E se "o tempo voa", eles estão já aí!
Conta-me a tua vida fantástica
«Conta-me a história da tua vida fantástica, Ackley - disse eu.
- E se apagasses a luz? Tenho de me levantar cedo.»
- E se apagasses a luz? Tenho de me levantar cedo.»
Este é um diálogo do emblemático romance de Salinger, “Uma agulha no palheiro”. Calha-me pensar muitas vezes naquela pergunta acerca da nossa vida fantástica, até por que estamos normalmente muito pouco disponíveis para falar disso. Preferimos viver de luz apagada. Tornou-se uma espécie de desporto nacional a lamuria, a propósito de tudo e de nada. Na hora de relatar a vida, o que vem à tona são mais as dificuldades, os medos avulsos, para não dizer os ressentimentos. Mais do que a gratidão pela vida vamos mantendo um irremediável conflito de interesses que nos faz achar que nunca é suficiente o que temos ou o que nos acontece. E neste desencontro interior perdemos a capacidade de contemplar e acolher o milagre que constantemente nos rodeia. Talvez precisemos de uma cura de simplicidade, que nos reoriente para o essencial: a hospitalidade e a comunicação do dom. «Conta-me a história da tua vida fantástica.» No fundo, estamos todos preparados para isso.
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