Considerando:
1. "Três qualidades essenciais de uma homilia: Positiva, concreta, profética" AQUI
2. "A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial" AQUI
3. "A autora recorda sobretudo a homilia dessa eucaristia, que não fez “lembrar nada a imagem da Igreja” que tinha “de pequenina”, e que a fez afastar-se depois de fazer a “primeira comunhão”. Para saber mais, clicar AQUI
4. "Os leitores mais atentos poderão confirmar se o Papa Francisco é coerente quando exige qualidade nas homilias como fez na exortação apostólica "A alegria do Evangelho" e a sua prática nas missas que celebra em Santa Marta. Basta ler o livro que reproduz muitas daquelas saborosas homilias feriais" - Pe. Rui Osório in JN de 11/1/2015 - "A verdade é um encontro" AQUI
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias. Para saber mais clicar, AQUI
5. Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias. Para saber mais clicar, AQUI
6. Diretório homilético: Para falar de fé e beleza mesmo quando não se é «grande orador». Ver AQUI
7. Papa mais, pede aos padres para falarem ao «coração» e não fazerem «homilias demasiado intelectuais». Par saber mais, clicar AQUI.
8. Porquê ir à missa ao domingo? Ler AQUI.
9. O que é que se faz para que a Eucaristia dominical seja algo de vital, de verdadeiramente comunitário, capaz de permitir o reconhecimento recíproco e uma autêntica fraternidade para quantos nela participam? Ler&saber AQUI.
Então:
Tema do 2º Domingo do Tempo Pascal - Ano C
A liturgia deste domingo põe em relevo o papel da comunidade cristã como espaço privilegiado de encontro com Jesus ressuscitado.
O Evangelho sublinha a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
A segunda leitura insiste no motivo da centralidade de Jesus como referência fundamental da comunidade cristã: apresenta-O a caminhar lado a lado com a sua Igreja nos caminhos da história e sugere que é n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.
A primeira leitura sugere que a comunidade cristã continua no mundo a missão salvadora e libertadora de Jesus; e quando ela é capaz de o fazer, está a dar testemunho desse Cristo vivo que continua a apresentar uma proposta de redenção para os homens.
EVANGELHO – Jo 20,19-31
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado,
não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!»
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
AMBIENTE
Continuamos na segunda parte do Quarto Evangelho, onde nos é apresentada a comunidade da Nova Aliança. A indicação de que estamos no “primeiro dia da semana” faz, outra vez, referência ao tempo novo, a esse tempo que se segue à morte/ressurreição de Jesus, ao tempo da nova criação.
A comunidade criada a partir da acção de Jesus está reunida no cenáculo, em Jerusalém. Está desamparada e insegura, cercada por um ambiente hostil. O medo vem do facto de não terem, ainda, feito a experiência de Cristo ressuscitado.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto divide-se em duas partes bem distintas.
Na primeira parte (cf. Jo 20,19-23), descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a situação de insegurança e fragilidade que dominava a comunidade (o “anoitecer”, “as portas fechadas”, o “medo”), o autor deste texto apresenta Jesus “no centro” da comunidade (vers. 19b). Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-Se como ponto de referência, factor de unidade, a videira à volta da qual se enxertam os ramos. A comunidade está reunida à volta d’Ele, pois Ele é o centro onde todos vão beber a vida.
A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21: é o “shalom” hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança). Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os assustava: a morte, a opressão, a hostilidade do “mundo”.
Depois (vers. 20a), Jesus revela a sua “identidade”: nas mãos e no lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais de amor e doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama, e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.
Em seguida (vers. 22), Jesus “soprou sobre eles”. O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem – como Jesus – dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que constitui e anima a comunidade.
As palavras de Jesus à comunidade contêm ainda uma referência à missão (vers. 23). Os discípulos são enviados a prolongar o oferecimento de vida que o Pai apresenta à humanidade em Jesus. Quem aceitar essa proposta de vida, será integrado na comunidade; quem a rejeitar, ficará à margem da comunidade de Jesus.
Na segunda parte (cf. Jo 20,24-29), apresenta-se uma catequese sobre a fé. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? João responde: podemos fazer a experiência da fé em Jesus vivo e ressuscitado na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter uma demonstração particular de Deus.
Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. Porquê? Porque, no “dia do Senhor”, volta a estar com a sua comunidade. É uma alusão clara ao domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado.
A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; mas todos os cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência.
ACTUALIZAÇÃO
Ter em conta os seguintes desenvolvimentos:
• A comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é d’Ele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito e não seremos uma comunidade de irmãos… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte?
• A comunidade tem de ser o lugar onde fazemos, verdadeiramente, a experiência de Jesus ressuscitado. É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo. É isso que a nossa comunidade testemunha? Quem procura Cristo encontra-O em nós?
• Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoístas que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. O que é que significa, para mim, a Eucaristia?
O Evangelho sublinha a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
A segunda leitura insiste no motivo da centralidade de Jesus como referência fundamental da comunidade cristã: apresenta-O a caminhar lado a lado com a sua Igreja nos caminhos da história e sugere que é n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.
A primeira leitura sugere que a comunidade cristã continua no mundo a missão salvadora e libertadora de Jesus; e quando ela é capaz de o fazer, está a dar testemunho desse Cristo vivo que continua a apresentar uma proposta de redenção para os homens.
EVANGELHO – Jo 20,19-31
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado,
não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!»
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
AMBIENTE
Continuamos na segunda parte do Quarto Evangelho, onde nos é apresentada a comunidade da Nova Aliança. A indicação de que estamos no “primeiro dia da semana” faz, outra vez, referência ao tempo novo, a esse tempo que se segue à morte/ressurreição de Jesus, ao tempo da nova criação.
A comunidade criada a partir da acção de Jesus está reunida no cenáculo, em Jerusalém. Está desamparada e insegura, cercada por um ambiente hostil. O medo vem do facto de não terem, ainda, feito a experiência de Cristo ressuscitado.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto divide-se em duas partes bem distintas.
Na primeira parte (cf. Jo 20,19-23), descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a situação de insegurança e fragilidade que dominava a comunidade (o “anoitecer”, “as portas fechadas”, o “medo”), o autor deste texto apresenta Jesus “no centro” da comunidade (vers. 19b). Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-Se como ponto de referência, factor de unidade, a videira à volta da qual se enxertam os ramos. A comunidade está reunida à volta d’Ele, pois Ele é o centro onde todos vão beber a vida.
A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21: é o “shalom” hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança). Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os assustava: a morte, a opressão, a hostilidade do “mundo”.
Depois (vers. 20a), Jesus revela a sua “identidade”: nas mãos e no lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais de amor e doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama, e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.
Em seguida (vers. 22), Jesus “soprou sobre eles”. O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem – como Jesus – dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que constitui e anima a comunidade.
As palavras de Jesus à comunidade contêm ainda uma referência à missão (vers. 23). Os discípulos são enviados a prolongar o oferecimento de vida que o Pai apresenta à humanidade em Jesus. Quem aceitar essa proposta de vida, será integrado na comunidade; quem a rejeitar, ficará à margem da comunidade de Jesus.
Na segunda parte (cf. Jo 20,24-29), apresenta-se uma catequese sobre a fé. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? João responde: podemos fazer a experiência da fé em Jesus vivo e ressuscitado na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter uma demonstração particular de Deus.
Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. Porquê? Porque, no “dia do Senhor”, volta a estar com a sua comunidade. É uma alusão clara ao domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado.
A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; mas todos os cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência.
ACTUALIZAÇÃO
Ter em conta os seguintes desenvolvimentos:
• A comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é d’Ele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito e não seremos uma comunidade de irmãos… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte?
• A comunidade tem de ser o lugar onde fazemos, verdadeiramente, a experiência de Jesus ressuscitado. É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo. É isso que a nossa comunidade testemunha? Quem procura Cristo encontra-O em nós?
• Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoístas que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. O que é que significa, para mim, a Eucaristia?
ou em vídeo AQUI.
Feridas da cruz, alfabeto de amor
Jesus respeita a dificuldade e as dúvidas; respeita os tempos de cada um e a complexidade do acreditar; não se escandaliza, repropõe-se. Que belo seria se também nós fossemos formados, como no cenáculo, mais para o aprofundamento da fé do que para a obediência; mais à procura do que ao consenso. Quantas energias e quanta maturidade seriam libertadas! Para saber mais clicar AQUI.
«Soprou sobre eles e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo"»
Senhor Jesus Cristo, faz com que voltemos a ter «um só coração e uma só alma» (At 4,32), porque, nesse momento, far-se-á «uma grande calma» (Mc 4,39). Meus caros irmãos, exorto-vos à amizade e à benevolência entre vós, e à paz entre todos; porque, se tivermos caridade entre nós, teremos a paz e o Espírito Santo. Temos de ser piedosos e de rezar [...], porque os apóstolos eram perseverantes na oração. [...] Se começarmos a rezar fervorosamente, o Espírito Santo virá sobre nós e dirá: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» (cf Mc 6,50) [...] E que devemos pedir a Deus, meus irmãos? Tudo o que for para sua honra e para a salvação das nossas almas; numa palavra, a ajuda do Espírito Santo: «Se lhes envias o teu Espírito [...], renovas a face da Terra» (Sl 104, 30). [...]
Temos de pedir essa paz, para que o Espírito da paz desça sobre nós. Temos também de dar graças a Deus por todos os seus benefícios, se quisermos que Ele nos conceda as vitórias que são o início da paz; e, para obtermos o Espírito Santo, temos de agradecer a Deus Pai que O enviou, primeiramente, ao nosso mestre, Jesus Cristo, Nosso Senhor, seu Filho [...], porque «todos nós participamos da sua plenitude» (cf. Jo 1,16), e porque O enviou aos seus Apóstolos para que no-l'O comunicassem, impondo sobre nós as mãos. Temos de agradecer ao Filho: tal como Deus, Ele envia-nos o Espírito; sendo Deus, envia o Espírito aos que se dispõem a recebê-l'O. Mas, sobretudo, temos de agradecer porque, sendo homem, nos mereceu a graça de recebermos o Divino Espírito [...].
E como é que Jesus nos mereceu a vinda do Espírito Santo? «Inclinando a cabeça, entregou o espírito» (Jo 19,30); porque, entregando o seu último suspiro e o seu espírito ao Pai, mereceu-nos que o Pai enviasse o Espírito ao seu corpo místico.
São Francisco de Sales (1567-1622)bispo de Genebra, doutor da Igreja
1.º Sermão para o Pentecostes (rev.)
1.º Sermão para o Pentecostes (rev.)
A FÉ DE
TOMÉ
– Aparição de Jesus aos Apóstolos, quando Tomé estava ausente.
Comunicam-lhe que Jesus ressuscitou. Apostolado com os que conheceram o Senhor,
mas não procuram relacionar-se com Ele.
– O acto de fé do Apóstolo Tomé. A nossa fé deve ser operativa: actos de
fé, confiança no Senhor, apostolado.
– A Ressurreição é um apelo para que manifestemos com a nossa vida que
Cristo vive. Necessidade de nos formarmos bem.
I. O PRIMEIRO DIA da semana1, o dia em que o Senhor ressuscitou, o primeiro
dia do novo mundo, está repleto de acontecimentos: de manhã
cedo2, quando as mulheres vão ao
sepulcro, até à noite, muito tarde3,
quando Jesus vem confortar os amigos mais íntimos: A paz esteja convosco,
disse-lhes. Depois, mostrou-lhes as mãos e o lado. Nesta ocasião, Tomé
não estava com os outros Apóstolos; não pôde, pois, ver o Senhor, nem ouvir as
suas palavras consoladoras.
2
Foi este Apóstolo que disse uma vez:
Vamos nós também, para morrer com Ele4.
E, na Última Ceia, manifestou ao Senhor a sua ignorância com a maior
simplicidade: Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos saber o
caminho?5 Cheios de uma alegria profunda,
os Apóstolos devem ter procurado Tomé por toda a Jerusalém naquela mesma noite
ou no dia seguinte. Mal o encontraram, disseram-lhe: Vimos o Senhor! Mas
Tomé continuava profundamente abalado com a crucifixão e a morte do Mestre. Não
dá nenhum crédito ao que lhe dizem: Se não vir nas Suas mãos a abertura dos
cravos, se não meter a minha mão no Seu lado, não acreditarei6. Os que tinham compartilhado com ele aqueles
três anos, e que lhe estavam unidos por tantos laços, devem ter-lhe repetido
então, de mil maneiras diferentes, a mesma verdade que era agora, a sua alegria
e a sua certeza: Vimos o Senhor!
Tomé pensava que o Senhor estava
morto. Os outros garantiam que estava vivo, que eles próprios o tinham visto e
ouvido, que tinham estado com Ele. Nós temos que fazer o mesmo: para muitos
homens e para muitas mulheres, é como se Cristo estivesse morto, porque pouco
significa para eles, e quase não conta nas suas vidas. A nossa fé em Cristo
ressuscitado anima-nos a ir ao encontro dessas pessoas e a dizer-lhes, de mil
maneiras diferentes, que Cristo vive, que estamos unidos a Ele pela fé e
permanecemos com Ele todos os dias, que Ele orienta e dá sentido à nossa vida.
Desta maneira, cumprindo essa exigência da fé, que
é difundi-la com o exemplo e a palavra, contribuímos pessoalmente para a
edificação da Igreja, como aqueles primeiros cristãos de que falam os Actos dos
Apóstolos: Cada vez aumentava mais o número dos homens e mulheres que
acreditavam no Senhor7.
II. OITO DIAS DEPOIS, estavam os discípulos,
outra vez, em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas,
colocou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Em seguida disse a
Tomé: «Mete aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima também a tua mão e
mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel8.
A resposta de Tomé é um acto de fé,
de adoração e de entrega, sem limites: Meu Senhor e meu Deus! São quatro
palavras inesgotáveis. A fé do Apóstolo brota, não tanto da evidência de Jesus,
mas de uma dor imensa. O que o leva à adoração e ao retorno ao apostolado não
são tanto, as provas, como o amor. Diz a Tradição que o Apóstolo Tomé morreu
mártir pela fé no seu Senhor. Consumiu a vida a seu serviço.
As dúvidas de Tomé viriam a servir
para confirmar a fé dos que mais tarde haviam de crer n'Ele. “Porventura
pensais – comenta São Gregório Magno – que foi um simples acaso que aquele
discípulo escolhido estivesse ausente, e que depois, ao voltar, ouvisse relatar
a aparição e, ao ouvir, duvidasse, e, duvidando, apalpasse, e, apalpando,
acreditasse? Não foi por acaso, mas por disposição divina que isso aconteceu. A
divina clemência agiu de modo admirável quando este discípulo que duvidava
tocou as feridas da carne do seu Mestre, pois assim curava em nós as chagas da
incredulidade [...]. Foi assim, duvidando e tocando, que o discípulo se tornou
testemunha da verdadeira ressurreição”9.
Se a nossa fé for firme, também
haverá muitos que se apoiarão nela. É necessário que essa virtude teologal vá
crescendo em nós, de dia para dia, que aprendamos a olhar as pessoas e os
acontecimentos como o Senhor os olha, que a nossa actuação no meio do mundo
esteja vivificada pela doutrina de Jesus. Por vezes, ver-nos-emos faltos de fé,
como o Apóstolo. Teremos, então, de crescer em confiança no Senhor, seja em
face das dificuldades no apostolado, ou de acontecimentos que não sabemos
interpretar do ponto de vista sobrenatural, ou de momentos de escuridão, que
Deus permite para que se firmem em nós outras virtudes.
A virtude da fé é a que nos dá a
verdadeira dimensão dos acontecimentos e a que nos permite julgar rectamente
todas as coisas. “Só com a luz da fé e a com a meditação da palavra de Deus
pode alguém reconhecer sempre e em toda a parte a Deus no qual «vivemos, nos movemos e existimos» (Act
17, 28). Somente assim é possível procurar a vontade divina em todos os
acontecimentos, ver Cristo em todos os homens, sejam próximos ou estranhos, e julgar
rectamente do verdadeiro sentido e valor das realidades temporais, tanto em si
mesmas como em ordem ao fim do homem”10.
Meditemos o Evangelho da Missa de
hoje. “Fixemos de novo o olhar no Mestre. Talvez também escutes, neste momento,
a censura dirigida a Tomé: Mete aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos;
aproxima também a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel
(Jo 20, 27); e, como ao Apóstolo, sairá da tua alma, com sincera contrição,
aquele grito: Meu Senhor e meu Deus! (Jo 20, 28), reconheço-Te
definitivamente, como Mestre e, com o teu auxílio – vou guardar para sempre os Teus
ensinamentos e esforçar-me por segui-los com lealdade”11.
Meu Senhor e meu Deus! Estas palavras têm servido de jaculatória a muitos
cristãos, e como acto de fé na presença real de Jesus Cristo na Sagrada
Eucaristia, quando se passa diante de um sacrário ou no momento da Consagração
da Missa... Também nos podem ajudar a nós a tornar actual a nossa fé e o nosso
amor por Cristo ressuscitado.
III. O SENHOR RESPONDEU a Tomé: «Tu
acreditaste, Tomé, porque Me viste; bem-aventurados os que acreditaram sem
terem visto» 12. “É uma frase – diz São
Gregório Magno – que se refere, sem dúvida, a nós, que confessamos com a alma
Aquele que não vimos na carne. Mas refere-se a nós se vivermos de acordo com a
fé, pois só crê verdadeiramente, aquele que pratica o que crê”13.
A Ressurreição do Senhor é um apelo
para que manifestemos, com a nossa vida, que Ele vive. As obras do cristão
devem ser fruto e manifestação da sua fé em Cristo.
Nos primeiros séculos, a difusão do
cristianismo realizou-se, principalmente, pelo testemunho pessoal dos cristãos
que se convertiam. Era uma pregação singela da Boa Nova: de homem para homem,
de família para família; entre os que tinham o mesmo ofício, entre vizinhos;
nos bairros, nos mercados, nas ruas. Hoje, também o Senhor quer que o mundo, a
rua, o trabalho, as famílias sejam veículo para a transmissão da fé.
Para confessarmos a nossa fé com a
palavra, é necessário que conheçamos o seu conteúdo com clareza e precisão. Por
isso, a nossa Mãe, a Igreja tem feito tanto finca-pé ao longo dos séculos em
que se estudasse o Catecismo, pois contém, de uma maneira breve e
simples, as verdades essenciais que temos de conhecer para podermos depois
vivê-las. Já Santo Agostinho insistia com os catecúmenos que estavam prestes a
receber o Baptismo: “No próximo sábado, em que, se Deus quiser, celebraremos a
vigília, recitareis não a oração (o Pai-Nosso), mas o símbolo (o Credo);
porque, se não o aprenderdes agora, depois, na Igreja, não o ouvireis todos os
dias da boca do povo. E, aprendendo-o bem, dizei-o diariamente para não o
esquecerdes: ao levantar-vos da cama, ao ir dormir, recitai o vosso símbolo,
oferecei-o a Deus, procurando memorizá-lo e repetindo-o, sem preguiça. Para não
esquecer, é bom repetir. Não digais: «Já o disse ontem, e digo-o hoje, e
repito-o diariamente; tenho-o bem gravado na memória». Que seja para ti como um
recordatório da tua fé e um espelho em que te possas olhar. Olha-te nele,
verifica se continuas a acreditar em todas as verdades que, de palavra, dizes
crer, e alegra-te diariamente na tua fé. Que essas verdades sejam a tua
riqueza; que sejam como que o adorno da tua alma”14.
Teríamos que dizer estas mesmas palavras a muitos cristãos, pois são muitos os
que andam esquecidos do conteúdo essencial da sua fé.
Jesus Cristo pede-nos também que o
confessemos com obras diante dos homens. Por isso, pensemos: não teríamos que
ser mais valentes nesta ou naquela ocasião? Não teremos que ser mais
sacrificados quando se trata de levar adiante as nossas tarefas? Pensemos no
nosso trabalho, no ambiente à nossa volta: somos conhecidos como pessoas que
têm vida de fé? Não nos faltará audácia no apostolado?
Terminamos a nossa oração pedindo à
Virgem, Sede da Sabedoria, Rainha dos Apóstolos, que nos ajude a
manifestar com a nossa conduta e com as nossas palavras que Cristo vive.
(1) Jo 20, 1; (2) Mc 16, 2; (3) Jo 20, 19; (4) Jo 11, 16; (5) Jo 14, 5;
(6) Jo 20, 25; (7) Act 5, 14; (8) Jo 20, 26-27; (9) São Gregório Magno, Homilias
sobre os Ev., 26, 7; (10) Conc. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem,
4; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 145; (12) Jo 20, 29;
(13) São Gregório Magno, op. cit., 26, 9; (14) Santo Agostinho, Sermão
58, 15.
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