"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























domingo, 19 de agosto de 2012

PALAVRA de DOMINGO: há que contextualizá-la para bem a entender e melhor vivê-la!!!

EVANGELHOJo 6,51-58
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
disse Jesus à multidão:
«Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
E o pão que Eu hei-de dar é minha carne,
que Eu darei pela vida do mundo».
Os judeus discutiam entre si:
«Como pode ele dar-nos a sua carne a comer?»
E Jesus disse-lhes:
«Em verdade, em verdade vos digo:
Se não comerdes a carne do Filho do homem
e não beberdes o seu sangue,
não tereis a vida em vós.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
tem a vida eterna;
e Eu o ressuscitarei no último dia.
A minha carne é verdadeira comida
e o meu sangue é verdadeira bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em Mim e eu nele.
Assim como o Pai, que vive, Me enviou
e eu vivo pelo Pai,
também aquele que Me come viverá por Mim.
Este é o pão que desceu do Céu;
não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram:
quem comer deste pão viverá eternamente».
AMBIENTE
O trecho que nos é proposto neste domingo como Evangelho situa-nos ainda na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6,59) e no contexto do discurso sobre o “pão que desceu do céu para dar vida ao mundo”. Neste trecho, no entanto, Jesus vai um pouco mais além: convida os seus interlocutores a comer a sua carne e a beber o seu sangue.
Alguns biblistas pensam que esta parte do discurso é uma reflexão da primitiva comunidade cristã que reinterpretou a primeira parte do discurso, explicitando-a a partir da celebração eucarística posterior; outros pensam que João reelaborou uma série de materiais que estariam inicialmente incluídos no relato da última ceia e que foram deslocados para aqui por conveniências teológicas (na sua versão da última ceia, João preferiu dar relevo à lavagem dos pés; contudo, não quis omitir o discurso eucarístico de Jesus, um dado tão importante para a tradição cristã. Sendo assim, transladou-o para outro lugar; e o lugar mais indicado para o situar pareceu-lhe ser, precisamente, na continuação do discurso sobre o “pão descido do céu para dar vida ao mundo”). Em qualquer caso, esta parte do discurso (cf. Jo 6,51-58) não deve ter sido feita na sinagoga de Cafarnaum… Ela só faz sentido após a instituição da Eucaristia, na última ceia.
O discurso sobre o “pão da vida” (cf. Jo 6,22-58) ficou, portanto, no esquema de João, com o seguinte enquadramento lógico: os homens buscam o pão material; Jesus traz-lhes o “pão do céu que dá vida ao mundo”; e o pão eucarístico realiza, de forma plena, a missão de Jesus no sentido de dar vida ao homem.
MENSAGEM
Depois de Se apresentar como “o pão vivo que desceu do céu” para dar aos homens a vida definitiva (vers. 51a), Jesus identifica esse “pão” com a sua “carne” (vers. 51b). A palavra “carne” (em grego: “sarx”) designa a realidade física do homem, na sua condição débil, transitória e caduca. Ora, foi precisamente na “carne” de Jesus – isto é, no seu corpo físico – que se manifestou, em gestos concretos, a sua doação e o seu amor até ao extremo. Na realidade física de Jesus, Deus tornou-Se presente e visível no meio dos homens, mostrou a sua vontade de comunicar com os homens e manifestou-lhes o seu amor. É esta “carne” (isto é, a sua vida física, o “lugar” onde Deus Se manifesta aos homens e lhes mostra o seu amor) que Jesus vai dar a “comer” para que o mundo tenha vida.
Os judeus não entendem as palavras de Jesus (vers. 51). Quando Jesus Se apresentou como “pão vivo descido do céu para dar a vida ao mundo”, eles entenderam que Jesus pretendia ser uma espécie de “mestre de sabedoria” que trazia aos homens palavras de Deus (também isso, eles tinham dificuldade em aceitar; mas, pelo menos, entendiam aonde Ele queria chegar)… Mas agora Jesus fala em “comer” a sua carne. O que significam as suas palavras? São palavras difíceis de entender, se não nos colocarmos numa perspectiva eucarística; e, por isso, os judeus não as entendem… Para a comunidade de João, contudo, as palavras de Jesus são claras, pois são entendidas tendo em conta a celebração e o significado da Eucaristia.
Na sequência, Jesus reitera a sua afirmação, desta vez com mais desenvolvimentos: Ele não só vai dar a “comer” a sua carne, mas também a beber o seu sangue; e quem os aceitar recebe vida definitiva (vers. 53-54). A referência ao “sangue” coloca-nos no contexto da paixão e da morte. Dizer que Jesus é “carne” significa que Ele Se tornou pessoa como nós, assumiu a nossa condição de debilidade, aceitando passar, até, pela experiência da morte. Dizer que o pão que Ele há-de dar é a sua “carne para a vida do mundo” significa que Jesus fez da sua vida um dom, uma “entrega” por amor aos homens; e que o momento mais alto dessa vida feita “dom” e “entrega” é a morte na cruz. Na cruz, manifestou-se, através da “carne” de Jesus – isto é, através da sua realidade física – o seu amor, o seu dom, a sua entrega… Ora, é essa realidade que se manifestou na cruz – realidade de amor, de doação, de entrega – que os discípulos são convidados a “comer” e a “beber”. “Comer” e “beber” significam, neste contexto, “aderir”, “acolher”, interiorizar”, “assimilar”.
A questão é, portanto, esta: Jesus não está a falar da sua “carne” física e do seu “sangue” físico… Está a pedir, simplesmente, que os seus discípulos acolham e assimilem essa vida de amor, de dom, de entrega, que Ele mostrou na sua pessoa (isto é, nos seus gestos, no seu amor, na sua doação aos homens) e que teve a sua expressão mais radical na cruz, quando Jesus, por amor, ofereceu totalmente a sua vida, até à última gota de sangue. Quem “acolher” e “assimilar” esta vida e aceitar viver da mesma forma – no amor e no dom total da vida, até à morte – terá vida plena e definitiva.
A Eucaristia actualiza esta realidade na comunidade cristã e na vida dos crentes. Esse mesmo Jesus que amou até às últimas consequências, que pôs a sua vida ao serviço dos homens, que Se deu na cruz, oferece-Se como alimento aos seus. O discípulo que “come” e “bebe” a sua “carne” e o seu “sangue” assimila esta proposta e compromete-se a viver e a dar a vida como Ele (vers. 55).
Um dos efeitos de “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus é ficar em união íntima, em comunhão de vida com Jesus. O discípulo que interioriza a proposta de Jesus identifica-se com Ele e torna-se um com Ele (vers. 56). O cristão é, antes de mais, alguém que recebe vida de Jesus e vive em união com Ele.
Outro efeito de “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus é comprometer-se com o mesmo projecto de Jesus. Jesus Cristo foi enviado pelo Pai ao mundo para dar vida ao mundo e o seu plano consiste em concretizar esse projecto; o cristão assimila esse mesmo projecto e dedica toda a sua existência a concretizá-lo no meio dos homens (vers. 57).
É neste caminho que se chega a essa vida plena e definitiva que Jesus veio propor aos homens. Do “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus nascerá uma nova humanidade de gente livre, que venceu a morte e que vive para sempre (vers. 58).
O discurso que João põe na boca de Jesus não se dirige aos judeus (pois os judeus não eram capazes de entender as palavras de Jesus), mas dirige-se aos discípulos. O seu objectivo é explicar o programa de Jesus, pedir aos discípulos que assimilem esse programa e o testemunhem no meio dos homens. A Eucaristia cristã (“comer a carne” e beber o sangue”) é, assim, uma forma privilegiada de “actualizar” na vida dos crentes a vida e o amor de Jesus, de estar em comunhão com Jesus, de “assimilar” o projecto de Jesus e de o concretizar no mundo.
ACTUALIZAÇÃO
• Nas semanas anteriores, a liturgia disse-nos, repetidamente, que Jesus era o “pão descido do céu para dar vida ao mundo”… O Evangelho deste domingo liga esta afirmação com a Eucaristia: uma das formas privilegiadas de Jesus continuar presente, no tempo, a “dar vida” ao mundo é através do “pão” que Ele distribui à mesa da Eucaristia. A Eucaristia que as comunidades cristãs celebram cada domingo (ou mesmo cada dia) não é um rito tradicional a que “assistimos” por obrigação, para acalmar a consciência ou para cumprir as regras do “religiosamente correcto”; mas é um encontro com esse Cristo que Se faz “dom” e que vem ao nosso encontro para nos oferecer a vida plena e definitiva. Como é que eu “sinto” a Eucaristia? Que importância é que ela assume na minha vida e na minha existência cristã?
• Participar no encontro eucarístico, “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus é encontrar-se, hoje, com esse Cristo que veio ao encontro dos homens e que tornou presente na sua “carne” (na sua pessoa física) uma vida feita amor, partilha, entrega, até ao dom total de si mesmo na cruz (“sangue”). Participar no encontro eucarístico, “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus, é acolher, assimilar e interiorizar essa proposta de vida, aceitar que ela é um caminho para a felicidade, para a realização plena do homem, para a vida definitiva.
• Sentar-se à mesa da Eucaristia é também identificar-se com Jesus, viver em união com Ele. Na Eucaristia, o alimento servido é o próprio Cristo. Por isso, é a própria vida de Cristo que passa a circular nas veias dos crentes. Quem acolhe essa vida que Jesus oferece torna-se, portanto, um com Ele. Comer cada domingo (ou cada dia) à mesa com Jesus desse alimento que Ele próprio dá e que é a sua pessoa, leva os crentes a uma comunhão total de vida com Jesus e a fazer parte da família do próprio Jesus. Convém termos consciência desta realidade: celebrar a Eucaristia é aprofundarmos os laços familiares que nos unem a Jesus, identificarmo-nos com Ele, deixarmos que a sua vida circule em nós. Este crente, identificado com Cristo, torna-se uma pessoa nova, à imagem de Cristo.
• Na concepção judaica, a partilha do mesmo alimento à volta da mesa gera entre os convivas familiaridade e comunhão. Assim, os crentes que participam da Eucaristia passam a ser irmãos: em todos circula a mesma vida, a vida do Cristo do amor total. Dessa forma, a participação na Eucaristia tem de resultar no reforço da comunhão dos irmãos. Uma comunidade que celebra a Eucaristia e que vive depois na divisão, no ciúme, no conflito, no orgulho, na auto-suficiência, na indiferença para com as dores e as necessidades dos irmãos, é uma comunidade que não está a ser coerente com aquilo que celebra; e, nesse caso, a celebração eucarística é uma incoerência e uma mentira.
• Finalmente, o “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus implica um compromisso com esse mesmo projecto que Jesus procurou concretizar em toda a sua vida, em todos os seus gestos, em todas as suas palavras. Como Jesus, o crente que celebra a Eucaristia tem de levar ao mundo e aos homens essa vida que aí recebe… Tem de lutar, como Jesus, contra a injustiça, o egoísmo, a opressão, o pecado; tem de esforçar-se, como Jesus, por eliminar tudo o que desfeia o mundo e causa sofrimento e morte; tem de construir, como Jesus, um mundo de liberdade, de amor e de paz; tem de testemunhar, como Jesus, que a vida verdadeira é aquela que se faz amor, serviço, partilha, doação até às últimas consequências. Se a Eucaristia for, de facto, uma experiência profunda e sentida de adesão a Cristo e ao seu projecto, dela resultará o imperativo de uma entrega semelhante à de Cristo em favor dos nossos irmãos e da construção de um mundo novo.

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