Entre as mãos perfumadas daquela mulher frágil, na casa de Simão, o leproso (Mt 26,6-16), aparece um Deus que ama a fragilidade, aquela fragilidade que é própria das coisas gratuitas, mas, sobretudo, de quem não se basta a si mesmo, e que é a origem da vontade de relação, de compreensão, de amor. Os sentimentos são a essência daquilo que a fragilidade gera no homem. Ela não é um defeito, um handicap, mas a expressão da condição humana. Pela fragilidade, o homem busca ajuda, busca laços e, apoiando uma fragilidade na outra, sustém-se o mundo.
A fragilidade não impele a vencer, conhece os últimos e não apenas os fortes. Não acredita na força, no poder; sabe que este é só simulação, uma máscara para ocultar o medo. Pelo contrário, é um recurso, uma estratégia, uma visão de vida que mostra a busca de poder como uma atrofia do viver.
A fragilidade não é debilidade ou diminuição, não é incapacidade de fazer ou de pensar, é tão-só uma visão de um mundo que já se não divide em vencedores e vencidos, onde o vencedor é o mais forte, o mais violento, o mais cruel. A fragilidade persegue o sonho de um mundo onde o vencedor é aquele que dá e que recebe amor.
Leio o Evangelho e busco um Deus da fragilidade, um Deus não para adorar e venerar, mas para acariciar e perfumar, que ri e brinca com os seus filhos, nos calorosos jogos do mar e do verão. Um Deus que sabe ouvir e esperar junto de mim, que temo a dor e o deserto. Um Deus pequeno, não o omnipotente, que me enriqueça com a sua pobreza, com a sua necessidade de carícias e de perfume.
Um Deus tão frágil que faça pensar sempre no amor, e faça sentir a vontade de ser amado. Beleza da fragilidade.
O Deus dos poderosos - o Rei dos reis, o Eterno - não me interessa. Quero o Deus que me seduz com a sua beleza, um Deus belo. Enamorado. Que se encontra do lado do perfume.
Não quero um Deus que se erga na justiça absoluta, no poder ilimitado, na perfeita inteligência. Seria um Deus que não sente a necessidade de se inclinar numa carícia, quando se eleva um gemido de dor (V. Andreoli). Pelo contrário, o meu Deus é Jesus: que conhece a pressão do medo, a dor da recusa, a paixão do abraço, o calafrio pela carícia dos cabelos embebidos em nardo da mulher pecadora e amorosa.
Um Deus que me concede o direito de ser débil, «cana rachada», frágil como um homem e não hirto como um herói. E não me condena se sou mecha fumegante, mas pega neste meu fio de fumo, presságio de fogo possível, trabalha-o e protege-o, até dele fazer irromper de novo a chama. Não acaba por quebrar a cana rachada que eu sou, mas enfaixa-a como se fosse um coração ferido. Deus da fragilidade.
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