O léxico do pedir é prolífero, mas também inconstante. Pedimos com simplicidade e com inúmeros rodeios. Mantemo-nos fluentes ou gaguejamos, mergulhados numa insegurança que nos tolhe. Penso muitas vezes num pedinte que conheci em Roma. Era (e é) impossível não dar com ele quando se visita a cidade. Eu estava sempre a esbarrar com uma das suas passagens: à saída da universidade, da biblioteca, do cinema, no Campo das Flores, em São Pedro, por todo o lado. De dia ou de noite. Um homem que andará hoje pelos sessenta anos de idade, com um porte discreto, delicado até. A primeira vez que a sua interpelação nos é dirigida pensamos que se trata de alguém que precisa de completar a quantia necessária para um bilhete de metro ou para uma fatia de pizza. Depois de o encontrarmos centenas de vezes, ficamos sem saber exatamente o que pensar. Assisti, porém, a uma cena que porventura pode esclarecer parte do enigma.
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