Sob o olhar vago e eticamente indiferente, há uma cortina de fogo aparentemente intransponível que consome em geral o humano contemporâneo. Na atual ordem internacional verificam-se, no dizer de Brueggemann, três tipos de neutralizações salomónicas: neutralização da igualdade com a economia da abundância; neutralização da política de justiça com o crescimento da política de opressão e escravização; neutralização da religião da liberdade de Deus com a religião da acessibilidade de Deus (modalidade escolhida pelo império globalizado do consumo tecnológico e multimedial). Embora as duas primeiras neutralizações sejam bastante atuais, a terceira é bem mais subtil e legitima de alguma forma as duas primeiras. Ilustra esta posição a passagem bíblica do livro dos Reis: “Disse então Salomão: “O Senhor decidiu habitar em nuvem escura// Por isso é que eu te edifiquei um palácio, um lugar onde habitarás para sempre” (1 Re 8, 12-13). Nesta construção imperial Deus torna-se acessível, demasiadamente acessível, ao ponto do humano fundar uma teocracia ilegítima de opressão.
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A única autoridade existente no mundo é “autoridade universal dos que sofrem” (J.B. Metz). É este o paradigma e o critério da teologia cristã. É impossível continuar a anunciar uma esperança camuflada e douradamente revestida. Se ainda existe uma consciência crente, ela é uma consciência ética que reflete a consciência de Cristo na sua relação justa com Abbá-Deus capaz de libertar o humano de todas as escravidões. Não podemos continuar somente preocupados com a recuperação do sacro litúrgico, de celebrar devotamente os santos mistérios, a multidão eufórica das JMJ 2013 gritando por um Jesus multifunções e multifacetado, quando o corpo de Cristo, que é a humanidade inteira presente no corpo eucarístico eclesial, e neste caso os humanos da Síria, continuam todos os dias a ser espezinhados por inércia, por silêncios cautelosos e prudentes (!) das chamadas consciências democráticas e religiosas do mundo civilizado.
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