"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 2 de junho de 2013

REFLEXÃO/MEDITAÇÃO/ATENÇÃO: "A verdadeira conspiração" e "O gosto em ter filhos"

JOÃO CÉSAR DAS NEVES
DN2013-05-20
 

Se alguém pretender destruir a sociedade, como deve proceder? Multiplicam-se essas acusações e os réus são múltiplos, do Governo aos bancos, do euro aos corruptos. Tomemos então a sério tais denúncias. Se se quiser mesmo a aniquilação de Portugal, qual a forma mais eficiente de o conseguir?
Curiosamente as dificuldades recentes provam o oposto do que muitos alegam: o tecido social de um povo é sempre muito resistente, o que torna a sua destruição extremamente difícil. Uma crise económica, por grave que seja, nunca gera efeitos duradouros numa nação, quanto mais definitivos. Mesmo que a dose fosse muito maior, como na Grécia ou em Chipre, ao fim de uns anos tudo normaliza. Até o caso extremo da "grande depressão" dos anos 1930 não chegou para destruir os EUA, que aliás pouco depois dominavam o mundo.
Se o nosso inimigo radical passasse para métodos políticos ou militares, não teria melhor sorte. A França de 1792 ou a Alemanha de 1945 são casos extremos de pressão revolucionária ou demolição bélica. Mas nem essas gerações se perderam, quando mais a respectiva cultura e nação. A única conclusão razoável é que a sociedade é uma das realidades mais resistentes do universo. As contínuas referências a demolição nacional não passam, portanto, de exageros vácuos. Sabemos bem como as dificuldades levam muitos a carregar no acelerador retórico, disparando a grande velocidade para a asneira. Mas, apesar do que dizem, é muito difícil destruir Portugal.
Quer isto dizer que um malévolo não teria forma de conseguir os seus perversos intentos? Não. Há uma maneira, e é simples. Para matar um homem cortando-lhe os braços, é precisa uma espada; para o atingir no coração, basta uma agulha. A maneira mais eficiente de dar cabo de um povo é ferir o seu núcleo mais central. E é isso exactamente que nos está a acontecer.
Não existe nenhuma conversa sobre a família em que não se oiça que ela é a célula base da sociedade. Que poderemos então concluir da sua dramática crise contemporânea, senão que ela põe em risco a sobrevivência nacional? A única dedução possível é que está bastante adiantada uma degradação de todo o tecido cultural, de onde só recuperaremos com muita dificuldade. Um povo com dúvidas sobre o sentido de "cidadão" sofreria graves consequências. Que dizer de um que degrade o conceito de casamento?
A queda demográfica chega, só por si, para justificar enorme preocupação. Sem filhos não há futuro e a inversão da pirâmide etária cria vastas consequências. Como pretender crescimento económico numa população em regressão? Mesmo assumindo que a tacanhez actual só liga a questões económicas, fiscais e políticas, já teria aí muito com que se entreter.
A isto juntam-se as brutais consequências humanas, psicológicas, educativas, culturais e sociais que nascem de famílias em desagregação. Conflitualidade conjugal, explosão de divórcios, desequilíbrio emocional, precarização de relações, penetração do egoísmo, são sintomas evidentes e ameaçadores. O resultado é solidão, desespero ou embriaguez.
Tudo nasce de uma ideologia lasciva que impõe o postulado de que no sexo todos os prazeres são equivalentes e devem ser excitados. Esta mentira evidente e clamorosa consegue passar por razoável na propaganda libertina.
O tempo que teme tabaco e obesidade promove divórcio, aborto, promiscuidade e depravação.O que mais espanta é a apatia generalizada da população perante a podridão, enquanto se enfurece e assusta com questões económicas, secundárias e passageiras. As elites de poder, do CDS, PSD e PS, aplaudidas por PCP e BE, são parte activa do problema, não da solução. As leis recentes sobre o tema envergonhar-nos-ão durante séculos.
Portugal está doente, muito doente. Não pelo défice e dívida, nem sequer pelo desemprego e recessão. Tudo isso resolve-se em anos. A verdadeira doença que, mesmo não fatal, deixará mazelas por gerações, é a incompreensível, boçal e brutal dissolução familiar. Assim este período ficará marcado na nossa história. Se houver história.
 
 
Editorial
DN2013-05-26
Numa célebre canção de Simone proclama-se que "quem faz um filho fá-lo por gosto". Será, porém, apressado afirmar que, então, os portugueses deixaram de gostar de ter filhos? As estatísticas mostram que das 120 mil crianças por ano em 1999 se tenha passado para cerca de 99 mil uma década depois e apenas 91 mil no ano passado. São as complexidades e exigências de uma sociedade moderna, sobretudo às mulheres, que explicam a quebra gradual da natalidade no País, sendo que a crise económica justifica a queda abrupta destes últimos tempos.
De saudar, então, os corajosos que insistem em ter filhos neste Portugal marcado por notícias de défice por controlar, recessão sem fim e desemprego a crescer. Casais que, como aqueles que surgem hoje numa reportagem no DN, se enchem de coragem e dão o passo de ter o primeiro filho (ou o segundo) pesando os prós e os contras e achando que afinal os prós ganham. Não são gente abonada, há até quem tenha de fazer muitas contas, mas o desejo de ser mãe e pai é por vezes mais forte do que a racionalidade económica. E ainda bem que acontece. Voltando à canção de Simone, ainda bem que gostam.
Mas ao Estado exige-se racionalidade, mesmo (ou sobretudo) em tempo de crise. Pode ser mais urgente relançar a economia, pode ser até que quando tal acontecer se comece a resolver o problema demográfico, mas a verdade é que há que imaginar incentivos à natalidade. Pois ver a população minguar até pode não assustar alguns, já faltar população ativa que contribua para a sustentabilidade da segurança social, em especial o pagamento das pensões dos mais velhos, é terrível para todos. E bem se pode falar em mexidas na idade da reforma, que sem crianças a nascer não há soluções.
Da parte da classe política pouca preocupação se sente com a demografia. Houve um discurso presidencial no ano passado em que o assunto foi tocado, mas pouco mais. Não compete ao Estado dizer às pessoas se devem ou não ter filhos (e quantos), mas é obrigação do Estado dar-lhes condições para tal. Quando se fala que Estado queremos ter (ou pagar), também temos de pensar nesta questão de fazer nascer crianças, que passa por educação e saúde de qualidade tanto como os pais conseguirem um emprego que lhes assegure a dignidade. Contar só com o gosto dos pais é irresponsabilidade governativa e prova de falta de visão estratégica para o País
FONTE: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/editorial.aspx?content_id=3240002&page=-1

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