"Porquê?" & "Para quê?"

Impõe-se-me, como autor do blogue, dar uma explicação, ainda que breve, do "porquê" e do "para quê" da sua criação. O título já por si diz alguma coisa, mas não o suficiente. E será a partir dele, título, que construirei esse "suficiente". Vamos a isso! Assim:
Dito de dizer, escrever, noticiar, informar, motivar, explicar, divulgar, partilhar, denunciar, tudo aquilo que tenho e penso merecer sê-lo. Feito de fazer, actuar, concretizar, agir, reunir, construir. Um pressupõe e implica, necessariamente, o outro - «de palavras está o mundo cheio». Se muitos & bons discursos ditos, mas poucas ou nenhumas acções que tornem o mundo, um lugar, no mínimo, suportável para se viver, «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», então nada feito!!!

«Para bom entendedor meia palavra basta» - meu dito meu feito, palavras e motivo.





























segunda-feira, 20 de agosto de 2012

FÉRIAS (d)e VERÃO com um convite à LEITURA (21)

Professor Doutor José MATTOSO ainda anda por aí a ensinar e a escrever!
(Ele é filho do advogado e professor de liceu António Gonçalves Mattoso, bem conhecido por todos nós, pois era o autor de vários manuais de História, aprovados pelo Estado Novo e através dos quais os mais velhos tiveram um primeiro contacto mais elaborado e didáctico com a História Universal nos liceus. António Gonçalves Mattoso, recorde-se, faleceu em Lisboa corria o ano de 1975).
Como disse, é filho do professor António Gonçalves Matoso.
Licenciou-se em História, na Universidade de Lisboa, e ingressou na vida religiosa. Durante vinte anos foi monge da Ordem de São Bento, vivendo na Abadia de Singeverga, e usando o nome de Frei José de Santa Escolástica Mattoso. Em 1966 doutorou-se em História Medieval, pela Universidade Católica de Lovaina, com a tese Le Monachisme ibérique et Cluny: les monastères du diocèse de Porto de l'an mille à 1200. Só em 1970 retornou à vida laica, iniciando a sua carreira universitária.
Foi investigador no Centro de Estudos Históricos (Lisboa) do Instituto de Alta Cultura e assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ascendendo a professor catedrático na recém-criada Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova. Exerceu ainda as funções de presidente do Instituto Português de Arquivos, de 1988 a 1990, e de director da Torre do Tombo, entre 1996 e 1998. Viveu também em Timor-Leste, colaborando na recuperação do Arquivo Nacional e no Arquivo da Resistência, e leccionando no Seminário Maior de Díli. Autor de uma extensa bibliografia, é especialista na História Medieval portuguesa, destacando-se as suas obras Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros, Fragmentos de Uma Composição Medieval, O reino dos mortos na Idade Média e Identificação de Um País. Ensaio sobre as Origens de Portugal (1096-1325) (vol. I - Oposição; vol. II - Composição), sucessivamente premiada com o Prémio de História Medieval Alfredo Pimenta e o Prémio Ensaio do P.E.N. Clube Português. Dirigiu também uma edição de oito volumes da História de Portugal (1993-1995). Recebeu o Prémio Pessoa, em 1987, o Prémio Internacional de Genealogia Bohüs Szögyeny, em 1991, a Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada, em 1992, e o Troféu Latino, em 2007.
Casou duas vezes, a segunda vez com Maria José Albarran Alves de Carvalho (1947). Desde Maio de 2010 é Presidente do Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanidades da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
O Professor Doutor José Mattoso acaba de publicar o livro Levantar o Céu - Os Labirintos da Sabedoria (Edição Temas e Debates do Círculo de Leitores), onde recolhe textos de intervenção cívica e espiritual.
É como que uma síntese da vida do historiador que, aos 79 anos, não desiste de um olhar lúcido sobre a contemporaneidade.
Fica a sugestão de leitura.

Um excerto da entrevista concedida a Vítor Coelho da Silva:
P: Não se zanga quando ouve, na praça pública, referências à Idade Média como a idade das trevas? Mesmo quando várias das tragédias evocadas, como a Inquisição, são posteriores...
R: Não acho que seja precisa uma atitude apologética, explicando que esse é um conceito primário e redutor. Foi refutado já tantas vezes e de forma tão clara que não vejo nisso grande problema. Pode acontecer é que seja apenas expressão de um primarismo cultural que é lamentável. Mas há mais qualquer coisa: o Liberalismo e, sobretudo, o Iluminismo é muito responsável pela inferiorização da Idade Média, por causa da noção de progresso. O Iluminismo procura a racionalização e o progresso e desvaloriza tudo o que seja intuitivo, tudo o que seja [do domínio do] jogo...Dizia que a Idade Média era muito mais tolerante e diversificada, que o clero não era tão dogmático como mais tarde alguns missionários...
Não diria "muito mais" tolerante. Diria mais tolerante e menos dogmático. Isso resulta sobretudo da prática das instituições. A Igreja quis formatar o homem de uma certa maneira, impor-lhe um modo de comportamento demasiado rígido. Por exemplo, a confissão sacramental, que aparece no Concílio de Latrão em 1215, ou a regra de ir à missa uma vez por semana ou o matrimónio como sacramento... O clero começou a pensar que eram objectivos. Mas não são senão meios pedagógicos.
É verdade que a sociedade ocidental ganhou, do ponto de vista moral, com o matrimónio monogâmico. Mas, na prática, o concubinato era extremamente difundido. A Igreja conviveu com isso. Era preferível ter sido um pouco mais tolerante. A prática das visitas canónicas na região de Coimbra no século XVI era uma autêntica espionagem da vida privada das pessoas que levava a uma hipocrisia que não trouxe vantagem nenhuma em relação a uma certa tolerância medieval.

Sem comentários:

Enviar um comentário