"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























quinta-feira, 30 de agosto de 2012

FÉRIAS (d)e VERÃO com CINEMA (29)

ENCONTRARÁS DRAGÕES

Quando comunicaram a Charles de Foucauld a necessidade de abater o seu cavalo predilecto, o oficial do exército francês exigiu que ao animal fossem prestadas honras fúnebres. Dito e feito. Colocaram o cadáver da besta na fossa correspondente, o enlutado cavaleiro fez a sua apologia, enalteceu as excelentes qualidades equinas e rematou o discurso com uma conclusão escatológica e profética: -Tenho a certeza de que, tendo sido um tão bom cavaloaqui na terra, não poderás deixar de ir para o céu! E é isso, precisamente, oque mais me entristece porque, assim, de certeza que não te voltarei a ver!
A história não confirmou a profecia, não só porque não consta que o cavalo tenha sido recebido no reino dos Céus, mas também porque o Visconde de Foucauld, ao contrário do que o seu mundano passado lhe tinha levado a vaticinar, veio a sernão apenas um exímio fiel cristão, mas também fundador de uma benemérita ordem religiosa, falecido com fama de santidade e, eventualmente, mártir.
Mas não é sobre o Beato Charles de Foucauld que trata o filme «Encontrarásdragões», ainda em exibição em várias salas do nosso país, muito embora a acção que serve de argumento seja também de natureza bélica. Com efeito, o realizadorde «A Missão» e de «Killing fields», ao recriar, com engenho e arte, a vida de Josemaria Escrivá, centrou-a no conturbado período da guerra civil espanhola,que o fundador do Opus Dei viveu com especial intensidade, quer quando sofreu,na sua própria carne, as agruras da cruenta perseguição contra a Igreja, quer quando, depois de não poucas vicissitudes, logrou passar para a outra zona. No entanto, a questão política e militar é secundária no guião, centrado nos percursos divergentes do padre católico e de um seu impenitente amigo e ex-colega, em que a recusa inicial da lógica cristã do amor e do perdão se resolve in extremis.
Sé verdade que os pecadores incomodam, os santos incomodam muito mais. As fraquezas evidentes dos nossos semelhantes talvez nos mereçam reparo, mas o vê-las favorece a nossa auto-estima, enquanto a heroicidade das virtudes dos bem-aventurados não só nos envergonha, como denuncia a nossa fé débil, tantas vezes dúbia e vacilante. Há quem tenha tentado superar este doloroso confronto da nossa costumeira tibieza e da exaltada heroicidade dos bem-aventurados, elevando-os a uma outra condição, como se tivessem nascido já predestinados para uma tão excelsa missão que nunca experimentassem as fraquezas de que é capaz o coração humano. Mas não, também os santos, talvez até mais do que o comum dos mortais, sofreram no seu corpo e no espírito todos os combates a que deve fazer frente a natureza humana para corresponder à vocação para aperfeição da caridade, que é o amor. Os santos não foram os que não tiveram que lutar, por terem nascido confirmados no bem, mas os que, mesmo tendo encontrado dragões, interiores e exteriores, os souberam vencer com a ajuda de Deus, estimulada pelo seu constante começar e recomeçar.
É provável que «Encontrarás dragões» não satisfaça alguns devotos de São Josemaria, que acharão que o filme, que não faz a apologia do Opus Dei, apresenta o seu fundador numa desarmante naturalidade e, por isso, aquém da aura mística em que às vezes sonhamos as exemplares vidas dos santos. Como ele próprio referia, via-se apenas e tão só como um pecador que ama Jesus Cristo.Apesar de se sentir «capaz de todos os erros e horrores», como dizia, não desistia do ideal da santidade, não como auto-aperfeiçoamento complacente, mas como resposta ao amor de Deus e da Igreja, que serviu apaixonadamente. E os queo seguem, não seguem a ele, mas a Cristo, como muitos anos antes, as pegadas na neve de um descalço religioso, puseram o jovem Josemaria não no encalço do penitente frade, mas do seu divino Mestre.
É possível também que este filme não agrade aos fiéis seguidores do «príncipe deste mundo». O mundo é complacente com uma Igreja que não censure a sua mundanidade, mas não com os santos que, à imagem e semelhança de Cristo, o venceram. «Daqui resulta», segundo G. K. Chesterton, «o paradoxo da história: cada geração é convertida pelo santo que mais em desacordo com ela está!».

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada



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