverso de perseguição e de sofrimento. O Evangelho segundo Marcos vai nascer, pois, com a preocupação de apresentar aos crentes – de forma clara – a verdadeira identidade de Jesus.
O texto que hoje nos é proposto é o prólogo ao Evangelho segundo Marcos. Nesse prólogo, o autor enuncia as coordenadas fundamentais do seu Evangelho. Trata-se, diz o título da obra, de apresentar uma “Boa Notícia” (“evangelho”) aos crentes mergulhados na crise e na perseguição. Qual é essa “Boa Notícia” que deve dar sentido ao sofrimento dos cristãos? É que esse Jesus, à volta do qual se constrói a vida e a fé da Igreja, é o Messias libertador (“o Cristo”) e o Filho de Deus. Nestes dois títulos fica definida, quer a missão específica, quer a identidade de Jesus.
MENSAGEM
O corpo central do nosso texto apresenta-nos a missão de João Baptista (vers. 2-3), a sua pregação (vers. 4), a reacção dos ouvintes (vers. 5), o seu estilo de vida (vers. 6) e o testemunho de João sobre Jesus (vers. 7-8).
Qual é, pois, a missão de João? De acordo com o nosso texto, é ser o “mensageiro” que prepara o caminho para o “Messias”, “Filho de Deus” (vers. 2). A propósito da apresentação da missão de João, o autor apresenta uma citação que atribui ao Profeta Isaías mas que é, na realidade, um conjunto de afirmações retiradas do Êxodo (cf. Ex 23,20), de Isaías (cf. Is 40,3) e de Malaquias (cf. Mal 3,1): “Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. A acumulação de citações tiradas da Torah e dos Profetas sugere que João é esse mensageiro de Deus do qual falavam as promessas antigas, e que devia vir anunciar e preparar o Povo de Deus para acolher a intervenção definitiva de Jahwéh na história dos homens.
Em que consistia a pregação de João? João “apareceu no deserto a proclamar um baptismo de penitência para remissão dos pecados” (vers. 4). De acordo com a catequese judaica, o Messias só chegaria quando Israel fosse, na verdade, a comunidade santa de Deus… Antes de o Messias chegar, o Povo devia, portanto, realizar um caminho de purificação e de conversão, de forma a tornar-se um Povo santo. O “baptismo de penitência” (literalmente, “baptismo de conversão” – ou de “metanoia”) proposto por João deve ser entendido neste contexto e representa um convite à mudança radical de vida, de comportamento, de mentalidade.
Este “baptismo” proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água. Era, inclusive, um rito usado na integração dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade do Povo de Deus. Na perspectiva de João, provavelmente, este “baptismo” é um rito de iniciação à comunidade messiânica: quem aceitava este “baptismo” passava a viver uma vida nova e aceitava integrar a comunidade do Messias.
A pregação de João é feita “no deserto”. O “deserto” é, no contexto da catequese judaica, o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de purificação e de conversão. Foi no deserto que os israelitas libertados do Egipto passaram de uma mentalidade de escravos a uma mentalidade de homens livres, de uma mentalidade de egoísmo a uma mentalidade de partilha, de uma atitude descomprometida a uma Aliança com Jahwéh, da desconfiança em relação à proposta libertadora que Moisés lhes apresentou à confiança total num Deus que cumpre as suas promessas e que é fonte de vida e de liberdade para o seu Povo. A pregação de João lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao “deserto” e de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham percorrido.
Como é que os interlocutores de João reagiam às suas propostas? Marcos diz que “acorria a Ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém” para serem baptizados, confessando os seus pecados (vers. 5). A afirmação de que “toda a gente” acorria ao apelo de João parece manifestamente exagerada… Ao apresentar esta perspectiva ideal da forma como a mensagem foi acolhida pelo Povo, Marcos está, provavelmente, a sugerir o carácter decisivo e determinante da proposta que João faz: não é “mais um” convite à conversão, mas é o último e definitivo apelo de Deus ao seu Povo.
João “vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre”. O estilo de vida de João – sóbrio, desprendido, austero, simples – é um convite claro à renúncia aos valores do mundo. É a aplicação prática dessa austeridade de vida e dessa renovação de atitudes, de comportamentos e de mentalidade que João pede aos seus conterrâneos. O estilo de vida de João corrobora a mensagem que ele apresenta.
Além disso, o estilo de vida de João evoca o profeta Elias que, de acordo com 2 Re 1,8, se vestia “de peles” e “trazia um cinto de couro em volta dos rins”. O profeta Elias era, no universo da esperança judaica, o profeta elevado para junto de Deus e destinado a aparecer de novo no meio dos homens para anunciar a chegada iminente da era messiânica (cf. Mal 3,22-24). A identificação física de João com Elias significa que a era messiânica chegou e que João é o mensageiro esperado, cuja mensagem prepara a chegada do Messias libertador.
O que é que João diz sobre esse Messias libertador, do qual ele é o arauto e o mensageiro? João fala da “força” do Messias e define a sua missão como “baptizar no Espírito”. Tanto a fortaleza como o dom do Espírito são prerrogativas do Messias, segundo a catequese profética (cf. Is 9,6; 11,2). O Messias terá, portanto, a força de Deus e a sua missão será comunicar esse Espírito de Deus, que transforma, renova e recria os corações dos homens.
Em resumo: João é o mensageiro, enviado por Deus para preparar os homens para a chegada do Messias. A mensagem transmitida por João – com a palavra e com a própria atitude de vida – é um apelo veemente à mudança de vida e de mentalidade, a fim de que a proposta do Messias libertador encontre lugar no coração dos homens. João deixa claro que a missão do Messias é comunicar o Espírito que transforma o homem.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes desenvolvimentos:
• Antes de mais, temos de considerar a mensagem principal do nosso texto… João, o Baptista, afirma claramente que preparar a vinda do Messias passa pela “metanoia” – isto é, por uma transformação total do homem, por uma nova atitude de base, por uma outra escala de valores, por uma radical mudança de pensamento, por uma postura vital inteiramente nova, por um movimento radical que leve o homem a reequacionar a sua vida e a colocar Deus no centro da sua existência e dos seus interesses. Neste tempo de Advento, de preparação para a celebração do Natal do Senhor, trata-se de uma proposta com sentido: preparar a vinda de Jesus exige de nós uma transformação radical da nossa vida, dos nossos valores, da nossa mentalidade… Em concreto, o que é que nos meus pensamentos, nos meus comportamentos, na minha mentalidade, nos valores que dirigem a minha vida, é egoísmo, orgulho e auto-suficiência e impede o nascimento de Jesus no meu coração e na minha vida?
Deus convida o homem à transformação e à mudança através desses profetas a quem Ele chama e a quem confia a missão de questionar o mundo e os homens. Estamos suficientemente atentos aos profetas que questionam o nosso estilo de vida e os nossos valores? Damos crédito às suas interpelações, ou consideramo-los figuras incomodativas, ultrapassadas e dispensáveis? E nós, constituídos profetas desde o nosso baptismo, sentimo-nos enviados por Deus a interpelar e a questionar o mundo e os nossos irmãos?
• O “estilo de vida” de João constitui uma interpelação pelo menos tão forte como as suas palavras. É o testemunho vivo de um homem que está consciente das prioridades e não dá importância aos aspectos secundários da vida – como sejam a roupa “de marca” ou a alimentação cuidada. A nossa vida também está marcada por valores, nos quais apostamos e à volta dos quais construímos toda a nossa existência… Quais são os valores fundamentais para mim, os valores que marcam as minhas decisões e opções? São valores importantes, decisivos, eternos, capazes de me dar vida e felicidade, ou são valores efémeros, particulares, egoístas e geradores de dependência e escravidão? Como nos situamos frente a valores e a um estilo de vida que contradiz, claramente, os valores do Evangelho?
• Ao acentuar o carácter decisivo e determinante do apelo de João, Marcos convida-nos a uma resposta objectiva, franca, clara e decidida. Não podem existir meias tintas ou tentativas de protelar a decisão… Estamos ou não dispostos a dizer “sim” aos apelos de Deus? Estamos ou não dispostos a aceitar a sua proposta de “metanoia”? Não chega dizer “talvez” ou “sim, mas…”. Deus espera uma resposta total, radical, decidida, inequívoca à oferta de salvação que Ele faz. Isso significa uma renúncia decidida ao nosso comodismo, à nossa preguiça, ao nosso egoísmo, à nossa auto-suficiência e um embarcar decidido na aventura do Reino que Jesus, há mais de dois mil anos, veio propor aos homens…

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